Naquela noite eu não saí mais do quarto. Fiquei trancada lá, ouvindo os sussurros sobre mim pela casa junto ao coração que martelava em minha mente.

Saí do quarto as quatro da manhã, com a garganta ardendo em sede. No momento em que eu atravessei a porta, senti Jacob vindo atrás de mim. Não olhei pra ele, mas não pedi que se afastasse, então ele apenas continuou me seguindo em silêncio. Pulei por sobre o rio e continuei meu caminho pelas montanhas Cascade até achar um leão da montanha grande o bastante. Pulei na jugular do animal e drenei seu sangue tão rápido que me espantou. Joguei o corpo morto do leão de lado e sentei-me no chão congelado, cansada e lambendo o sangue dos lábios. Eu sentia os olhos de Jacob em mim, mas ele não estava em lugar algum que eu pudesse vê-lo. Suspirei e fechei os olhos, apenas para ganhar algo como se fosse um chute nas costelas. Não deveria ser um chute, já que pelo imperceptível tamanho de minha barriga, o bebe não era tão grande. Mas doeu como o inferno. Foi quando olhei pra baixo e percebi que de uma noite para outra, minha barriga havia crescido uns bons centímetros pra frente. Levantei num pulo, um gritinho escapando de meus lábios e colidi as costas no corpo quente de Jacob. Suas mãos foram instintivamente para meu ventre recém crescido, e ficamos uns segundos em silêncio e na mesma posição, incapazes de tomar alguma atitude.

Por fim, Jacob depositou um beijinho molhado em meu ombro e escondeu seu rosto na curva de meu pescoço, suspirando ali. Entrelacei nossos dedos e fechei os olhos, apenas sentindo seu cheiro. Suas mãos então viraram-me de frente para ele, e encarei seus olhos escuros. Nossos lábios encontraram-se e tudo estava diferente. Não era o mesmo beijo de sempre. Separei nossos lábios e corpos, encarando os pés.

“O que foi, Ness?”

“Tem alguma coisa diferente...” Disse mais a mim mesma do que a ele. No segundo seguinte, segurei seu rosto entre minhas mãos e tomei seus lábios mais uma vez. Jacob correspondeu confuso, depois de hesitar alguns segundos. Separei-nos mais uma vez.

“Nessie?”

“Você beijou alguém!” Afastei-me ainda mais, minha voz acusatória.

“O que?” Sua expressão ficou confusa e suas bochechas coraram violentamente.

“Por que? Quem era?” Eu me afastava a medida que ele tentava me acalmar.

“Nessie!”

“Você ta com um gosto diferente... Um cheiro diferente. Quem era Jacob?”

“Eu não tenho ideia do que você ta falando”

“Então você admite?”

“Admite o que?”

“Enquanto eu estou aqui, grávida, você fica indo em festas e beijando garotas?”

“Hey, eu não beijei ninguém! De onde você está tirando essas coisas?”

“Aham...” Bufei incrédula.

“Ter seu talento agora seria ótimo, assim eu simplesmente te mostraria”

“Tanto faz. Eu nem sei porque você veio, afinal. Eu já disse que resolvo esse problema sozinha”

“De jeito nenhum, Renesmee. Você NÃO vai abortar meu filho.”

“Essa decisão não é sua. Quem está carregando a aberração sou eu”

“Não fale assim do meu bebê, ok?”

“Talvez você devesse voltar pra La Push agora.”

“Talvez você devesse calar a boca, parar de ser tão mimada e irritante e aceitar que eu não vou deixar você ferir nosso filho”

“Não me manda calar a boca!” Eu estava histérica.

“Então para de agir como uma maluca!” Ele gritou de volta e eu avancei na direção dele, rosnando. A meio metro de distância de Jacob, arfei de dor e curvei-me, caindo de joelhos no chão.

“Ness! O que aconteceu?” Ele abaixou-se do meu lado, acariciando minhas costas.

“Nada” Minha voz não passava de um sussurro rouco e estranho.

“Fala pra mim, o que foi?” Jacob tinha um tom urgente em sua voz, e logo eu estava aninhada em seus braços como um bebê, enquanto ele me carregava para casa. No momento em que ele atravessou o jardim, meu pai já estava na frente de Jacob, me puxando para seus braços.

“O que você fez com ela?”

“Nada! Ela só se curvou e caiu, com dor”

“Solta ela!” Edward rosnou e puxou-me do braço de Jacob.

“Me soltem os dois!” Reclamei, enquanto me mexia entre o peito de ambos.

