Por detrás da Rosa escrita por Danda


Capítulo 30
Esqueça




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O que dói mais? Rejeição? Desamor? Orgulho ferido?

Talvez doam iguais...insuportável se forem atingidos todos ao mesmo tempo.

Ao trespassar a porta que se fechava com grande estrondo, Dora sentia cada musculo de seu corpo vibrar em ódio e angustia. Uma dor insuportável.

Finalmente se encontrava com seu antigo eu, deixada guiar pelas antigas memórias e sentimentos, misturado com o que havia de mais puro nesta vida, e Afrodite agarrara, amassara e atirara no lixo com a simplicidade de sua ira incontrolada.

Os olhos insistiam vazar em lágrimas, enquanto seus braços, abraçaram o próprio corpo, buscando conforto. Não conseguiu se mover, até que seus olhos vislumbraram a imagem imponente de Saga no fundo do corredor.

Não conseguiu decifrar aquele olhar que lhe mirava, mas sem pensar duas vezes correra, vencendo a distância que os separava, e sem saber como, envolvera o corpo do homem ainda parado, enquanto chorava compulsivamente.

Saga, sem muita convicção de seus movimentos, retribuíra o abraço, colocando uma das mãos sobre a cabeça de Dora, afagando-a.

Estava sério...enigmático, mas cheio de suas razões.

Com os olhos postos no fundo do corredor, apertou ainda mais Dora em seus braços, para depois a conduzir para um dos aposentos onde sentou-a com cuidado na cama. Abaixara calmamente de forma a fita-la. Ela acalmava-se aos poucos, mas deixava-se dominar agora pela raiva da humilhação.

Não conseguia fitar Saga...prendia-se em um ponto qualquer na porta a sua frente, de olhos estreitos e respiração pesada. Saga compreendia o que estava se passando naquele momento, de forma que quedou-se sem falar nada, apenas fitando a moça a sua frente.

– Você tinha razão - Dora dissera fracamente, estremecendo o queixo e sentindo as lágrimas voltarem - Porque eu me enganei?...

– Porque está apaixonada... - As palavras escaparam sem que Saga pudesse formular bem o que dizer...se surpreendeu e surpreendera a moça a sua frente - Ele não é Albafica - Disse entre dentes, vendo Dora novamente abraçar o próprio corpo e recomeçar a chorar. - Esqueça...ele não vai voltar. - Completou vendo-a colocar a mão sobre o rosto.

Estava envergonhada, mas mesmo isso não fazia com que Saga abrandasse sua face um tanto fria...talvez repreensiva. A seu ver, possivelmente Afrodite não merecia aquelas lágrimas e, de tanto avisar, ela deveria saber disso, lutando contra elas. Formulava algo para lhe dizer quando sentiu uma presença na porta, voltando-se rapidamente.

Apoiado no alpendre, com uma expressão sofrida, estava Aioros, que não tirava os olhos de sua filha.

Saga se reergueu rapidamente, chamando pela sua atenção. Seus olhos de "eu avisei", perturbaram um tanto o moreno, que logo se desviou do mais velhos, sentando na cama e abraçando fortemente a moça que continuava a chorar.

Sim, Saga sempre esteve certo. Pelo menos até certo ponto. Afrodite sempre acabaria por magoa-la. Mas apenas não sabia que isso também o acertaria em cheio.

Suas costas deslizaram na porta, até que sentasse no chão. Seu coração acelerado parecia querer saltar de onde estava e fugir...fugir para qualquer outro lugar, qualquer outro tempo que não fosse aquele.

Mas finalmente havia decidido.

O Veneno que lhe entrara pelos ouvidos, contaminara sua mente e endurecera seu coração, surtira seu derradeiro efeito. Estava ferido, não só no corpo, mas na alma. Mas era coberto pela determinante certeza de que fizera o correcto.

Afrodite lançara seus últimos espinhos e mergulhara na solidão que um dia tanto temera. Não estava tomado pela raiva, como encenara a pouco, estava tomado pela tristeza que a crua verdade lhe trazia.

Assim foi durante vários dias após a chegada ao Santuário. Mas se na Casa de Peixes o sofrimento era silencioso ou dissimulado, na Casa de Sagitário ele passava em soluços que chamavam o dono da casa ao quarto que preparara para sua filha. Ajeitava-se na cama ao lado da moça e esperava que esta adormecesse meio ao cansaço.

Aioria passava muitas horas no sofá, tentando anima-la e isso aproximou-os muito. Aos poucos sumia aquele desconforto e cerimónia de quem se conhece a pouco tempo, deixando lugar para pequenas brincadeiras de duas pessoas que estão destinadas a terem uma ligação forte.

