Aurora Boreal escrita por AnebellaCullen


Capítulo 5
Amedrontada


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Bom, antes do capitulo, quero dizer que estou super felizes por estarem lendo! Muito obrigada de verdade!
Então... DIVITAM-SE! :D



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-Certo. - Kyle respondeu e começou a entrar em um dos túneis escuros da caverna, me levando com ele.

Nesse momento me vieram algumas lembranças perturbadoras do tempo em que os humanos controlavam o planeta, lembranças de Jodi: Quando um humano cometia algum crime imperdoável ele era condenado a pena de morte e era executado.

Era exatamente assim que eu me sentia: Caminhando por esse corredor escuro para receber minha punição. Meu crime foi ter roubado a vida de Jodi e junto com ela seus sentimentos. Agora eu teria que pagar do jeito mais difícil, teria que me afastar de Kyle, logo após tê-lo encontrado.

Eu estava tão apavorada que, apesar de poder ouvir perfeitamente o que eles falavam, não conseguia encontrar sentindo nas frases.

Eu estava indo embora. Nunca mais veria Kyle.

A escuridão do túnel só conseguia piorar meu medo. Espiei um pouco as pessoas atrás de mim:, o senhor armado nos acompanhava- ainda segurando aquela coisa, mas não parecia hostil; o garoto parecia ter ido embora e Ian e o humano raivoso andavam um de cada lado de Peg, segurando cada um uma mão dela – Eles a aceitavam e pareciam até mesmo gostar dela... Por que não podia ser o mesmo entre Kyle e eu?

-Está tudo bem. Nada vai machucar você. Eu estou aqui. - Kyle me assegurou, tentando me acalmar. Sim, ele estava aqui, mas por quanto tempo eu estaria com ele?

Tentei me focar um pouco na conversa atrás de mim, talvez entendesse pra onde eles pretendiam me levar.

-Como está a Curandeira? - O humano de dar arrepios perguntou.

Curandeira? Eles também tinham uma alma cuidando da saúde deles?

-Ela acordou, bem antes de eu vir procurar vocês . - Peg respondeu e todos suspiraram, parecendo aliviados.

Continuei confusa: Uma curandeira vivia aqui? Quantas almas haviam se juntado aos humanos, afinal?

-Mas ela está desorientada, e muito assustada. Ela não consegue lembrar seu nome. Doc está trabalhando com ela. Ela vai ficar ainda mais assustada quando ver todos vocês. Tentem ficar quietos e se mover lentamente, tudo bem? - Peg avisou.

-Certo – todos concordaram.

Por que ela estava desorientada? Será que eles a haviam sequestrado? Será que haviam usado violência contra ela e por isso ela ficou com medo?

-E Jeb, você acha que pode largar a arma por um instante? Ela ainda está com um pouco de medo de humanos. - Peg pediu.

-Hum...tá bom – Jeb respondeu, parecendo não muito satisfeito por largar aquele troço feio.

Fiquei um pouco apreensiva, pensando como tudo deveria estar sendo traumático para a pobre curandeira: Eu, que estava aqui por minha própria vontade estava com medo, imagino como deve estar sendo duro para essa pobre alma...

-Com medo de humanos? - Kyle perguntou, como se aquilo fosse estranho...

-Nós somos os bandidos – Ian disse, me deixando surpresa e até mesmo um pouco tocada. Ele era humano, não devia defender sua espécie?

Andamos em silencio por um instante, cada passo era um lembrete para mim: meu tempo estava acabando. Eu precisava fazer algo. Com toda a coragem que tinha, decidi arriscar.

-Kyle? - Eu perguntei hesitante.

-Sim? - A voz dele estava calma e suave.

-Eu não quero voltar para os ursos. - Eu arrisquei.

-você não é obrigada. Pode ir para algum outro lugar.

Ah, ele não havia entendido...

-Mas não posso ficar aqui? - Pedi mais uma vez esperando que, por algum milagre, ele tivesse mudado sua opinião.

