Por detrás da Rosa escrita por Danda


Capítulo 20
Quem é Albafica


Notas iniciais do capítulo

Como eu havia dito este é o principio de uma nova estrada para a fic, então eis que nos encontramos na cozinha da casa alugada para o inicio da missão. Ali está Dora, Afrodite e o recém-chegado Saga, que interrompera a conversa sobre Albafica.

A pergunta é: quem é Albafica?



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Após um breve instante de admiração por aquela interrupção, Afrodite pode sentir seu ser vibrar enquanto as retinas claras consumiam a imagem imponente parada na porta. Dora, por seu lado, ainda sentada a mesa, tentava controlar sua respiração e seu nervosismo, pois novamente se deparava com a calma fria e calculada do Cavaleiro de Gémeos.

– Ouvindo atrás da porta? – Afrodite, por fim, ironizou, sem conseguir esconder a irritação em sua voz. Colocara-se a direito, cruzando os braços a frente do peito, adoptando uma postura defensiva.

Saga estreitou os olhos. A figura marcada por calças de moleton e tronco nu, tapava a visão mais clara que vinha de fora (luz que acendera no hall), provocando no chão do recinto uma enorme sombra medonha no chão. Não se intimidara com a indagação, avançando dois passos e ficando próximo a outra ponta da mesa.

– Afrodite, eu avisei para se afastar… - Iniciou com voz assustadoramente ponderada. Dora sentiu os pelos de seus braços eriçarem-se e um pequeno estremecimento dominou seus membros.

– N-nós só estávamos… - Começou hesitante, mas um movimento brusco da mão do Cavaleiro de Peixes a fez calar-se.

– Responda, antes, a questão imposta Dora – Afrodite disse calmo, com um pequeno sorriso nos lábios.

Por um lado agradava-lhe que Saga soubesse tudo de uma vez e engolisse aquela prepotência, mas por outro, gostava que tal, fosse apenas um assunto seu e da moça. Mas naquele momento tivera que decidir e, nada pagaria ver aquele sujeito com a cara no chão.

Saga voltou-se para moça com um olhar desconfiado, vendo que ela vacilava.

– Então…?

Dora suspirou.

–Ele assombra meus sonhos – Dissera por fim, baixo, mas sua voz era convicta. Saga lhe fitou com estranheza. O fino sorriso arrogante de Afrodite aflorou e, alastrando-se, contaminava seu olhar.

"O que está dizendo?" – Era isso que os olhos inquiridores de Gémeos jogavam sobre Dora e a jovem percebeu que começara errado. Sua cabeça baralhava os pensamento em vez de ajuda-la a começar, e seus lábios, demonstravam que apesar da vontade em responder aquela indagação, não conseguia proferir nada.

– Albafica é o antigo Cavaleiro de Peixes – Afrodite veio ao socorro, um tanto desiludido pela falha da moça – do tempo de Shion e Dohko – Completo sob o olhar estreito do outro.

– E o que tem ele? – Saga demonstrou que não estava percebendo o ponto, para a satisfação de Peixes.

– Ele assombra meus sonhos – Dora repetiu, tragando um pouco da água que estava em seu copo. Tentou inutilmente conter seus estremecimentos, mas não pode.

– Porque está nervosa? – Saga, de braços cruzados, voltava-se completamente para ela, aumentando seu nervosismo.

Na verdade Dora não compreendia nada daquele homem. Ao contrário de Afrodite, que com todo os seus achaques, sabia o que contar. Mas Saga era uma caixa de surpresas, perigosa. Nunca sabia o que poderia sair dali e isso a deixava temerosa, não só por si…

– Você me deixa nervosa – respondeu sem pensar erguendo-se, quase derramando o líquido do copo. Surpreendera os dois homens, mais pela frase e seus possíveis significados que pelo tom agressivo.

Saga mostrou não só surpresa como um ar indignado, enquanto Afrodite perdera o sorriso e estreitara os olhos.