Essas foram as primeiras semanas após a chegada ao Santuário de Athena. E entre as doze casas e os restantes habitantes daquele lugar sagrado, fora se calando a indagação sobre o afastamento definitivo da serva e os dois Cavaleiros que lhe eram mais próximos. E apesar das más línguas, o contentamento da aproximação de Dora com seu pai e tio era quase unânime.

Aioros, também, mostrava-se visivelmente satisfeito com o rumo que as coisas tinham tomado. Descia decidido pelas casas, quando ouviu seu nome ser chamado de dentro da terceira casa.

Seus passos decididos ultrapassaram a porta que dava para a sala interior, encontrando Saga sentado no sofá, na companhia de Kanon, que se encontrava na poltrona.

– Vocês não vão treinar? - Indagou, se aproximando e sentando na outra poltrona que lhe era indicada.

– Temos tempo - Kanon disse sério.

– Como estão as coisas? - Saga indagou visivelmente interessado.

Ali, todos sabiam o que queria dizer "as coisas", e Aioros não se acanhou em responder directamente.

– Ela já teve melhores e piores dias - Disse sério, dando um sonoro suspiro - Está recuperando.

– Dessa vez, Afrodite deve ter pegado pesado - Kanon disse sem muita convicção.

Aioros mordera o lábio superior, pensativo.

– Ele estava bem ferido quando saiu da ilha...

– Isso é mais que suficiente para toma-la como culpada - Constatou Saga - Eu não vou dizer que eu avisei você - Disse sério, chamando a atenção dos outros dois homens - Antes digo que deixe estar como está. Ela vai sofrer por mais um tempo, mas é jovem, vai esquecer rápido.

– O problema é quando ela cruza com ele...

– Porque não a manda viver com os pais? - Kanon indagara com simplicidade chamando a atenção do moreno.

Não que Aioros não tivesse pensado nisso, mas a verdade, é que em seu coração reunira um pouco de ciúmes daqueles que criaram Dora em seu lugar. Era profundamente grato a eles por tudo que fizeram, mas ao mesmo tempo se achava no direito, mesmo que inconscientemente, de ter mais tempo com ela, sem Alexandra e Nico para se meterem.

– Ela não falou nada sobre isso - Baixou o olhar - Eu não quero impor...

– Ela poderia pensar que você não a quer - Saga concluiu. Mantinha uma expressão serena.

– ...

– Bom - Kanon fez, se levantando - Neste caso, porque não a manda para uma viagem?

– Uma viagem?

– Porque não - Saga se levantou calmamente, sendo acompanhado por Sagitário - Ela sempre disse que veio trabalhar no Santuário, para juntar dinheiro e poder visitar os amigos em Corinto. - Disse se encaminhando para a porta junto com os outros dois, mas ao contrario do irmão e do companheiro se dirigiu para a outra porta.

– Ué - Fez o irmão - Você não vem?

– Tenho que falar com Mascara da Morte - Disse para a surpresa de ambos - Vão na frente. E pondere bem a hipótese Aioros - Completou saindo.

Sim, era uma óptima ideia. E foi constantemente ponderado durante o longo treino da manhã. Um treino silencioso, que fora quebrado pela indagação do irmão mais novo:

– Já sabe o que vai fazer em relação a Dora? - Indagou desferindo um soco que fora defendido com relativa facilidade pelo mais velho - Eu quero dizer - Se defendera a resposta de Sagitário - Ela não pode continuar assim...

– Eu sei - Aioros tentou desferir um chute, mas Aioria desviara - vou manda-la para Corinto - Concluiu tendo o pulso segurado com força. Aioria parara ali, processando o que o moreno tinha lhe dito. Parecia procurar algo no olhar do mais velho. - Ela trabalhou para juntar dinheiro para ver os amigo - Sentiu o pulso ser largado, enquanto Aioria se afastava dois passo - Talvez seja essa a hora...

– Eu entendo - Aioria disse com a expressão serena - Apesar de não me agradar, mas é porque estamos nos dando bem.

– Eu preferia que ela estivesse mesmo bem...

– Eu também - Aioria deu um sorriso fraco mas resignado - E acho que você tem razão, irmão. Quando vai falar com ela?

– Quando voltarmos do treino...

Fora uma longa manhã. Aioros pensava que Shion não iria mais dispensa-los. Na verdade, estava em pulgas para dar a noticia a Dora, bem como o facto de que ele pagaria essas férias para ela. Subia as escadas calculando quanto deveria entregar a sua filha para ela ficar bem em sua viagem e só dera por si ao chegar em Sagitário, quando entrou pela sala interior. Encontrou Dora colocando a ultima travessa que continha salada sobre a mesa redonda.

