Havia uma criatura parada na frente da minha porta, não me impressionaria se essa criatura tivesse saído de um desenho animado, sério mesmo.

– Tá me olhando assim por quê? – perguntou a criatura.

– Nós nos conhecemos? – perguntei confusa. Pela voz, era um garoto, que vestia uma armadura de prata, com uma espada presa no cinto que parecia feito de ouro. Calma, só parecia.

– Sou eu, o Harry. – tirou a parte de cima da armadura que parecia pesar e pude ver seus olhos azuis familiares.

– Nossa! O que a vida não faz com uma pessoa. – disse rindo.

– Besta, hoje é o EAXJ. – falou Harry, o olhei confusa, ele bufou perdendo a paciência. – Tínhamos um acordo.

– Como saberei se vai cumprir a sua parte? – perguntei.

– Sou um homem de honra. – respondeu Harry.

– Estou vendo. – falei rindo de suas vestes.

– Vá se trocar. – ele me empurrou um saco, balancei a cabeça. Nem a pau que eu ia vestir aquilo. – Você não tem escolha. – bufei de raiva e fiz questão de fechar a porta na cara dele. A campanhia tocou e abri a porta de novo. – Sua educação me surpreende sabia? – ele entrou e se estalou na sala.

Fui para o meu quarto me trocar. Não estava acreditando que ia passar meu domingo com um garoto vestido de cavaleiro prateado, mas o pior estava por vim. Dentro do saco um vestido dourado com linhas vermelhas, com um decote pequeno, colares, pulseiras e brincos grandes feito de "ouro" e uma sandália baixa. Vesti-me de mau gosto, me sentia a deusa do Egito. Desci as escadas de mal agrado e tive que olhar para o Harry enquanto ria de mim.

– Estou melhor do que você tá? – era mais uma afirmação do que uma pergunta. Eu acho.

– Que seja. – disse Harry.

Na frente da minha casa um carro prata, que parecia mais uma nave espacial. Surpreendi-me quando Harry pegou o volante, ele é menor de idade.

– O que pensa que vai fazer? – perguntei, ele mostrou uma carteira de motorista do irmão dele, que era a cara dele só que mais velho. – Até que o CDF não é tão certinho assim. – ele bufou e ligou o carro.

A EAXJ ficava em um ginásio bem grande, um pouco longe da cidade, e como eu prefiro falar “da sociedade normal”. Lá havia pessoas de todos os tipos, todos fantasiados com fantasias dos bonecos do X-buk. Tinha gente fantasiado de todo tipo, de bruxa, de mago, de rei, de rainha, de soldado, mais o que mais havia eram garotos fantasiados de cavaleiros e garotas de princesa, deveriam ser os personagens principais.

Entramos no ginásio lotado. Perguntei-me de onde veio toda aquela gente retardada.

– Olha ali meus amigos. – apontou Harry. Suspirei aliviada, dois garotos vestidos com roupas normais e até bonitos. Harry acenou, eu bufei de raiva ao ver que tinha me confundido, os amigos dele eram os nerds logo atrás dos bonitões. – E aí galera? Essa é minha namorada a ******.

– Bem mais bonita do que você falou. – disse o primeiro garoto de cabelos castanhos e olhos pretos, vestido de mago. Ele tinha óculos de fundo de garrafa, uma blusa branca por baixo de uma capa azul e um chapéu ponte agudo preto.

– Ainda acho que consegue melhor Harry. – falou o segundo garoto de cabelos loiro escuro e olhos castanhos escuros, vestido de rei. De longe o que menos me simpatizei parecia até que eu não estava ali para eles do jeito que falavam de mim. Sua roupa era decorada com amarelo ouro falso, ele tinha várias jóias de mentira e anéis, sem falar da coroa em cima da cabeça parecendo feita de lata.

O terceiro garoto de cabelos pretos e olhos castanhos escuros nem falava nada, parecia que o simples fato por uma garota está ao seu lado o deixava mudo ou por ser tímido mesmo. Parecia mais o Rajesh no começo de The Big Bang Theory, não que eu assista esse seriado, claro que não. Já ele estava fantasiado de soldado.

– Vou me cadastrar no concurso de fantasias, me espere aqui. – disse Harry, mas antes de eu dizer não ele sumiu pela multidão. Fiquei com raiva, não só pelo Harry, mas por mim também. Por estar ali fazendo papel de ridícula. O silêncio era horrível e o pior é que eles ficavam me analisando como se eu fosse um experimento de laboratório.

– Posso tocar em você? – perguntou o primeiro garoto. Eu dei um passo para trás balançando a cabeça, fiquei com medo do garoto depois disso. Por sorte Harry não demorou e logo ele me levou para o centro do ginásio onde havia um enorme palco, onde seria dito o vencedor do concurso de fantasias.

– Há a propósito eu lhe escrevi. – falou Harry.

– Como é que é? – perguntei olhando para ele como se fosse o matar e faria aquilo ali mesmo se ele não tivesse uma espada de plástico com ele.