– Me desculpe – Disse baixando a cabeça. Voltara a sentar pesadamente – É que me assustou…

– Quem é Albafica? – Saga indagou apoiando-se na mesa, chamando a atenção da moça. Dora estranhara, parecia que o homem a sua frente não tivera nenhuma surpresa a segundos atrás. Era como se do nada, a cena de sua afirmação sobre o Cavaleiro de Gémeos, tivesse ocorrido só em sua mente.

Pela primeira vez fitara bem fundo nos olhos daquele homem misterioso e foi como se compreendesse. Saga era um homem prático e era mais do que óbvio que ficava nervosa na sua presença. Ele, provavelmente, descartara a hipótese de pedir explicações sobre esse assunto, porque era demasiado evidente que não se sentia confortável na sua presença. Também, após o primeiro encontro, era como se Saga forçasse estar sempre intrometido em sua vida e, ele tinha muito a noção disso. Desta forma, a constatação da moça não fora errado. Seria estupidez perguntar o porque daquele nervosismo e, inútil dizer que ele era de todo tolo. Desta forma, a primeira indagação ainda estava em aberto, apesar da resposta evasiva de Afrodite.

– Ele era Cavaleiro…

– …de Peixes – Saga Completou impaciente – Sim, essa parte eu acompanhei. Assim como seus sonhos, que, a meu ver, são estranhos. O que quero saber é: quem é Albafica para você e Afrodite?

Dora fitou Saga sem entender.

Quem era Albafica realmente, além do que Afrodite acabava de revelar? E porque aparecia em seus sonhos?

– Eu não sei explicar, além do que eu já disse – A voz feminina saiu fraca, enquanto seus olhos acompanharam o movimente leve de Afrodite caminhar para o outro lado da mesa, puxando o banco e sentando a sua frente.

– Shion dissera… - Afrodite começara compenetrado. Seus olhos claros engoliam a frágil moça a sua frente. Explicava tudo o que sabia até então. Não reparara que Saga também sentara no mesmo banco, mais para a outra ponta.

O Cavaleiro de Peixes não desviava sua atenção de Dora, como se aquela explicação coubesse apenas a ela, mas Saga não perdia nenhum detalhe.

Gémeos não dissera, e não cogitava dizer, que quando estava no mais alto cargo do Santuário, tinha conhecimento desse nome e de outros que passaram pela última Guerra Santa, em que Albafica lutara com Minos. Toda a informação estava em um enorme livro de encadernação luxuosa, escrita pelos punhos de Shion.

Se surpreendia com os detalhes que saiam da descrição de Afrodite e, assim como Dora, era tragado a alucinante e bem descrita acção de há muito tempo. Algumas passagens já eram conhecidas de Dora, pois vezes sem conta presenciara-as em suas noites agitadas e confusas.

Vez ou outra a moça dava sua visão de determinado acontecimento e, naquela mesa, os dois narradores teciam uma impressionante história que passava a perturbar o Cavaleiro da Terceira Casa.

Agora as coisas passavam a fazer mais sentido, apesar de em seu interior relutar em ceder ao óbvio. Rápido, já percebera quem era Albafica para aqueles dois e, seus olhos estreitavam na direcção de ambos.

– Espero que isso mate sua curiosidade, Cavaleiro de Gémeos – Afrodite dissera, voltando-se para o mais velho, pela primeira vez. Levantou-se tão rápido, que Dora mal deu conta de seu movimento. Encontrava-se, agora, de pé, no mesmo local e posição que iniciara aquela conversa.

Saga ainda o fitava de olhar estreito.

– E o que quer fazer com isso? – Indagou de repente, surpreendendo os outros dois. – O que quer que façamos com isso?

Boa pergunta. O que fariam com isso? O que fariam com aquela informação?

Afrodite nunca havia pensado profundamente nisso. Aliás, desde que voltou a vida, nunca pensou profundamente em o que faria com aquela segunda chance. Vivia a cada dia, como se nada tivesse ocorrido, apenas se censurando, vez ou outra, por pontuais acontecimento de seu passado.

Seus olhos claros prenderam-se em Saga, como quem busca na face do outro a resposta a aquela indagação.

