Por detrás da Rosa escrita por Danda


Capítulo 10
No caminho certo




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Os olhos castanhos da menina pareciam distantes. Miravam o belo rosto a sua frente, mas ao mesmo tempo bucavam algo em sua memória.

Não percebia que o homem a sua frente estava espantando. Shion também tentava lembrar do rosto da menina. Como ela poderia lhe conhecer? Ele não lembrava de seu rosto. Ela era tão nova...ele provavelmente não era vivo quando ela era criança.

Ambos absortos em sua memoria, procurando respostas a toda aquela confusão, mas ela não vinha. Shion, definitivamente não se lembrava daquela menina. Dora não conseguia compreender porque aquele homem aparecia nos seus sonhos assim como as rosas.

- O senhor me defendeu dele – murmurou, acordando Shion, que se surpreendeu mais.

Estreitou os olhos.

- De quem? – Indagou sentando-a na grama com cuidado.

Colocou-se abaixado de frente para ela.

Dora suspirou.

- Ele tinha cabelo longos – Começou, perdendo o olhar em um ponto qualquer, tentando ver o detalhe da cena – uma armadura negra, com asas – Fechou os olhos – Te maltratava...mas a rosa...

Shion arregalou os olhos. Ainda não conseguia lembrar direito, mas algo na históriaera familiar.

- Rosa...? – Murmurou.

Dora sorriu ainda de olhos fechados. A imagem dele voltou com um sentimento de saudosismo.

- Albafica – Disse, fazendo os olhos violetas de Shion se mostrarem por completo.

Não precisava questionar quem ela estava falando, pois a imagem de seu antigo companheiro de batalhas veio em sua mente como um raio.

Não sabia o que dizer. Procurava em sua memória algo que trouxesse a imagem da moça em seus braços, mas nada ocorria.

Não adiantava procurar. O rosto delanão era familiar, mas a cena descrita começava a tomar formar em sua lembrança.

Sim...foi na batalhacontra Hades. Albafica morrera naquela batalha. Mas como ela sabia dele?

- Dora! – Acordou a moça, que lhe fitou envergonhada por aquele pequeno delírio. – Como sabe de Albafica? Melhor – recomeçou abanado de leve a cabeça – O que você sabe?

Dora ficou confusa com o interesse daquele homem. Tão confusa quanto achar o rosto dele familiar. Tão familiar que lhe fazia sentir em casa.

- Dora!

- Tenho sonhado com ele desde que meus pais decidiram vir para Rodório. – Disse sem convicção.

- Sonhado? – Shion murmurou para si mesmo.

- ...

Na cabeça de Shion começava a se formar o cenário.

Os fios que lhe seguravam o corpo deixando-o sem vontade própria foram cortados pela rosa negra de seu companheiro. O alivio e a sensação de liberdade lhe fizeram suspiras olhando para o companheiro ensanguentado pela batalha anterior. Ainda lembrava das palavras dele:

Desculpe ...por haver chegado tarde...Shion!

Sim, havia mais alguém quando ele fora salvo por Albafica. Mas como...?

Shion mirou mais uma vez a menina. Saga havia indicado aquela moça por uma razão, sem saber que... Sorriu de leve

Havia alguém que chorou mais do que os outros a morte do Cavaleiro de Peixes.

Internamente Shion estava aliviado. Então era isso. Ela chorou tanto pela morte dele, dizendo que não queria ver mais ninguém morto, mas aquele choro era para ele. Ela tinha perdido aquele homem para sempre.

Moveu a cabeça negativamente. Não, não havia perdido. Ela estava cumprindo o que prometera

- Shion – Ela chamou o homem que rapidamente se aproximou da cama onde ela estava.

Tinha feito de tudo para mantê-la bem, como Albafica faria.

- Já se passou muitos anos, não é! – Ela disse com um sorriso fraco.

Shion assentiu.

- Para mim foi ontem – Ela continuou surpreendendo o homem loiro.

