Por detrás da Rosa escrita por Danda


Capítulo 13
A verdade como ela é




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Na sala gelada e escura se formou um silêncio sepulcral, onde as velas de chamas crepidantes estavam em locais estratégicos, deformando, um pouco, a face assustada de Shion e a expressão curiosa dos restantes.

Athena se preparou para dizer algo, mas se calou ao constatar, quando olhou para as divindades presentes, que mais nada poderia ser feito se não ouvir o que Saga diria. Mas este vacilou deixando Hera, grande deusa do Olimpo, impaciente.

Por momentos Saga se arrependera. Em nenhum momento, até então, ponderou em deixar as coisas como estavam. Não poderia mais interceder por Dora e, ela, ficaria por sua conta, a mercê dos caprichos de Afrodite. Ao pensar nisso, se voltou na direcção do Cavaleiro de Peixes, e percebeu sua face mais pálida que o habitual. A estranheza inicial se transformava em regozijo por tal feito. A dúvida por aquela postura de Afrodite permanecia, mas sorria internamente pelo mal-estar que provocara.

- Cavaleiro de Gémeos. Algo o aflige…? – Hera iniciou em tom altivo - A incerteza lhe toma a alma em hora tão inapropriada. Vamos, que já levantaste a taça, e o nome da donzela deveis dizer a deusa do amor. Verteste o vinho sagrado e a história que atormenta o Grande Patriarca deveis contar sem nada se opor.

Neste momento o ar pareceu pesar, e Afrodite começara a respirar, inconscientemente, mais rápido.

- Afrodite… - Mascara da Morte iniciou, mas parou ao ver o sinal impaciente do belo homem.

O italiano viu o companheiro mordiscar os lábios nervosamente, fitando, sem piscar, Saga.

- Vamos Cavaleiro – Afrodite, Deusa do Amor, incitou se prostrando ao lado de Hera, que não se movera de onde estava – Não se cale…

- Dora! – O nome saiu em tamanho esforço que todos no recinto estranharam.

- A serva de peixes? – A Deus do Amor se mostrou surpresa. Ia continuar com sua encenação, se não fosse o passo em frente de Hera, que se mostrou com um sorriso sarcástico em meio ao espanto.

- Mas esta não seria…? - E iniciado o dizer olhou na direcção de Aioros, que se encontrava ao lado esquerdo de Saga, um tanto atrás, na companhia do irmão.

O moreno com tal, deu um passo atrás, sem compreender o que a deusa estava insinuando, mas esperando a continuação, que não veio.

Saga engoliu em seco, olhando ora o irmão de canto de olho, a sua direita; ora Athena e Shion, que estavam de frente para o grupo dourado, na companhia dos Eternos, que se entreolhavam a espera da voz grossa de Saga. Um pequeno rumor se levantou no local.

- Que nenhum barulho se faça – Hera disse após gargalhar. Uma gargalhada tão histérica que compreendia uma falsidade clara. A pele de muitos se eriçou enquanto se calavam – Esta declaração deve ser feita no meio ao silêncio, para que não se estrague o ambiente surreal antes da cruel realidade. Ergue sua voz Cavaleiro, não nos faça esperar mais. Diz a origem de tal moça que habita o presente e o passado de majestosa construção, atormentando os que nela habitam. – E mais uma vez sorriu friamente, olhando Aioros.

- Saga… - A voz do Cavaleiro de Sagitário saiu trémula, sem que seus olhos conseguissem se desprender da entidade que acabara de falar.

Saga suspirou alto, enquanto muitos prendiam a respiração.

Shaka, Aldebaran, Mu, Camus, não sabiam ao certo o que esperar, apenas que uma tempestade se aproximava e que teriam que se preparar. Não havia inimigo mais temível que rancor entre pessoas extremamente feridas. Um passado forte em comum era sempre uma bomba prestes a explodir. Chegara o momento!