– Mesmo que isso que acabou de contar esteja 100% correcto – Saga reiniciou serio. Agora era sua vez de ignorar a presença de um dos integrantes ali presente, e Dora, se sentia, naquele momento, excluída de qualquer possibilidade de opinião a respeito – O que faz Albafica aqui? Quem é Albafica agora? – Indagara erguendo-se. Sua face transbordava uma resolução taxativa. A história que ouvira parecia ter saído de um livro, e apesar de não duvidar, após relatos precisos, que a aquele belo "conto" fosse verdade, não influenciava em nada as decisões tomadas e o rumo que estas estavam levando.

Quem era Albafica agora? Esta era uma pergunta terrível. Não apenas para Afrodite, mas para a moça que o fitava intensamente, a espera que ele, sempre tão certo de si, respondesse a altura. Mas essa resposta não vinha e desmoronava-se qualquer expectativa que Dora pudesse ter de acabar com toda aquela agonia.

De uma só vez deixou-se dominar por toda a explicação de Afrodite e, não duvidou de uma única palavra que saísse da bela voz daquele homem. Nunca fora muito religiosa…mas aquela era a única explicação plausível para o que estava acontecendo. Se não, como poderiam os dois terem o mesmo sonho? Como poderia ele saber de cada detalhe do que havia visto em suas longas e desesperadas noites? Quem era Albafica? Estaria ligado de facto ao que possivelmente fora? Estariam conectados até então?

Balançou de leve a cabeça negativamente. Quanto mais respostas surgiam, um milhão de perguntas novas vinham a tona. Quem era Albafica? Tentaria compreender. Tinha que compreender.

Assim como Afrodite, mantinha-se calada, o que perturbara Saga, que tinha a esperança que Dora se intrometesse dizendo que tudo não passava de mal-entendido, apesar dele mesmo estar convencido que acharam a única explicação possível.

– Dora?! – A voz de Aioros surgia da sala, sonolento. Descera ao acordar sobressaltado sem ter a moça ao seu lado. De calça leve clara e uma t-shirt branca, andava lento, tentando habituar os olhos a luz que venha directo em seus olhos quando alcançou o hall. Sua imagem surgiu na porta chamando atenção de todos. – Estão dando festa aqui, é? – Indagou de forma estranha. Não tinha o tom de brincadeira, mas era despido de qualquer ironia.

– Só se for apenas com água. Não há nada na geladeira – Dora disparara. Estava nervosa, mas o sono que lhe atingia com tudo fez com que apenas parecesse irritadiça.

– Mascara da Morte – Afrodite suspirou. – Essa geladeira parece a alma dele…

– E o coração de alguns – Saga balbuciou, sendo ouvido apenas por Aioros que dera um risinho nervoso, enquanto via Dora se levantar, indo ao seu encontro.

– Amanhã acho que receberemos as ordens mais completas do Santuário - Aioros alertou, enquanto deixava a moça, bem mais baixa que ele, passar – É melhor dormimos… - Completou virando, rapidamente, para alcançar Dora que já chegava a escada.

Afrodite, de onde estava, conseguiu ver os dois subirem para o andar superior. Sem prestar atenção nos olhos que ainda o devoravam, pegou no copo sobre a mesa e colocou dentro da pia. Não o fizera de bom jeito, de modo que o copo fizera um barulho incómodo quando tombara.

Sem dizer mais nada, partira. Não tinha intenção de continuar a conversa do ponto onde pararam, mas Saga levantara-se rápido tapando sua passagem.

Agora estavam muito próximos fazendo com que Afrodite tivesse que erguer um pouco a cabeça para fitar a face do mais velho. Seus olhos tinham um brilho fulminante, pois entende-se que diante de um adversário não era bom olha-lo de baixo, mas era, ainda, pior recuar, de modo que permanecera onde estava.

Por sua vez, Saga não se movera, fitando o Cavaleiro de Peixes de cima, com uma expressão muito séria.

Ah, se olhar matasse! Estaria ali a projecção de uma batalha acirrada, com artilharia pesada.