Shion não sabia explicar como ela conseguira viver tanto após ter tocado no corpo imóvel e ensanguentado de Albafica. De ter chegado perto do ouvido dele e ter murmurado algo, que no seu intimo, tinha curiosidade de saber o que havia sido dito. Nunca perguntara nas vezes que fora vê-la para saber como estava.

E agora, depois de muito tempo, ali estava ela, deitada quase imóvel, com algumas partes do corpo coberto por feridas que faziam lembrar lepra, como alguns da aldeia diziam.

Mas Shion sabia que só agora o corpo dela reconhecia o perigo que foi ter chegado perto do sangue do Cavaleiro de Peixes.

Suspirou. A final, não fazia tanto tempo assim. Apenas 10 anos. 10 longos anos, no qual parecia que todos ali não haviam se recuperado por completo. Muito menos ela, que nunca tentou se aproximar de ninguém. Em sua vida, apenas havia lugar para aquele que pereceu na batalhacontra Minos.

Fitou mais uma vez a moça, que tinha os olhos fechados. Estava quase na hora de sua partida. Mas no entanto e, mesmo, com a dor que deveria estar sentindo, parecia calma...arriscaria afirmar que ela estava feliz.

Agora, talvez, estava compreendendo o ela dissera para Albafica quando se debruçou sobre o corpo deste.

- Mestre? – Dora chamou se afastando um pouco e se preparando para se levantar.

O Mestre a acompanhou no movimento.

Dora não poderia deixar de pensar que aqueles sonhos tinham um fundo de verdade, apenas não conseguia entender o porque de sonhar com tudo aquilo. Mas compreendia que bastava ver o tal homem da rosa para que as coisas pudessem começar a fazer sentido.

Shion continuava fitando a moça, intrigado.

- O Senhor conhece Albafica? – Disparou de repente, deixando o loiro sem reação.

Shion suspirou pensativo.

- Conheci – murmurou.

Dora estranhou.

- Conheceu? – Inclinou-se para olhar os olhos do homem que desviou o olhar.

Viu-o suspirar.

- A muito tempo – Ele completou.

Dora estranhou ainda mais. Então aquele homem existiu. E as rosas...

- As rosas...?

Shion sorriu, voltando o olhar para ela.

- As rosas pertenceram, um dia, a ele – Disse ainda sorrindo de um jeito melancólico.

- Não estou entendendo – Ela falou sem ser necessario. Estava estampado em sua cara a sua duvida...sua confusão e, Shion, procurava as melhores palavras para dizer o que era tudo aquilo. – Senhor Shion?

O loiro lhe fitou. Estaria ela preparada para ouvir o que ele tinha a dizer? Estava tão certo do que se tratava, mas tinha medo que ela não compreendesse e, de alguma forma, quisesse fugir.

Isso seria grave para a situação em si e para outra na qual ela também estava envolvida. E como se não bastasse a confusão com Saga, agora mais essa.

Nunca imaginou que ela voltaria dessa forma.

Mordeu o lábio nervosamente.

- Depois lhe explicarei – Disse se recompondo enquanto colocava a mascara em seu rosto. Issofez Dora compreender que ali estava o Grande Mestre impondo toda a sua autoridade. Suspirou desanimada. – Eu lhe chamei por outra razão – recomeçou se afastando um pouco. Precisava de tempo – Era, quanto a festa em homenagem aos Cavaleiros deAthena. Você já deve ter ouvido falar!

- Sim – Respondeu desanimada.

- Nesse caso, você irá acompanhar Afrodite – Disse convicto. Não que essa tenha sido sua primeira opção, pois que seria Saga quem iria ser acompanhado pela moça, mas devido as ultimas revelações mudara de ideia e, com satisfação.

Dito isso não esperou a reação deDora para se retirar. Deu um sorriso por de tras da mascara com a ideia dela estar de volta. Era como se recuperasse algo de precioso. Se ela estava de volta, Albafica se encontrou sempre próximo.

