A Deusa Perdida escrita por mari mara


Capítulo 32
A volta dos que já foram — ou ‘nunca mais uso Nike na vida’


Notas iniciais do capítulo

Heyou! Como foram de Natal e Ano Novo, pessoal? :3
Bom, esse capítulo é dedicado mais uma vez às lindas que comentaram no último (xingando bastante o sr. Muquêncio kkakaka) e à Juu (aka JuuSmile) que recomendou ♥ ah, sintam-se todas abraçadas!
Boa leitura!
Ps. Esse capítulo tem mais violência que os outros, e como eu não sou uma pessoa muito violenta, dei o meu melhor às quatro da matina pra ficar realista kk espero ter conseguido!



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32. A volta dos que já foram (ou ‘nunca mais uso Nike na vida’)

Parte I: Point of View — Hannah

Há uma música de um cara levemente estranho que diz “viva pra vencer, até morrer, apenas lute até cair”. Sempre achei que fosse uma interpretação muito exagerada da vontade de ganhar das pessoas, mas esse pensamento morreu quando uma senhora com nome de marca esportiva caiu feito piano de desenho animado na bminha vida.

— Isso mesmo, garota insolente — diz Niké, quando não respondo sobre ‘olha aqui krida, não tô do seu lado’ — Não vim para ajudá-la, se é o que pensa.

Olho para atrás da deusa, até as portas trancadas do teatro, imaginando quantos minutos gastaria para correr desembestada até elas.

— E posso saber o que fiz para não ter a honra de você do meu lado? — pergunto irônica, ainda observando minha possibilidade de fuga. Quanto mais Niké falasse, melhor; se ela percebeu que fiz a pergunta apenas para enrolá-la e distraí-la da missão de não estar do meu lado, não demonstrou.

— É uma longa história, você não quer ouvir — a moça suspira dramaticamente, e seus cachos dourados balançam em volta da cabeça — Mas tudo bem, temos tempo.

Permaneço calada enquanto grito internamente a mensagem mental de cadê você, seu demente!? pro Muke. Tá que eu estava puta com ele e coisa e tal, mas tenho certeza de que uma trégua rápida não faria mal.

— Meu desgosto por você não vem de hoje, garota — continua ela, os olhos também dourados me encarando com um desprezo explícito — Ele existe desde que você estragou minha vitória.

— Ah, é? — pelo amor de Deus, alguém mantenha essa baranga falando. Ao menos até eu arranjar alguma coisa melhor!

Dou um passo discreto para a direita. De acordo com meus cálculos, bastaria meio minuto para eu correr até a porta e quem sabe com o impulso da corrida, quebrar a tranca. Quem sabe.

— Se você não tivesse tido aquela ideia idiota de salvar seu país na invasão, talvez não me tivesse como inimiga agora — ela bate o cabo da lança que segura no chão, com força — Salvar seu povo numa guerra contra um filho da Vitória, argh! Estúpido!

Sua fala me faz esquecer o plano de fuga instantaneamente. Meu país? Contra um de seus filhos? Desvio meu olhar até o rosto contorcido de raiva da deusa, agora realmente prestando atenção no que ela tagarela.

— O que você disse? — aperto os olhos e ela faz uma careta.

— Maldito seja o Rio Lete, você realmente não se lembra — suspira — A Campanha da Rússia de 1812.

Pisco, as engrenagens do meu cérebro tentando girar.

— Campanha...? — Ela me ignora, absorta na raiva que sei lá o que diabo aconteceu no século XIX.

— Meu querido Bonaparte invadiu aquela bugeda que você chama de país com mais de seiscentos mil homens da Grande Armée, pronto para mais uma vitória, mas adivinha quem se enfiou no caminho? — ela rosna, apontando acusatoriamente para mim — Você! Sua inconsequente de uma figa, provocou uma nevasca tão grande que tornou aquele inverno o mais frio de toda a história da Rússia!

Sinto meu coração batendo mais rápido a medida que ela fala. Eu era russa! Ai meu Deus, eu era russa! Que coisa divertida! Mas, opa, espere um momento. Como Zeus foi passar o rodo lá nos cafundó da Rússia Medieval? Hmm. Terei uma conversinha com meu pai quando o vir da próxima vez.

— Um momento dona Nike — falei seu nome errado de propósito, pronunciando como o nome da marca — A senhora está me dizendo que eu, Hannah, nasci no país que chamam de Rússia?

— Com um sobrenome daqueles minha filha, achou que era de onde? Namíbia? — ela revirou os olhos — Mais alguma pergunta idiota?

Ah é. Nebavskaya. Faz sentido.

— Essa história de Napoleão. Explique-se.

Sorte que, como todo bom e velho vilão, ela tagarela por horas antes de realmente fazer alguma coisa. Parece que ninguém nunca aprende nada com ScoobyDoo.

