Já havia passado uma semana e ainda não pararam de comentar sobre Pansy Parkinson. Não que eu não estivesse gostando, pelo contrário, eu tô é muito satisfeita. Foi bem merecido. Tá, talvez eu tenha exagerado, não devia ter tirado-lhe a roupa (comentavam freneticamente sobre seus peitos serem pequenos), mas o resto foi muito bem merecido. Faço questão de passar perto dela para ver as cicatrizes das bolhas que nasceram em seu rosto. E seu cabelo ainda estava um pouco armado. Ah, eu tive minha vingança.

As aulas daquela sexta-feira terminaram no seu horário de sempre. Guardei meu material e me levantei na carteira, seguindo Lizz, que ia na minha frente. Ela se virou, para ter certeza de que eu estava atrás dela e sorriu. Quando passou pela porta, me esperou para ficarmos lado a lado.

- Com fome? - perguntou, quase deixando seu livro de Adivinhação cair.

- Nem tanto, estou mais com sono mesmo. - dei de ombros, folheando as páginas dos deveres de casa daquele dia.

- Novidade. - revirou os olhos para mim, me fazendo soltar um risinho bobo.

No meio do caminho, encontramos Summer e Luna. Summer ficou conosco, Luna foi conversando com Neville - que percebemos só depois que estava atrás da gente -. Ela comentou sobre o mesmo dever que a professora McGonagall passou, e o quanto achava ele interessante. Lizz e eu nos entreolhamos. Fiquei prestando atenção, caso ela dissesse algo que eu pudesse usar no meu trabalho. Lizz já tinha deixado de ouvir a um tempo.

- Emma. - a loira comentou baixinho, olhando para a frente e depois baixou os olhos para os

livros a frente, como se lesse algo, tentando disfarçar.

Virei meu rosto para a direção que ela olhara e Draco vinha na minha direção, acompanhado de Crabbe e Goyle. Meu coração pulou, e logo após brincou de ping e pong com o meu peito. Mexi no meu cabelo, os dedos tremendo nervosamente. Amaldiçoei minha mão e respirei fundo, levantando a sobrancelha para mais outro dever de casa. Senti uma mão puxar meu braço, e fazer todas as minhas folhas voarem de minhas mãos.

- Droga, Malfoy, pode ter mais cuidado, por favor? - disse, alto o suficiente para todos ouvirem. Me agachei enfurecida, pegando os papéis. Ele fez o mesmo.

- Shhhh! Idiotas! - disse para Crabbe e Goyle, que gargalhavam de forma maléfica. - Desculpe. - estendeu a mão com meus papéis para mim e puxei de suas mãos de forma bruta, fechando minha cara. Lizz e Summer estavam paradas, nos observando. - Precisamos conversar. - eu já estava indo embora quando ele me puxou de novo.

- Não precisamos, não. - respondi, tentando me desvencilhar de seus braços, que me agarravam forte demais.

- Precisamos sim. - me puxou pela terceira vez. - Emma... Emma... Olha pra mim. - ele disse em tom autoritário, e fez um sinal para que Crabbe e Goyle nos deixassem a sós, e eles saíram resmungando. Pude ver Summer segurando o braço de Lizz.

- Você não manda em mim. - respondi, dando de ombros e fazendo um bico, ainda evitando olhar para ele.

- Vai agir como uma criança de 7 anos agora? - ele disse e abriu os braços largamente, mostrando estar cansado de tudo aquilo.

- Ah, é? E aprendi isso com quem? - levantei meu rosto para ele e o olhei. Um sorriso torto apareceu em seus lábios.

- Você me olhou.

Bufei e tentei ir embora de novo, mas ele me puxou. Tentei me desvencilhar, mas ele me segurava forte demais.

- Emma... - começou Lizz, se aproximando, mas a interrompi.

- Deixa Lizz, vão na frente que depois eu acho vocês. - eu disse, desistindo de tentar faze-lo me soltar.

- Tem certeza? - Summer fez um aceno com a cabeça e eu balancei a minha positivamente. As duas se viraram e foram embora, me deixando só com ele.

Draco me soltou, ainda segurando a minha mão. A puxei para perto de mim, balançando a cabeça agora negativamente, como se recusasse a acreditar que eu estava ali com ele. Coloquei os dedos sobre minha testa, como se sentisse uma leve, mas mesmo assim irritante dor de cabeça. Ele ainda me olhava, e pegou minha mão mais uma vez, mas dessa vez eu não a puxei.