A moça lhe sorriu sincera, enquanto Aioros se aproximava.

– Já está tudo pronto - Disse ainda sorrindo - Aioria disse que hoje não vinha...

– É porque temos que conversar - Aioros disse sério, fazendo a moça perder o sorriso. O moreno percebeu - Não é nada de mal... - Tranquilizou-a - Vou tomar um banho rápido e já venho - Concluiu virando-se para o corredor por onde sumiu das vistas da moça.

Dora fitara longamente a entrada sem porta, por onde o grego passara. Sua cabeça começava a trabalhar sobre a razão daquela conversa. E tudo o que vinha era a possibilidade de que, de facto, estava atrapalhando Aioros.

Na verdade, nesses últimos dias, quando não era tomada pela tristeza da rejeição, pensava o que ia fazer de sua vida. Nessa "brincadeira" de espiã, havia perdido inúmeras aulas, e provavelmente ia ser muito difícil acompanhar sua turma. E se tivesse que sair do Santuário? O que faria? ... Até ali não tinha chegado a nenhuma conclusão.

Suspirou sonoramente, enquanto sentava na mesa, esperando o dono da casa. Não sabia dizer se ele demorou ou não, mas quando deu por si, Aioros estava sentando diante de seu prato e, rápido, se servia.

Estava com muita fome, e se o assunto esperou até agora, poderia esperar que ele recuperasse suas forças. Mas Dora, nem bem se servia, não conseguiu se conter.

– Essa conversa deve ser séria hem!? - Sorriu sem graça, sem fitar o moreno, que lhe fitou de soslaio, sem tirar a atenção do seu prato.

Bolas! Ela cozinhava bem. Aquele arroz e aquela carne assada com batatas estavam especialmente suculentos, para não falar do tempero da salada de tomate. Não conseguia manter a boca desocupada, não conseguindo responder.

Dora o fitou por um tempo, quando percebeu que Aioros não respondia e, teve a impressão que ele realmente estava gostando da comida, ou não queria falar, enchendo a boca de comida, mal engolia o que já estava lá.

Suspirou, voltando sua atenção, também, ao prato.

Aioros parou de comer como um desesperado, esperando não se engasgar com o que acabava de engolir.

– Na verdade é mesmo sério...

– Quer que eu vá embora? - Indagou a queima roupa, surpreendendo o outro.

Ambos se fitaram nos olhos.

– Claro que não - Respondeu rapidamente, vendo no rosto da moça um claro alivio. Sorriu ao perceber que ela não queria deixar Sagitário. - Mas tenho uma propósta para você.

A moça estranhou.

– Proposta...?

– Eu sei que tem te feito mal, estar tão próxima do Afrodite - Disse, fazendo um sinal para que Dora esperasse completar o que ia dizer - Eu nunca perguntei o que aconteceu, e não vou perguntar. Mas seja como for - Viu-a baixar os olhos - Afrodite não é homem de voltar atras nas suas decisões. Eu havia te prometido que te ajudaria, mas ele se encontra muito arredio quando tentamos falar com ele - Completou vendo-a fita-lo surpresa.

Na verdade, se parasse para pensar, estava mais próxima agora de Aioros, do que alguma vez fora com seu pai de criação. Nico era um homem muito fechado e de pouco demonstrar afecto, apesar de ser muito protector.

Fora muito difícil para Nico, mais do que fora para Alexandra, aceitar a actual situação, um tanto surreal e embaraçosa que envolvera os integrantes daquela família. Por momentos o homem se convencera que era melhor pegar Dora e voltarem para Corinto, mas Alexandra e Anastácia o convenceram do contrario. Mesmo porque, a mulher grávida estava para dar a luz a seu primeiro filho legitimo, assim como os negócios na floricultura estavam a começar dar lucros.

Assim, Dora partira para aquela missão e sua mãe dera a luz a um lindo menino. Com muita magoa os felizes pais ainda não receberam uma única visita de Dora, que se trancafiara no templo de Sagitário, sem pensar em mais nada que não sua dor amorosa.

Apenas nesse dia, enquanto fazia o almoço, lembrara do quanto estava sendo egoísta. Não só atrapalhando seu pai, como sem se quer visitando sua avó e aqueles que lhe criaram.

– Tola! O que te faltou estes anos todos? Faltou algo? Você foi infeliz? – Agora a imagem de Afrodite perdia todo o carácter gélido e orgulhoso, assumindo algo que Dora nunca vira, mas que em sua memória trazia um semblante de a tempos. Diante da falta de resposta e olhar surpreso, Afrodite continuou com sua altivez – Se não te faltou nada, se essas pessoas te amaram, elas não foram falsas. Elas foram seus pais, nada muda isso. A pergunta é: e você foi uma verdadeira filha...está sendo?