— Conheci o pai dele em Ajaccio, na ilha francesa de Córsega — a deusa da Vitória começa, suspirando — Carlo Bonaparte era na época um juiz muito influente e também o representante legítimo do rei Luis XVI em toda a Córsega. Ele me chamou a atenção por ser um jurista que não aceitava sair perdedor do tribunal — outro suspiro. Alguém trocou Niké por Afrodite, é isso? — Como ele brigava para ter a última palavra! Nunca levou um desaforo sequer para casa! Nos apaixonamos instantaneamente, claro. E da nossa linda relação surgiu Napoleão — seu olhar perde o foco e vejo que ela está imersa nas lembranças — Ah, mon chéri Napoléon Bonaparte.. Um garoto de ouro de tão bom! Meu pequeno prodígio!

— Pequeno mesmo, porque né, o cara tinha um metro e meio de altura.

Niké bufa, perdendo o ar nostálgico.

— Um metro e cinquenta e seis! Não foi culpa dele o pai não ser alto! — rosna, e eu levanto as palmas com inocência. A deusa range os dentes para mim — Mas que se dane a altura, tamanho não é documento. Meu menino rapidamente ganhou espaço no exército de seu país, foi de um simples soldado ao imperador da França em poucos anos! Lutava à frente dos inimigos, não temia a morte, nunca aceitava nada menos que a vitória. Era invencível!

— Devia ser o orgulhinho da mamãe.

Como sempre, meus comentários são dispensados.

— Corria até mesmo um boato na Europa de que ele era um deus, um imortal, o que era meia verdade — continua a deusa, sem mais aquele olhar sonhador — E se não fosse por você, sua, sua.. — ela pensa num xingamento à minha altura, mas acaba desistindo — Aquela baboseira na Rússia foi ridícula! Meu Leãozinho perdeu quase quatrocentos mil homens e voltou pela primeira vez derrotado, humilhado para Paris só porque você, sua camponesa intrometida, intensificou as nuvens de neve e abençoou todos os soldados do exército russo!

Respiro fundo uma, duas, três vezes. Minha cabeça dói diante de tanta informação, tão forte que tenho que massagear as têmporas para não bater com a cara no chão. Mas que beleza, tanto tempo querendo saber das águas passadas e quando o momento chega não consigo lidar com ele.

— Leãozinho? Você chamava Napoleão Bonaparte de Leãozinho?

— De tudo que falei, é só isso que você guarda! Menina insolente!

Nota mental: perguntar Annabeth o que é insolente.

— Então, é isso? Fui chutada do Olimpo por um século porque congelei a bunda do imperador? — rio ironicamente — Que pena. Devia ser um exército muito ruim esse, pra ser batido por uma simples russa anã — faço uma pausa provocativa — Oh, espere. O anão da história não era eu, não é mesmo?

Niké estreita os olhos dourados e range os dentes para mim. Reparo que seus caninos são mais pontudos do que os de uma pessoa normal, como se ela rasgasse a garganta dos adversários perdedores com os dentes.

Animador, isso.

— Se quer saber, não fui eu quem sumiu com você, sua camponesa mal-criada — ela levanta a voz — Mas pode ter certeza que, dessa vez, vai ser.

Niké joga a lança que tem nas mãos no meio do caminho entre nós duas, e assim que ela se finca no assoalho, o ar torna-se esbranquiçado. Minha visão fica turva e a respiração difícil, de forma que aperto os olhos enquanto tusso com a fumaça do além. Parece mais obra de Hécate, a deusa da Magia.

Abro os olhos quando o cheiro da fumaça passa e meu coração parece parar por segundos. Eu e Niké não somos mais as únicas no palco, na verdade, estamos no centro de uma roda. Cerca de vinte homens, talvez mais ou talvez menos, estão parados em círculo ao nosso redor. Eles estão com a mesma cara de poucos amigos, têm a pele levemente acinzentada e estão todos em posição militar de descanso — pernas afastadas na linha dos ombros, mãos para trás.

Heróis de guerra. Mortos. É isso que eles são.

— Ora, ora. Talvez você não seja tão idiota quanto eu achava que era — diz Niké com a satisfação estampada no rosto, provavelmente lendo meus pensamentos — Todos esses homens que você vê — ela abre os braços ao dizer todos — foram capitães abençoados por mim com o passar das batalhas. Ingleses, norte-americanos, austríacos, sul-africanos... Apenas os melhores.

Corro os olhos pelos soldados e vejo uniformes de várias épocas: desde os estilo lorde inglês até as fardas de hoje. Se Niké estiver falando sério, esses foram os homens que dizimaram cada de seus inimigos até sairem vencedores de alguma batalha. Cadê o Percy e o Nico pra socar a cara desses mortos quando eu preciso? Se bem que isso é um pensamento meio machista.

Me viro para trás e vejo que há um desses capitães parado a meio metro de mim, na mesma posição de descanso. Pela aparência parece que não devia ser muito mais velho que o Percy quando morreu. Ele tem a pele cinzenta, os cabelos louros desbotados e um brilho maligno nos olhos vermelhos, e pela maldita insígnia no uniforme marrom, chego à horrenda conclusão de que é um soldado nazista.

Ele levanta os cantos da boca, satisfeito ao ver meus olhos arregalados.

