Meu plano? Ficar o dia inteiro na cama, dormindo, pensando, fazendo qualquer coisa. Mas eu não tinha essa escolha. Mamãe me chamou para conversamos sobre a ideia da mudança.

– Então filha... O que você acha? – perguntou mamãe sentada ao meu lado no sofá da sala.

– Sabe mãe, se você me perguntar agora, eu provavelmente iria pedir para nós mudarmos para a Filadélfia. – disse. – Mas a verdade é que eu não quero me mudar, o Mark também não. E sinceramente acho que você também não quer.

– Mas é pelo bebê. – explicou mamãe alisando a barriga.

– É pelo bebê também que eu digo, que ele vai querer nascer aqui, no lugar onde eu nasci e onde eu morei a minha vida toda. – falei olhando em seus olhos. – Se for preciso eu paro de gastar com a conta do celular e do telefone, não compro roupa por um tempo. Se for preciso eu corto as coisas, mãe. Mas não me peça para deixar o lugar onde eu nasci, onde apesar de ter uma vida complicada, pelo menos posso dizer que é a minha vida complicada. – mamãe ficou com os olhos cheios de lágrimas. Estava emotiva por estar grávida.

– Eu entendo filha. Vou falar com seu pai. – disse ela se levantando e subindo as escadas.

Nunca fora tão sincera no que disse. Apesar de querer me mudar para longe, só para não encarar a pressão que vai ser na escola, eu tinha que ficar, eu tinha que resolver aquilo, tinha que termina o que comecei.

No outro dia, entrei na escola com a cabeça erguida. Todos me olhavam, todos cochichavam e eu tinha quase certeza que sabiam sobre mim. Mas não tinha certeza absoluta.

Entrei na sala de aula com Lisa ao meu lado, todos me olharam e Jennifer veio até mim.

– Foi uma surpresa quando me contaram. – disse Jennifer. – Quase nem acreditei.

– Eu sei. – falei. – Ninguém esperava por isso. – Jennifer fez uma expressão de pena e sentou-se na sua cadeira.

A aula começou e pra minha tristeza o professor entregou a prova que eu tirei seis. Pelo menos, era melhor do que eu achava que ia tirar. Na próxima prova teria que me esforça mais.

O intervalo chegou e muita gente veio falar comigo dizendo tipo: Quem diria! Ou Espero que continuemos amigos!

– Muito estranho. – comentou Lisa enquanto comia seu sanduíche.

– Como assim? – perguntei.

– Eu não esperava que agissem assim. – respondeu Lisa.

– É, nem eu. – disse. – Mas fazer o quê? O mundo é estranho.

– Não. As pessoas são estranhas. – corrigiu Lisa.

O mais engraçado de tudo isso é que eu não vi o Harry no intervalo. Preocupada com seu sumiço, depois da aula resolvi procurá-lo e o encontrei sentado no muro da escola sozinho.

– Oi Harry. – disse. Ele me olhou, mas não falou nada. Sentei-me ao seu lado o achando esquisito. - Aconteceu alguma coisa?

– Por que não me contou? – perguntou Harry. Fiquei confusa, mas ele não sabia que eu era a Secret Girl?

– Como assim? – perguntei.

– Não finja que não sabe. – falou Harry e eu tentei demonstrar que estava confusa, mas ele não deixou. – Sabe como eu fiquei ao ser o último a saber?

– Do que você está falando? – perguntei ficando irritada.

– Estou falando do fato que você vai morar em outra cidade. – respondeu Harry chateado.

– C-como descobriu? – perguntei.

– A Tiffany espalhou para a escola toda e como se não bastasse, eu fui o último a saber. – disse Harry se levantando.

– Harry espera! – gritei indo atrás dele. – Eu não vou para lugar algum.

– O quê? – perguntou Harry.

– Eu não vou me mudar. – respondi e ele me olhou confuso.

– Mas todo mundo está falando que...

– Todo mundo? Qual é? Quem melhor do que eu para saber o que está acontecendo na minha vida? – falei. – Eu ia me mudar, mas falei com meus pais que não queria e pelo visto vou ficar aqui. – Harry me abraçou feliz.

– Que boa notícia! – disse ele. – Desculpe por ter tirado ideias precipitadas.

– Tudo bem. – falei e nós beijamos. – Preciso resolver uma coisa. – então sorri para Harry e fui embora, caçar a cobra. Sim, ela mesmo. Tiffany estava na frente da escola com suas amigas metidas, interrompi a sua fala enquanto gritava:

– Quem você pensa que é? – ela se virou para mim com seu rosto de inocente. – Como descobriu que eu ia me mudar?

– Contatos. – respondeu Tiffany sorrindo. – Mas nem sei porquê estou a respondendo afinal não devo nada a você. Sua ridícula! – dei um tapa em seu rosto, ela se virou com a mão na bochecha surpresa.

– Fica longe de mim se não quiser ganhar outro. – falei e fui embora. Ela poderia estar me odiando, ela poderia estar planejando contar meu segredo que eu não ligava. Ela mereceu aquele tapa.

Só não sei como ela descobriu que eu ia me mudar. Só quem sabia era meus pais, eu e o M...

Fui para casa a pé, já que havia perdido o ônibus. Mamãe me chamou para almoçar, mas eu não respondi, subi as escadas e fui ao quarto de Mark, dessa vez eu não fiz questão de bater.

– Você contou? – perguntei entrando. Mark estava jogando basquete em sua cestinha improvisada.

– Contei o que? – perguntou ele jogando a bola de basquete na cesta.

– Que íamos nos mudarmos? – perguntei.

– Não. – respondeu ele jogando de novo a bola.

Peguei a bola de suas mãos e o fiz olhar bem nos meus olhos.

– Mark, pra quem você contou? – perguntei.

– Tá legal, eu digo. – falou Mark com as mãos pra cima. – Agora não conta para os nossos pais.

– Que seja! Fala logo! – gritei. Ele olhou para os lados, como se houvesse mais alguém ali, e sussurrou para mim:

– Contei para a minha namorada.