Por detrás da Rosa escrita por Danda


Capítulo 14
Depois da tempestade...




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Como todos os dias que prosseguem a um acontecimento grandioso de alegria e fraternização social, a monotonia tomava conta do espírito humano e se espalhava pelas ruas com aqueles que se uniam para recolher o lixo acumulado pelos divertidos peões que no dia anterior em meio ao entusiasmo, deixavam para trás latas, restos de comida, papeis, entre outros detritos que se acumulavam entre as ruas e a calçada de paralelepipedo.

Os pedestres que tentavam seguir com sua rotina como se nada tivesse acontecido, fingiam a todo custo não mostrar a ressaca natural de uma grande euforia.

Este era o espírito daqueles que rodeavam o Santuário de Athena. As lojas abriram um tanto tarde e Alexandra, já num estado avançado de gravidez e seu marido apenas abriram as portas da flori cultura as 10 horas da manhã, após uma rápidafaxina nos buchés que continham flores já estragadas pelas mãos curiosas dos dias anteriores e folhas que iam aos poucos caindo ao chão. Longe iam os longos períodos de preocupação com Dora, pois Anastácia assegurava que ali no Santuário da deusa nada de mal poderia acontecer, e eles, pais zelosos foram se conformando com a nova realidade. Viram-na de relance na companhia de um majestoso cavaleiros de Ouro, muito belo e Alexandra inconscientemente ou até consciente imaginou que aquele homem ficava lindo com sua filha. Mas afastou este pensamento quando viu a cara de seu marido ao perceber o que ela poderia estar pensando.

«Dora tem mais do que se preocupar» parecia dizer, sua expressão severa «Além disso, é muito nova.»

Sim, ela era muito nova e mal sabiam eles que todos aquele homens trajados de armaduras reluzentes eram dotados de uma falsa juventude, pois o tempo que estiveram mortos não contava para o corpo resguardado pelo cosmo da deusa que os protegiam. Tudo neles exalava vitalidade jovial, mas o espírito guardava a sabedoria de quem vivera séculos de pesados anos.

Das doze casas que antecedia o templo da deusa glauca nem um som se fazia ouvir naquela magnifica manhã de sol forte, alem dos passarinhos que se faziam presentes nas diversas árvores que rodeavam a vila.

Tudo parecia na normal paz, apesar da falta de presença de alguns membros da elite de Athena na arena, para os treinos matinais. Destes contavam o morador da ultima casa, no qual a sala impecavelmente arrumada, e o habitual perfume de rosas que nela imperava, principalmente, em torno das colunas e no jardim, não deixava transparecer o que se passava no interior...no quarto principal, em que parecia ter sido atingido por um furacão, com roupas espalhadas pelo chão, assim como o lençol de seda rasgado em dois e cacos estilhaçados do grande espelho que antes estava do outro lado da cama, por algum objecto maciço. Um corpo nu, de bruços, estava estendido na cama, com seus longos cabelos azulados, espalhados pelas costas e colchão, mostrando uma noite agitada e desagradável.

A casa de leão, habitualmente, não muito arrumada, estava adornada por uma "peça chave" daquela noite tão estranha: Aioros se estendia no sofá cor pêssego, no interior e, Aioria estava na poltrona, na cabeceira do irmão. Parecia ter acabado de adormecer.

E como num sonho, pois era assim que Dora via aquele dia interminável, não sabia dizer ao certo como fora parar na casa de Gémeos com os irmãos. Apenas uma vaga memória de estar sendo guiada pela mão forte de Saga que lhe segurava de leve pela base da nuca. Cada casa que passava, lhe dava a impressão de penetrar mais e mais num mundo a parte. Não fitava ninguém e seguia como se não tivesse vontade própria.

A chegada a Casa que passaria a habitar não constava na lembrança da moça, que só se deu conta de onde estava quando sentiu seu corpo pousar na poltrona de cor escura, de veludo.

Mirou os olhos verdes do homem que permanecia de pé frente a porta de saída, Com olhar vago para um ponto qualquer na porta da cozinha, atrás de si e, em seguida viu aquele outro, tão identido que sentava pesadamente no sofá a sua direita.

Engoliu a seco.

- Posso ir agora? – indagou hesitante, quase que num murmúrio.

- Para onde quer ir? – A voz forte de Kanon, que lhe fitava serio, pareceu ecoar longamente pelo recinto.

Aquela segunda indagação parecia não fazer qualquer sentido e Dora fez questão que mostrar em sua expressão que não percebia a pergunta. Mas vendo que ninguém se pronunciava resolveu ser directa:

- Para casa...

- Você está em casa – Desta vez foi Saga que respondera com sua voz potente e resoluta, como se estivesse ofendido com a proposta da moça, fazendo com que esta arregalasse os olhos surpresa. Não sabia dizer o que lhe assustou mais, a resposta em si ou o tom empregue nela.