— Será um prazer torcer seu pescoço, saumensch — diz com um sotaque germânico forte. Na verdade, ele podia ter dito que tinha um poodle chamado Mussolini que pela sua forma de pronunciar, ainda soaria como uma ofensa contra mim.

Recomponho minha postura de badass habitual.

— Não antes de eu chutar essa sua bunda mole, chucrute — rosno. Se ele tinha o direito de me chamar de alguma coisa indefinida em alemão, eu tinha o direito de chamá-lo de conserva de repolho fermentada. Fala sério, aquele troço tem gosto de tijolo.

Chucrute (eu precisava de um apelido pra ele mesmo) levanta uma sobrancelha.

— Vamos ver se continuará com essa pose quando as coisas realmente ficarem interessantes.

Aperto os olhos para ele e viro-me de volta a Niké. O sorriso de satisfação da mulher quase me faz avançar pra cima dela. Mas não sou tão retardada assim.

— Sério mesmo, dona? — cruzo os braços sobre o peito — Me desculpa se dei ao seu Leãozinho a primeira derrota da vida dele ou sei lá que diabo, mas acha que isso é mesmo necessário? — ela continua a me encarar com cara de paisagem — Não sei o que passava pela minha cabeça na época, mas ele invadiu meu país e tudo que fiz foi salvar os inocentes que morreriam numa guerra sangrenta. Quando Cronos invadiu o Olimpo, a sua casa, a senhora também lutou, não é verdade?

A deusa da Vitória revira os olhos, mas percebo que ela chega a pensar no que falei por instantes.

— Não coloque Cronos nisso. Ele é um titã que não deve ser sequer lembrado — ela faz um gesto de desprezo com a mão — Mas, querida, diante do que você fez 1812...

— Eu sequer me lembro de 1812, pelo amor de Deus! — berro.

— ... para mim é questão de honra! Impedir você de voltar ao Olimpo é honrar a derrota de meu filho! — ela sobe o tom em resposta — Atenção!

Os soldados a nossa volta ficam em posição de sentido, e ela continua as ordens em grego antigo. Levo algum tempo para desenferrujar os ouvidos e entender o que ela diz.

— ..sua mestra ordena que vocês eliminem a filha de Zeus, nem que voltem para o Mundo Inferior fazendo isso. Agora!

Ai, fudeu.

Niké tremeluz e desaparece, deixando-me a sós com seus capangas de guerra, e tudo que passa pela minha cabeça é: CADÊ O VIADO DO MUKE PORRA.

Ordeno minhas pernas que corram pra longe do Chucrute e companhia quando eles partem pra cima de mim, pois elas teimavam em permanecer paradas. No meio do caminho para a liberdade, dou uma joelhada em um soldado grisalho e arranco a lança dourada de Niké de suas mãos, aproveitando para cravá-la em seu peito. Para minha surpresa, ele se desintegra e forma um montinho de pó no chão.

Uai. Será que só de beijar um filho de Hades eu já tive poderes hadísticos transferidos pra mim?

Me pergunto se foi algum tipo de coincidência, então aproveito minha dúvida para espetar um maloqueiro de uniforme azul que pula no meu pescoço. Como que em replay, a cena se repete. Puf!

— Minha gente, que coisa eficiente — falo pra mim mesma, olhando impressionada para a lança. Vai ser fácil, fácil acabar com esses diabretes. Melzin na chupeta!

Só que a anta aqui se esqueceu de que estava na desvantagem de um contra vinte (dezoito?), e um cotovelo, mão, pé, uma parte qualquer acertou meu rosto enquanto eu estava na metade da palavra ‘eficiente’.

Caio de costas no chão e o impacto tira o ar dos meus pulmões. Enquanto eu arfo descontroladamente, desesperada por oxigênio, um dos soldados, que agora tem a arma de Niké nas mãos, se ajoelha na minha barriga e piora minha pseudo-asma. O que, aliás, foi uma coisa muito mal-educada de se fazer. Você não tem modos, defunto? Isso é jeito de tratar uma dama!?

Enfim. Estou divagando.

Um dos soldados coloca um joelho na minha barriga, impedindo-me de levantar, e soca meu rosto. Não sei se ele mirava no queixo ou nariz, mas acaba acertando minha boca. Sinto rapidamente o gosto metálico de sangue esquentando a língua, com a gengiva cortada pelos meus próprios dentes.

Forço-me para engolir o sangue, mas é em vão. Ele rapidamente enche minha boca outra vez.

— Saia de cima de mim — grunho. Não gosto de ter um capitão de 500 quilos apoiado em minha pessoa.

— Ah, continua con la pose de heroína, muchacha? — ele tem a voz rouca, como se não a usasse a milhares de anos.

— Eu mandei sair de cima de mim!

Foram várias etapas: primeiro, cuspo o sangue que ele mesmo causou na cara do cidadão. Daí, acerto o cotovelo em suas costelas e quando ele se curva pra frente, acerto o punho em seu nariz. O creck que escuto soa como música para meus ouvidos, e aproveitando sua distração, empurro-o para o lado. Com ele gemendo pelo nariz espatifado, é (sim, adoro expressões bregas) mamão com açúcar roubar a lança que eu mesma roubei de outro cara e puf!, criar outro montinho de pó.

