Aurora Boreal escrita por AnebellaCullen


Capítulo 4
A Resistência


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal?
Voltando com mais um capítulo!
Espero que estejam gostando!
Boa leitura! ^^



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Por mais alguns dias continuamos o nosso caminho e quanto mais avançávamos, mais eu podia perceber o nosso destino: O deserto. A viajem era muito longa e até mesmo cansativa, mas eu não podia reclamar, estava contente demais por estar com ele.

Estar perto de Kyle era surreal, algo pelo que eu ansiei por tanto tempo, mas que sabia que era errado e, apesar de não gostar de quebrar regras... Era Kyle ali! Sempre que ele falava comigo e me chamava pelo meu novo apelido, uma alegria imensurável se apossava de mim... Como um sentimento tão bonito poderia ser errado?

-Que bom que acordou, já estamos perto, Sunny. Logo teremos de ir a pé. - Kyle comentou, assim que percebeu que eu havia acordado do meu cochilo. Olhei apreensiva para ele, com medo de o que me esperava: Como seria a casa de Kyle?

Passei alguns minutos – ou horas- pensando sobre o assunto, conjecturando todas as possibilidades de o que iria encontrar, não que pretendesse fazer algo pra fugir, infelizmente, me encontrava incapaz de dizer não a Kyle.

Magnifico! Eu sou mesmo uma vergonha pra minha espécie... Pensei sarcasticamente. Puxa, tinha que parar com essas coisas humanas!...

De repente, o carro parou e Kyle me encarou sério.

-Sunny, vou precisar vendar seus olhos, desculpe. - Ele disse, esticando um tecido preto e amarrando em minha cabeça, me impossibilitando de enxergar.

-Kyle? Pra quê está fazendo isso? - Perguntei angustiada com a perda da visão.

-Você não pode ver o caminho, desculpe. - Ele esclareceu.

Oh, certo. Eu era a Alienígena aqui, ele não me deixaria ver onde era a casa dele. Tentei não ficar chateada com isso.

O carro recomeçou a andar e depois de algum tempo parou novamente. Ouvi a porta do lado de Kyle bater e logo ele me ajudava descer.

-Acha que consegue andar assim? - Ele perguntou, seu tom ansioso. Assenti brevemente, insegura se estava falando a verdade.

Kyle pegou minha mão e começou a me guiar pelo deserto. Caminhar por essa estrada irregular era uma tarefa muito difícil e eu tropeçava bastante, muitas vezes somente a mão de Kyle me impedia de me esborrachar na areia escaladante até que, depois de uns bons escorregões, senti o chão se afastar dos meus pés e logo estava sobre os ombros fortes dele, que começou a andar imediatamente, agora num ritmo bem mais rápido.

Não sei por quanto tempo Kyle andou comigo nos ombros sem parar ao menos uma vez para descansar, mas senti a diferença quando chegamos a uma sombra- O ar ficou estranho, bem diferente do vento seco do deserto de minutos atrás.

Ele andou um pouco mais e me pôs no chão, tirando cuidadosamente a venda de meus olhos. Pisquei um pouco, meus olhos se ajustando a luz opaca. Olhei em volta – Estávamos numa espécie de caverna estranha: Era iluminada por algumas aberturas no teto e o ar era pesado, nele havia um quê metálico, algo que nunca havia sentido antes.

-Kyle?! - Um rosnado ecoou pela sala, me tirando de minhas observações. Me virei para onde a voz vinha e vi um homem muito alto e musculoso, quase como Kyle.

Me encolhi, automaticamente ficando apavorada: Estava diante de um humano selvagem enfurecido!

-Oi, Jared. - Kyle saudou casualmente.

-Que “Oi Jared” o quê? Você está louco?! O que deu em você pra sair assim?! Você pôs todos nós em risco, seu imbecil! - O tal Jared estava avançando lentamente, suas palavras saiam muito altas e cheias de fúria. Enquanto ele avançava, eu tentava com toda a minha força puxar Kyle pra trás, talvez se ele recuasse esse selvagem o deixasse em paz.

-Calminha aí, Jared! Você está assustando ela. - Kyle pediu, pegando minha mão e a apertando levemente, tentando me tranquilizar. Jared olhou para mim como se só agora tivesse percebido que eu estava aqui. Pegou uma lanterna e apontou para os meus olhos que, naturalmente, refletiram o brilho prata da alma. Logo após, fez o mesmo com Kyle e bufou.

-Mas o que diabos?... - o humano gritou confuso, ficando pensativo por um momento. - Você foi atrás dela! Arriscando todos nós! - Ele gritou, vindo em nossa direção furiosamente mas, no ultimo momento foi impedido por mais duas pessoas que chegavam, uma multidão logo atrás deles. Um era um garoto o outro, um homem, muito parecido com Kyle...

-Ian! - Eu deixei escapar num tom surpreso, quase sorrindo, não fosse a violência a minha volta. Ian olhou pra mim e me encarou por um instante, mas voltou seu olhar para Kyle, fazendo uma carranca.

