Shooting Star escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 5
Quase todo mundo me odeia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/159204/chapter/5

Capítulo 5 – Quase todo mundo me odeia

Pov's Bella:

         O dia seguinte veio mais rápido do que eu gostaria. Tinha ido caçar um pouco antes de a noite chegar, o que significava que eu estava cheia de sangue e poderia facilmente ignorar o sangue humano – não que eu não tenha o controle necessário para tal.

         O último andar aparentemente era a prova de sons, pois foi uma noite silenciosa, sendo algo bom, pois não queria ouvir os casais lá embaixo – isso ainda me deixava quebrada. Por causa dele, eu tive que sair de meu quarto na ala dos vampiros e ir para a torre mais distante no castelo Volturi – somente para ignorar os sons que os casais vampirescos faziam.

         Aquele nojento.

         Respirei fundo. Não, eu não iria me estressar. Tentei lembrar que um empático estava um andar abaixo de mim e poderia facilmente ler minhas emoções.

         Ser indiferente: por dentro e por fora.

         Seria fácil. Eu esperava.

         Vesti uma roupa que parecia adequada ao clima lá fora. Foi estranho colocar um casaco, pois, na verdade, eu praticamente só usava saias e vestidos em Volterra – ora, se só ficava no castelo, sem me mostrar para humanos, por que fingir?

         Mas agora eu fingia e era muito irritante.

         Arrumei uma bolsa com livros dentro, além de colocar meu iPhone recém-adquirido – idéias de Jane, vá entender em outro mundo. Dei uma última olhada no espelho de corpo inteiro que o closet tinha.

         Meus cabelos escuros estavam levemente cacheados nas pontas. Meus olhos dourados eram algo estranho de se encarar, levando em conta que em quatro séculos foram vermelhos. Meu corpo "perfeito de vampira" eu fiz questão de ignorar.

         Desci as escadas em velocidade humana, tinha de me acostumar a essas coisas, afinal. Esme e Carlisle já estavam ali, aparentemente olhando alguns documentos e levantaram a cabeça ao me ver ao pé da escadaria.

- Bella – Esme sorriu com doçura e se aproximou – teve uma boa noite, querida?

- Hm. Sim, obrigada por perguntar – na realidade, contar o inexistente do teto tinha sido o ponto alto da minha noite. Muito divertido.

- Aqui está, Bella – Carlisle disse, entregando-me uma carteira de identidade.

         Olhei o nome: "Isabella Swan". Fiquei tão surpresa que não consegui refrear os sentimentos dentro de mim. Como eles sabiam do meu sobrenome?

- Quando Aro me ligou, deixou esse sobrenome, dizendo que você poderia usá-lo. Tudo bem para você? – ele perguntou depois de hesitar um segundo.

- Sim, obrigada Carlisle – senti que já tinha falado obrigada pelo menos mil vezes naquela casa, parecia ser somente isso que eu falava, aliás.

         O resto dos Cullen desceu alguns minutos depois. Edward e Rosalie não me deram muita atenção, mas o primeiro disse um seco "bom dia" – provavelmente porque fora educado dessa maneira quando criança. Emmett sorriu para mim, assim como Alice, mas interpretei isso como algo natural deles.

         Jasper olhou para mim brevemente.

- Como? – ele me perguntou e todos prestaram atenção.

         Simplesmente o observei.

- Como você consegue sentir "em branco"? – fez aspas com a mão, completando sua pergunta. De fato, eu não deixei a confusão me inundar quando ele indagou-me. – Nenhum sentimento vem de você, absolutamente nada.

- E nenhum pensamento também – Edward comentou.

         Girei meus olhos para ele. Edward ainda tinha o rosto nada amigável em minha direção, o maxilar trincado e parecendo extremamente concentrado.

- Edward lê pensamentos – Emmett explicou num tom brincalhão – é por isso que ele tem a cabeça grande e defeituosa.

         O dito cujo olhou para Emmett com uma expressão nada contente e, ignorando totalmente o comentário do irmão – e a mim principalmente – foi em direção a garagem.

         Rosalie o seguiu e, suspirando, Emmett foi atrás.

         Acabou que a resposta para Jasper não veio, e eu, ele e Alice fomos para o carro. Sentei no banco da frente do Volvo prateado de Edward – que não pareceu nem um pouco feliz (Humpf. Quase como se eu fosse suja ou sei lá!).