Gémeos, com o olhar penetrante, se quer pestanejou diante do espanto dela. Nem mesmo quando esta pareceu retorcer dolorosamente os músculos do rosto.

-Eu quero ir para minha casa...

- Você está em sua casa – Saga retorquiu mais uma vez com o mesmo tom, agora com um pouco de impaciência. Sabia que ela tinha razões...e todas as razões para estar perturbada, mas estava cansado e sua cabeça parecia não formular as palavras certas para uma explicação coerente. Viu o queixo pequeno tremelicar enquanto os olhos castanhos marejavam.

- Eu não estou em minha casa – Disse com voz embargada.

- A partir de hoje – Kanon iniciou calmo, mas serio e seguro. Parecia não se importar com a aflição da menina – Você está!

Apesar de Saga, também, se espantar com aquela afirmação do irmão, tentou não mostra-la, ao contrario de Dora, que passado os primeiros instantes de choque, modificou a expressão deixando-se guiar pela cólera que cresceu em seu coração, que se seguiu de uma indagação intima: "com que direito...?"

Ergueu-se num rompante, mas respirou fundo para não começar a gritar e isso fez com que seus olhos se enchessem de lágrimas novamente.

- Escute bem Sr. Saga – Disse tentando conter o nervoso, voltando-se para o homem ainda de pé diante da saída – Eu VOU para minha casa! Quando meu pai souber o que está acontecendo... – Hesitou - ... eu não sou maior de idade, caso vocês não saibam, não podem...

- Então nos processe – Kanon ergueu a voz em deboche o que fez a menina lhe fitar espantada e, desta vez, Saga não conseguiu conter a surpresa – Não te adiantará de nada!

Dora sentiu o coração apertar e, não podendo segurar, as lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto voltava os olhos necessitados para seu protector.

- Sr. Saga...?

- Irei mostrar onde você ficará – Saga iniciou sem lhe fitar directamente, não mostrando emoção. Se aproximou rapidamente e a segurou com delicadeza pelos ombros, a fazendo voltar-se para o corredor a esquerda.

Todo o que havia sido dito até então ainda ecoava na parede de seus pensamentos e, como se o cansaço finalmente vencesse a vontade de sair dali, deixou-se guiar pelo homem que entrou na sua companhia pelo corredor e passou duas portas fechadas, virando na terceira a direita. Viu Saga abrir a porta e resmungar um "aqui".

De facto não era a moça que lhe preocupava no momento, ela estava revoltada e conseguia compreender perfeitamente o porque, mas sabia que ela estava em segurança ali, enquanto que no dia que se seguisse o perigo estaria naqueles que estiveram na reunião divina e sabiam, agora, de toda a verdade.

Ao abrir da porta de madeira escura, vislumbrou uma cama de casal e as palavras de Ster ecoaram na sua cabeça com tanta violência que a fez gemer baixo.

Saga pareceu ignorar, mas percebeu o que lhe perturbar.

- Você ficará aqui está noite – Iniciou com voz grave e fria e com um gesto brusco virou no próprio corpo para se retirar de volta para a sala, mas a voz baixa e tímida, ainda embargada, de Dora o fez voltar-se.

- Foi para isso que me trouxe para cá?

- Hmmm? – Fez estreitando os olhos.

- Para o Santuário. – Dora parecia recuperar suas forças, olhando frontalmente aquele homem imponente. Sentia o coração disparar e a face aquecer, mas estava decidida a prosseguir, tentando ignorar a expressão confusa dele – Este era seu plano? Era onde queria chegar?

A face do homem pareceu endurecer. Estreitou os olhos claros, como um pai que é contestado pelo próprio filho, Saga sentiu raiva.

- Não aqui – Respondeu depois de um tempo – Mas você nos conduziu até aqui.

- Eu...?

- O que sente pelo Cavaleiro de Peixes é perigoso. Eu não poderia fazer isso com Aioros.

- Eu não tenho nada a ver com este Aioros – Vociferou dando um passo em frente. Saga estreitou ainda mais os olhos – E você não é ninguém para dizer o que devo ou não fazer!

Ao contrario do esperado o homem deu um passo em sua direcção e a expressão que trazia no rosto deu a Dora a impressão que ele iria se manifestar de forma violenta, fazendo-a recuar dois passos.

- Vá dormir – Ordenou Saga friamente – Amanhã será outro dia – E como que ignorando toda aquela cena se voltou para trás e caminhou rapidamente para a saída do corredor.

Dora ainda ficou um tempo parada...confusa. Mas a final o que foi aquilo? Porque estavam fazendo isso? Sentiu os músculos prensarem, mas percebendo que não conseguiria sair dali entrou no quarto, deitando ainda vestida deixou-se levar pelo cansaço até cair no sono.