“Renesmee.” Os dois suplicaram com o olhar.

“Agora!” Virei o corpo até conseguir sair do meio dos dois, fazendo meu caminho para casa.

“O que aconteceu?” Edward estava logo atrás de mim, perguntando insistentemente.

“Argh” Rolei os olhos e parei em frente ao escritório de Carlisle, batendo na porta.

“Entre” Escutei sua voz doce e suave do outro lado. Abri a porta e adentrei o cômodo, fechando a porta do nariz de Edward e trancando em seguida.

“Renesmee!”

“Fique fora da minha cabeça!” Ordenei. Carlisle me observava pacientemente sentado em sua grande poltrona. Caminhei até uma das cadeiras e me sentei ali, colocando as mãos entrelaçadas na mesa de mogno.

“Vovô, eu quero interromper minha gravidez. O mais rápido possível.”

“Renesmee...”

Eu o interrompi.

“Eu compreendo tudo o que implica a minha decisão, as conseqüências. Sei que prometi a vovó que me esforçaria e teria o bebê, mas eu não posso e não quero. E não vou, ninguém aqui pode me obrigar.”

“Eu não sei se é possível um procedimento desses”

“Eu vou fazer com ou sem sua ajuda, vovô. Mas com ela será mais fácil”

“Você já conversou com Jacob?”

“Não é uma decisão dele”

“Renesmee...”

“Não é vovô. Eu não quero ser mãe, e não estou pronta para ser atacada dentro do meu próprio corpo. Eu não quero”

“Você entende que uma decisão dessa pode te impossibilitar de ter filhos para sempre?”

“Sim.”

“Muito bem. Eu preciso que você espere eu fazer alguns exames, e estudar o melhor método para fazer isso. Concluí minhas pesquisas há pouco e descobri a causa da gravidez, se você quiser ouvir”

Seu tom era calmo, mas eu via pura decepção em seus olhos. E preocupação, principalmente.

“Tudo bem”

“Se você concordar, gostaria de informar a todos de uma vez”

“Ok” Suspirei e Carlisle andou até a porta de seu escritório, destrancando-a e revelando toda minha família parada ali. Eles ainda estavam chocados. Jacob, na frente, com os olhos úmidos e paralisado. Minha mãe o empurrou para dentro enquanto vinha em minha direção e todos a imitaram.

“Você não vai fazer isso” Edward balançava a cabeça em desaprovação.

“Edward”

“Você não vai mesmo” Jacob finalmente acordou de seu transe, apontando o dedo na minha direção. “Eu não ligo se tiver que te amarrar em um cama, você não vai fazer isso”

“Tire o dedo da minha cara” Empurrei seu braço pra longe de mim.

“Imprinting é uma forma de passar pra frente os genes quileutes”

“Eu não escolhi isso. Essa coisa de imprinting é problema seu” Resmunguei, virando o rosto.

“Pare de agir como uma idiota” Sua mão espalmou-se com força na mesa.

“Pare de agir como se mandasse em mim”

“Crianças...” Carlisle nos interrompeu e ficamos calados. “Nessie, quando Jacob chegou na noite anterior, recolhi algumas amostras dele para fazer alguns testes. Ambos afirmaram que vocês tomaram as devidas precauções, então resolvi testar como os espermatozóides de Jacob se comportam”

Rosalie soltou um guincho de nojo ao ouvir a ultima frase. Não pude evitar de rir baixo. Carlisle limpou a garganta.

“Eles são resistentes ao material dos preservativos. Portanto, não houve irresponsabilidade da parte de vocês. Quero realizar alguns testes hormonais em você após o término da gravidez para decidir qual o melhor anticoncepcional para você. Acho que é a única maneira de prevenir novas fecundações.”

“Não acho que seja necessário” Eu disse após longos segundos de silêncio no cômodo.

“Renesmee, métodos de prevenção...” Carlisle começou, mas eu o interrompi.

“Não vejo futuro num relacionamento onde as duas partes discordam sobre um assunto tão importante. Jacob diz que a função do imprinting é procriar. Como eu não estou disposta a isso, ele deve procurar outra pessoa”

A sala encheu-se de interjeições de surpresa. Não consegui decifrar o que continha nos olhos de Jacob quando o olhei por algumas frações de segundo. Eu não ia conseguir olhá-lo por mais tempo. Meu coração reclamava, ardia e lutava contra as palavras que eu acabara de pronunciar. Saí da sala em direção ao meu quarto antes que as lagrimas jorrassem de meus olhos.