Jacob e eu fomos para a escola no dia seguinte no meu carro. Ele seguiu para o prédio D e eu para o B, tínhamos aulas completamente diferentes naquele dia. Nós só nos veríamos na hora do almoço e depois das aulas da tarde eu iria ao Cascade Valley para Carlisle me examinar. Eu não estava tão ansiosa para aquilo, seria extremamente constrangedor se os exames tivessem que ser feitos invasivamente demais, se é que vocês me entendem.

Eu tinha muitas aulas de exatas, então o dia era ótimo. Saí da ultima aula da manhã e fui em direção ao prédio principal, onde me encontraria com Jacob, no refeitório. Antes eu passaria no teatro da escola para pegar o script da peça daquele ano. Eu ajudava com a trilha sonora e composições para as peças. Empurrei a porta gigante do teatro com o nariz no script, andando pelo corredor escuro desse canto deserto da escola, principalmente a essa hora. Ouvi alguns sussurros, uma conversa próxima, mas ignorei. Provavelmente era algum casal. Virei o corredor à direita, passando pela fila de salas vazias, levantando o olhar para o casal em questão.

Sandra Leo tinha suas garras no peito bem definido de Jacob, que recuava alguns passos para trás, as mãos na cintura dela. Eu não conseguia ouvir bem o que eles conversavam, mas podia ver um sorriso cheio de malícia brincando nos lábios da pequena seguidora de Vanessa. Não pude impedir um rosnado de subir todo o caminho de minha garganta e tornar-se audível, ecoando pelo corredor vazio. A atenção dos dois virou-se para mim, Jacob espremeu os olhos para localizar minha figura no corredor pouco iluminado, então eu lancei-lhe um olhar ameaçador, virando para a direção contrária.

Alcancei meus bolsos e enfiei meus fones nos ouvidos, aumentando o volume no máximo na música mais barulhenta que eu tinha ali. Empurrei a porta dos fundos do prédio e saí para o que era o final da propriedade da escola. Não queria ouvir se Jacob me chamava ou andava atrás de mim, e eu esperava que ele realmente não o fizesse. Lancei-me por sobre as árvores do pequeno bosque que limitava o fim da escola, correndo na direção leste. Correr me ajudaria a não pensar na possibilidade de Jacob com as mãos naquela garota, mas todas as minhas tentativas eram em vão. Limpei as lágrimas com as costas das mãos enquanto meu peito queimava com a possibilidade de perdê-lo para uma daquelas garotas. Esbarrei em algo duro como pedra, frio como mármore, com um cheiro que reconheci de imediato. Meus fones caíram no chão, junto com meu iPod, enquanto minha mão instintivamente segurava o braço da criatura para que eu não caísse também. Em minha mente só tinha espaço para dor, e no milésimo de segundo seguinte a criatura afastou se mim como se eu lhe tivesse queimado a pele, ou dado-lhe um choque. Foi quando eu me virei e olhei para os olhos vermelhos, que me olhavam com certa curiosidade, pavor e sede. Afastei-me alguns passos, analisando qual seria a próxima atitude do vampiro. Ele mostrou seus dentes, rosnando e lançando-se sobre mim quando Jacob pulou de trás das árvores em sua forma de lobo e presas à mostra. Seus dentes rasgaram o braço do vampiro, que preparou-se para atacá-lo, então eu me lancei sobre ele também.

Jacob me empurrou para longe com o focinho, mas eu queria tentar algo. Passei por Jacob e toquei o braço do vampiro estranho, focalizando minha mente em dor física. O vampiro soltou um guincho e me empurrou com força para longe. Jacob me olhou assustado por um segundo, mas então aproveitou a distração do vampiro e arrancou-lhe outra parte do corpo. Aproximei-me novamente e me concentrei mais, tocando as pernas dele com minhas duas mãos e ativei as lembranças de como eu me sentira naquele verão sem Jacob, quando eu achava que o havia perdido. Era isso. Dor mental, dor emocional. O vampiro urrou de dor enquanto tentava puxar as pernas de volta. Jacob avançou sobre a cabeça dele, então eu o olhei.

“Não, espere”

Fechei os olhos e me concentrei na dor que senti ao saber que Jacob fora apaixonado por minha mãe, que eles haviam se beijado. O vampiro passou a se contorcer de dor, e eu me agarrei forte à ele, transmitindo toda dor que eu era capaz. Meu peito também queimava, como o dele, só de lembrar daqueles momentos, mas aquilo parecia deixar o vampiro vulnerável à minha dor também, e numa intensidade bem maior. Jacob por fim arrancou-lhe a cabeça e eu sentei-me na grama, atordoada, enquanto os movimentos do estranho cessavam. Jacob me olhava de uma forma estranha, então começou a juntar os pedaços do vampiro. Ele latiu e eu o olhei. Jacob apontava com o focinho para a pilha de restos.

“Eu não carrego um isqueiro comigo, duh” Rolei os olhos e peguei meu celular, discando o número de meu pai.