Dora ficou um tempo parada vendo figura imponente se afastar. Ele sabia muito sobre o que estava acontecendo e por alguma razão, que não conseguia saber o porque, ele escondia.

Ficou ainda mais desanimada ao saber que iria ter que comparecer na tal cerimonia. As amigas haviam lhe explicado mais ou menos como aquilo funcionava, na perspectiva de lhe dizer claramente quais eram as inteções do Cavaleiro de Gémeos com sua pessoa.

Suspirou mais uma vez, e começou a caminhar para a Casa de Peixes. Agora ia ter que acompanhar aquele homem tão desagradável. Lá estava ela pensando nele de novo. Ele a irritava em muitas coisas. A sua beleza fora do comum, que ao seu ver era camuflada e não realçada pela maquiagem que o deixava, nojentamente, mais feminino.

Será que ele notava que aquilo le fazia parecer uma mulher?

Riu sozinha ao se perguntar tal coisa. Talvez ele quisesse mesmo parecer uma mulher.

De onde vinha tinha muitos "homens" que não mantinham sua masculinidade intacta e que não se sentiam atraídos por mulheres.

Ao pensar tal coisa o coração doeu, como se levasse uma espetada. Não gostava de pensar assim. Não poderia ser assim.

"Porque não poderia ser assim?" – Se recriminou. Ele lá sabia de sua vida.

Ficou com raiva de pensar assim. De sentir coisas incompreensível. De, volta e meia, estar pensando nele.

Passou pela porta de entrada e atravessou o salão pisando duro, quando estancou na outra porta que dava acesso a sala com um sofá confortável.

Sobre este estava Afrodite.

Se aproximou com cuidado vendo que o homem de cabelos molhados, dormia pesadamente. Ressonava baixinho, dandoa Dora a impressão de ser mais novo do que era. Tão lindo e perfumado, se remexeu um pouco, assustando a moça.

Sorriu ao perceber que ele estava tranquilo. Se aproximou para sentir melhor seu cheiro.

A roupa branca e leve que cobria seu corpo completava de forma agradável a cena, que deixavaDora hipnotizada.

Não se dava conta dos passos que dava em direcção do belo homem.

Já não controlava o próprio corpo. Havia uma força que lhe atraia para cada vez mais próxima daquele sofá. Uma corrente que atravessava seu corpo, acorrentando sua alma e a puxando com calma para perto da respiração descompassada de Afrodite, que começava a ficar um pouco agitado, deixandoDora um tanto apreenciva.

Ouviu murmurar algo que não conseguia identificar o que era. Mas pela expressão que se formava em seu rosto, não deveria estar vendo imagens agradáveis.

Não admirava. Como poderia ver imagens bonitas, tendo uma alma tão fria e calculista?

Quando se deu conta, já estava um pouco debruçada sobre o homem, tentando entender o que ele falava.

Se sentia frustrada por não saber o que lhe atormentava. Pelo menos alguma coisa lhe atormentava, tirando aquele ar insuportável de superioridade.

Ele tinha parado de falar, voltando a respirar calmamente, de forma uniforme. E dentro de seu peito algo se aquietou, mirando-o com mais profundidade. Sorriu ao imaginar que agora ele estava bem...seguro.

Em um gesto simples, mas rápido, passou as costas da mão no rosto brando de Afrodite, que de um salto lhe agarrou o punho sem abrir os olhos.

Dora tentou saltar para Trás, mas não conseguiu, perdendo o equilíbrio e, caindo sentada no chão.

Afrodite, ainda segurando em seu pulso, abriu lentamente os olhos e, muito sério lhe fitou.

Dora moveu duas vezes o lábio, sem conseguir dizer nada, o que não surpreendeu Afrodite, que deu um meio sorriso.

