1997 escrita por N_blackie


Capítulo 11
Samantha




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Sam nunca tinha visto a Toca tão cheia quanto naquela noite. Fazia algum tempo que chegara para o jantar especial de Molly, e mesmo tendo conversado bastante com Ginny, ainda não conseguira vencer o caminho até o quintal, de tanta gente que via conversando nos cantos da apertada casa dos Weasley.

A ocasião era bem simples, afinal, a nomeação de quatro membros da “família” para monitoria e monitoria-chefe de Hogwarts era algo a se celebrar, certamente. Os rostos de Violet, Leonard, Romulus, e Hermione estampavam uma faixa erguida sobre a mesa do jantar, e ocasionalmente Sam tinha de desviar o olhar, não aguentando mais os rostos sorridentes rindo e piscando arrogantes para ela (apesar de ela ter quase certeza de que aquilo era um feitiço de Fred e George). Ajeitou os cabelos presos enquanto se esticava para procurar mais amigos no meio das pessoas, e assim que conseguiu ultrapassar uma empolgada Nymphadora que tagarelava com o Sr. Weasley, tropeçou e caiu na poltrona da entrada da sala de estar.

“Opa!” a voz conhecida de Romulus a chamou, e ela percebeu que tinha tropeçado nele. Sam sentiu o rosto esquentar e soltou uma risada nervosa, tentando não focar o olhar no rosto cansado do filho de Remus por pelo menos um segundo. Nas férias Rom sempre ficava exausto o tempo todo, tanto porque tinha que conciliar esses eventos com aproveitar as férias, como por Harry, Adhara, e Ron imporem uma rotina quase atlética de saídas, confusão e bagunça em geral, forçando-o a ficar acordado até horas absurdas para conseguir acompanha-los.

A música melosa que tocava no rádio enfeitiçado de Molly nunca causou tanto constrangimento em Sam quanto enquanto ela se erguia para sorrir mecanicamente para Romulus, que esticou a mão gentilmente para ajudá-la. Seus cabelos estavam bagunçados – provavelmente algum amigo de seus pais já o tinha raptado para uma sessão de tapinhas nas costas – e a gravata já tinha sido desfeita, repousando com displicência nos seus ombros. Sam mordeu o lábio, subitamente autoconsciente demais. Romulus era tão bonito.

“Está gostando da festa?” a voz dele rompeu sua bolha de vergonha, e a ruiva sorriu.

“Sim! Hum, parabéns, né?”

“Ah, não!” Romulus riu, rolando os olhos, “Você também não, Sam, por favor. Molly é tão...” balbuciou, e ela percebeu seu olhar recaindo no cartaz com seu rosto, que agora fazia caretas para quem parasse para se abastecer de cerveja amanteigada.

“Exagerada?” completou ela, se colocando no caminho do olhar dele. Romulus suspirou enquanto assentia.

“Sirius já me amassou inteiro, “continuou ele, apontando para a desordem de sua cabeça. “Já levou um dos abraços dele? Merlin e suas calças, não sei como Padfoot aguenta, meus miolos quase saíram pelas orelhas!”

“Já viu os outros? Como estão reagindo?”

“Bom, Leonard é irmão de Padfoot, então veja bem- “zombou ele, e os dois concordaram em silencio. “Hermione está como eu estou, claro, bastante surpresa, mas feliz. Os pais dela estão no quintal com o seu pai. O Sr. Weasley até tentou puxar os dois pra perguntar alguma coisa, mas sua mãe interrompeu com alguma pergunta sobre o ministério e deu tempo de James falar sobre gnomos, e perguntar se eles queriam ver.”

Samantha balançou a cabeça, e alguém passou atrás de Romulus, forçando-o a dar um passo para frente. Não estava tão próximo assim, mas o coração de Sam deu saltos, e o lugar pareceu subitamente abafado demais. O perfume dele chegou a seu nariz, e ela agradeceu por ser apenas meia cabeça mais baixa que ele. Se fosse como Violet provavelmente já teria perdido a autoconfiança, Se xingou mentalmente por ter tão estúpida.

Romulus sorriu, e se afastou um pouco quando teve espaço, e começaram a discutir o próximo campeonato de quadribol quando alguém o chamou de longe. Sam ficou um pouco decepcionada, achando que teria de recomeçar sua busca por alguém legal para conversar, quando Romulus a fitou assustado e abaixou, levando-a para o chão consigo. “Me tira daqui, não sei se resisto a mais parabéns!” sussurrou, e Sam riu. “Anda, vem pra cá!”

Engatinharam entre os pés dos convidados, e Romulus buscou sua mão para não se perderem. Sam sorriu, pensando em como ele podia ser bobo as vezes, e inteligente nas outras. Romulus era completo, pelo menos para ela. Só que nunca dariam certo, especialmente considerando que ela era irmã de Harry, amigo dele.

De qualquer forma, fazia bem sonhar. E Ginny já disse que o pegara olhando divertido para ela em algumas festas de quadribol. Chegaram à frente da casa, onde apenas a luz fraca dependurada no umbral trazia alguma iluminação aos campos verdes que cercavam a casa. Respirando aliviada, Sam se jogou no chão, e Romulus caiu a seu lado. Se entreolharam, e caíram na risada.

