Cien Fleur escrita por Bolt


Capítulo 4
Relatos etílicos




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Fleur IV

Relatos Etílicos

– Olá, pessoas! – era Luke, ao dar à Cien Fleur o ar de sua graça pela terceira vez, dentro de um mesmo intervalo que leva um planeta para dar sete giros completos em torno de seu próprio eixo. Ou pela terceira vez na mesma semana, como lhe for preferível a leitura. O fato é que seu narrador é estudante de literatura, e não de física, e que portanto os movimentos de rotação e translação dos planetas têm tanta relevância para ele quanto para seus leitores.

Exceto se estudantes de física, evidentemente.

Avancemos um pouco na linha temporal. Estamos agora alguns hífens além do “3”, onde nosso objeto de estudo sofreu sua primeira mudança comportamental dotada de algum significado. E onde Luke já estava familiarizado com o local e com aqueles que o freqüentavam, tornando-se um dos mais assíduos em Cien Fleur, e introduzindo inclusive pessoas novas ao grupo que se formara. Grupo esse que não parava de crescer desde então.

* * *

Período I C.F.
☼ -------- ( . . . ) --------- | ---3----------5 →

* * *

Luke já era quase irreconhecível. Talvez nem tanto, mas da mesma forma que o seu fenótipo, o seu jeito de ser distanciava-se cada vez mais daquele do garoto que, acanhado, ouvia as conversas alheias enquanto mantinha seus olhos atados ao xadrez da mesa de mármore, inclusive a frase que abre este capítulo nunca teria sido proferida por ele, mas foi, porque adquiriu em Cien Fleur o hábito de usá-la. Se dentro da praça existisse algum tipo de hierarquia, ele teria subido alguns degraus nela durante o intervalo entre o capítulo anterior e este, sendo tal intervalo longo para ele, e curtíssimo para nós. Às vezes é bom ter o poder de pular eventos menos relevantes. Nova vantagem de histórias não lineares, leitor.

Havia conhecido várias pessoas, como já fora evidenciado há dois parágrafos, vários locais da cidade aos quais nunca antes esteve, ouvido histórias interessantes sobre a vida de alguns e feito parte de outras, da mesma forma. Houve, depois do “5” marcado na linha temporal, uma cena que tornou-se lendária em Cien Fleur, inesquecível para ele, embora lhe remeta a uma lembrança triste. Aproveitando que ainda não estou a narrar o que ocorre no ponto “5”, dir-lhe-ei algo que será importante para a compreensão do que irá ocorrer. Entenderás, leitor pressuroso, o que doravante virá. Houve um evento...

* * *

...não em Cien Fleur, mas em um centro de exposições muito próximo. Um lugar espaçoso chamado Edmond Hansen. Nas épocas de transição entre as estações da primavera e do verão, a paisagem de Greenville sofria uma brusca transformação, parecendo repentinamente pintada de amarelo, roxo e até vermelho em tons belos e incomuns. Flores coloridas surgiam pela cidade como se alguém a tivesse percorrido durante toda a madrugada a espalhar sementes mágicas de crescimento imediato. Alguns, especialmente os anciães, aqueles que diziam terem chegado a nadar no Rio Catarata, juravam ter presenciado pequenos seres estranhos a saltitar e jogar sementes cintilantes para todos os lados ao longo da madrugada, mas a inverossimilhança desta história, complementada pelo tom etílico das testemunhas oculares, acaba por anulá-la. Contudo, por ser uma história tão tradicional e tão antiga em Greenville, e que as atuais gerações ouviram tanto de seus predecessores, chegou ao ponto de se tornar evento cultural altamente esperado e movimentado.

Talvez inspirado pelo novo colorido que a cidade ganhava nessa época, talvez resultado da simplicidade e popularidade da história, ou talvez resultado do esforço da população que se recusava a sofrer com o tédio a pairar sobre Greenville. A questão, todavia, não é esta.

A questão é, enfadado leitor, que você está sendo convidado a deixar o seu estado atual de ócio produtivo para se divertir em Greenville por alguns dias.

Pois um número “5” marca a Fleur Fiesta.


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