Sabia o quanto era atraente, mas aquela situação era um prato cheio para a confusão que estava pretendendo arrumar com Saga. Não sabia o que ela significava para ele, mas ao seu lado da situação, ela era a razão para acabar com sua pasmaceira.

Antes, conseguia se divertir com as raras mulheres que encontrava, mas agora, parecia tudo muito igual. Por vezes tinha vontade de se isolar do mundo com medo estúpido de chegar a ferir alguém. A coisa mais absurda que poderia passar em sua cabeça, pois se tinha uma coisa que lhe agradava, era ver a cor de um sangue fresco, tão belo como o desabrochar de uma rosa vermelha.

- O que pensa que estava fazendo? – Indagou friamente.

- Desculpe– Dora sussurrou.

Afrodite estreitou os olhos, fitando cada detalhe da expressão apavorada da menina.

Ela era tão simples e transparente, que poderia ler cada temor em seus olhos. Como poderia ser assim: tão frágil. Aquele não era um local para pessoas como ela. E justo ali em sua casa.

Balançou a cabeça de leve, enquanto via a menina se recuperar e levantar e, ai que se deu conta que ainda segurava o seu pulso.

Hesitou antes de souta-la.

Dora desviou o olhar, ficando rubra.

- Peço desculpas. Não era minha intensão. Apenas queria dizer que estou de volta.

Afrodite estranhou.

- Eu se quer sabia que tinha saído – Disse com desinteresse.

Dora recuou tentando finjir que não se importou com a indiferença do dono da casa.

- O Grande Mestre me chamou – Recuou mais, vendo a expressão dele mudar repentinamente.

Afrodite ergueu o queixo, não se importando parecer evasivo.

- O que ele queria?

- Falar sobre a comemoração – Se sentiu estranha respondendo simplesmente, pois até parecia que se davam bem.

Afrodite não disse nada, continuou lhe fitando como quem espera uma continuação óbvia.

Dora demorou alguns instantes até perceber isso.

- Ahm...disse que acompanharei o senhor – disse sem olha-lo.

Afrodite sentiu como se uma pequena corrente elétrica percorresse seu corpo levantando os pelos de seus braços. Uma excitação estúpida, na qual não conseguia compreender. Como tudo que vinha acontecendo dia e noite em sua vida. Nada parecia fazer sentido, mas, de uma sensação cómoda ao mesmo tempo.

Então ela iria lhe acompanhar? Que fosse. Tinha mais com que se preocupar.

- Pode ir – Disse fitando a moça, rapidamente, virar no próprio corpo e ir para a cozinha.

Ficou ali parado sem prestar atenção no barulho do prato que caia e estilhaçava no outro cómodo.

Os sonhos cada vez mais vivos, mais presentes, lhe incomodavam. Minos lhe assombrava, por vezes em rostos desconhecidos, com um unico objectivo: lhe desfigurar.

E suas rosas. No meio delas uma que brilhava mais do que todas juntas. Solitária.

Esfregou o rosto com as mãos e levantou. Mais uma vez ia tentar esquecer. Pensar apenas na comemoração.

Comemoração essa que assombrava as noites de Saga com uma duvida cruel: Se o que ia fazer era o certo. No seu caminho sempre escolhera caminhar por onde houvesse menos obstaculos, utilizando outros para tirar as pedras da estrada. Mas agora não tinha como escapar. Ou mentia e se afundava cada vez mais, como Kanon estava farto de avisar, ou dizia a verdade, correndo o risco de ser olhado torto por todos que, com alguma dificuldade, lhe perdoaram.

Mal sabia ele que Kanon, também, temia esse evento. Porque agora que as coisas começavam a ficar no seu devido lugar, acontecia isso!

Parecia que tudo de ruim que acontecera com ambos ainda não havia terminado, e temia pelo irmão.

E agora essa comemoração tão próxima.

Suspirou cansado, enquanto de aconchegava na banheira de agua quente. Algo lhe dizia que ia ser uma longa semana.

Continua...


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