-Como você se atreve? - Uma mulher de cabelos vermelhos que estava a frente dos outros humanos gritou, logo atrás dela, uma mulher mais velha que era bem parecida com ela e uma mulher baixinha tinham iguais expressões ameaçadoras.

-No que você estava pensando?

-Como ousa?

-Por que diabos você voltou?

As outras pessoas irritadas começaram a gritar também, as coisas começando a virar uma confusão, todos avançando – Uma turba, humanos selvagens.

Kyle me colocou atrás dele, as mãos afastadas do corpo, como se formassem um escudo entre eu e os humanos. O pânico só me permitia dar pequenos gemidos de medo. Jared estava com o rosto vermelho de fúria, tão raivoso que o garoto não conseguia mais segurá-lo e estava sendo arrastado de acordo com que o homem avançava.

-Só se acalmem, está bem? - Kyle pediu falando muito alto, para que pudesse ser ouvido. -Para trás Jared, você a está assustando.

Me estiquei um pouco para poder espiar sobre o ombro de Kyle – E se aquele tal Jared atacasse? Eu não podia deixar ninguém machucar Kyle!

-Peg? Kyle disse, de repente aliviado. - Finalmente você chegou! Pode me dar uma ajudinha aqui por favor?

Um homem de cabelos e barbas grisalhas que, para aumentar meu pânico, trazia uma horrível arma, abriu espaço para a passagem de uma moça alta e morena. O velho deveria ser alguém importante aqui, pois as pessoas o obedeceram, ou talvez fosse somente pela arma, quem sabe?
-Já chega. Vocês vão poder dar bronca nele depois. Todos nós iremos. Mas vamos resolver isso antes, okay? Deixa eu passar. - Algumas pessoas, a maioria, se afastaram e a moça que vinha com ele parou entre Jared, o garoto e Ian.

-Certo, Kyle. - Disse o homem, batendo no cano daquela coisa com a palma da mão. - Nem tente se desculpar, pois não há desculpa. Estou dividido entre botar você pra fora imediatamente ou lhe dar um tiro já.

Foi como se o mundo tivesse ficado fora de foco por instantes, como se não houvesse ar o suficiente naquela caverna, mas eu não podia desmaiar, não agora. Tentei ficar visível, se ele queria atirar em Kyle, teria que atirar em mim primeiro! Eu sou o ET aqui! Porque ele não descontava sua raiva só em mim e deixava Kyle em paz?

-Mas agora tratem todos de se acalmar. - O homem que há pouco nos ameaçava virou apontando aquela feia arma para a multidão enfurecida. Eu olhei dele para a multidão, sem entender mais nada. Agora ele estava nos protegendo? -Kyle trouxe uma hóspede, e vocês estão apavorando a infeliz, gente. Acho que podem arranjar modos melhores que esses. Agora, todos vocês dêem o fora e vão trabalhar em algo útil. Os meus melões-cantalupo estão morrendo. Alguém tem de fazer alguma coisa, estão entendendo?

O homem armado esperou a multidão se dispersar. No final, só sobraram a moça morena, Jared, o garoto e Ian.

-Obrigado Jeb. - Kyle agradeceu aliviado.

-Cale a droga dessa boca, Kyle. Trate de ficar com essa sua boca gorda fechada. Eu estou falando sério sobre matar você, seu verme inútil.- Jeb respondeu com raiva.

Não se podia mesmo confiar nos humanos: Um segundo atrás, eu pensava que Jeb estava nos ajudando, agora ele já ameaçava novamente! Gemi em pânico, pensando o que poderia fazer para ajudar, com certeza os humanos ali me matariam em segundos, se assim quisessem.

-Tudo bem, Jeb. Mas dá para deixar as ameaças de morte para quando estivermos sozinhos? Ela já está bastante apavorada. Você se lembra de como esse tipo de coisa arrasou a Peg. – Kyle falou, sorrindo para Peg e então virou pra mim, sua expressão cuidadosa. - Está vendo, Sunny? Esta é a Peg, de quem lhe falei. Ela vai nos ajudar, não vai deixar ninguém machucar você, como eu também não vou.

Peg: A alma, é claro! Então era mesmo verdade? Ela estava mesmo ajudando esses humanos? Uma alma que saiu da civilização de sua própria espécie para viver com humanos? Impossível!

Não, não impossível.

Estremeci ao perceber que foi exatamente o que eu havia feito: havia deixado Kyle me trazer para esse lugar cheio de humanos sem ao menos tentar me opor. E agora, o que aconteceria comigo? Eu iria viver aqui também? Com os humanos? Com Kyle?

Não era provável. Kyle não me queria, não realmente eu. Ele queria Jodi e eu duvidava que ele fosse ficar satisfeito sem tê-la. Mas o que ele podia fazer quanto a isso? Ele não podia trazê-la de volta, ou podia?

Peg era uma alma que estava ajudando os humanos... Até que ponto ela os ajudava? Teria ela sido capaz de contar pra eles o segredo mais importante das almas?