-Não. Sinto muito, Sunny. - Ele respondeu firme e sem aguentar mais, chorei.

Claro que Kyle não me deixaria ficar! Obviamente ele iria preferir Jodi! Por que ainda tenho esperanças?

Um sentimento começou a se formar no meu peito: Um misto de raiva e tristeza. Inveja. Eu estava com inveja de Jodi! Queria ter nascido humana como ela e ter o direito de ter um lugar nesse mundo, um lugar só meu no coração de Kyle.

Recuei imediatamente meus pensamentos, enojada de mim mesma: Nunca, em minhas cinco vidas eu havia sentido algo tão ruim e sujo como inveja. Me senti culpada por isso e tentei ao máximo lutar contra esse sentimento.

Chegávamos ao termino do túnel escuro e eu comecei a enxergar uma luz, que não era tão forte quanto a luz do deserto, mas ainda assim eram raios de sol. De acordo com que se aproximávamos, pude ouvir vozes de dentro da caverna, mas não tentei compreender o que falavam, estava ocupada demais em me agarrar a Kyle com todas as minhas forças.

-Cuidado. - Peg avisou e Kyle parou imediatamente, gesticulando para que ela entrasse primeiro e ela o fez delicadamente.

-Olá. - Peg disse calma, mas mesmo assim a mulher se assustou. - Sou eu de novo.

-É Peg – Disse o homem que antes conversava com a curandeira, a voz dele era muito tranquilizadora e eu me perguntei se ele também era uma alma.

-É a alma – A curandeira disse, sentando-se rapidamente, sua expressão apavorada. Franzi a testa, confusa.

Por que ela está tão apavorada com uma alma quando deveria ter medo dos humanos?

-Sim, mas ela é amiga – O homem tranquilizador disse.

Analisei a situação novamente: A mulher a minha frente parecia estar confortável com a entrada de outros humanos, mas se apavorava com a Peg por ela ser uma alma...

Ah, não...

Arregalei os olhos, enquanto a teoria grotesca se formava em minha cabeça: Aquela mulher na minha frente não era uma curandeira...Era a hospedeira da curandeira! Vacilei ao compreender o quanto eu havia sido tola: Peg estava sequestrando almas para libertar os humanos!

O que ela estava fazendo conosco? Onde iam parar as almas?

Meus olhos instintivamente vagaram pelo local e se depararam com uma luz vermelha que brilhava na caverna mal iluminada onde havia uma pilha de criotanques: Dois deles tinham as tais luzes vermelhas brilhantes, indicando que haviam almas ali.

-Ah! - Arquejei, assustada demais para uma reação.

Eles tinham retirado almas e libertado humanos... Peg os havia ensinado. De repente, o fato de que eu estava pra ir embora ficou cada vez mais certo, quase palpável. Não havia ar suficiente enquanto os soluços irrompiam pela minha garganta. Me abracei mais a Kyle, enterrando meu rosto em seu peito e fiz a única coisa que podia fazer: Eu implorei.

-Eu não quero ir! Eu quero ficar com vocês. - Gemi em meio ao choro, só agora percebendo o quanto isso era verdade: Não me importava de ficar ali com os humanos... Eu desejava aquilo.

-Eu sei, Sunny. Sinto muito. - Kyle disse, parecendo incomodado. Senti uma mão em meus cabelos, mas não era ele. Era uma mão feminina.

-Preciso falar com ela um minuto, Kyle. - Peg pediu, já atrás de mim e Kyle me empurrou um pouco, tentando me virar pra ela.

Era agora: Eles iriam me fazer ir embora!

-Não, não. - Implorei, esperando que alguém ao menos tivesse alguma piedade.

-Está tudo bem ele não vai a lugar nenhum. Eu só quero lhe fazer umas perguntas. - Peg tentou me acalmar, mas eu ainda continuei segurando firme Kyle mas, mesmo contra a minha vontade, ele me virou e eu me vi de frente com Peg, me abracei a ela, procurando por apoio. Ela era como eu, talvez me ajudasse.