– Ouça bem Afrodite – Saga iniciara calmo – Albafica não importa mais, mesmo que seja realmente verdade o que acabou de relatar. Você é apenas Afrodite de Peixes, e Dora, é agora filha de Aioros. – Seu tom técnico e sem emoção aceleraram o coração de Peixes, em um frenesim que parecia querer causar um ataque cardíaco – O agora é o que importa – Completou, e sem deixar o outro retrucar (coisa que Afrodite não cogitara pelo efeito que tal constatação trazia) virou no próprio corpo e, rápido partira para a sala, onde logo deitara-se. Algo dizia que com o amanhecer, o dia mostrar-se-ia difícil.

Não tardo para que todas as luzes da "luxuosa moradia" estivessem todas apagas, com seus moradores em seus leitos.

Mascara da Morte, permanecia ferrado no sono e Aioros não tardara a adormecer pesadamente, não percebendo que a moça ao seu lado dormitava tendo vários episódios em que despertava assustada.

Afrodite por sua vez fitava a escuridão envolvente. Lhe causava desconforto o barulho dos grilos lá fora e cada vez mais voltava-se de um lado para o outro, cada vez que sua mente viajava para as ultimas palavras de Saga naquela mesma noite.

Albafica não importava. Albafica não importava? Se não importava porque estava tão presente? Se não importava porque ela voltou para o Santuário?

– Ela voltou por você Albafica – A voz de Shion parecia ter sido proferida meio a penumbra.

Mais uma vez rodou com violência.

Albafica importava, porque ele, Afrodite importava. Enquanto para si e para Dora o antigo Cavaleiro de Peixes dissesse alguma coisa, essa história não acabava ali.

– Não importa o que diga – balbuciou antes de ser abraçado por Morfeu – Não importa…

A que ponto haviam chegado. Em tempos jamais se questionou sobre as ordens de Saga. Sim, Saga, O Grande Mestre. Aquele que usurpara o trono do 13º templo. Nunca, em nenhum momento contestou aquele homem e, no entanto agora, estava disposto a tal.

Saga, já fora um homem em que o Cavaleiro de Peixes nutrira algum respeito. Mas isso foi antes, foi quando a determinação o levara ao ponto mais alto do Santuário. Quando não se deixava dominar por remorso do que havia de ser feito para tirar as pedras de seu caminho.

Agora, pouco restava desse Cavaleiro de Gémeos. Saga agora era atormentado pelos fantasmas do passado. Por tudo e mais um pouco, culpava-se, remoía-se, deixava-se dominar pateticamente por cada ínfima atitude que tivera.

Tudo isso faziam com que respeito de Afrodite desmoronara-se, dando lugar ao desprezo. Como podia, um homem como aquele, conseguir retornar e, em vez de seguir com sua chance, talvez até remediar o que havia feito, ficava choramingando por aquele que retornara a vida também.

Antes era tudo mais fácil. Quando o entendimento vinha apenas no olhar.

Talvez o entendimento ainda vinha apenas no olhar, mas as contradições destas vinham dos lábios. Afrodite não estava disposto a seguir ordens daquele que não merecia, se quer, seu respeito.

Ainda acreditava que o fim justificava os meios. Sempre funcionara assim, porque seria diferente agora. Sempre que alcançado o objectivo, o que passou não teria mais importância. Sim, Saga não sabia com quem estava se metendo. Talvez em tempos saberia, mas agora…

Adormeceu sobre o assunto, acordando convicto do que deveria ser feito. Convicto de que não se deixaria perder como o Cavaleiro de Gémeos.

Sua determinação ainda não desvanecera, levantando rapidamente, assim que abrira os olhos, tomando consciência que os raios solares já vinham alto. Vestiu-se de forma simples, com calças de ganga e camisa branca. Calçou os sapatos brancos que retirara de sua mala repousada no chão e, fora para o corredor, lembrando que não deveria ter muita esperança quanto ao café da manhã. Mas um cheiro forte de café, o guiou quase que inconscientemente para a porta da cozinha.