Lembrara da ultima conversa séria que tivera com Afrodite em solo grego.

Nunca fora uma verdadeira filha. Nunca dissera a sua mãe o quanto a amava...nunca agradecerá seu pai as vezes que teve que atravessar uma cidade para lhe buscar na casa de amigos, ou leva-la em uma festa. E agora chegara no Santuário e nem se dera o trabalho de ir ver seu irmão recém-nascido.

– Eu sou uma péssima filha, sabe - Disse surpreendendo Aioros - Você não poderia ter pior sorte...

– Do que está falando? - Indagou serio.

– Eu voltei de uma missão, que nem mesmo eu ainda compreendo e, ainda, não fui ver meus pais, que sempre me deram tudo, e meu irmão que acabou de nascer... - Disse com amargura - Fui egoísta...

–Está deixando de ser, a partir do momento que reconhece isso - Disse sério - É só você procura-los quando acabar de comer.

– Agora tenho vergonha - Sentiu a voz embargar.

– Não deixe que isso te faça desistir de fazer o correcto.

– Eles devem estar magoados comigo...

– E com razão. E com mais razão vão ficar se você não for até lá.

Dora fitava Aioros com intensidade. Ele tinha razão. Sorriu fracamente, recebendo um olhar cheio de compreensão em troca.

Estava com medo, porque fosse qual fosse sua desculpa, seus pais, especialmente seu pai, não compreenderiam.

– Você tinha uma proposta - A moça falara calmamente, voltando a comer. Aioros a acompanhou.

– Você não ficara sem cruzar com Afrodite se continuar aqui - Disse simplesmente. Dora não lhe fitava directamente, mas prestava muita atenção - Eu estive pensando em te mandar para Corinto, para junto de seus amigo - Completou e, novamente, foi alvo do olhar surpreso da mais nova.

– Corinto?

– Não foi por isso que veio trabalhar aqui no Santuário? - Indagou simplesmente fitando a moça.

– ...e ainda não consegui o dinheiro...

– Eu estou te dizendo que eu te mandarei para lá, assim como te sustentarei lá, pelo tempo que você quiser ficar.

Dora pousara os talheres de forma calma. A proposta feita, nunca havia lhe passado pela cabeça. Claro que por momento nenhum, aquele que descobrira ser seu pai tinha algum dever para consigo, mas a proposta era muito tentadora, principalmente se o objectivo era ficar longe do Santuário e de Albafica...não... Afrodite.

Sim, era tentador.

– Acho que vou aceitar sem pensar muito - Respondeu, vendo o outro sorrir.

– Não quer dizer que não quero você por perto...

Dora sorriu mais largamente.

– Eu sei.

– Então está decidido.

– Mas não quero que você me sustente quando eu ficar por lá...ou se eu decidi ficar por lá - Respondeu vendo Aioros endurecer a face - Pode ser que eu queira ficar - hesitou.

Aioros sorriu fracamente. Claro que havia pensado nessa possibilidade. Alias, tinha a certeza de que ela escolheria essa saída. Mas ainda era duro pensar que ela escolheria viver longe dele. Ainda tinham muito para apreender um sobre o outro e, temia que isso não acontecesse.

Mas quem era ele para impedir...para pedir que não fizesse isso. Talvez ela nem o visse como seu pai...mas como um irmão, que nem era tão mais velho assim.

Temia não poder se adaptar a ideia de que tinha uma filha adolescente, pelo simples facto que tudo em sua vida era ao avesso. Tivera um relacionamente precoce no qual gerou uma criança. Fora morto e ressucitado anos depois, quando sua filha já era quase uma mulher feita. Mas quase não queria dizer que ela fosse e, ela precisava ainda de protecção, certo?

Mostrou-se visivelmente incomodado, de modo que Dora não pode deixar de percebe-lo. A moça não pode deixar de sorrir compreensiva.

Na verdade, a conciência de que aquele rapaz, pouco mais velho que ela era seu pai, apenas a irritará no principio. Mas agora, com tudo o que passaram, mal enchergava ele com a idade que sua aparencia proporcionava.

– Claro que eu voltaria sempre para te ver - Disse simplesmente - Ver meus pais...minha madrinha...meu tio - citou o ultimo com um olhar insinuante, que fez o moreno arregalar os olhos.

Claro que ela começou a se apegar a eles, mas será que ela já tomara conciência que estava diante de seu verdadeiro pai, quando nem mesmo ele havia se habituado por completo com a situação?!