“Nessie?” A voz de meu pai era tranquila.

“Você pode nos encontrar na floresta atrás da escola? Acabamos de matar um vampiro”

“O que?”

“Nós precisamos de fogo”

“Estarei aí em um minuto”

A voz urgente de meu pai sumiu e eu guardei o celular em meu bolso. Jacob voltava em sua forma humana, sem roupas.

“O que...”

“Eu explodi antes mesmo de pensar em salvar minhas roupas” Ele tinha suas bochechas morenas num tom bonito de rosado.

“Use o meu casaco, meu pai está vindo” Tirei meu casaco e joguei para ele, que amarrou-o em torno de sua cintura. Eu passeava em volta do corpo do vampiro.

“O que foi aquilo?”

“Eu não sei” Parei um instante e alcancei algo que adornava o dedo do vampiro. Era um anel de prata envelhecida, parecia uma peça bem antiga. O brasão dos Volturi reluzia em dourado velho. “Os Volturi”

“Aqui?”

“E se ele não veio sozinho?”

“Acho que alguém intercederia se ele estivesse acompanhado”

“Ou talvez fosse um teste”

“Ou ele queria ver se ainda havia contato entre nós e a sua família. Acabei de ver na mente de Sam que eles foram atacados ontem por um pequeno grupo. Quil se machucou, mas já está bem”

“Eles devem ter visto que eu não estava mais por lá”

“Nessie!” No instante seguinte minha mãe envolveu minha cintura e beijou minha têmpora.

“Está tudo bem, mãe”

“A cada dia que passa você fica mais durona, hein sobrinha?” Emmet ria e bagunçava meus cabelos.

“Isso não tem graça, Emmet” Mamãe olhou feio para ele.

“Você leva tudo muito a sério, Bella” Emmet rolou os olhos, seu sorriso emoldurado por suas adoráveis covinhas.

“O que vocês estavam fazendo aqui?” Meu pai levantou o olhar após lançar fogo contra a pilha de restos.

“Pergunte a Jacob”

Os olhos de todos passaram para Jacob, parado de braços cruzados, coberto apenas por meu suéter amarrado a sua cintura.

“Ew, Nessie, isso é nojento, ok? Ninguém aqui quer saber” Emmet distorceu seu rosto numa cara de nojo e eu ri. Meus pais não estavam sorrindo.

“Hey, não é nada disso, ok? Eu não estou matando aulas pra...”

“Agitar as árvores por aí?” Emmet interrompeu-me, rindo.

“Para!” Eu soquei seu braço.

“Emmet” Minha mãe rosnou de leve.

“Ok, estou quieto” Ele riu, por fim, ficando quieto.

“Foi um mal entendido” Jacob olhou pra mim.

“Uma piranha em cima de você é um mal entendido?”

“Você queria que eu batesse na garota?”

“No mínimo!”

“Ela disse que você estava me chamando!”

“Jacob, ela é amiga da Vanessa, você acha que eu falaria com ela?”

“Hey, eu sou novo por aqui. Eu não sei quem é amigo de quem ainda”

“Mas você sabe que meus amigos são Alex, Stu e Dave”

“É, agora eu sei”

“Tudo bem, chega” Meu pai rolou os olhos. “Ele te atacou?”

“Sim... ele era um Volturi” Estendi o anel e ele pegou-o.

“O que ele estava fazendo aqui?” A expressão de Edward ficou séria, uma linha funda em sua testa.

“Eles atacaram La Push, acho que viram que Nessie não estava mais por lá e resolveram checar se vocês ainda nos ajudavam” Jacob comunicou, apertando o suéter a sua volta.

“Bem, nós tomamos conta dele” Eu completei, vendo as chamas arroxeadas.

“É, agora só precisamos saber que tipo de coisa você estava fazendo com ele” Jacob me olhou e eu rosnei de leve pra ele. Quem disse que era pra ficar espalhando por aí meus talentos recém descobertos?

“Coisa?” Papai me olhou com dúvida.

“Não acho seguro falarmos aqui” Olhei em volta e ele assentiu.

“Certo, vamos pra casa. Jacob, se transforme e... Renesmee, queime esse suéter quando chegar em casa” Eu ri da cara de nojo de meu pai e subi em suas costas. Corremos todos para casa e minha mãe chamou todos os outros para a sala de jantar.

“Ok, agora conte” Minha mãe mordia o lábio inferior, nervosamente curiosa.