TOMA, DESTRAÍDO.

Os que restaram se mantêm afastados, diante do meu poder de evaporá-los. O que não quer dizer que eu me afastei deles, também. Fala sério, eu tinha muita raiva pra extravasar — raiva do Muke, raiva de Niké, raiva do espanhol (ou argentino, paraguaio, porto-riquenho, tanto faz), raiva desses deuses que sabiam mais da minha vida que eu. Então, era óbvio que eu estava louca pra poder sair batendo em qualquer um que aparecesse na minha frente. Eu era uma máquina de matar.

Ou ao menos, uma máquina de espetar nos lugares mais improváveis o possível.

Mas eu não era de ferro, lógico. Levei uma porrada de porradas no caminho e podia sentir o corpo todo dolorido, a gengiva sangrando, os braços queimando de dor. Só que.. você já saiu espetando a fuça das pessoas? É muito divertido. Não tinha Anderson Silva (sem perna quebrada) que conseguiria me parar.

MAS isso não quer dizer que você deve sair pela sua cidade espetando as pessoas. Pelo amor de Deus, ó o Papa Francisco pregando a paz aí minha gente, vamos todos seguir o exemplo dele.

— AHHHHH MORRE DIABO.

Mas diante da minha situação, o único exemplo que eu seguia era de Resident Evil.

Determinado momento que eu havia dizimado metade deles e pulei para desviar de uma rasteira, senti que a dor na mão que segurava a arma estava ficando cada vez maior. Acredite em mim, carregar o símbolo divino de outro deus é mais difícil do que parece.

— Já vai tarde — resmungo, olhando para o montinho que mais um oficial era agora. Me viro para os que restaram: Chucrute, um asiático e um jovem ruivo de uniforme antigo estiloso: botas pretas até os joelhos, sobretudo escuro sobre a calça branca. Devia cegar os inimigos de tão fashion — Se vocês mexerem comigo, a próxima coisa que verão é um aspirador de pó!

Para dar ênfase, balanço a lança na minha frente. Eles recuam, os rostos sérios.

Ótimo. Hora de achar a Clave.

Dou passos para trás, ainda olhando para os enfardados. Eles continuam parados, observando qual será meu próximo movimento, e à medida que me afasto percebo que enquanto essa belezinha estiver nas minhas mãos, terei paz.

Mas eu esqueci que o palco tinha um limite. Capof!

Trupico no degrau do palco, caindo de uma altura de um metro e pouco. Não é muita coisa, mas o bastante para fazer o resto do que não doía do meu corpo doer e o soldado ruivo fashion pular na minha frente, me puxar pelo cabelo e me desarmar. Os outros dois esperam em cima do palco, de braços cruzados e sorrisos maus.

— É toda sua, Kutuzov — fala Chucrute, bastante feliz ao me ver de mãos vazias, imobilizada pelo ruivo que agora segura meus pulsos numa mão e a lança dourada na outra.

Que modo trágico de morrer. Será que eu vou virar pó, também? Ou vou agonizar até Deus sabe quando?

— Você não pode me matar, sardento — dou um sorriso vacilante pra ele. O indivíduo realmente tinha sardas quase que imperceptíveis na pele acinzentada pela morte — Pode tentar, mas não vai conseguir.

Lógico que podia. Ao menos, eu acho que sim. Tudo que eu queria era fazer ele soltar minhas mãos, porque eu podia sentir os cortes nos pulsos pelo aperto.

— Eu matei mais de quinhentos homens enquanto vivo — assim como Chucrute, o ruivo tem um sotaque que faz qualquer palavra soar como um xingamento, mas me parece menos grosseiro que o alemão. É mais.. familiar — Por que não poderia fazer o mesmo com uma garota magricela?

Opa, calma lá. Magricela é relativo.

Fecho os olhos quando a ponta afiada vem na direção do meu rosto, pensando que era meu fim (ou ao menos, um quase fim bem trágico).

— Deuses são imortais, seu idiota! — grito, desesperada — Experimente matar a deusa das nuvens. Te dou um biscoito se conseguir.

Sinto o aperto nos meus pulsos afrouxar, e quando abro os olhos, confusa, vejo a surpresa no rosto do moço. Ele levanta as sobrancelhas ruivas e arregala os olhos vermelhos, a boca num perfeito 'oh'. A surpresa do cidadão é tanta que me deixa espantada. Mas o que me deixa perplexa mesmo é o que ele faz a seguir.

O caboclo me joga por cima do ombro feito um saco de batata e sai correndo desembestadamente.

— Ei! Ei, Kutuzov! — escuto a voz confusa de Chucrute — O que está fazendo?

O soldado levemente doido não responde, muito concentrado na corrida. O que é uma pena, porque é algo que eu também queria saber.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, SEU DEMENTE? — berro, batendo os punhos nas costas do infeliz. Minha cabeça doía com os solavancos de ponta-cabeça.