Afrodite fechou os punhos. Sentia que algo se perdera em sua alma…algo importante, no momento que o nome de sua serva fora dito, o que viria seria apenas mais um golpe. Como odiava Saga por isso!

- Naquela noite – O Cavaleiro de Gémeos voltou-se para o companheiro. Seus olhos brilhavam de determinação, como quem já saltara para o abismo e espera que desmaie antes do grande impacto. Não! Queria permanecer acordado. Em sua mente esse momento tão temido não lhe deixava pregar os olhos a noite. De tudo o que fizera, este era o sal sobre o corte – Na noite em que você salvou Athena. Lembra? – Aquela era uma pergunta escusada. Claro que o outro lembrava.

Aioros deu um passo involuntário na direcção daquele ser altivo, cheio de vontade. Uma contradição ao olhar que sempre lançava. Um olhar perdido, sofrido…

- Porque veio ao encontro de Athena naquela noite? – Disparou fitando os olhos castanhos, que se mostraram confusos inicialmente, assim como os restantes ali presentes.

De facto o que fora fazer ao aposento de Athena naquela noite? Uma pergunta que ficara no ar todos aqueles anos, sem nunca ser pronunciada. Encoberta pelas acções que se seguiram.

Aioros fez uma careta. O que o levou aqueles aposentos? Mordeu os lábios…

- Aioros… irmão? – Aioria iniciou, percebendo que algo não estava bem.

Aioros voltou-se para Athena e depois para Saga. O que o levou até lá? Droga, não conseguia se lembrar.

- Eu…não sei – Respondeu baixo, ainda tentando recordar.

Saga voltou-se para Athena.

- Não faz mal Athena…

- Não posso fazer mais nada – Saori interrompeu – Não sou eu quem o impede de recordar – Disse causando espanto – Talvez, ele não queira se lembrar.

- O que eu não quereria me lembrar? – A voz de Aioros saiu pesada, irritada. Será que fizera algo de mau?

- Do porque de vir ao meu encontro – Athena disse calma. – Kanon, vá buscar Dora – ordenou fitando um Kanon pálido.

O irmão de Saga assentiu e, apesar de sentir os pés pesados, saiu do recinto silenciosamente.

- Não esperemos, que nosso tempo aqui é curto – Poseidon se pronunciou pela primeira vez – Diga tudo que sabe, Cavaleiro. Refresque a memória de seu companheiro. Íamos na noite em que a vida de Athena correra perigo pelas mãos dos que a deviam proteger.

- Eu não me lembro – Aioros fez cara de sofrimento, fazendo com que Aioria se aproximasse e com uma mão lhe apertasse os ombros.

- Não faz mal – Desse baixo.

- Você veio me pedir perdão – Athena disse com um sorriso vendo a feição de Aioros se transformar.

- Perdão?

- Porque haveria Aioros de pedir perdão? – Miro não se conteve. Que história louca era aquela?

- Você ia embora – Saga completou, trazendo a atenção de todos – Com aquela moça.

- Que moça? Do que você está falando? – A irritação de Aioros começava a se mostrar não só pela voz mas no gesto agressivo das mãos.

- Isso não faz sentido – Aioria disse ainda pressionando o ombro do irmão.

- Alice – Saga disse com um certo desgosto

- A moça que era filha de Anastácia – Shura se pronunciou espantado – Claro. Você negava, mas era mais que evidente que havia algo.

- Shura, do que está falando? – Aioros se voltou para o melhor amigo que ainda tentava processar a informação.

- Você era capaz de deixar tudo por ela? – Shura ainda não acreditava na sua constatação.

- Não foi por ela – Saga disse frio – Por ela – Disse apontando para a entrada do recinto. Os olhos acompanharam o movimento da mão de Saga.

Hera sorriu de forma vitoriosa, enquanto Afrodite ao seu lado fez cara de desdém.

Afrodite, que estava petrificado desde o princípio, sentiu seu chão escapar. Na porta, Kanon segurava com delicadeza os braços de Dora, que parecia assustada.