Kyle pareceu perceber meu medo – ou o súbito aumento dele, pra ser mais exata – e passou o braço em torno da minha cintura e me lembrando o motivo pelo qual eu estava passando por isso: Meu amor por ele e, só por isso, eu não conseguia me arrepender. Me abracei a ele e me senti melhor – Estar com ele era bom, era como estar completa de novo e me distraia do terror a minha volta.

-Kyle está certo. Não vou deixar ninguém machucar você. Seu nome é Sunny? – A garota perguntou suavemente. Fiquei tensa e sem saber o que fazer, por ser a primeira vez que alguém se dirigia diretamente a mim, procurei respostas no rosto de Kyle, que agora estava tranquilo.

-Está tudo bem. Você não precisa ter medo da Peg. Ela é igualzinha a você. - Ele disse, me tranquilizando. Me limitei a encará-lo, sem conseguir confiar em Peg ainda, afinal, ela era uma alma que havia, provavelmente, contado nosso segredo, uma traidora. Kyle olhou pra ela e respondeu por mim.- O nome verdadeiro dela era mais comprido... alguma coisa a ver com gelo.

-Luz do sol através do gelo. - Corrigi, minha voz nada mais que um sussurro.

-Mas ela não se importa em ser chamada só de Sunny. Disse que estava tudo bem. - Kyle explicou e eu parei de observar Peg para olhar novamente pra ele, concordando com um aceno.

Senti o alívio correr pelo meu corpo – Parecia que as coisas estavam se acalmando, ao menos os humanos que antes ameaçavam Kyle agora estavam quietos. Será que isso era bom? Ou eles apenas queriam baixar a guarda de Kyle para pegá-lo desprevenido?

-Eu também já fui um urso, Sunny. - Peg interrompeu meus pensamentos e eu olhei para ela. - Eles me chamavam de vida nas estrelas então. De Peregrina, aqui.

Quando ela disse isso, meus olhos arregalaram, com certeza. Toda a aversão que eu pude ter sentido por Peg, estava extinta: Era ela a grande cavaleira da besta! Que arriscara a própria vida para salvar uma alma, ela sempre havia sido um grande exemplo de coragem e força, uma espécie de celebridade no meu antigo planeta.

-Vida nas estrelas. Cavaleira da Besta. - Sussurrei, sentia meus olhos arregalarem cada vez mais.

Pequenas linhas brotaram na testa dela e eu lembrei que ela, quando havia sido um urso, ela não havia gostado do apelido.

-Você viveu na segunda cidade de cristal, suponho – ela disse desconfortável, quase desanimada com isso.

-Vivi sim! Eu ouvi a história tantas vezes... - Disse admirada, mas fui interrompida rapidamente.

-Você gostou de ser urso, Sunny? Era feliz quando estava lá? - Peg perguntou, mudando de assunto. Quando já pretendia responder, meu rosto se vincou, confusa com essa pergunta.

Um segundo depois, a compreensão veio: A pergunta que estava subtendida era se eu gostaria de voltar pra lá.

Olhei pra Kyle que parecia um pouco apreensivo. Eu não queria deixá-lo, não quando acabara de encontrá-lo! Só queria ficar com ele! Era pedir demais?

-Sinto muito. - Peregrina se desculpou, fitando Kyle que deu um tapinha no meu braço, tentando me acalmar.

-Não tenha medo. Ninguém vai machucar você. Prometo. - Kyle disse. Senti o desespero flutuando em minha mente, pronto para explodir.

E daí que eles não me machucariam fisicamente? Com certeza doeria menos do que essa dor que me atormentava só em pensar em ficar longe dele!

-Mas eu gosto daqui. Quero ficar. - Pedi, minha voz fraca.

-Eu sei, Sunny. Eu sei. - Kyle disse, afagando minha nuca, segurando meu rosto contra o peito dele. Era tão fácil fingir que Kyle gostava de mim quando ele era assim tão carinhoso...

Um ruído estranho me fez pular de susto.

-Desculpe-me, Sunny. Eu não quis assustá-la. Mas é que talvez a gente devesse sair daqui – Jeb falou, seus olhos vasculhando a caverna em que estávamos. - A gente devia dar um pulinho até o Doc. – Ele acrescentou, parecendo contrariado. Quem era Doc?

-Certo. - Kyle respondeu e começou a entrar em um dos túneis escuros da caverna, me levando com ele.

Nesse momento me vieram algumas lembranças perturbadoras do tempo em que os humanos controlavam o planeta, lembranças de Jodi: Quando um humano cometia algum crime imperdoável ele era condenado a pena de morte e era executado.

Era exatamente assim que eu me sentia: Caminhando por esse corredor escuro para receber minha punição. Meu crime foi ter roubado a vida de Jodi e junto com ela seus sentimentos. Agora eu teria que pagar do jeito mais difícil, teria que me afastar de Kyle, logo após tê-lo encontrado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!