- Emma. - sua voz era suave ao chamar meu nome, tentei não olha-lo. Talvez, se eu visse seu rosto, eu poderia considerar perdoar ele. Mas não poderia, não. Era imperdoável. - Meu amor. - ele colocou a mão sobre meu rosto, tentando me fazer olhar para ele. Virei mais ainda o rosto, tentando ao máximo ignora-lo. - Eu não sei o que te deixou tão zangada, mas eu queria me desculpar...

- Ah, claro, não sabe. - soltei uma risada abafada, tentando esquecer que ele realmente tinha dito aquilo.

- Não, não sei. - disse, agora ficando meio que com raiva.

- Ah, me poupe de suas explicações, ok Draco? - levantei a palma para ele, indicando que ele devia parar com aquilo. - Se não sabe, então pergunta pra Parkinson. Ela vai te lembrar.

- Falando nela... Eu sei que foi você que fez aquilo. - ele disse, sério. Eu o olhei e dei de ombros, como quem dizia "e dai?". - Não me entenda mal, eu adorei. Me deixou orgulhoso. Você tem uma habilidade incrível para ser malvada. - ele riu, como se aquilo fosse - talvez era mesmo um pouquinho - ao menos bom. Dei as costas para ele e sai batendo os pés, tentando esquecer o dia em que troquei qualquer palavra com Draco Malfoy.

Já no Salão Principal, me sentei perto de Lizz, Fred, George e Neville. Pude ver meu irmão, Marissa, Summer e Luna na mesa da corvinal. Mal havia sentado, George sorriu para mim com uma cara de "é a vida" e pude entender o porquê quando vi Fred e Lizz se beijando.

- Ei ei, Ou! - joguei minhas mãos entre os dois, separando-os. - Respeitem o jantar, tem gente comendo, por favor! - os dois riram um para o outro e voltaram a comer.

George e eu conversávamos quando o trio - Hermione, Ron e Harry - chegou, trazendo alegria e como sempre, segredos. Hermione era uma grande amiga, mas errou quem achava que ela me contava algo. Ninguém me contou o que acontecia nos últimos dois anos e ainda fui obrigada a ver minhas duas melhores amigas petrificadas no segundo ano. Ugh. Nem gosto de lembrar. Enfim, a verdade é que, eu não acho que nem os irmãos de Ron sabem muita coisa. Devem saber o básico. De qualquer forma, Fred e Jorge por exemplo, estavam ocupados demais criando problemas para se preocupar com os dos outros.

Harry se sentou ao meu lado e continuou no cochicho com os amigos. Tentei não ouvir - não conseguia mesmo - enquanto conversava com os gêmeos e Lizz, mas eram quase impossível não tentar.

- Com licença. - me virei para os três, que me olharam confusos. - Podem ir para outro lugar fofocar? Antes que eu seja forçada a perguntar o que está acontecendo.

Um Harry com uma expressão engraçada e sobrancelha levantada estava a minha frente, soltando um risinho baixo.

- Você está bem? - perguntou como quem pergunta "enlouqueceu, foi?".

- Nah, apenas curiosa. Vão me contar?

- Não. - sorriu torto mais uma vez. Fechei a cara.

- Obrigada pela grande confiança em mim, Potter. - virei para o outro lado.

- Ah, deixa disso, Underwood. - ele me abraçou por trás e me beijou na bochecha. - Sabe que te adoro.

Disse que não tinha problema e que era tudo uma brincadeira, mas eles de fato se juntaram a nós e pararam de conversar entre si. Ah, eu sempre gostava de estar rodeada de amigos. Bocejei.

- Vou dormir, tô muito cansada. - disse, levantando e me espreguiçando, passando a mão pelo cabelo de George e lhe dando um beijo na cabeça.

- Te encontro mais tarde no dormitório, pode ser? - perguntou Lizz, agarrada ao pescoço de Fred. "Mais tarde". Sei.

- OK. - sorri e me despedi de todos.

Chegando na porta do Salão Principal, dobrei para a esquerda e quase me esbarrei com alguém.

- Ah, você de novo! - exclamei ao ver Malfoy, enfurecida, batendo o pé no chão e as mãos nas cochas.