Logo, contudo, ouviram vozes e passos, e os dois pararam de conversar. Leonard e Percy Weasley estavam apenas dando voltas pela casa, e Sam se segurou para não rir do que potencialmente era a dupla mais pomposa que já vira em toda a sua vida. Romulus a olhou surpreso com sua reação, e apenas olhou resignado para ambos. Estavam tão entretidos em falar sobre o Ministério – afinal, era tudo o que Percy falava desde que começara seu emprego por lá – que não notaram os dois, e passaram reto.

Lentamente, a escuridão inicial do céu começou a ser pontilhada dos mínimos pontos brilhantes, e Sam ergueu a cabeça, se lamentando por não ter a habilidade de ler as constelações como os Black. Romulus a acompanhou, e numa nota melancólica disse:

“Uma vez Padfoot tentou me ensinar a ler essas coisas, na época em que, sabe, nós dois éramos alguma coisa. Até que fiz algum esforço, mas ela não é uma professora muito paciente, e acho que a decepcionei com a minha falta de imaginação.”

Sam soltou uma lamentação monossilábica, sentindo-se de novo autoconsciente demais. Padfoot e Romulus tinham sido uma coisa, claro, mas fazia dois anos que tudo terminara, e ainda se ouviam as histórias daquela época. Sam não lembrava muito bem dos dois juntos, estava no quarto ano e nunca tinha prestado atenção especial em Romulus, então não fazia muita diferença com quem ele estava. Mas agora fazia, e ela já estava ficando irritada com essa comparação interminável com Adhara.

Tá, Sam não tinha a pele, nem os olhos, nem o cabelo que ela tinha, mas era uma ruiva muito bonita, e achava patético Romulus ficar remoendo o passado com Padfoot sendo que podia olhar para o lado e perceber que tinha outra opção tão boa quanto. Afinal, Adhara era instável, irritável e arrogante como todos da família dela, e mesmo sendo amiga de Sam, ela sabia reconhecer que a menina Black estava a um passo de uma sonserina chata vez ou outra.

Sua irritação lhe deu um novo sopro de confiança, e apertou os lábios antes de chamar a atenção de Romulus. “Escuta, posso te perguntar uma coisa?”

Ele assentiu, e se virou para prestar atenção nela. Sam desejou que ele não tivesse feito isso, afinal, seria muito mais fácil tocar nesse assunto sem ter aquelas orbes cor de mel lhe encarando. Puxou ar.

“Porque você fica lembrando tanto de Padfoot?”

Romulus ficou em um surpreso silencio, e abriu a boca uma ou duas vezes para tentar responder. Passou as mãos no cabelo, e coçou a testa franzida. Sam já estava decidindo pedir para ele esquecer que ela perguntara quando finalmente recebeu uma resposta.

“Padfoot é alguém especial, acho,” constrangido, Rom voltou a encostar na parede ao lado dela. “Digo, ela é bonita, claro, mas não foi isso que me fez gostar dela. Ela é feroz, mas não como o meu pai na lua cheia, é como um cão de caça. Ah, ela odeia que digam isso, mas é verdade. Ela tem um quê de quem está sempre te avaliando, um desafio constante. Não sei, deve estar me achando um completo idiota, mas foi por isso que gostei dela. E, bom, nosso tempo juntos foi especial, nós nos divertimos, mas não deu certo. Haha, quero dizer, como daria? Alguém tem o temperamento para conviver com Adhara?”

Foi a vez de Sam olhar diretamente para ele. Romulus riu e a olhou também. “Não, eu não tenho interesse nela mais. Somos amigos, e eu gosto de ser amigo dela. Acho que não preciso ser desafiado a cada minuto. De vez em quando está bom, meus nervos agradecem.”

“Fico feliz. Digo, por você. Fico feliz por você. E desculpa te perguntar isso de repente... Quase nunca conversamos sozinhos, Harry está toda hora por lá...”

“Não se preocupe com isso, Sam.” Romulus sorriu, e se levantou. “Vou entrar, devem estar me procurando e não quero que te encham a paciência por ter me ajudado a sumir. Aliás, obrigado por isso, claro.”

“Qualquer hora.” Sam se ergueu também.

O garoto abriu a porta, e antes de fechá-la, piscou. “Sua pergunta foi bem... desafiadora.”

A garota não sabia o que responder, e a porta se fechando foi muito mais confortável do que ela poderia imaginar. Romulus poderia estar interessado nela? Romulus estava interessado nela! Claro, Romulus podia estar interessado nela. Sam sorriu confiante. “É, Senhorita Potter, você ainda tem um tchan.” Pensou alto.

Deu a volta pela cerca do quintal, e passou atrás do barracão do Sr. Weasley silenciosamente, ainda remoendo a conversa que acabara de ter. O som de vozes ainda saia por cada fresta de janela da Toca, e de alguma forma, elas não lhe incomodavam mais. Sorriu para si mesma.


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