Não teve tempo para indagar. Dora levantou-se, retirando os pratos e saindo para a cozinha.

– Você vai ver seus pais? - Indagou, sentindo aquela pontada, que sabia ser um ciúmes tolo.

– Assim que Eira chegar - Respondeu simplesmente, entrando na sala, retirando duas traveças, voltando para o outro comodo - Afinal ela está atrasada - Comentou com alguma estranheza.

Aioros não respondeu. Sabia perfeitamente onde ela deveria estar. Não era segredo que entre as servas das doze casas, algumas acediavam alguns cavaleiros, apenas para conseguir algum afecto ou protecção. Mas no caso de Eira, seus sentimentos eram puros, quanto a um certo capricorniano que não lhe ligava nenhuma.

"Pobre coitada" - pensou ao se lembrar que o amigo nem notava a existencia da serva.

E mal pensara nela, Eira, uma moça baixa de cabelos claros e olhos amendoados passara cabisbaixa pela porta da cozinha.

– Eira...!

– Desculpe o atraso - Disse baixo.

– Está tudo bem? - Indagou, estranhando a tristeza da moça.

Eira sorriu fracamente, notava-se algo em seu olhar em direcção de Dora, sempre que a fitava. Algo negativo.

– Você tem sorte, sabia?! - Foi a única coisa que disse, antes de seguir para o pequeno corredor que dava para o quarto da serva.

Dora estranhou, mas compreendia que havia algo relacionado com algum cavaleiro. A bem da verdade, só passara a reparar nas outras servas e nos outros cavaleiros, depois que voltou daquela malfadada missão.

Distraia-se a confirmar as fofocas que Talita e Ester lhe traziam em primeira mão, para logo mergulhar novamente na sua prórpia história. Mas não lhe era de total desconhecimento que muitas servas concervavam ciúmes e inveja de sua história tão distorcida. Fosse pelo facto de ser filha de um Dourado, ou pelo interesse de Saga e Afrodite em sua pessoa. Até mesmo Shura mostrava-se claramente preocupado com esta, mesmo sem ter grande aproximação com ela.

A filha de um Dourado passava a ser responsabilidade de muitos ali, especialmente aqueles que estavam directamente ligados a macabra história de Alice e Aioros.

Uma bela face delicada surgia a sua frente, naquele dia quente de verão. Era bem cedo quando a luz matival já esgueiravam-se pelas colunatas do salão principal.

Airos contava com seus 14 anos, e era detentor de uma grande responsabilidade: guardar a 9º Casa Zodiacal.

Junto a lumunosidade daquele dia prometedor, entrara pela porta A serva pessoal de Shion, juntamente com uma bela moça de traços finos, nariz arrebitado e olhos castanhos claros. Seus longos cabelos encaracolavam nas pontas, próximo a cintura fina. O vestido branco contrastava com a pele levemente bronzeada.

Ambas pararam respeitosamente diate do Cavaleiro de Sagitário, que sorriu simpatico.

– Bom dia, Anastacia - Disse de forma carinhosa a mulher que deveria contar já com seus 30 muitos anos. Era bem mais alta que a moça, com semblante igualmente bonito, mas marcado por uma vida de lida dificil.

– Bom dia Senhor Aioros - Disse não se importando com cara de desagrado do menino quanto a forma que o tratara. Anastacia sempre fora cumpridora de seus deveres e, ali, ela estava diante de um Cavaleiro de ouro - Está é minha filha Alice - Apresentou.

A moça sorriu confiante, pois era dotada dessa qualidade.

– É um prazer conhece-lo, Senhor - Disse isso de forma que soava a desdém, mas sua reverencia não foi menos respeitosa que a de sua mãe.

Aioros estreitou os olhos dando meio sorriso.

– O prazer é todo meu senhorita - Retribuiu a altura a forma de falar.

Alice alargou o sorriso, fazendo Anastacia trancar o semplante e pegando a moça pelo pulso a puxou de forma a sairem, com um "com licensa" quase que em um rosnado.

Ouvira a serva do 13º templo repreender a mais nova, alertando que os Cavaleiros de Ouro estavam muito acima delas...mas a moça não levou isso em consideração.

Alice dava sempre algum jeito de esbarrar com Aioros e, este, também não facilitava.

Os encontros eram cada vez mais numerosos e demorados.

Aioros sorriu ao lembrar no que tais encontros furtivos dera. A resposta era aquela moça que lhe olhava com estranheza.

– Eira chegou - Alertou sem esconder que achou graça a cara do pai.

Aioros se recompos.