Ela me rebocou até o canto da sala, Kyle nos seguiu de perto e nos sentamos no chão, eu ainda me agarrava a Peg, sentindo-me mais desamparada do que nunca.

-Cruzes. Eu nunca pensei que pudesse ser assim. Que situação! - Kyle murmurou, ainda com aquele tom incomodado.

Como você a encontrou? E como a pegou? O que aconteceu? Por que ela está assim? - Peg perguntou.

As perguntas dela não me interessavam tanto enquanto aquele sentimento descontrolado do medo parecia preencher todo o meu cérebro. Era como um tic-tac de relógio soando em meus pensamentos, me lembrando que cada segundo ali poderia ser o ultimo.

-Bem, eu achei que ela podia estar em Vegas. Eu fui lá primeiro, antes de ir a Portland. Veja bem, Jodi era muito próxima a mãe e era lá que Doris vivia. Eu pensei, vendo você com Jamie e Jared, que ela iria para lá, mesmo não sendo a Jodi. E eu estava certo. Eles estavam todos lá na mesma casa, a casa de Doris. Doris e seu marido, Warren – eles tinham outros nomes, mas eu não ouvi direito – e Sunny. Eu os observei o dia todo até a noite. Sunny estava no quarto da Jodi, sozinha. Eu invadi depois que todos estavam dormindo. Eu peguei Sunny, a coloquei nos ombros e pulei a janela. Eu achei que ela fosse gritar, então eu fui correndo para o jipe. Depois eu fiquei com medo por que ela não estava gritando. Ela estava tão quieta! Eu fiquei com medo dela.. você sabe. Como o cara que nós pegamos uma vez.

Senti Peg estremecer e me perguntei o que havia acontecido com esse “cara”.Mas, logo depois de um curto segundo hesitando, Kyle continuou com força total.

-Então eu a desci, e ela estava viva, só me encarando, com os olhos arregalados. Ainda sem gritar. Eu a carreguei para o jipe. Eu tinha planejado a amarrar, mas… ela não parecia chateada. Pelo menos ela não tentava fugir. Então eu só fechei o cinto de segurança e dirigi.

Ela só me encarou durante um tempão então finalmente disse, ‘Você é o Kyle” e eu disse. ‘É, e quem é você?’ ela me disse o nome dela. Como é mesmo?

Tive vontade de revirar os olhos pra Kyle – Meu nome não era tão difícil assim!

-Luz do sol através do gelo. Mas eu gosto de Sunny, é bonitinho. - falei desanimada, quase deixando um sorriso triste escapar. Olhei pra Kyle e o vi me olhando com aquele olhar estranho de novo, mas logo ele limpou a garganta, disfarçando.

-Enfim, ela absolutamente não se importava de falar comigo. Não estava com medo como pensei que ficaria. Então nós conversamos – Kyle se interrompeu, parecendo pensar um pouco, o olhar esquisito voltando. - Ela estava feliz por me ver.

-Eu costumava sonhar com ele o tempo todo. Todas as noites. Eu ficava esperando que os Buscadores o encontrassem; sentia tanta falta dele... Quando o vi, pensei que era o velho sonho novamente. - Expliquei para ela, que pareceu ficar mais tensa com o que eu falei.

Será que Peg já havia se sentido assim? Se sim, ela saberia o quão impossível era barrar essas memórias e esses sentimentos.

Kyle esticou o braço e pôs a mão em minha bochecha, minha pele estranhamente formigou onde a dele tocava.

-É uma boa garota, Peg. Não podemos enviá-la para um lugar realmente bom? - Ele perguntou num tom carinhosos. Eu tinha que me contentar com isso: Eu iria embora. Mas só em pensar em deixar Kyle... Bem, eu tinha que continuar tentando.

-É isso o que quero perguntar a ela. Onde você viveu, Sunny? - Peg perguntou, interessada.