Quando se viu diante de tantos olhares, se encolheu nos braços de Kanon. Sua face corou e sem saber direito porque começou a buscar por um porto seguro. Seu olhar não chegou a cruzar com os dos deuses ali presentes, passou por Saga e Aioros que lhe fitavam intensamente e percorreu o olhar por todos até encontrar os olhos claros de Afrodite.

Sua face incendiada, se iluminou. Rapidamente se desvencilhou de Kanon e correu, passando pelos outros dourados sem ver seus rostos de espanto. Afrodite viu a moça correr em sua direcção. Não se espantou. Era um desejo realizado. Antes que ela pudesse chocar contra seu peito a segurou pelos braços lhe fitando. Via nos olhos castanhos uma súplica desesperada.

Os presentes puderam contemplar uma expressão facial única em Afrodite. Longe de seu habitual sarcasmo…limpo de qualquer arrogância. Seus olhos claros tinham um brilho diferente. Não poderia perde-la, mas antes que pudesse se quer prende-la, duas delicadas mãos envolveram o braço de Dora, um pouco abaixo de onde Afrodite segurava, chamando a atenção dos dois que até então, desde o momento que cruzaram o olhar, deixaram de se importar com os restantes que os rodeavam.

Afrodite caía em si, enquanto fitava a entidade loira que sorria. A deusa do Amor afastou lentamente a moça de Afrodite, que de leve segurou Dora até onde poderia alcançar. Shion sentiu seu coração apertar ao ver a expressão de pânico de Dora, ainda fitando os olhos claros, que pareceu ao grande mestre, em desespero, pois que as mãos de Peixes continuaram erguidas no ar. A cena pareceu durar uma eternidade para o mais velho, até que a Deusa Afrodite levou Dora para perto de Saga.

O Cavaleiro de Gémeos permanecia com a mesma pose determinada. Em um gesto leve acariciou o rosto de Dora que estava petrificada.

Com a mesma leveza a deusa se afastou.

- Ela é sua – Disse sorridente.

Aioros ainda permanecia confuso. Tentava de todas as formas associar o rosto daquela moça ao seu passado, mas não conseguia nada além de uma imagem desfocada de uma mulher.

- Saga – Shura chamou. Ele parecia tão estupefacto com o que acabava de ser dito sobre Aioros que queria saber mais. Então aquela moça era de facto…

Eu desconfio do Cavaleiro de Gémeos – Aioros disse baixo, recordando o que escrevera em um pedaço de papel, no dia anterior a sua morte.

- O que? – Aioria não compreendia nada. Estava mais confuso do que antes, assim como muitos ali.

- O Santuário não seria seguro – Saga disse segurando Dora por um braço. A moça parecia alheia, mas tentava com todas as forças compreender o que se passava. As vezes, tentava fitar Afrodite do outro lado da sala. Por vezes fitava Shura, mas desviava o olhar quando se encontrava com os olhos escuros deste.

- O Mestre já não era o mesmo – Saga continuou frio – Eu não poderia deixar que mais ninguém soubesse. – Estreitou os olhos vendo um Aioros assustado – Ela não teve tempo se quer de sentir nada.

- Saga?

- Eu deixei a sua criança para morrer ali – Ignorou a indagação do outro. Retorceu os músculos do rosto como quem sente uma pontada de dor – Devo ter me arrependido depois. Mandei Anastácia para ver se ainda estava viva – Com um certo mal jeito puxou Dora na direcção de Aioros, mas sem nunca soltar o braço da moça, que lhe voltou o olhar sem entender. Aioros deu um passo atrás, fitando a moça. – Eu não posso desfazer os erros do passado. Posso estar errado mais uma vez, mas não vou deixar que nada de mau corra novamente.