– Então vá ver seu irmão... - Disse se levantandos. - De qualquer modo, o mal humor da Eira é sempre contagioso. é melhor eu dormir um pouco antes da reunião com Athena. - Completou sumindo pelo corredor.

Dora suspirou alto antes de decidir se por a caminho da casa de seus pais. Na verdade ainda tentava encontrar uma boa desculpa para sua ausência e falta de consideração nesses ultimos dias, mas nada que surgia em mente parecia satisfatório.

Passava pelas casas zodiacais como uma sombra e, sua preocupação era tanta, que nem se dava ao trabalho de se mostrar simpatica com aqueles que se cruzavam no seu caminho, assim como as três figuras que subiam a escadaria que dava acesso a Touro.

Afrodite estreitara os olhos ao cruzar-los com os da moça que vinha no sentido contrario.

Dora desviara o olhar, focando-se nos homens que o acompanhavam.

– Dora - Shura chamou com um sorriso simpatico no qual a moça fez questão de retribuir com a mesma intensidade - Indo passear?

– Vou ver os meus pais - Respondeu parando a alguns passos do Cavaleiro de Caprocórnio. Vira Peixes não se deter com sua presença e, como se a ignorasse, passara sem dizer nada.

Miro detere-se ao lado de Capricórnio estranhando o outro que se mostrara animado até aquele momento.

– Que bom que decidiu ir ve-lo - Miro disse sorrindo - Devem sentir sua falta - Continuou vendo-a dar um sorriso timido.

Dora suspirou alto dando mais um passo em frente. Mirou nos olhos de cada um com intensidade.

– Obrigada! - Disse espantando a ambos e, fazendo aquele que não se detera ante sua presença parar e se voltar para trás. - Vocês sempre foram muito legais comigo e, acho, que nuca cheguei a agradecer. - Continuou de forma séria.

Percebera os Cavaleiros a ficarem sem jeito ante a inesperada declaração, achando uma certa piada. Sorriu abertamente.

– Você é filha de um de nós - Shura se adiantou - Nos preocupamos com Sagitário e com tudo que é relacionado a ele - Disse simplesmente.

Apesar da resposta parecer rude e, diminuitiva quanto a individualidade de Dora, esta percebera que a intenção da frase era outra...mas que não era menos verdadeira. Se continuasse a ser a serva de Peixes, seria outra história. Se nada tivesse a ver com Aioros, talvez a postura preocupada seria outra. Sorriu e surpreendeu Afrodite que pensara na frase de Shura ao pé da letra.

Shura sorrira de volta, pois ela havia compreendido o sentido daquela frase. Seus olhos fugiram para o Cavaleiro de Peixes, tentando decifrar aquele olhar tão espantado.

Afrodite nada dizia e, se quer, se dignava a olhar directamente Dora, mas seu ser se revolvia em uma batalha constante, onde sua vontade de se aproximar era impedida pela voz do cavaleiro negro, que ecoava toda hora em sua mente.

Os Cavaleiros, ao contrario da moça, percebiam o quanto o Cavaleiro de Peixes sofria, mas não conseguiam se aproximar o suficiente para conseguir arrancar aquela duvida do subito desinteresse pela sua ex-serva.

– Ah, ela resolveu sair da toca - A voz sarcastica de Mascara da Morte tomou o lugar chamando a atenção de todos. Dora sorriu de forma fraca.

Ali estava um Cavaleiro que não se mostrava preocupado com ela, nem com ninguém, pois reconhecia que não tinha nada a ver com a história.

– Já está tudo pronto? - Saga, um pouco mais atrás com seu irmão, se meteu com um belo sorriso.

– Quase... - Respondeu simpatica.

– O que está quase tudo pronto? - Miro voltou-se para a moça.

– Eu estou indo embora - respondeu com simplicidade para o espanto dos demais.

Definitivamente Afrodite não estava a espera dessa novidade. E apesar de estar profundamente tomado pela dicisão de não se aproximar mais da filha de Aioros, aquele havia sido um golpe inesperado. Involuntariamente descera um degrau, de olhos postos na mais nova, que não deu pelo seu movimento, pois teve a atenção chamada pelo Capricorniano.

– Você vai viver com seus pais? - Indagou confuso.

– Não - Respondeu sorrindo - Eu falei com meu pai e decidimos que vou voltar para Corinto. - Completou sem dar conta de como chamara Aioros, e para o gosto de alguns esse facto foi recebido com agrado.

Shura sorriu, voltando o olhar para aquele belo homem, estatico no topo da escadaria.

– Vai ser melhor assim - Murmurou Saga de forma a que só Kanon, que estava suficientemente próximo, escutasse.