         Felizmente, Alice estava atrás e conversou comigo. Os "gêmeos Hale" e Emmett foram na Ferrari vermelha da loira.

- Rosalie não perderia a oportunidade de se exibir – era o que Alice tinha dito. Mentalmente concordei.

        

         A verdade era que eu pensava estar preparada para tudo. Cochichos, fofocas, isolação, populares esnobes e crianças estúpidas pensando que podiam paquerar. Porém, na hora, simplesmente parei de saber o que fazer. Como tinha que agir? Onde tinha que ir?

         Antes de abrir a porta do carro e descer, tentei baixar meu pânico e fazer com que Jasper não sentisse nada – isso estava me saindo mais complicado do que nunca. Eu teria que resolver esse problema de outra forma, não podia simplesmente "não sentir para sempre".

         Vi os olhares das pessoas se virarem para mim.

- Essa eu quero na minha cama!

- Italianas são gostosas!

- Adorei a roupa dela!

- Que exibida... Tão metida quanto Rosalie Hale!

- Ela é tão bonita... Mas séria...

          O último comentário não foi maldoso, o que me fez olhar na direção da pessoa. Era uma garota de cabelos pretos e compridos, rosto gentil e olhos castanhos escondidos por trás de lentes de óculos.

         Fiz meu escudo dobrar-se – meus pensamentos não podiam ser lidos, mas os dos outros podiam. A vida de Angela Weber chegou a mim num espaço de milissegundos. Interessante. A garota era gentil, honesta e boa. Mas não era popular, não propriamente.

         Por que os melhores humanos eram sempre os mais excluídos da sociedade? Isso parecia tão injusto e idiota a meu ver.

         Quando viu que eu a olhava, corou até o último fio de cabelo e desviou os olhos rapidamente, pensando que eu tinha ouvido sua voz. E, com seu pensamento, muitos outros vieram, então, logo bloqueei meu escudo.

         E o silêncio agradável me chegou.

         Tudo isso tinha acontecido em poucos segundos.

         Alice foi comigo até a secretaria – parecia a única disposta a me aturar, como já falei (mil vezes pelo menos). Depois, ela me deixou e foi para sua aula de geometria. Eu tinha cálculo. Revirando os olhos mentalmente, pensei que não tinha maneira melhor de começar a semana.

         Felizmente, as aulas antes do almoço passaram rápidas. Sentei-me na mesa do fundo e fingi não ver os olhares que me mandavam, olhando descaradamente para trás. Nenhum professor, exceto o Sr. Bartlett, mandou eu me apresentar para a turma. Na aula de história geral – que foi a que me apresentei – falei pouco sobre mim, dizendo meu nome, de onde era meu intercâmbio e quantos anos tinha.

         Tive que sentar com uma garota chamada Jéssica Stanley na aula de inglês, e ela parecia muito – muito – fofoqueira. Então, tentei ser o mais direta possível nas minhas mentiras.

Como história geral era o horário antes do almoço, Jéssica me convidou para sentar-me em sua mesa, mas gentilmente recusei. Não estava nem um pouco a fim de perguntas, muito menos criar fofocas. Queria terminar logo minha missão e ir embora desse lugar, dessa vida que não me pertencia.

Afinal, eu era somente uma intrusa.

- Bella? – Alice indagou rápido; numa altura que somente vampiros ouviriam.

         Ela estava do outro lado do refeitório, no cantinho. Uma bandeja de comida enfeitava sua mesa, assim como as bandejas de seus irmãos.

- Por que se sentou aí?

         Eu estava no outro canto extremo do refeitório, e uma bandeja com um pedaço de pizza e Diet Coke estava na minha frente, sendo totalmente ignorada. Estava sozinha em minha mesa, o que fez novas fofocas sobre isso ao redor da mesa dos "enxeridos de plantão".

- Já falei, Alice, não quero mexer na rotina de vocês, muito menos perturbá-los – foi minha desculpa. Mas, ora, como se diz na cara de alguém que eu percebi que me odeiam?

         O lado bom de ter sentado aqui, sozinha, era: 1) privacidade 2) havia tantas emoções aqui, que poderia sentir à vontade, sem Jasper na cola. O lado ruim era: eu estava, bem, sozinha. E, demonstrando ou não, gosto de companhia.