Por momentos ainda pensara estar dormindo, pois sobre a mesa, pão fresco e bolachas o aguardavam, bem como dois bulis do qual a fumaça que se erguia deixava claro uma temperatura agradável. Apenas duas xícaras uma diante da outra, repousavam naquela visão.

– O que? – Mascara da Morte entrava pela porta que dava para o quintal. Tinha sobre as mãos uma pilha de lenhas bem cortadas.

– Onde arrumou…

– Não fui eu – Cortou seco, enquanto jogava a lenha em um canto da cozinha, perto do fogão. Voltou o olhar para Afrodite que ainda não se movera e, apontou para fora.

Afrodite contornou rapidamente a mesa, encontrando em uma mesa redonda de cimento, pintado de branco e rodeada por pequenos bancos do mesmo material, Dora na companhia de uma mulher estavam sentadas. Esta segunda estava trajada formalmente, com um vestido de linho preto e sapatos de salto a condizer. Na cabeça um coc prendia os cabelos muito loiros e os olhos azuis era emoldurado por óculos aro tartaruga.

A mulher parecia explicar algo a mais jovem.

– Athena não perde tempo – Mascara da Morte comentou, retirando de um dos pacotes uma bolacha de chocolate recheada de creme branco. – Esta veio ensinar italiano para a pirralha.

– Pare de chama-la assim Mascara da Morte – A voz de Aioros invadiu o recinto.

– É o que ela é – O italiano retrucou encolhendo os ombros – Não é mesmo Afrodite? – Virou-se ao nórdico com um sorriso travesso.

Afrodite não respondeu, sentando onde a algumas horas antes Dora estivera sentada. Aioros se aproximou, sentando de frente a Peixes.

Mascara da Morte bufou. Como preferia estar sozinho naquela missão. De mal jeito saiu novamente pela pequena porta.

– Eu ouvi a mulher dizer que ela terá uma semana para aprender a se comunicar em italiano – Aioros comentou se servindo de leite.

– É pouco tempo – Afrodite comentou se servindo de pão. Parecia não se importar com a noticia.

– Se ela se empenhar…

– E como fica o resto? – Os olhos claros fitaram o moreno.

– Qual resto? – Aioros retribuiu o olhar.

– Ela claramente não sabe se defender, se for preciso – Peixes observou.

Aioros pareceu ponderar.

– Tenho que tratar disso então…

– hmmmm – Afrodite sorriu. Mas não um sorriso qualquer. Era um sorriso debochado e o outro não pode deixar de perceber.

– O que…?

– Penso que temos alguém certo para isso – Disse voltando a uma postura indiferente, enquanto comia o pão pronto com manteiga.

– Você…?

– Mascara da Morte.

– Nem pense nisso – Aioros se indignou – ele acabará por feri-la.

Afrodite o mirou incrédulo.

– E você pensa que se ela sofrer algum ataque a pessoa vai pensar "oh não, é a filha de Aioros…"

O moreno suspirou. Por mais que lhe custasse admitir, Afrodite estava certo. Aquela era uma missão entregue pelo Santuário…não um passeio.

– Ouça… - Afrodite começou.

Não importava o que Saga pudesse dizer sobre o carácter do Cavaleiro de Peixes. O nórdico tinha razão em certos pontos. E isso Aioros dava a mão a palmatória. Entre muitas coisas que Afrodite lhe dizia naquela longa conversa, muitas assustavam o Cavaleiro de Sagitário.

Desconfortável, era como todos se sentiam neste momento naquela casa. De tarde, Dora encontrava-se ainda na companhia da mulher na qual não sabia o nome, Saga até então não havia dado as caras, e Aioros fechara-se no quarto após ter falado com Afrodite. Este segundo, era o único que perambulava pela casa, como se fosse o dono cansado dos hóspedes.

Eram quase quatro da tarde quando Mascara da Morte entrará na sala onde sentado pensativo estava Afrodite.

O Cavaleiro de Peixes viu a figura suja do italiano estreitando os olhos. Já imaginara que o Cavaleiro de Câncer estivesse treinando por aí e estava justamente esperando que ele chegasse.

