Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 14
IV - parte 3


Notas iniciais do capítulo

Uuuuu



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Parte 3

Em casa, não havia nada preparado para o almoço, minha mãe estava arrumando umas coisas no quarto dela.

                        - Mãe, cheguei! – gritei

                        - Chegou Mel! – gritou ela em resposta. – Já estou descendo. Vamos comer alguma coisa pela rua hoje.

                        - Como assim? – perguntei curiosa.

                        - Recebemos uma encomenda grandessíssima na loja para essa final de semana, vou ter que ir correndo para lá agora e se você puder me ajudar, eu agradeço! – disse ela descendo a escada e ajeitando um monte de material dentro de uma caixa, creio que para levarmos junto.

                       - Claro que ajudo mãe!   

                       Subi correndo para meu quarto, troquei de roupa, guardei o material e desci para ajudar minha mãe a pegar as caixas com os materiais.

                       Fomos a pé mesmo, a Loja da Marlene não ficava muito longe de casa. Na frente da pequena loja havia uma plaqueta escrita “fechada até segunda-feira”. Imaginei que o estado de nervos lá dentro deveria estar grande, foi o que constatei com meus próprios olhos instantes depois. Ao entrarmos, vi caixas de todos os tamanhos empilhadas pelos cantos; sobre o balcão, pequenos pratinhos de doces enfeitados estavam sendo ajeitados por uma moça que trabalhava ali; da cozinha a voz de Marlene soou com nossa chegada.

                      - Graças a Deus chegaram! – disse cumprimentando-nos.

                      - Mel vai nos ajudar aqui... Enrola um brigadeiro como ninguém! – replicou mamãe olhando para mim.

                      - Uma ajuda a mais sempre é bem-vinda. – falou Marlene com sua voz desafinada e estridente.

                   Ela é uma mulher extravagante, com cabelos curtinhos e bochechas rosadas. Seu batom vermelho é uma marca registrada no rosto gordinho. As roupas, sempre estampadas e grandes tentavam combinar com as diversas bijuterias penduradas pelo corpo. Se eu não conhecesse bem a figura, nunca passaria pela minha cabeça que ela era uma confeiteira.

                   Juntamos as nossas caixas com as caixas já empilhadas e fomos lavar as mãos. Na cozinha, colocamos luvas e redinhas de cabelo. A tarde foi longa, fazendo os mais diversos tipos de doce que eu poderia imaginar. A maior parte do tempo fiquei calada ouvindo as mais cômicas fofocas que Marlene contava para minha mãe. Parecia que ela sabia da vida de tudo e de todos. No finalzinho do dia, já para anoitecer, separamos nossas coisas e voltamos para casa. Meu braço já estava doendo de tantas bolinhas que eu tive que enrolar.

                     Jantei rapidamente e fui dormir. De olhos fechados ainda enxergava docinhos que aos poucos foram se transformando em pontinhos até desaparecerem.

                     De manhã cedo não havia mais nenhum pontinho na minha frente, somente raios de Sol que invadiram brutamente meu quarto, quando minha mãe abriu a janela.

                      - Vamos Mel! – disse ela.

                      Esfreguei os olhos, mas consegui vencer a luta contra meu corpo e fui me arrumar.

                      No carro, meu pai ficou perguntando se nós já havíamos terminado a encomenda de docinhos. Neguei com a cabeça e ele fez uma cara de desapontado.  Quando minha mãe fica encarregada de uma tarefa muito grande, ela esquece-se totalmente que tem um marido, fica azeda e ansiosa; com certeza isso afeta diretamente meu pai.

                      Quando chegamos à escola, não percebi nada de diferente, como no dia anterior, mas boatos sobre o que acontecera ainda rolavam pelos corredores.

                       - Você viu Mel? – perguntou Rafaela, encontrando-me logo na entrada.

                       - Não, o que aconteceu? – retruquei sem saber do que se tratava.

                       - A menininha de ontem, fiquei sabendo que ela não é aluna, não se lembra de como desmaiou e nem de mais nada! – disse ela espantada.

                       Parei de andar e fiz uma cara de curiosidade.

                       - Como assim “de mais nada”?

                       - Ela não sabe quem são os pais, não se lembra do nome... Os médicos acham que ela sofreu algum trauma ou bateu com a cabeça! – exclamou.

                       Fiquei pasma por alguns instantes, não só pelo fato da situação da menina, mas também pelo fato de Rafaela saber tudo com tantos detalhes.

                        - Como você sabe tudo isso, Rafa? – indaguei.