- Isabella Volturi, não seja estúpida – ela me repreendeu, e, à distância, vi-a fazendo um biquinho bravo.

- Não xingue uma Volturi, Alice, podem puni-la – Rosalie ironizou. O que mais me dava raiva pela loirinha era o fato de que ela sabe bem que estou ouvindo tudo.

         E, sendo criança como é, faz de propósito.

         Calma, Bella, eu me ordenei em minha cabeça, calma. Ela tem um século de vida, uma criança. Você é a adulta, você que tem quase cinco séculos de vida.

- Não vou arrancar a cabeça dela, Rosalie Lílian – falei seriamente.

         À distância, vi a loira (Cruela cruel!) arregalar os olhos – hm... Conviver com humanos traziam reações involuntárias, não? – e senti que poderia sorrir satisfeita, se sorrisse claro. Mas, ora, o fato de ter usado o nome todo de Rosalie a chocara – ela nem mesmo tinha me contado.

         Porém, meu dom era, certamente, uma vantagem. Eu já tinha aprendido tudo sobre os Cullen. A vida inteira deles estava em minha cabeça e, com minha memória, eu nunca as esqueceria. Irônico, isso, pois a loira queria me machucar, mas, com suas memórias e desejos irrealizáveis, sou eu que posso machucá-la.

Não que eu seja tão sádica quanto Jane, longe disso. Mas, na eternidade, eu tenho que bloquear um pouco a minha dor e causar dor a outros. E Rosalie parecia estar pedindo especialmente por isso.

         O resto do almoço passou com nenhum Cullen – nem Alice – me dirigindo a palavra, o que foi bom (eu acho). Os humanos ainda cochichavam, mas me fechei na minha própria bolha e tentei ignorar o som de tudo a minha volta. Como se me fechasse num compartimento em minha mente.

         Levantei-me somente para despejar a comida em minha bandeja, intocada, e ir para a aula de biologia. Bom, meu dia não poderia piorar certo?

         Eu sou muito azarada. Então, sim, poderia. Até agora, eu não tinha tido nenhuma aula com um Cullen. Rosalie, Jasper e Emmett estavam um ano à frente, Alice e Edward não pareciam ter horários batendo com o meu. Humanos se mantinham a distância – exceto, infelizmente, Jéssica. Eu não sei se agüentaria todo dia sentar ao seu lado em uma aula.

          Então, respondendo à sua pergunta – errado. Tudo tinha acabado de piorar, afinal, eu tinha biologia com Edward Cullen e, aparentemente, o lugar ao seu lado era o único vago.

         Alguém no universo definitivamente me odeia.

         Mentalmente, respirei fundo e caminhei até a mesa. Ele já tinha empilhado seus livros, antes espalhados, em frente ao seu lado. Não olhei para Edward ao me sentar. Minha mochila estava jogada aos meus pés no chão e a única coisa que eu tinha me dado ao trabalho de pegar era uma caneta e um caderno – não que eu fosse usar.

         O professor era o Sr. Banner e eu fiz questão de ignorar totalmente o discurso sobre bactérias que veio a seguir. Para que prestar atenção quando se sabe tudo isso?

- Você... – eu fiz uma pausa, tomando conta de que estava expressando o que pensava inconsciente. Eu nunca dizia o que pensava, não assim. Mas, de repente, saber isso parecia necessário... Por quê? – você me odeia?

         Eu tinha perguntado tão baixo e tão rápido que nenhum humano escutaria nem se tentasse.

         Por dentro, repreendi-me. Não queria perguntar isso para nenhum Cullen, afinal, eles tinham todo o direito de não gostar de mim – eu era uma intrusa em suas existências. Logo, não deveria perturbá-los com coisas do tipo, muito menos forçá-los a gostar de mim.

         Mas... Mas algo em minha cabeça ansiava por sua resposta.

         Edward ficou quieto por torturantes segundos. Urgh, que coisa, por que eu me importava tanto? Eu nunca ligo para nada, por que estava ligando agora?

- Não, eu não te odeio – foi sua resposta.

         Ele não falou mais nada e eu tratei de controlar minha boca pelo resto da aula. Entretanto, a dúvida ainda tingia minha cabeça.

         Ora, se ele não me odiava, por que dirigia tantos olhares irritados em minha direção?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!