Escorpião fitara Afrodite. No fundo tinha pena. Nunca pensara em ver Afrodite de Peixes naquele estado, especialmente por uma mulher.

O mesmo pensamento que vinha na cabeça de Mascara da Morte, que abanara a cabeça negativamente.

– Bem - Dora fez, lutando para não se voltar para trás - Eu estou indo ver meus pais. Até mais tarde - Acenou gentilmente para todos recomeçando sua caminhada. Os olhos viram ela passar pela Casa de Touro, para se voltarem para Afrodite, que não pode deixar de perceber, que para além da duvida havia uma certa penalidade no olhar de cada um.

Seu estomago revirou, enquanto sua face endurecia.

– Melhor para ela - Disse alto, enquanto se voltava de costas - Afinal esse foi sempre seu desejo - Completou começando a andar rapidamente.

– Eu realmente não entendo - Miro não conseguiu segurar - Está mais do que na cara que ele se apaixonou por ela e, por algum motivo não quer admitir.

– Acho que ela nunca deixou de ser uma serva...

– Não é nada disso - Mascara da Morte respondeu a Kanon com um sorriso e um olhar enigmático na direcção do Cavaleiro de Gémeos, mas antes que os demais pudessem indagar algo, o italiano pôs-se a correr na frente.

A velocidade de Afrodite permitiu que este chegasse a casa de Peixes sem ser incomodado. Passara como um furacão pelo salão exterior, entrando com respiração ofegante pela sala bem arrumada.

– Senhor...

– SAI DAQUI! - Voltou-se para a pobre serva que cobria os serviços de Dora. Lita arregalara os olhos recuando e, rápida, entrara pela cozinha, indo se refugiar em seu quarto.

Tinha plena noção que hoje era daqueles dias em que não poderia chamar o Cavaleiro de Peixes nem para o jantar.

Os passos nervosos vinham e voltavam, enquanto sua respiração teimava em não acalmar.

Ela iria embora. Aioros estava permitindo que ela fosse embora. Mas porque? Será que não se habituara a ela? Impossivel. Dora era o tipo de pessoa que as pessoas se apegavam sem saber como. Já admitira isso tão bem, ainda quando ela era apenas sua serva. Mas agora ela ia embora. Por quanto tempo?

Esfregou nervosamente o cabelo, levando um susto ao ouvir a porta abrir de rompante. Voltou-se a tempo de ver a figura de um italiano intrometido entrar descontraido e se jogar em seu sofá.

– O que está fazendo aqui? - Indagou aspero.

– A questão não é essa - Mascara da Morte disse com um sorriso ironico - Vou te dar mais uma chance para a pergunta de ouro - Completou colocando os dois pés na mesa de centro bem encerada, fazendo Afrodite ranger os dentes.

– Os pés...

– Porque Dora está indo embora? - O italiano surpreendera o outro com um sorriso cínico.

Afrodite recuara, estreitando os olhos. Dera um suspiro pesado.

– Este sempre foi o objectivo dela - Tentou parecer natural.

Falhou no intento. Mascara da Morte, ao contrario do que se pensava, conseguia ser bem perspicaz quando queria. Os olhos azuis estreitaram desafiadores:

– Mas a certa altura ela deixou de falar sobre isso, não foi!?

Afrodite mordera o lábio inferior pensativo.

– Não sei - Respondeu com uma pose altiva - Eu não mantenho conversa com servos...

– Apenas com filhos de Cavaleiros...

– O que você quer afinal? - Cortou agressivo, avançando alguns paços. Não pestanejava, olhava nos olhos do provocador.

Sim, Mascara da Morte estava ali para provocar. Esta era a tarefa que ele mais gostava de fazer desde a fatidica missão.

– Eu não tenho tempo para suas provocações...

– Não - Mascara da Morte ficara sério, endireitara-se e colocara os pés no chão. Não desviava o olhar do outro que se surpreendeu - Você está sem tempo.

– Do que está falando...

– Ora, vamos Afrodite, você está deixando a sua mulher ir embora - Disse rispido, deixando o outro atonito - Ela está indo embora porque você a despresou...

– Ela está indo embora porque esse sempre foi o desejo dela - Respondeu sem muita convicção.

– Nem você acredita nessas palavras - O italiano levantou-se, mas não se movera - Todos sabemos que ela é louca por você...ela confessou para o pai dela...

– Ela é louca pelo Albafica - Revidou com desprezo.

– E quem é, na realidade, o Albafica? - Indagou mais uma vez desafiador, vendo a expressão do outro se transformar em tristeza. Por um momento, se arrependera de ter dado esse rumo a conversa. Não era para isso que tinha vindo. Mas era tarde para recuar.