– E o vencedor do concurso é... – disse um homem em cima do palco. Eu já estava irritada com Harry, preferir tomar um pouco de ar lá fora e sai de perto dele. Mas ao ouvir tal nome eu me virei. – Harry J, que está vestido de cavaleiro.

Harry foi até o palco e pegou o prêmio. Só me lembro que depois as luzes do ginásio se apagaram e a multidão começou a se apavorar e a gritar descontroladamente, quase pude ouvir o som dos gritos dos amigos de Harry que parecia mais umas garotas. Quando as luzes voltaram a se acender estava acontecendo uma batalha no ginásio. Se eu não estiver errada, eram os mocinhos contra os do mal do jogo, ou seja: X-light contra X-evil. Eu não deveria saber de tal coisa. Sai correndo, como estava perto da porta consegui sair, mas no meio do percurso perdi uma das minhas pulseiras.

Fiquei esperando aquilo acabar em frente ao carro do Harry quando um garoto vestido de roupas pretas que usava lápis preto bem forte chegou por trás de mim com uma espada vermelha de plástico e colocou sobre minha garganta. Harry veio correndo com sua espada e parou bem na nossa frente.

– Parado ou a princesa Renne irá se machucar. – disse o garoto de preto.

– Você não faria isso... – falou Harry com um olhar heróico.

– Meu deus! Qual é? Isso é uma espada de plástico. – disse para os dois, mas pareciam que eram surdos ou que eu não estava ali. – E eu não sou a princesa Renne, ela não existe!

Num rápido movimento, que custou a minha “vida”, Harry atacou o garoto de preto e jogou lhe sua espada longe. Mordi o braço dele que me soltou e eu peguei sua espada e apontei para ele.

– Ok, ok. Não precisam apelar para a violência. – falou o garoto de roupa preta. Como fiquei com raiva dele por ter colocado em perigo minha vida mesmo que de mentira, com a espada fiz um movimento rápido e as calças dele caíram (pra ser sincera já estavam caindo, eu não entendo esse estilo meio desleixado de alguns garotos), mostrando lhe sua cueca de alienígenas. – Ei! – gritou ele irritado, levantou as calças e saiu correndo.

– Essa foi boa. – disse Harry. Ri, de fato foi engraçado.

Entramos no carro e Harry começou a dirigir.

– Para onde estamos indo? – perguntei curiosa.

– Você verá. – respondeu Harry todo misterioso.

Eram duas horas já e eu estava morrendo de fome. O carro parou bem em frente ao centro espacial da cidade, saímos do carro. No caminho Harry me contou que seu pai trabalhava lá e que tinha alguns privilégios.

Logo entramos sem pagar e o local estava fechado, ou seja, vazio. Fomos até a parte dos planetas, Harry abriu a porta e meus olhos brilharam com a imagem que vi a seguir. Eu me sentia no espaço ou pelo menos um pouco, as paredes pareciam a via Láctea, os planetas, asteróides, tudo parecia em movimento. No canto havia uma escada em espiral que dava para um pequeno corredor de quadros.

Harry foi até o escritório do seu pai e trouxe um lanche de lá. Depois de comermos, nós sentamos e ficamos vendo as “estrelas”.

– Ali é o cinturão de Orion. – apontou Harry. Eu nunca havia me interessado por estrelas, apenas as achava lindas, mas depois de Harry me mostrá-las percebi o quanto eram incríveis e interessantes, cada uma com uma história para contar. As estrelas pareciam livros e livros com mil páginas que não se acabavam e que algumas ficavam escondidas pelo espaço sem ao menos sabermos de suas existências.

– São lindas. – disse. - Aqui é lindo. – corrigi.

– Você é linda. – falou Harry se aproximando cada vez mais de mim. De repente não existia mais centímetros entre nós e ele estava me beijando. Era um beijo calmo e delicado, mas quente e apaixonado. Era o meu primeiro beijo.

Nós nos separamos, me senti envergonhada e ele estava sorrindo. Me levantei apressada.

– Está ficando tarde, é melhor eu ir. – disse.

– Claro, eu te levo. – falou Harry se levantando também. Percebi que ele tentou não olhar em meus olhos, estava corado. Acho que pelo o jeito que eu agi, tentando fugir.

Quando o carro parou em frente a minha casa, eu tive uma certeza. Por mais que eu me sentisse constrangida, eu não estava arrependida. Porque o Harry havia sido carinhoso e atencioso comigo. Mesmo que eu nunca admita isso eu até me diverti bastante hoje com ele.

– Então... – disse Harry cortando o silêncio, como eu estava perdida nós meus pensamentos nem havia percebido que fizera. – Tenha uma boa noite.

– Você também Harry. – falei antes de sair, mas parei por um momento e voltei. – Isso que aconteceu...

– Só entre nós. – me cortou Harry, concordei e me virei para entrar em casa.

Uma parte do meu coração estava decepcionada porque ele queria esquecer e a outra parte estava confusa, tentando entender o porquê ele e não o John ou o Paul. Entre tantas perguntas, eu só tinha um meio de desabafar.