– Precisamos falar – Peixes disse serio.

Mascara da Morte fez sinal para que o outro viesse atrás de si para o andar de cima.

Sem cerimónias Afrodite entrou no quarto do moreno e, este, entrara em seguida fechando a porta. Sabia que o que o companheiro do 12º templo tinha para dizer, seria apenas para ele.

A proposta era simples, mas a conversa para convencer Mascara da Morte a cooperar seria longa.

Mas o que não seria longo naquele dia? O primeiro dia para aprender uma língua em uma espécie de curso intensivo fazia o dia longo. O primeiro dia para digerir uma informação tão importante e fantasiosa fazia um dia longo. Muito longo!

Saga caminhava por entre ruas apetrechadas de gente que caminhavam em todas as direcções sem prestar muito atenção aos rostos que se viravam em sua direcção. Um homem como o Cavaleiro de Gémeos, mesmo que vestido normalmente, em uma terra estrangeira, chamava muita atenção, indo contra a regra de não ser foco de olhares indiscretos, Saga, de calças de ganga e camisa azul e sapatos confortáveis, sentiu algo repuxar no bolso de trás.

Rápido, voltou-se para ver o que era, vendo uma criança baixa de cabelos escuros curto, correr por entre as pessoas. Sua mão, instintivamente procurou por algo, deduzindo logo que fora roubado. Sua carteira com documentação falsa para missões fora do Santuário, tinha desaparecido.

Um meio sorriso levado tomou seus lábios enquanto saíra no encalço do assaltante. Ainda sentia sua presença perto, apesar de não o ver. Não estava particularmente irritado, apenas um pouco preocupado. Não que dentro daquele adorno de couro tivesse algo que lhe comprometesse, mas como todas as pessoas assaltadas, deixava-se dominar por um sentimento de falta e preocupação.

A movimentação intensa das pessoas ia ficando para trás enquanto um grande muro branco que rodeava um grande território era avistado e, a calmaria tão típica destes locais dominava o espírito do Cavaleiro.

Grandes cruzes, belos anjos, um cheiro intenso de relva molhada era tudo que deveria estar naquele local onde descansavam ancestrais, mas um murmúrio fazia com que a pacata cidade do silêncio fosse perturbada. Não eram como cochichos, mas mais sussurro irritados. Pareciam crianças e, deduzira que sua carteira estaria entre elas.

Calmamente procurara por um ponto onde pudesse passar despercebido, mas fora interrompido desta tarefa quando uma voz cortante masculina gritara lá de dentro.

– Vocês demoraram! – Era segunda vez que a frase era pronunciada com rispidez, estava mais próxima que antes – Vamos, passem o que conseguiram.

– Não é justo – Uma voz infantil protestou. E logo outras vieram com frases similares.

– Calem a boca – uma segunda voz adulta fizera-se presente – Você só estão vivos graças a nossa benevolência...

– Isso é mentira – Mais uma voz de criança irrompera. A esta altura Saga encontrava-se por de trás de uma grande lápide, onde por cima estava um anjo de asas e braços abertos. Os cabelos compridos e expressão calma poderiam fazer lembra ao Cavaleiro de Virgem.

Os olhos claros de Saga fitaram as cinco crianças diante dos dois homens. Das cinco figuras pequenas, três eram meninos, todos eles quase do mesmo tamanho. Não deveriam ter mais do que 8 anos. As outras duas, meninas, uma, provavelmente, de 6 anos e outra que parecia ser a mais velha do grupo, com aproximadamente 13. A única que tinha cabelos compridos até o meio das costas. Todas com a mesma característica: cabelos escuros, traços finos mas bem marcados e pele morena, como muitos dos daquela região. Sujos até a alma e de roupas largas e rasgadas. A mais velha fora a que se pronunciara por ultimo. Apesar da demonstração de coragem diante dos dois homens mau vestidos e gordos, seus membros tremiam como se estivesse muito frio. Mas o sol que ainda não baixara, ainda erradiava um calor intenso, no qual fazia a camisa de um dos homens ensopar em um fétido suor.