Saga mal passara pela porta, Kanon ainda sentado na mesma posição lhe fitou serio.

- Começamos bem...

- Não diga nada, Kanon – Saga disse isso se atirando na poltrona onde estivera Dora. Com os cotovelos apoiados nos joelhos sustentou a cabeça pesada. Deu um sonoro suspiro. – Eu não poderia deixar...

- Onde você vai dormir?

- Na sala.

- Até quando? – Indagou fazendo o outro lhe fitar.

Saga mordiscou o lábio inferior, decidindo a resposta ideal.

- Até quando me for permitido. – Respondeu por fim.

Kanon não conteve um balançar leve e negativo de cabeça. Até quando seria permitido? Até quando ficaria tudo calmo?

A primeira questão, talvez demoraria para ser respondida, mas a segunda chegara logo depois do almoço, quando Shura, após o treino entrou pela porta de gémeos com cara de poucos amigos. Pediu para aqueles que o acompanhavam seguirem, porque tinha assuntos ali. Depois de muitas olhadas de soslaio os de mais seguiram.

Shura não se anunciou para penetrar na sala e ver Saga esticado no sofá. Sua primeira reacção foi de espanto, pois não imaginava que logo ele estaria ali e não com...mas esse raciocínio o levou a um sentimento de alivio.

- Saga – Chamou gravemente.

- Não estou dormindo – Respondeu sem abrir os olhos.

- Onde está a menina? – Indagou estreitando os olhos escuros.

- No quarto.

- Não estou entendendo...

- Isso porque não sabe de metade da história – Respondeu abrindo os olhos e sentando rapidamente. O esforço cansado do movimento fez com que sua voz parecesse estranha. – Foi para isso que veio...

- Aioros tem uma filha – Shura começou se aproximando e sentando na poltrona que ficava de costas para a porta de entrada – E você escolhe ela para ser sua protegida. Odeia tanto Aioros?

- Eu não odeio Aioros – Respondeu serio – Eu fiz isso porque quero protege-lo.

Shura não compreendeu.

- Quando ele lembrar de tudo, vai querer a menina de volta – Continuou resoluto – Eu entregarei ela de volta.

- Intacta? – Aquela pergunta lhe saiu um tanto estranha, depreciativa, mas já era tarde, já havia pronunciado – Quero dizer...

- Eu não encostarei nela...

- Não foi isso que prometeu diante de Afrodite.

- Eu não prometi nada.

- Você irritará a deusa... – Shura disse sério – Pode-se dizer que ela gostou de retirar Dora dos braços de Afrodite e entrega-la a você.

Saga molhou os lábios pensativo. Sim, também reparara na satisfação da deusa do Amor em fazer tal coisa. Assim como os seres divinos, Saga havia reparado bem na atitude do Cavaleiro de Peixes e como tal facto havia lhe atingido.

Poderia se dizer que o facto de ter sido ele o assassino da mãe de Dora, mesmo que sendo seu outro eu, pedir a menina como protegida era algo inédito, estando Aioros, o pai, aquele a quem fizera tanto mal, presente sem se lembrar de nada, causava um certo prazer nas divindades.

Saga fitou o outro nos olhos.

- Shura, eu prometo que não encostarei nessa menina – Disse sério.

O espanhol fitou por longos tempo Saga, pensativo.

- Eu espero que esteja seguro disto – Disse serio – Não me importo que ela esteja aqui com você e Kanon. Confesso que me agrada o facto de Afrodite não estar junto dela. Mas enquanto Aioros não se recordar e tomar alguma decisão, eu tomo Dora como minha responsabilidade...e, espero bem que você cumpra essa promessa.

Saga compreendia muito bem o que isso queria dizer. Também Shura não havia se perdoado de seu passado com Aioros e queria de alguma forma recompensa-lo e ali estava a grande chance.

Acenou positivamente com determinação.

Sem mais, o Cavaleiro de Capricórnio acenou se retirando.

Aga permaneceu fitando a Saida vasia. Sim, tinha determinação e iria conseguir recompor parte de seu erro. Tinha determinação porque não sabia que tal conversa chegaria aos ouvidos da deusa do Amor, incubindo ira.

No recinto divino, marmore branco e relezente, sentada em um trono de belas feituras diante de um farto banquete, a divindade loira e bela esperava uma unica vizita: Eros, que acabava de penetrar pela porta adornada de figuras humanas que se amavam envolta de farta floresta de frutos abundantes.

A deusa sorriu recebendo o magnifico homem de caichos negros e olhar penetrante e maliciosos, que lhe sorriu de volta.

- Gostais de desafio, Glorioso Eros? – Indagou após curta reverencia, ainda sentada.

O outro alargou o sorriso, dando assim sua resposta.

Continua...


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