Cien Fleur escrita por Bolt


Capítulo 5
Fleur Fiesta




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Fleur V
Fleur Fiesta

Era aquela cidade muitíssimo bela, por mais incrível que pudesse parecer, Greenville. E nela, flores. E visitantes de tipos e lugares distintos, cada qual trazendo suas próprias histórias e surpresas. Por um curtíssimo período, a cidade permanecia dessa forma, colorida e repleta de caracteres que a distingüiam a Greenville no solstício de verão da Greenville em todas as outras épocas, e alegrava-se. Era o terceiro fim de primavera de Luke nela, e o primeiro em que ele parava para apreciar realmente. Se prestaste atenção aos capítulos anteriores, leitor, podes pular este primeiro parágrafo sem perder conteúdo muito relevante. Todavia, o papel que as introduções ainda cumprem possui sua importância e, acrescento ainda, que mais importante do que para o leitor, é para o escritor, pois a partir dela, a escrita torna-se fluente e simplesmente acontece, como se fosse o efeito da ação mais natural em toda a grande vontade do universo.

Fleur Fiesta, a fabulosa Festa das Flores de Greenville, era (não hei de ter por quê mentir, leitor) apenas um evento festivo como qualquer outro, embora ainda fabuloso. A cada solstício de verão, o expocentro onde se davam as festividades era decorado com um tema diferente, e na sextagésima-sexta edição do evento, o tema, que havia sido o motivo pelo qual nosso querido objeto de estudos interessou-se em ir, era música. Não, não era o único motivo, posto que casmurro e alienado como era, Luke não tinha antes o menor conhecimento de festas deste tipo na cidade, e que o obteve graças ao convite de alguns amigos em Cien Fleur. Na companhia de Marchello, um rapaz relativamente alto (tomando Luke como referencial), músico, e que estudava para entrar na faculdade de design de uma província longínqua; e de Layla, uma menina, também mais alta do que Luke, da mesma idade que ele, bela, forte, e cultivava uma longa cabeleira vermelha e lisa, também bela; divertiu-se muito passeando e rindo pelo expocentro, lindamente decorado. Havia inúmeros canteiros repletos de flores que, dispostas da forma que estavam, compunham desenhos de pentagramas, claves, instrumentos musicais e até alguns mais complexos, como artistas famosos do passado. Todos, de alguma forma, fortemente ligados ao tema central da Fleur Fiesta daquele solstício de verão.

É óbvio, leitor, que uma festa não é composta apenas por trabalhos artísticos. Seria simplesmente uma exposição, nesse caso.

Aconteciam, de tempos em tempos, diferentes apresentações em palco. Iam elas de espetáculos dançantes e lutas coreografadas à declamação de poemas musicados. Nessas horas o local adquiria um aspecto ainda mais bonito, com flores iluminadas por luzes de suas respectivas cores e fazendo-as serem refletidas com maior intensidade. Imagine, leitor, uma árvore iluminada à noite por uma luz verde. Luzes de tal cor não são de serventia alguma para as árvores porque verde não absorve o verde, e sim o reflete, o que as tornava inútil à obrenção de energia pela planta, mas tornava esta ainda mais bela aos olhos humanos. E como tornava...

Creio que, o motivo pelo qual o capítulo cinco fora marcado na linha temporal de Luke não foi explicitado por seu ilustre narrador em nenhum dos três parágrafos acima. Pois bem, era a Fleur Fiesta...

* * *

...e nela eram Luke, Marchello e Layla, que se divertiam andando, rindo e conversando alegremente. Parando em estandes de quando em quando a fins de conferir o que estava sendo vendido, e talvez até levar alguma lembrança. Ao resolverem finalmente parar e descansar, encontram uma mesa vazia, próxima ao corredor principal, por onde passavam aqueles em processo de entrada ou saída do expocentro.

- Ótimo, descanso enfim! – exclamou Marchello, suspirando aliviado como quem acaba de tirar os sapatos que insistiam em castigar os pés – Luke, você viu a Alice e a Liz hoje, no evento?
         - Quem?

Alice e Liz, meu caro Luke.

- Ah... tudo bem. Cedo ou tarde elas acabarão aparecendo. Creio que não perderiam por nada esta Fleur Fiesta...

Muito bem. Elas estavam lá, efetivamente, embora houvesse acontecido um desencontro entre elas e Marchello, que era o único a saber que viriam. Mas estavam lá, participando do evento da mesma forma que eles. Muito possivelmente, era Marchello o único dos três que as conhecia. Embora seu propósito naquele momento fosse apenas parar e descansar, o ato acabaria por provocar o encontro entre o atual grupo composto por Luke e seus dois companheiros e as duas meninas de quem tanto falamos neste parágrafo.

Ouve-se, então, um par de vozes femininas em uníssono:

- Olá! – Marchello vira-se de costas para verificar a origem do cumprimento. E ele vinha, efetivamente, de Alice e Liz.

Alice e Liz, amigo leitor. Muito há que se explicar sobre estas duas no futuro, mas, por hora, que seja do seu conhecimento o fato de serem grandes amigas, apenas. Era tudo o que Luke sabia até então, embora sentisse, naquele momento, uma enorme curiosidade e vontade de conhecê-las, tal qual sentiu vontade de conhecer a Cien Fleur. De fato, era perceptível que, naquele momento, sem ele o saber, um fluxo crescente de dopamina e serotonina passou a dar voltas e voltas na circulação de Luke, fazendo-o enrubescer, gaguejar e fixar olhares perdidos em cantos quaisquer. Estou certo de que meu leitor, exercitado no assunto, tem o conhecimento necessário para afirmar com convicção o que isso significa, exatamente.

Luke não o tinha.

Não sabendo e nem querendo saber o que se passava em seu corpo e em sua cabeça naquele momento, convidou-as para sentarem-se junto de seu grupo à mesa próxima ao corredor principal, entreteve a todos e manteve-se entretido. Conversar já havia deixado de ser um martírio para ele e passara a ser uma coisa das quais mais gostava. Ao passo em que se ía a noite, a multidão se dissipava, a movimentação diminuía e a comida nas tendas rareava. Mas Luke, Layla, Marchello, Liz e Alice continuavam na mesa, como se aquela fosse uma das mesas de Cien Fleur a reunir e divertir pessoas por horas a fio.

Deixemos Luke e a privacidade de seus pensamentos, leitor.
         Saiba apenas que, a cada momento, Liz parecia a ele mais e mais encantadora.


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