Me irritei por ele não responder. Estava esperando ele abrir a boca e um som sair de lá, queria muito, muito ouvir sua voz. Mas ele apenas engoliu em seco e olhou para os próprios pés, mexendo no colarinho da blusa. Revirei os olhos bufando e dei a volta em sua silhueta, me dirigindo ao corredor, mas ele me puxou pelo braço.

- Ah, o que você quer ag...

Ele não me deu tempo de responder. Seus lábios já estavam brincando de pega-pega com os meus. Estremeci. Eu não tinha mais controle sobre meu corpo. Senti tudo meu perder os sentidos. Eu não sentia mais minhas pernas,

apesar delas ainda estarem ali estendidas. O braço de Malfoy estava envolto de minha cintura, seus dedos brincando com a bainha de minha blusa. Sua outra mão, estava em meu rosto, seu polegar desenhando minha bochecha. Segurei seu rosto também, e depois fui descendo-a devagar, fazendo meus dedos sentir cada parte da pele dele até o pescoço gelado. Minha outra mão, sem meu controle, foi para sua gravata, e brincou um pouco com ela. Eu não sabia o que estava fazendo, sei que ele sorriu entre o beijo, me fazendo querer morrer. O gosto do beijo dele... Deus, aquele menino era real? Eu tinha 13 anos,

isso era normal? Fui puxando-o pelo gravata, e ele me prendeu na parede. Hm. Dejávu. Sua mão que estava em meu rosto, agora estava na parede, apoiando seu corpo. A outra, ainda na minha cintura. Agora, eu alisava meus dedos pelos cabelos de sua nuca. Eu ainda segurava sua gravata. Quando eu já estava quase gritando por ar, Draco terminou o beijo, puxando meu lábio inferior com o dente. Juntou nossas testas, a respiração arfando. Abri os olhos. Ele ainda tinha os dele fechados, com um sorriso bobo no rosto. Eu derreti. Ele abriu os olhos. Seus olhos me lembraram a tarde do dia dos namorados, o que me lembrou o por quê de eu estar separada dele. O empurrei para longe no mesmo momento, e apontei o dedo para ele.

- Fique. Longe. De. Mim! - disse, e sai correndo para meu dormitório.

- Tá acordada? - senti alguém me empurrar para um lado e pro outro na cama.

- Não, não. Tô brincando de morto. Quer brincar também? - olhei ameaçadoramente para, que eu já tinha idéia de quem seria, Lizz.

- Ahhh, Emma. - me ignorou e fez uma cara de apaixonado, se abraçando em mim e deitando na cama. - Eu tô tão... nas nuvens.

- Vai pras nuvens mesmo se não sair da minha cama agora. - ri e ela me empurrou.

- Tá de mal humor ou é palhaçada? - perguntou.

- Um pouco dos dois. - Me levantei e a encarei. - Essa história com o Draco sabe. - abaixei o rosto, encarando minhas mãos brincarem com fios soltos do lençol. - Eu só queria nunca ter confiado nele.

- Você não sabia. - ela pegou no meu cabelo e fez um carinho. - Todo mundo passa por isso um dia, eu só fico triste que não tenha durado. Eu odeio o Draco, mas fico feliz que ele tenha te feito feliz por um tempo... não importa como acabou. Você entende? - balancei a cabeça positivamente. - Então... não fique triste. Tudo vai se acertar. Sobre o que vocês conversaram?

- Ele disse que não sabe porque estou com raiva. - bufei revirando os olhos.

- Ah, que menino fingido. - disse e fez uma cara de quem estava segurando a vontade de dar um soco. - Como se você não tivesse visto os dois.

- Né!

- Mas você deu tempo para ele se explicar?

- Óbvio que não! - tá pensando que sou idiota?

- Pois devia. - quê? Eu a olhei confusa. - Sério, de repente vocês conseguem pelo menos terminar em paz. Eu acho melhor... Quem sabe até recomeçar... - sorriu torto para mim e eu lhe joguei um travesseiro. Ela jogou de volta e se levantou. - Vou por meu pijama e dormir. Boa noite, Ems.

Me deitei na cama e puxei o lençol, encarando a lua e as estrelas, incrivelmente brilhantes pela janela.

- Boa noite, Lizz. - e fechei os olhos.