– O que disse? – Um dos homens, o mais gordo, de olhos escuros vesgo, aproximara-se perigosamente da criança, enquanto essa recuava.

– Se eu fosse você não me aproximaria – Uma voz sarcástica, forte e imponente tomou o local.

Saga, assim como todos os presentes, se surpreendeu.

Do outro lado do grupo, a figura altiva de Mascara da Morte tomou a atenção de todos. Sorria de forma enigmática.

– Pelo menos não antes de eu recuperar o que é meu – Completou e, seus olhos cravaram na menina mais velha.

– Do que esta falando – Um dos homens, o ensopado e fétido, falara ameaçadoramente na direcção do Cavaleiro – Saia daqui! Você não tem nada que se meter – Gesticulou agressivo.

Mascara da Morte estreitou os olhos.

– Acalma-se Mascara da Morte – Saga dissera em grego. Sua figura altiva agora era foco de atenção e espanto por todos, incluindo o companheiro.

– O que faz aqui, Saga? – Câncer indagou irritado.

– Parece que eles têm algo que me pertence também – Disse com um sorriso enigmático na direcção de um dos meninos, que se encolheu atrás da mais velha.

– Vocês têm o dedo podre para escolher vítimas – Mascara da Morte voltava a língua natal, coçando a testa com o dedo, despreocupadamente.

– Quem tem dedo podre são vocês seus idiotas – O vesgo gritou e de trás das costas puxou uma arma que estava presa na cintura, apontando-a para Mascara da Morte. – E agora vão morrer por isso – Completou vendo o companheiro imita-lo, apontando a arma para Saga.

– NÃO! – A mais velha gritou – Toma! – Pegou a carteira negra presa em sua cintura e jogou-a para o moreno, que a segurou com destreza, com cara de duvida – Va embora. Devolva a do outro, Giusepe – Ordenou, de modo que o pequeno, tremulo, pegou na carteira castanha de couro presa em sua cintura...

–Nem pense! – o segundo individuo voltou a arma para a criança.

Saga sentiu seu sangue ferver e antes que pudesse piscar, o homem caíra desacordado no chão. O comparsa voltara-se para gritar, mas fora atingido por algo fatal que lhe roubara o brilho dos olhos, ficando estendido no chão.

As criança não puderam ver que Saga e Mascara da Morte haviam agido contra eles. Tão rápidos, que quando se deram conta, um dos homens estava morto, de olhos muito abertos, diante deles.

– Droga Mascara da Morte, não era para matar – Saga recriminou.

– Calculei mal a força – Respondeu com indiferença, ajeitando a carteira no bolso traseiro das calças escuras.

Agora os olhos claros de Saga voltaram-se para as crianças perplexas.

– C-como fez isso? – A mais velha conseguira finalmente indagar.

– Não se incomode com isso – Saga respondeu estendendo a mão para o menino, que logo compreendera dando a carteira para a mão do Cavaleiro. Tremia muito, mas Saga não dera importância. Já havia feito mais do que se propusera, e um pouco mais poderia ser perigoso.

A menina estreitara os olhos escuros.

– Tudo bem – respondeu finalmente para a estranheza dos Cavaleiros de Athena – Nós agradecemos. Mas agora temos que ir...

– Vocês têm para onde ir?

– Claro – A menina respondeu, percebendo que era realmente indiferente para aqueles dois.

– Então vamos logo Luna – A mais nova disse. Estava realmente assustada e passava a se agarrar no braço de um dos meninos.

– Sabe – Ela voltou-se para Mascara da Morte. Agora falava uma língua diferente...não era o italiano que Saga compreendia – Você era mais legal antigamente...

Mascara da Morte se surpreendeu, vendo que as crianças corriam para longe.

– VAMOS LUNA! – uma delas gritara quando desapareceu de vista.

– Do que está falando pirralha? – O italiano indagou confuso, vendo a menina balançar a cabeça de leve negativamente.

Não tivera resposta, pois essa logo se voltou e correu para acompanhar os outros.

– Ei...!

Continua...


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