-Só aqui e com os Ursos. Estive cinco vidas lá. Mas prefiro aqui. Eu não tive nem um quarto da expectativa de vida aqui! - Reclamei triste. Por que o único lugar em que eu queria estar era o único que eu não podia?

-Eu sei. Acredite, eu entendo. Mas há outro lugar para onde você gostaria de ir? As Flores, talvez? É bonito lá; eu conheço. - Ela sugeriu e eu quase rolei os olhos.

-Eu não quero ser uma planta. - Resmunguei. Imagina como seria chato? Só ficar parada o tempo todo?

-As Aranhas... – Ela começou, mas sua voz morreu.

-Estou cansada de frio. E eu gosto de cores. - E também gosto muito de seres humanos, do meu Kyle, pelo menos. Não entendiam que o único lugar pra mim era aqui?

-Eu sei. Eu não fui Golfinho, mas ouvi dizer que é muito agradável. Cor, mobilidade, família... - Ela sugeriu.

-São todos tão distantes. Quando eu chegasse a algum desses lugares, Kyle estaria... estaria...

Morto.

Comecei a chorar desesperadamente de novo. O que seria de mim quando estiver em outro planeta e tiver a consciência de que Kyle não existia mais? O simples pensamento era doloroso demais para sequer mencioná-lo!

-Vocês não têm outras escolhas? Não há mais lugares lá fora? - Kyle perguntou, seu rosto vincado de preocupação.

-Não para onde aquelas naves siderais estejam indo. Há muitos mundos, mas só uns poucos, os mais recentes, estão abertos à colonização. E eu sinto muito, Sunny, mas tenho de lhe enviar para longe. Os Buscadores querem encontrar os meus amigos aqui, e eles trariam você de volta, se pudessem, para você mostrar o caminho. - Ela respondeu desanimada. Eu quase engasguei: Eu jamais faria algo que machucasse Kyle!Nem que pra isso tivesse que trair minha própria especie. Me dei conta de que eu entendia Peg, afinal.

-Mas eu nem sei o caminho! Ele tapou meus olhos. - Expliquei, esperando que isso me ajudasse a fazer algum avanço: Talvez, se eles me mandassem para um planeta perto, eu poderia voltar, quem sabe?

Não, ainda assim, seria tarde demais. Kyle tinha pouco tempo para viver sua vida humana.

Ele olhava de mim para Peg, como se lhe suplicasse por algo, como se Peg pudesse nos ajudar a achar uma saída.

-Só tem os Ursos, as Flores e os Golfinhos. Eu não vou mandá-la para o Planeta do Fogo. - Peg disse, me fazendo retrair a simples menção desse planeta.

-Não se preocupe, Sunny. Você vai gostar dos Golfinhos. Vai ser bom. Claro que vai ser bom. - Ela tentou me animar, falhando completamente. Só o que consegui fazer foi chorar e chorar e chorar...

-Sunny, eu tenho de lhe perguntar sobre Jodi. - Peg falou.

Vi pela minha visão periférica Kyle ficar tenso e atento, tudo por ser pronunciado o nome dela.

A raiva me inundou, fazendo-me cerrar os dentes.

Oh! No que eu estou me transformando?

Reprimi essa coisa horrível que se alastrava em minha mente e tentei pensar como uma alma, como eu deveria estar pensando: Jodi não tinha culpa alguma. A ladra de corpos ali era eu, não ela.

-O que tem ela? - Resmunguei.

-Ela está... ela está aí dentro com você? Você pode ouvi-la? - Peg perguntou interessada. Estranhei totalmente a pergunta: Que coisa mais tola!

-Não compreendo o que quer dizer – Murmurei confusa. Do que ela estava falando? Eu tinha acesso as memorias dela, só.

-Ela já falou com você alguma vez? Você alguma vez já teve consciência dos pensamentos dela? - Franzi ainda mais a testa, Peg estava me deixando perdida.

-Do meu... corpo? Os pensamentos dela? Ela não tem nenhum. Eu estou aqui agora. - Respondi cautelosa. Onde será que ela queria chegar me perguntando aquelas coisas estranhas?