– Albafica está morto - Afrodite disse num sussuro - Sobrou apenas o velho Afrodite.

– Mentira - Mascara da Morte estava determinado a ir até ao fim, mesmo que fosse a ultima vez que conseguisse conversar com o Cavaleiro de Peixes.

– Não é mentira...

– Se fosse verdade você não estava sofrendo. - Disse sorrindo - O velho Afrodite não sofreria por isso.

Afrodite suspirara. Era inultil revidar quando sabia que as palavras de Câncer eram cem por cento verdade. Baixou os olhos.

– Este pode não ser Albafica...mas também não é o velho Afrodite - Mascara da Morte serenou a face. - Quando aquela menina morreu nos meus braços...

– Giocca...?! - Afrodite mirou com mais atenção o companheiro.

– Ela disse que voltamos por algum motivo...para cumprir promeças. - A face serena do italiano com olhar perdido em um ponto qualquer nos pés do companheiro eram totalmente fora da imagem normal daquele homem, de tal forma que Afrodite se perdia no que ele falava - Eu consigo sentir os desejos dele - Voltou o olhar para Afrodite, que esperava por mais - Manigold...ele queria realmente reve-la...saber dela. Mas eu estraguei tudo.

– Giocca está morta - Afrodite gesticulou de forma a por um ponto final na conversa. De alguma forma aquele Mascara da Morte não combinava com a imagem que fora criada ao longo dos anos e, aqueles que se habituaram a ela iriam se sentir desconfortaveis, como Afrodite agora.

– Ela está morta, porque era um preço que eu, Mascara da Morte, tinha que pagar - Câncer contornou a mesa, para ficar diante do homem que voltava-se na sua direcção - A nossa história sempre foi diferente, Afrodite. Aquela menina não voltou apenas por uma promeça...ela voltou pelo que sente por você.

– Pelo que sente por Albafica - Exasperou recuando.

Mascara da Morte soltou uma risadinha nervosa, que fizera o outro estreitar os olhos.

– E quem é você? Quem é esse Afrodite que está na minha frente?

– EU NÂO SEI...?! - Gesticulou com agressividades, mas Mascara da Morte não recuava.

– Patético!

– O que!? - Avançou.

– Você é o que resgatou de Albafica - Disse com desprezo...mas não sabia definir se este era pela falta de atenção do outro sempre tão inteligente e dono de si. Afrodite recuou engolindo a seco - Você só está com medo...

– Eu não tenho medo de nada... - Retorceu a cara em nojo e ódio.

– Está com medo de maxuca-la...não com seu sangue, que não é igual ao de Albafica...mas pelos espinhos que você coleccionou todos esses anos.

– Mascara da Morte...

– E é isso que o torna patético - A expressão provocadora voltava com seu velho sorriso - Ela é bonita...pelo menos no meu conceito - Sorriu vendo a expressão do outro fechar. Sorriu ainda mais - É jovem...longe daqui, pode ser que esqueça... - Não completou sentindo ser segurado pela gola.

– O que você quer de mim maldito - Disse entre dentes, mas tão proximo que o italiano conseguia sentir a sua respiração.

O italiano sorriu.

– Que você tome uma actitude - Respodeu sentido ser largado e vendo o suéco se afastar alguns passos sem tirar os olhos deste - Antes que seja tarde de mais - Completou virando no próprio corpo e saindo, deixando o Cavaleiro de Peixes ainda mais confuso.

O Cavaleiro de Peixes serrara os olhos com força. Sua cabeça doia. Cambaleante ainda com a conversa que acabara de decorrer entrara pelo corredor, entrando no quarto.

Sua imagem fora reflectida pelo novo espelho que adornava o local do seu processor. Se proximou sem tirar os olhos da sua própria imagem.

Já não era o Afrodite de sempre, e esse novo que surgia tinha algo de seu antigo...daquele a que muitos respeitaram pelo seu simples "eu".

Mas será que seu medo era realmente verdadeiro. Seu sangue não era venenoso ao ponto de ser fatal. Mas seus espinhos eram tão afiados ...balançou a cabeça negativamente.

Então ela sofria por ele? Afrodite? Era dificil de acreditar. Tantas vezes lhe tratara mal. Tantas vezes a afasta-la de forma tão brutal. E ela ainda assim sofria?

Suspirou.

Sim, tinha que tomar uma actitude. Ele, Afrodite de Peixes, por mais que tentasse, estava perdido por aquela moça fragil, que voltara para ele.

Mirou-se mais uma vez no espelho comtemplando sua bela figura. Se dentre todos os seus defeitos existisse o egoísmo, talvez esse era o que, naquele momento, deveria conservar.

Continua...


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