                        - Uma menina da sala da filha da Diretora a ouviu contando isso para uma outra amiga, então veio me contar também! – respondeu naturalmente enquanto minha cabeça dava um nó com tanta informação.

                        - Ah, estranho não é? – havia realmente me interessado pelo assunto.

                        - Muito. – disse ela entrando em sua sala e acenando para mim.

                        Segui quieta para a classe e juntei-me aos outros. Parecia que todo mundo tinha recebido uma injeção de ânimo. Todos, com raras exceções estavam alegres, falantes, com um bom humor contagiante. Deixe-me então contagiar e passei um dia super bom de aula, rindo, curtindo com os amigos e prestando atenção na matéria, claro.

                       Seguimos para o ponto eu e Daniel. Agora era de costume todos os dias irmos juntos para lá. Logo depois do último sinal, nos encontrávamos e íamos, prolongando a conversa por mais algum tempo. Cada vez mais, esse pequeno momento junto dele se tornava mágico, a cada dia ficava mais ansiosa para ir pegar o ônibus, só para conversar com ele, olhar em seus olhos. No início achava tudo muito ridículo, mas acabei me rendendo aos meus sentimentos, que insistem em continuar crescendo.

                      O ônibus chegou rápido, nem ficamos sentados por muito tempo. Hoje, não sei por qual motivo, estava lotado. Segurei-me em um ferro e ele se postou ao meu lado.

                     - Ah Mel, preciso te perguntar uma coisa!- exclamou ele, voltando o corpo para minha direção.

                     - O que? – perguntei ansiosa.

                     - Você está entendendo alguma coisa de Física? – indagou.

                      Física com certeza era uma das matérias mais difíceis do segundo colegial, metade dos alunos estavam convictos, antes mesmo de fazer a prova, que já estariam de recuperação. Eu juro que não entendo, mas não sei por que adoro essa meteria. São extremamente difíceis e esgotantes aqueles cálculos gigantes, aquela teoria incessante, mas tudo isso me fascina. Todos me acham louca quando digo isso, até eu me acho louca, mas é a pura verdade.        

                     - Infelizmente, sim... – ri.

                     - Infelizmente... Ah Mel... – ele sacudiu a cabeça. – Se eu estivesse entendendo um teorema sequer estaria pulando de alegria!

                     - Eu sei, estava brincando... Você está tão desesperado assim? – perguntei devida sua reação.

                     - Já estudei, li aqueles livros, mas não sei, não consigo a fazer entrar na minha cabeça... – ele deu uma pequena pausa. – Pelo menos, não sozinho. – ele lançou um olhar rápido para mim.

                     - Vo... Você quer que eu te ajude? – gaguejei, ficando roxa na mesma hora.

                     Ele deu um risinho de leve.

                     - Se você puder... E quiser. – ele falou com uma voz tão doce e, como de hábito, demorei a responder. – E então?

                     - Ah... Claro! – abri um sorriso.

                     - Que bom. – disse ele com uma voz entusiasmada. – Quando está bom para você?

                     - As provas começam quinta-feira, Física é sexta... – pensei por um instante. – Para mim pode ser segunda ou terça!

                     - Terça para mim está bom! – confirmou.

                     - Ai, esqueci! Terça eu tenho Tênis. – falei.

                     - Pode ser depois da sua aula, se você não se importar. – murmurou ele gesticulando com as mãos.

                     - Por mim tudo bem. A aula acaba às seis horas! – exclamei.

                     - Então confirmado, terça às seis. – Onde você faz? Porque então eu vou lá te buscar, para irmos juntos a algum lugar. – justificou, ainda com o sorriso nos lábios.

                     - Faço no clube da APT, sabe onde é? – perguntei.

                     - Sei sim, pode deixar comigo!

                     Puxei a cordinha logo que chegamos a Paineiras.

                     - Por que você deu sinal? Não é seu ponto! – indagou curioso.

                     - Minha mãe está com uma encomenda gigante, fiquei de pegar algumas coisas e ir ajudá-la!

                     - Ah, garotinha prestativa. – riu ele.

                     - É o que as pessoas legais fazem. – retribuí o sorriso e fui para a porta.

                    Na hora em que estava descendo o último degrau da escadinha, senti um toque em minhas costas. Virei e me deparei com Daniel. Terminei de descer e já para fora do ônibus ele disse do lado de dentro:

                   - Gosto de pessoas legais.

                   A porta então se fechou e o ônibus foi embora. Demorei para processar a idéia, ficando parada ali no ponto por alguns instantes


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Notas finais do capítulo

Comeeentem =D