Peg assentiu lentamente, pensando.

-Isso é ruim? - Kyle perguntou ansioso.

-Não sei o bastante para dizer – Ela disse pensativa e então emendou – Mas provavelmente não é bom.

Os olhos de Kyle estreitaram.

-Há quanto tempo você está aí Sunny? - Peg perguntou. Pensei um pouco, percebendo que não lembrava exatamente o tempo que estive aqui.

-Há quanto tempo, Kyle? Cinco anos? Seis? Você desapareceu antes de eu ir para casa... – Murmurei, tentando forçar minha mente a lembrar.

-Seis. - Kyle disse certo, seu tom era sério.

-E quantos anos você tem? - Ela indagou, parecendo concentrada.

-Vinte e sete. - Respondi e Peg me olhou surpresa. Bem, isso acontecia om frequência: Jodi era muito bonita e jovem e não parecia mesmo ter vinte e sete...

-Por que isso importa? - Kyle falou num tom brusco.

-Não tenho certeza, mas parece que quanto mais tempo alguém passa como humano antes de se tornar alma, mas chances tem de... conseguir uma recuperação. Quanto maior for a porcentagem de sua vida como humano, mais lembranças eles terão, mais ligações, mais anos sendo chamados pelo nome certo... Não sei. - Peg disse nervosa.

-Vinte e um anos são bastantes? – Kyle perguntou e, por um instante, eu pude ver em seus olhos azuis todo o medo de perder a única chance de ter Jodi de volta. Meu coração pareceu se quebrar em pedacinhos, me deixando um pouco descontrolada.

-Acho que vamos descobrir – Peg murmurou.

-Não é justo! Por que você consegue ficar? Por que eu não posso ficar, se você pode? - Apontei em tom acusatório, eu sabia que era injusto, mas estava sem querer descontando um pouco minha dor em Peg.

-Isso não seria justo. Mas eu não vou ficar, Sunny. Eu também tenho de ir. E logo. Pode ser que a gente parta juntas. - Ela disse, o tom triste mal disfarçado em sua voz.

A culpa me inundou de imediato: Eu não queria ter dito aquilo. Peg agora sentiria o dever de ir embora e tudo por minha culpa! Ela deveria ficar! Os humanos aqui gostavam dela! Ela já havia feito demais por eles, merecia ficar!

-Eu tenho de ir embora, Sunny, assim como você. Tenho de devolver o meu corpo também. - Ela falou e, mais uma vez, admirei Peg.

Ela era com toda a certeza a alma mais honrada que eu já encontrei. Me envergonhei de mim mesma: Enquanto Peg era nobre e, por espontânea vontade devolvia o corpo e a vida de sua hospedeira, aqui estava eu, esperneando por algo que não era meu.

Eu tinha que pedir desculpas e dizer a ela que ela deveria ficar, se quisesse. Mas minha desculpas nunca vieram, pois logo quando abri a boca, uma voz afiada de raiva me interrompeu.

-O quê? - Inicialmente, pensei que fosse a voz de Kyle, mas ele estava na minha frente, olhando para mais além.

Foi assustador.

Ian estava com o rosto repleto de fúria e nos encarava. Kyle se moveu um pouco, para nossa frente, estranhando a reação de Ian.

-Ian?. Qual é o problema? - Kyle perguntou alarmado.

-Peg – Ian rosnou o nome dela, estendendo a mão pra ela.

O que ele iria fazer? Eu não podia deixar ele machucá-la! Me segurei em Peg com toda as minhas forças, tentando mantê-la ali comigo.

Ian percebeu que Peg não iria até ele, então nos alcançou rapidamente com suas longas passadas e agarrou o braço dela, a levantando. Desesperada, tentei puxá-la de volta, mas não estava tendo um bom resultado: Eu apenas estava sendo levantada também.