— Salvando sua vida! — ele grita de volta enquanto chuta as portas do teatro, se esgueirando pelos corredores para fugir de Chucrute e do capitão asiático. Ou ao menos é o que imagino, já que não podia ver nada com a cara amassada contra seu uniforme sassy.

— E por que está me salvando?! — não que eu estivesse reclamando.

Ele corre mais alguns minutos antes de me responder. Na verdade, não volta a usar a voz enferrujada nem depois de me jogar sentada no chão do banheiro do terceiro andar da escola.

— Ai, cuidado comigo, seu-- corto minha frase no meio.

Um ex-colega mauricinho estava caído aos pés de uma pia, babando.

— Niké desacordou todos os mortais do prédio. Não estão mortos — explica, agachado a uma distância respeitável, antes que eu pudesse perguntar. Talvez o Muke tenha ido junto. Ótimo.

— Mas..

— Me desculpe pelo que ocorreu no teatro — ele me corta, parecendo desconfortável — Não te reconheci imediatamente, mas quando você disse ser a deusa das nuvens reparei que, apesar das roupas diferentes, seu rosto era o mesmo.

— Reconhecer? Você sabe quem eu sou? — Ele balança a cabeça afirmativamente.

— Hannah Nebavskaya, a deusa das nuvens e outras coisas mais. Lutamos no mesmo lado da guerra, e tenho uma dívida com você.

— O quê?

— Na época das guerras de Napoleão. Não se lembra? — balanço a cabeça negativamente, perplexa — Eu era marechal-de-campo na batalha contra as tropas napoleônicas na Áustria. Você matou um francês maldito quando ele estava prestes a arrancar minha cabeça fora.

— Matei? — pergunto, levemente horrorizada. Não sou nenhuma flor que se cheire, mas matar alguém que não vira pó parece mau.

— Sim. Eletrocutou o coitado com um raio — deu de ombros, como se não fosse nada demais saber que eu matei alguém — Como um filho de Nêmesis, acho justo retribuir.

Analiso o soldado em silêncio. A julgar apenas pelos fios ruivos caindo nos olhos vermelhos e a pele acinzentada sardenta, eu nunca diria que era um filho da deusa da justiça.

— Você também é um semideus russo? — pergunto. Ele parece estupefato.

— Você se lembra?

— Não, é o seu sotaque. Não importa o que diga, parece que está me xingando.

Kutuzov ri pelo nariz.

— Isso é bem americano da sua parte.

— Moro aqui há um bom tempo, sabe. Acabo pegando as manias.

— Percebi — ele observa meu rosto por um instante — Da última vez que nos conversamos foi apenas em russo, não inglês.

— Existem outros semideuses por lá? Ou somos os únicos? — não achava que os deuses teriam filhos num fim de mundo gelado como aquele.

— Existem muito mais meios-sangues naquele país do que você imagina, senhorita — ele ri, como que numa piada interna consigo mesmo.

— Sério? — pergunto animada, e ele faz que sim.

— Ao menos correm as notícias no Mundo Inferior que a Força continua lotada de filhos de deuses até hoje.

Franzo as sobrancelhas.

— Força? O que ser Força?

Ele morde o lábio, arrependido de ter tocado no assunto.

— Você não se lembra. É uma, ahn.. associação de meios-sangues. Desde os tempos remotos nós não tínhamos condições de deixar nosso país para ir atrás do Acampamento, então acabamos por criar nossa própria base secreta.

— Imagino a cara da Annabeth quando descobrir isso — levanto as sobrancelhas, impressionada. Meu Deus, a primeira coisa que farei quando voltar ao Olimpo definitivamente vai ser dar um pulo em Moscou para sair desbravando a cidade.

Kutuzov arregala os olhos.

— Não! É uma base secreta. Apenas membros podem saber de sua existência.

— Então por que me contou?

Ele faz cara de bunda pra mim.

— Bom, junto com os outros deuses, a senhorita foi quem a criou.

Respiro fundo, cada vez mais confusa com esse tanto de informação. Derrotar Napoleão, salvar a vida de um oficial conterrâneo, criar um Acampamento secreto. Minha vida era bem mais fabulosa antes do que agora.

— Não se preocupe, Annabeth é cem por cento confiável. Ela é uma das que está comigo atrás da.. — como um baque, meu objetivo principal volta à minha mente. O último pedaço da Clave, que dará fim à busca — Ah meu Deus.

Vou num pulo em direção ao corredor, sem me lembrar do oficial ruivo. Mas não faz diferença, porque ele me alcança depois de cinco passos.

— Senhorita? — enquanto nos desviamos dos alunos desacordados no chão, reparo que ele dá um passo a cada três meus.

— Uma longa história. Preciso achar algo brilhante. Muito brilhante.

Ele pensa por alguns instantes.

— Feito a lança de ouro de Niké?

Paro abruptamente. Ouro? Ouro!

— Kutuzov, você é um gênio!

Ele franze as sobrancelhas ruivas.

— Sou?

Desço as escadas até o segundo andar novamente, quase tropeçando de tão animada. Meu Deus, como eu não percebi isso? Lerda!