“Tudo bem. Eu estava correndo e estava brava com Jacob, muito brava. Principalmente chateada, e tudo aconteceu muito rápido” Eu odiava ter que deixar meus pensamentos e sentimentos tão vulneráveis e expostos, mas eu precisava contar a todos. “Eu pensei que Jacob estivesse realmente com a tal garota, e aquilo doeu. E então vocês sabem como minha mente voa fácil, eu já o imaginei me deixando, o que doeu ainda mais. Como eu estava chorando, minha visão estava embaçada, e eu trombei com o vampiro. Claro que ele não foi pego de surpresa com isso, mas eu segurei em seu braço para não cair. Minha mente estava preenchida com a dor que eu sentia, então ele agiu como se eu o tivesse machucado. Quando Jacob chegou eu tentei mais duas vezes tocá-lo enquanto pensava em dor. Pensei em dor física, mas não funcionou. Então eu forcei as lembranças desse verão, e do quanto doía. Era como se eu sentisse a dor de novo e eu toquei o estranho. A mente dele então compartilhava dos meus sentimentos e ele sentiu minha dor. Foi quando ele ficou desnorteado e Jacob o matou, afinal”

“Ela fez tudo isso e você ficou fazendo o que?” Emmet zombou.

“Ela me pediu para não matá-lo” Jacob se defendeu.

“Tudo bem, mas da próxima vez que um vampiro ameaçar minha filha, não pense duas vezes em matá-lo o mais rápido possível” Edward voltou seu olhar pra Carlisle, então. “O que você acha?”

“Acho que Renesmee pode provocar ataques mentais quando toca em alguém” Carlisle tinha essa expressão pensativa. “Só precisamos saber a proporção disso, e se é realmente efetivo”

“Eu não vou tentar. O cara gritava de dor” Jacob torceu a cara.

“Fraco” Emmet riu.

“Tente você, então” Jake cruzou os braços.

“Você só tem que controlar isso com humanos, Ness”

“É só quando eu projeto meus pensamentos, pai. E eu sempre tenho cuidado com isso” Suspirei.

“Ok, acho que você precisa descansar agora” Ele sorriu de leve e eu retribuí, levantando-me. Eu realmente precisava de um tempo. Coisas demais aconteceram hoje. Alcancei os primeiros degraus da escada e Jacob segurou meu braço, virando-me de frente para ele.

“Agora não, Jacob”

“Nessie” Ele fez essa voz manhosa, que por pouco me fez ceder.

“Jake, não” Ele viu meus olhos derretendo-se, mas eu mantinha-me dura.

“Você sabe que é só você. Sempre será” Sua mão colocou uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha e seu sorriso transformava tudo em mim em geleia.

“Sei?”

“Sabe” Seus lábios roçaram os meus enquanto ele falava, tamanha proximidade.

“Eu preciso descansar” Fechei os olhos, soltando um ofego leve por meus lábios. Senti Jacob tocá-los e relaxei sobre seus braços.

“Arrumem um quarto” Nate passou por nós na escada, esbarrando no ombro de Jacob, que tremia de raiva.

“Hey, calma. Ele não vale a pena” Eu o interrompi assim que alguns palavrões começaram a sair de sua boca. “Vem” Puxei-o para meu quarto e nos jogamos na cama juntos. Jacob me abraçou pela cintura, acariciando-a de forma gostosa. Eu me aninhei em seus braços e ficamos alguns minutos em silêncio.

“Você sabe que aquela garota só queria te atingir”

“Eu sei. Mas ainda tenho direito de ficar brava ao ver alguém com as patas em cima de você”

“Isso tudo é ciúme?” Ele sorriu.

“Isso tudo é não suportar a ideia de te perder” Olhei em seus olhos e Jacob tocou a ponta de meu nariz.

“Não se preocupe com isso, ursinha”

“Ursinha?” Eu explodi em risos.

“É a mulher do ursinho, não é?” Ele riu junto comigo, mas fazia um biquinho fofo por eu ter zombado do apelido.

“Acho que é, mas você é um lobinho”

“Mas você me chama de ursinho Jakey”

“Oks, então somos um casal de ursos, grawr” Arranhei seu peito e Jacob arrepiou-se, rindo.

“Tire sua mente daí, Jacob. Ou eu vou até aí tirar a força” Ouvimos a voz de meu pai explodir de algum lugar e minha mãe rir de leve.

“Mãe?” Eu gritei de meu quarto, meu pensamento ficando tão sujo quanto o de Jacob.

“Nessie, seu pai vai me matar aqui” Minha mãe ria incontrolavelmente, de meu pai, acredito.

“Por favor?” Fiz uma voz manhosa.

“Oks, oks. Privacidade saindo num segundo” Ela disse por fim, colocando seu escudo sobre eu e Jacob, que me olhava com dúvida. Levantei-me da cama e o puxei para o banheiro, trancando a porta atrás de nós.

“Ness?”

“Precisamos de um banho” Eu sorri e Jacob me abraçou pela cintura, puxando-me para um beijo.

“Saia já daí, Jacob Black!” Meu pai gritava do outro lado da porta, minha mãe rindo ali perto.

“Droga” Jake fez uma carinha triste e abriu a porta do banheiro, saindo por ela. “Não me culpe, ela me empurrou o caminho todo até aqui”

“Hey! Traidor” Cruzei os braços enquanto Jacob desviava de meu pai e corria para fora do meu quarto. Aproveitei e fechei a porta do banheiro antes que meu pai brigasse comigo. Tomei um longo banho e dormi depois, pela tarde toda.