Percebendo isso, Ian sacudiu o corpo de Peg, me fazendo cair sem jeito de volta pro chão, provocando um barulho oco quando encontrei o piso duro. Reprimi um gemido de dor. Ai.

-Qual o seu problema? - Kyle exigiu furioso, se aproximando mais de mim para me checar.

Foi muito rápido, quase imperceptível, só o que pude perceber foi o estrondo e o som de algo quebrando e logo depois, Ian retirava o pé do rosto de Kyle.

-Ian! - Peg arfou.

Me joguei na frente de Kyle, tentando protegê-lo daquele monstro furioso que Ian havia se tornado, mas acabei me desequilibrando e fazendo Kyle cair, gemendo um pouco. Assustada, olhei de Kyle para Peg, que era arrastada até a porta por Ian, mas foram barrados por aquele humano assustador.

-Você ficou maluco, Ian? O que vai fazer com ela? – Jared falou entredentes.

-Você sabia disso? – Ian gritou de volta, ignorando as perguntas de Jared. Peg parecia uma boneca de pano, chacoalhando sob a mão de Ian enquanto ele a fazia ficar mais a frente.

Oh, não! Ele vão brigar! Peg está em perigo!

-Sabe o que ela está planejando? – Ian voltou a peguntar. Jared enrijeceu um pouco e continuou encarando o outro homem raivoso. E então, rapidamente, Jared foi atingido violentamente pelo punho de Ian e cambaleou pra trás, deixando a passagem livre.

-Ian, pare! – Peg pediu, parecendo mais frágil que nunca.

-Pare você! – ele rosnou de volta e saiu arrastando Peg, enquanto Jared se erguia novamente e tentava alcançá-los.

-O’Shea! - O eco da voz de Jared chegava até nós, me encolhi com medo do que aconteceria quando ele os alcançasse.

A essa altura, as cenas grotescas que eu presenciei começavam a passar novamente em minha cabeça como num filme: O terror de toda aquela violência estava me roubando o ar.

Não havia ar suficiente naquela sala!

-Sunny! Calma! - A voz de Kyle me chamou ao mesmo tempo que sua mão envolvia meu queixo, me obrigando a encará-lo.

O toque de Kyle dispersou um pouco do meu pânico e eu pude perceber que estava arfando por ar e tremia muito, pude perceber também que a outra mão dele, a que não estava em meu queixo, envolvia seu nariz, de onde saiam manchas vermelhas escuras: Sangue!

-Oh! Kyle você se machucou! - Grasnei tentando levantar para alcançá-lo, mas minhas pernas tremulas não me ajudavam. Os soluços histéricos começavam a irromper por minha garganta.

Kyle havia se ferido!

-Shh...Calma, não é nada. Vamos, você precisa deitar um pouco... - Kyle disse, me levantando em seus braços sem nenhum esforço.

Recostei minha cabeça em seu ombro e aspirei seu cheiro, o que me acalmou um pouco. Pude ver a hospedeira da curandeira saindo com uma mulher que havia chegado a algum tempo. Kyle me deitou cuidadosamente sobre um catre rústico e pousou a mão em minha testa.

-Kyle... Quando eu vou embora? - Perguntei temerosa.

-Logo, Sunny. - Ele respondeu, me olhando com cuidado. Assenti timidamente.

-Eu queria mesmo ficar aqui com você, Kyle... Não acho que vá suportar viver em outro planeta sabendo que você morreu. - Expliquei, usando toda a minha força para não recomeçar a chorar. A mão de Kyle se moveu para minha bochecha a afagando.

-Desculpe, Sunny. Eu preciso trazer a Jodi de volta. - Ele disse. Mordi o lábio com toda a força e desviei o olhar enquanto as lágrimas tornavam a descer.

Kyle queria Jodi, estava claro pelo seu olhar. Eu não deveria estar me pondo entre eles, ficar desejando o que era dela. Estava na hora de ser corajosa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha ficado legal!
Bom, mais uma vez, obrigada a todos que estão acompanhando e até o proximo!
Bjos!