— É sim, camarada — falo quando chego as estantes de Honra ao Mérito da escola. Minha medalha continua ao lado da foto com o governador, com seu brilho anormal de Clave.

Kutuzov aperta o rosto no vidro.

— Aquela garota com cara de retardada é você?

Reviro os olhos. Eu achar que estou retardada é uma coisa, um oficial morto de duzentos anos achar é outra.

— É. E não se fala mais nisso — dou uma cotovelada no vidro e, ignorando o sangue que corre nele depois disso, pego minha medalha e coloco-a no pescoço. Ele a observa com os olhos estreitos.

— Esse é o ouro que procurava, devushka? — faço uma careta ao escutar a palavra — É garota em russo. Achei que falasse a própria língua.

Antes que eu pudesse explicar que não, eu não falo mais russo graças minha amnésia cabulosa, uma sombra passa pelos meus olhos e quando me dou conta, o oficial asiático que surgiu do além acerta meu rosto. Me desequilibro e seguro com força o que está mais perto de mim para não cair, que infelizmente é o vidro quebrado das Honras aos Méritos.

Ao mesmo tempo que contenho um berro pelo soco e pela mão, o bonito grita alguma coisa em japonês, mandarim, enfim. Viro a cabeça ainda a tempo de ver meu mais novo amigo Kutuzov dar um trato no sujeito, algo que eu não devia ter feito. O asiático cai e ali fica, tão inerte quanto os mortais desacordados.

É, nunca subestime o treinamento militar do século dezoito.

— Você.. torceu o pescoço dele? — pergunto quando o ruivo pega uma echarpe no pescoço de uma garota dormindo no meio do corredor e a amarra na minha mão que agarrou o vidro. Faço uma careta, mas não reclamo — Obrigada.

— De nada — ele responde com uma calma preocupante — Agora você deve pegar seu ouro e sair daqui, senhorita. Não queremos que Maxi, o alemão, atrapalhe..

Só que, como sempre, "não queremos" dá azar. Muito azar. Ouço a risada enjoada de Chucrute (não me importa o nome verdadeiro do infeliz) na esquina do corredor.

— Vocês falam alto demais, foi tão fácil achá-los quanto acharia um elefante numa planície. Aschlöcher.

Dou uma bufada, irritada com a cara de pau do cidadão.

— Olha aqui, seu--

— Ele nos chamou de imbecis, senhorita.

Hm. Chucrute, você tem cada vez menos o meu apreço.

— Que bom que reconhece, Kutuzov — diz o alemão — Mas como eu já disse, será um prazer torcer seu pescoço, guria. E o seu também, traidor. Meu trabalho quando vivo era matar russos nojentos na fronteira da Polônia, mesmo.

Ranjo os dentes. Se esse paspalho não parar de falar, serei obrigada a dar um Pra Matar nele.

Não, espera. Por que não agora?

— E o meu é quebrar narizes, chucrute! — pulo na direção do rapaz e acerto seu rosto com o máximo de força o possível, na esperança de fazer um estrago que só cirurgia plástica resolveria.

Ele grita qualquer coisa em alemão, segura o rosto com uma das mãos e me empurra com a outra. Bato com as costas num armário, a mão enfaixada latejando pelo impacto.

— Maxi — escuto a voz dura de Kutuzov ao longe, sem prestar muita atenção em qualquer coisa — Ela é uma deusa e não deve ser morta.

— Que se dane — responde o nazista com o sangue fresco correndo pela bochecha. Ótimo — Não devo nada aos deuses.

— Seu pai é um deles.

Nein! Ares nem ao menos pode ser chamado de pai. Do mesmo jeito que vocês, russos, não devem ser chamados de gente — Chucrute saca uma arma dos anos quarenta e lá vai pedrada do uniforme marrom e a aponta para mim.

Eu poderia ter me movido, mas não havia onde me esconder. E também, cada milésimo de milímetro do meu corpo gritava de dor. As bochechas cortadas, as mãos e os pulsos machucados latejando, o tronco pelos diversos acertos que eu havia levado. Tudo que pude fazer foi fechar os olhos e me encolher como uma bola.

Mas quando escuto o barulho do tiro, o grito que preenche o corredor não é meu. Também, o baque de alguém despencando não é do meu corpo.

— É isso que fazíamos com traidores no meu tempo, maldito.

Arquejo, percebendo que o ruivo havia pulado na minha frente.

— Kutuzov! Não!

Me arrasto até o moço esparramado no chão, ignorando a dor nas mãos. Ele treme descontroladamente, o sangue escuro correndo no uniforme azul. Sempre fui péssima em anatomia, mas posso jurar que ele foi acertado bem próximo do coração.

— Sou um homem de palavra, senhorita — fala sem olhar pra mim, como se ele estar morrendo não fosse nada demais.

— Não, por favor, não morra! Eu imploro!

Kutuzov desvia os olhos vermelhos até mim e ri com certa dificuldade.

— Eu morri há duzentos anos, numa batalha. Fui atingido por um belga — ele geme. A ferida dói mais do que demonstra — Só estou voltando para onde não devia ter saído.

