Mundo dos Sonhos escrita por Trezee


Capítulo 13
IV - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

=D



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Não demorou muito e eu já estava em casa. Desci rapidamente do ônibus e entrei, deparando-me com a casa vazia. Minha mãe devia ter saído e meu pai estava no trabalho. Olhei para o relógio e vi que ainda eram meio dia e meio. Estava cedo para mim, a final chego em casa geralmente uma e tanto. Resolvi então inverter os processos. Subi para meu quarto e coloquei uma roupa confortável, peguei um caderno e comecei a ler a matéria. As provas estavam chegando, eu precisava manter uma média boa para não perder a bolsa, então estudar bastante era a melhor alternativa. Fiquei ali por uma hora até a fome chegar, só daí desci para cozinha e esquentei meu almoço. Não demorou muito para minha mãe chagar. Ela chegou com algumas sacolas, que variavam desde assadeiras de bolo, até meias novas para meu pai. Para mim ela entregou apenas uma sacola.

                   Subi para o quarto, para ver o que tinha dentro. Havia alguns cosméticos, cremes faceais, xampus e condicionadores. Minha mãe nunca foi ligada muito à beleza, mas não queria que eu ficasse com esse mesmo hábito. Desde pequena me policiou a lavar o rosto ao acordar e antes de dormir, lavar os cabelos dia sim e dia não, me cuidar sempre que fosse necessário. Acho que ela se orgulha da minha boa pele e dos meus negros cachos. Não diria que sou muito bonita, sou normal para uma garota da minha idade. Estou longe de ser a mais popular, mas com certeza o que eu sou já basta e me faz feliz.

                   No dia seguinte, fui para escola e logo na entrada percebi um certo alvoroço de alunos. Infiltrei-me aos poucos no meio do embolado de jovens e deparei-me com uma cena que fique pasma. Havia uma garota de uns sete anos, creio que uma aluna, caída no chão. Estava adormecida, não movia um músculo sequer.

                   A sensação que senti ao ver aquela menina de cabelos castanhos, com feições angelicais estendida no chão foi algo inexplicável. Meus braços se enrijeceram em um abraço em torno do meu próprio corpo, minhas mãos começaram a suar frio e um calafrio me subiu de cima abaixo. Um medo intenso pairou sobre mim, uma insana sensação de frio. Uma mão empurrou-me para o lado, abrindo espaço. Eram a diretora e o coordenador, que tentavam dispersar o aglomerado em torno da garotinha. Ligaram para emergência e em pouco tempo a ambulância já estava estacionada na frente dos portões da escola. Cuidadosamente os para-médicos colocaram o colar cervical em torno de seu pescoço, ajeitaram-na em uma maca e partiram estrada a fora com as sirenes gritantes.

                   Não se tinha outro assunto naquele dia se não da menina que havia desmaiado. Ninguém sabia ao certo se ela estava na primeira ou segunda série, não sabíamos nem ao menos se ela estudava ali. Por enquanto era um mistério para todos que se entretinham em descobrir mais informações. Para mim era mais uma pergunta a qual eu não conseguia responder.

                   Aquela sensação que eu nunca havia sentido ficou muito bem registrada nos meus arquivos. Quase não prestei atenção em nenhuma aula. Por mais que eu tentasse, as palavras dos professores não me prendiam por muito tempo, mas as recordações daquele calafrio subindo pela minha espinha eram intactas.

                   O sinal de término mal havia soado e eu já estava indo para o ponto, sem nem ao menos esperar por Daniel. Estava me sentindo muito estranha para pensar em outra coisa, parecia mais um robô andando do que uma pessoa, minha mente estava vazia por um tempo, até a escassez de pensamentos ser interrompida.

                    - Ei, espera! – gritaram atrás de mim.

                    Foi aí que me dei conta de onde estava. O eu robô já tinha me levado até metade do caminho do ponto sem perceber. Olhei para trás, já com pensamentos na cabeça e vi Floukin correndo em minha direção.

                     - Valeu por me esperar na sala. – disse ele com uma voz irônica, que logo foi cessada ao olhar para meu rosto. – Mel... Você está bem?

                     Não soube responder essa pergunta, não sabia se estava menos bem ou um pouco mal.

                     - Melinda, você está pálida... Está me ouvindo? – perguntou ele com uma voz preocupada.

                     Ele havia me chamado pelo nome, não pelo apelido, eu realmente não deveria estar com a melhor das aparências. Então pisquei algumas vezes rapidamente, para ver se eu me sintonizava melhor com o que estava acontecendo e balancei a cabeça confirmando.

                      - Acho que sim... – murmurei.

                      Ele pegou a mochila do meu braço, apoiou-me em seu ombro e me levou até o ponto, sentando-me no banco. Ficou olhando para mim com uma feição inquieta.

                      - Fica tranquilo Daniel, eu estou bem... – tranquilizei-o.

                      - Você não parece estar bem. Estou chamando você desde a hora que saímos da escola, mas você nem sequer olhava para trás... Parecia não estar me ouvindo! – Agora, está pálida feito cera e insiste que está bem?- disse ele.

                      Estremeci um pouco para falar, mordi levemente os lábios e franzi a testa.

                       - Eu não sei explicar, vai parecer loucura ou frescura...

                       - Tenta. – pediu ele com uma voz doce, sentando-se do meu lado.

                       - Foi na hora que vi a menina desmaiada, não sei por que, mas eu tive uma sensação muito estranha, que me atormentou por tudo o dia... - Será que é normal ter isso, digo, quando se vê alguém mal? – perguntei esperançosa, olhando para os olhos azuis.

                        Ele demorou um instante para responder, mas logo deu continuidade.

                        - Não sei Mel... Nunca passei por isso. – sua voz falhou ao dizer essa última frase. – Cheguei um pouco atrasado hoje, não vi a menina, só ouvi boatos.

                        - Ah... – suspirei.

                        - Seja lá o que você estiver sentindo... Só te peço uma coisa. – ele respirou fundo. – Não se entregue a isso, não deixe que isso te consuma... Você é mais forte!

                        Nesse momento eu ergui minha cabeça e meus olhos se arregalaram com aquelas palavras. Ele estava certo, eu estava me entregando aos pensamentos. Estava deixando que eles me abatessem, que me dominassem. Em um pulo levantei do banco como outra pessoa, avistei o ônibus e abri um sorriso.

                        - Obrigado, muito obrigado por me ajudar Daniel! – disse olhando para ele.

                        - Eu sabia que você precisava ouvir isso! – falou retribuindo o sorriso.

                        Já sentados, ficamos o trajeto inteiro conversando sobre futilidades, ele estava realmente disposto a me fazer sorrir, até piadas contamos. Eu, como sempre, uma negação para essas coisas, mas só minha tentativa já era engraçada. Ele então me poupou do ridículo e tomou voz da situação. Nunca havia rido tanto dentro de um ônibus. Meu péssimo dia de aula havia se transformado em conto de fadas, onde o lindo príncipe salvou a jovem princesa de sua própria prisão.

                        Não sei mais se conseguia disfarçar meu encantamento por ele. A cada dia que passávamos, que riamos juntos, sua presença me enchia de alegria. Quando olho para ele, principalmente, quando ele retribui o olhar, fixando seus lindos olhos azuis em mim, com certeza fico ruborizada. As vezes que conversamos, muitas delas gaguejo ou esqueço minhas próprias palavras. Achamos engraçado quando isso acontece, digo que é por distração, sendo que minha distração na verdade é ele.


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Notas finais do capítulo

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