- Você está dizendo…

- Você está dizendo que essa moça é filha de um Cavaleiro de Ouro? – Aldebaran se fez presente. Assim como os outros, não se atreveu a se pronunciar até então. Dora voltou-se assustada para o brasileiro.

- O que está dizendo? – Dora murmurou. Estava tão pasma que não sabia o que fazer.

Aioros ainda fitava a moça. Não sabia o que fazer. Nada daquilo fazia sentido. Se era verdade o que fora dito, porque não sentia como verdade absoluta? Algo estava errado. Não se lembrava da tal de Alice. Aquela moça…como poderia ser?

Mas Shura parecia convencido. Apesar da história horrenda de Saga, reconhecia naquela moça semelhanças extraordinárias com sua família.

- Nada pode ser mudado – Hera voltava a se pronunciar chamando a atenção de todos – O que está feito…já está. Vê Grande Mestre – voltou-se para Shion, que ainda pálido lhe fitou - em nada te adianta a angústia. Os principais interessados não se acreditam, pois que a mentira de anos se tornara tão sólida que tomou o lugar da verdade. Mas a nova realidade promete para estes mortais, principalmente pelo que presenciei a pouco. É tua Saga de Gémeos, a serva de Peixes. Afrodite, deusa querida, os abençoe que nossa hora chegou! Muito nos prendemos aqui, deixemos o resto com a Sabedoria.

- É tua – A voz sensual de Afrodite repetiu na direcção de Saga.

O Cavaleiro de Gémeos sentiu o peso daquelas palavras. Grande engano ao levantar a taça, pois que se a verdade era algo inevitável, que se ficasse só por ela.

Kanon fechou os olhos com grande desgosto, baixando a cabeça.

Os demais, que, ainda, digeriam toda a informação, contemplavam com pesar a partida dos eternos.

Afrodite, que o golpe chegou a ser mais fundo, perdia algo dentro de si. Como que uma segunda morte…uma morte em vida. Mergulhou na escuridão de sua alma, trazendo lembranças de uma outra vida.

A rosa que sobrevivera ao ataque de Minos em seu sonho, acabava de ser levada por uma força maior. Compreendia isso agora. Compreendia isso tarde de mais.

Ainda parado, vira Saga se afastar, levando um pedaço de sua alma, de seu sonho…de seu passado. Se amaldiçoou pelo comportamento de até então. Amaldiçoou Saga por entrar em seu caminho.

Seus olhos se voltaram para o Grande Mestre. Pálido, triste. O que era aquela tristeza? Não era assim que deveria terminar aquela comemoração!

- Athena! – Shion chamou baixo.

- Que nos retiremos, então – A voz doce de Saori disse de forma directa, para que ninguém falasse nada, apenas agissem. Fitou Aioros ainda em choque. – Leve-o para casa, Aioria. Que Saga siga para gémeos com Dora e Kanon. – Virou para Shion e acenou se retirando em seguida.

- O destino é implacável – Dohko murmurou olhando Shion. Este não ouvira, apenas viu a boca do companheiro se mover. – Não se pode lutar contra as Moiras.

- Porque diz isso Mestre Ancião – Shaka indagou do lado do moreno, ainda fitando o Mestre imóvel.

Os olhos verdes de Dohko fitaram Afrodite que por fim decidira se retirar. Por fim voltou-se para Shaka com um sorriso melancólico.

- Ela poderia voltar quantas vezes ela quisesse! – Disse baixo, se retirando em seguida.

Shaka não tentou compreender, fitou o grande mestre que olhava a saída, reverenciou mesmo sabendo que não era visto pelo outro e decidiu sair.

Em pouco tempo a sala estava vazia. Shion fechou os olhos com pesar, suspirando alto.

- Ah Albafica….

Continua…


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Notas finais do capítulo

Está aqui mais um capitulo. Misterio resolvidomas dificuldades a vista.
Eu não ando muito inspirada, por isso peço desculpas!
Espero que vcs gostem.
Beijos.
Fiquem bem.



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