Sinto o queixo tremer, e antes que eu possa evitar, estou chorando descontroladamente. Salvei a vida desse moço ruivo a dois séculos atrás, e agora a cena se repete. Só que ao inverso.

— Quantos anos você tinha? — ele franze ligeiramente as sobrancelhas com a pergunta — Quando morreu?

— Trinta e dois. Quase trinta e três.

— E quando eu.. — minha voz falha — Te salvei?

Kutuzov olha para o teto e fica inerte por tanto tempo que temo já ter voltado ao Hades. Mas então ele responde com a voz fraca.

— Vinte e nove. Você me deu quase quatro anos de vida — ele sorri fracamente, os dentes antes brancos já vermelhos pelo sangue — Obrigado por isso.

Pego sua mão e a aperto, com as lágrimas embaçando minha visão. Embora tenha o conhecido a uma hora, duas, meia, que seja, me sinto profundamente abalada por sua morte.

— Para onde você vai? — pergunto entre fungadas e ele respira fundo, com o olhar triste — Por favor, não me diga que os juízes te escolheram punição.

Ele se recusa a responder. Entro um pânico.

— Kutuzov! Você estava nos Campos de Punição?

— Foi justo, senhorita. Como filho de Nêmesis, reconheço isso — ele suspira — Matei muita gente quando vivo. Muita gente inocente — ele geme mais uma vez, não sei se pela dor física ou psicológica — Não só soldados.

Nesse ponto, já estou soluçando e fungando e falando ao mesmo tempo.

— Você só seguia ordens, era seu trabalho! — balanço a cabeça — Eles têm que rever isso.

O ruivo desvia o olhar para o teto mais uma vez, e percebo que se arrepende profundamente das vidas que tirou.

— Não estou brincando — digo. Fungada —. Quando souberem que você me salvou — fungada —, e mais importante, que não se orgulha por matar ninguém — fungada —, vão te colocar no Elísio.

Ele suspira pesadamente, ainda sem acreditar, e aperta minha mão de volta. Ou ao menos, ele tenta.

— Obrigado por ter me salvado, devushka.

Seus dedos se frouxam, e antes que eu possa chorar mais, ele para de piscar. Me encolho onde estou, percebendo que nem ao menos agradeci por ele ter me salvado agora. Poderia muito bem ter ligado o foda-se e ficado parado onde estava, mas não. Fecho os olhos dele e choro que nem um bebê, me esquecendo de quem estava atrás de mim.

— Sinto muito cortar o melodrama, rapariga, mas eu ainda tenho que torcer seu pescoço.

Pronto. Foi isso que me lembrou.

Ranjo os dentes, o choro pelo moço que salvou minha vida tornando-se ódio pelo nazista filho de uma branquela. Com uma força que veio do além, solto a mão fria do ruivo morto (ou duplamente morto, depende do ponto de vista) e coloco-me de pé.

— Vai, torce a droga do meu pescoço. Não ligo, e sabe por quê? Sei que se alguém como o Kutuzov vai ser punido quando voltar pro Hades, você também será. E farei questão de pedir ao Nico que seja a pior punição o possível.

Chucrute dá de ombros. Ele tem o coração mais ruim que já vi, se é que tem algum.

— Posso dar conta de você antes de descobrir.

Me apoio na parede, cada vez mais fraca para ficar em pé. Sinto o sangue quente encharcando a echarpe emprestada e me esforço bastante para conseguir falar novamente.

— Vá em frente, colega.

O soldado anda a passos largos até mim, as botas fazendo barulho no assoalho. O pensamento triste de que muitas pessoas tiveram essa mesma visão antes de morrerem em Campos de Concentração me atinge, e a raiva que tenho dele me faz cuspir na sua cara quando se aproxima. O moço limpa o rosto com as costas da mão com calma.

— Até que você é uma menina corajosa. Daria uma ótima hitlerista.

— Não, obrigada — rosno — Sou alérgica a filha da putagem.

— Que pena — o alemão balança a cabeça em negação — Resposta errada. Morte pra você — ele tira uma das mãos detrás do corpo, com a lança dourada da Vitória. Eu estava tão entorpecida pela própria dor que nem tinha reparado que ele a tinha nas mãos.

Sem dó nem piedade, ele finca a lâmina perto do meu coração (ou talvez tenha sido no estômago, dos rins, sei lá. Tô meio desesperada pra reparar), atravessando-a. Devo ter gritado, mas na moral, não tenho certeza de nada além de que qualquer dor que eu já senti não é nada comparada a essa. Despenco de lado no chão, tremendo, esparramada no próprio sangue.

Chucrute empurra meu ombro com uma das botas até que estou virada pra cima, mas seu sorriso frio no rosto cinzento é apenas um borrão na minha visão desfocada.

— Vejo você do outro lado, saumensch — e ele vira um montinho de pó a centímetros do meu rosto, voltando pro lugar de onde veio.

“Experimente matar a deusa das nuvens. Te dou um biscoito se conseguir”. Parece que estou devendo um cookie ao Chucrute.


Parte II: Point of View — Percy Jackson

— Não, moço. É Percy.

O caixa do Starbucks, um garoto de aparência mexicana que não fala inglês muito bem, pisca.

— Jesse?

Enterro o rosto nas mãos, não aguentando mais. Eu estava a meia hora dizendo a ele meu nome, e até agora tudo que consegui foi uma tonelada de palavras que rimam com Percy e vários clientes irritados atrás de mim.

— Não, não não. Percy. P-e-r-c-y.

— Mercy?

— Pelo amor de Poseidon, não! Percy, de Perseu!

— Ahhh, de Perseu! — ele levanta as sobrancelhas — Compreendo.

A mulher atrás de mim murmura 'aleluia'.

— Então es un café Califórnia, dos descafeinados e dos frapuccinos de frutas vermelhas — faço que sim. Ele me diz o preço, eu pago, agradeço e volto para a mesa aos fundos. Annabeth e Nico me aguardam, conversando animadamente sobre algo.

— Ei, cadê a Rach e o Orchard? — pergunto ainda de pé, apoiando as mãos na mesa. Os dois se viram para mim.

— Desistiram de te esperar e foram pra um outro Starbucks a duas quadras daqui — responde-me Annie — Por que demorou?

Suspiro.

— Longa história. Problemas com o nome.

Nico também suspira em resposta.

— Compartilho de sua dor — diz — Já colocaram tudo quanto é pérola pra mim. Lico, Rico, Mico... Agora quando perguntam, digo que é João.

Eu e Annie rimos com a seriedade com que ele fala isso.

— João di Angelo. Bonito — bagunço seu cabelo, e ele bufa.

— É, bagunça mesmo. Levei horas pra arrumar.

Annie levanta as sobrancelhas. Realmente, com os fios desgrenhados caindo sobre o olho, o cabelo dele é tudo menos arrumado.

— Você penteia o cabelo? — ela nem se preocupa em esconder a surpresa.

— Lógico que não.

Pisco. Então, por que..

— DOIS FRAPUCCINOS, DOIS DESCAFEINADOS E UM CALIFÓRNIA PARA DIRCEU.

Não. Para. É zoação comigo.

Me levanto e vou até o balcão pegar os cafés. Dou um frapuccino e um descafeinado para um casal da fila, já que os ruivos do grupo nos abandonaram, e volto com três para nossa mesa.

— Isso é meio gay da sua parte — comenta Annie, observando Nico e seu frapuccino, uma espécie de milk shake de baunilha e frutas vermelhas. É uma bebida bastante feminina, se quer saber. Mas ele não se deixa abalar por isso.

— Diz a garota cujo namorado bebe café descafeinado.

Bato a mão na mesa.

— Protesto! É culpa da hiperatividade — falo de boca cheia. Só depois de descobrir ser semideus, entendi porque minha mãe sempre escondia café comum de mim. 'Você é alérgico', dizia. Sei. Ela que tinha alergia às coisas que eu quebrava, correndo pela casa.

Depois de eu defender bastante meu café sem café, começamos a conversar das nossas impressões da cidade da fama: nós fomos direto para um Starbucks depois que Muke e Hannah voltaram à sua antiga escola, ao terminarmos damos uma volta por aí (calçada da fama e afins) e então viemos para esse outro Starbucks perto dos estúdios da Universal. Já era quase de tarde, e a fome do almoço estava chegando.

No meio de uma conversa sobre artistas que não mereciam estrela na calçada, Nico está falando sobre aquela menina da Disney da bola de demolição, quando ele para no meio de uma frase.

— Nico? Que foi? — pergunta Annabeth. Ele continua calado, o frapuccino na metade em cima da mesa, os olhos encarando algum ponto além da gente. Sua respiração se acelera gradativamente até que está como a de uma pessoa que tem asma sem ar.

— Ei, cara. Tá tudo bem com você? — pergunto, preocupado, deixando meu café sem café também em cima da mesa. O Nico não tinha uma dessas crises sobrenaturais faz um bom tempo. Eu e Annie nos entreolhamos.

— Pelo amor de Atena, nos fale o que está acontecendo — minha namorada segura a mão dele que está em cima da mesa, tentando acalmá-lo. Não funciona.

O filho de Hades olha pra Annabeth e depois para mim, sem saber o que fazer. Seu rosto está mais pálido que o normal, os olhos castanhos mostram uma medo que eu não esperava vir deles. Não um medo qualquer, mas o pior deles, o pânico. Um pânico tão grande que sua voz falha várias vezes antes de finalmente funcionar.

— Eu posso ver a Hannah morrendo.

**

Saumensch: imprestável, inútil, preguiçosa, vagabunda. Créditos ao autor de A Menina que Roubava Livros.


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Notas finais do capítulo

EU SOU MUITO MÁ
É que nem um ditado que vi no tumblr: não sabe o que fazer numa história? Pense: qual é o pior que posso fazer a esse personagem? E faça!
Mas nem sei se foi muito impactante porque, como comentei, sou uma droga pra escrever coisas assim. Nem chorei lendo kk fiz alguém chorar aí?
Bom, até a próxima! :D



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