Após o Apocalipse escrita por Alana5012


Capítulo 15
Déjà vu - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Legenda
Diálogos: - Creio que sim, Lucian; você não?
Pensamento: "Itálico"
Lembrança: Negrito
Narração: O fato é que muito ainda estava para acontecer - outra vez...
Mudança de Tempo e Espaço: ●๋..●๋



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●๋•..●๋•

  Assim que percebeu que tinham companhia, o Diabo afastou-se da menina, que encarava perplexa o rosto do rapaz, sentindo qualquer perturbação no semblante de Sam. Desviou o olhar para mirar os próprios pés, constrangida com as circunstâncias nas quais se encontrava.

  - Alastair. - Lucífer cumprimentou-o, ignorando os demais, fazendo com que Alice entreabrisse os lábios deliberadamente surpresa; porém, permaneceu como estava, perplexa - Azazel me contou sobre a conversa que vocês tiveram... - Ele continuou - Mas não se preocupe: não lhe farei nada. - Concluiu sorrindo secamente. O demônio mal teve tempo de responder, pois caiu, ferido, aos pés do mesmo. Os olhos amarelos de Azazel cintilavam, tamanho era o sentimento de contentamento que apossava-o - Porque encarreguei Azazel de fazê-lo... - Lucífer explicou-se dando de ombros, enquanto o demônio se juntava a ele, colocando-se logo atrás de seu mestre. A morena desvencilhou-se dos braços deste, correndo até o corpo, sobre o qual derramava lágrimas copiosas: o corte feito em seu pescoço era profundo, e o sangue jorrava intensamente. Percebendo isto, Lucífer revirou os olhos nas órbitas, falando num tom irritado - Levante-se de uma vez, Alice: era apenas um demônio.

  - CALA A BOCA! - Gritou entre a cólera e o desespero.

  - Alice... - Alastair balbuciou - Espero que algum dia... Algum dia... - Prosseguia com dificuldade - Você possa... possa me perdoar... - Da sua boca, filetes rubros escorriam, fazendo com que engasgasse, provocando-lhe tosse. A menina meneava a cabeça, sem compreender - Eu nunca... tentei, nem ao menos,... ajudá-la a escapar... desse pesadelo. Sinto muito... sentia medo... medo dele. - Sua face encontrou a do Satã, que continuava indiferente aquilo, balançando a faca entre os dedos, como se tudo não passasse de uma mera brincadeira - Mas agora... Finalmente percebi... depois de cinco anos... que cometi um erro gravíssimo e irreparável... vendendo...vendendo... minha própria alma:... meu bem mais precioso... dentre todas as outras posses... Obrigada por... me auxiliar a enxergar isto... - E então, seus olhos cerraram-se para sempre, e o demônio mergulhou num sono profundo, que o conduziria novamente ao Inferno (onde, certamente, pagaria o preço por sua deserção).

  - Ah, Alastair... - Alice não conseguia encontrar palavras para dizer outra coisa, se não chamá-lo pelo nome. Ouvindo-o sendo tão franco e falando algo tão belo fez com que a garota se comovesse com o mesmo, lamentando a perda de um amigo muito querido. Sem notar, o anjo se aproximou também do cadáver, abaixando-se e o tocando de leve; uma luz muito forte emergiu deste, que fez com que a morena voltasse-se para encarar espantada o rosto de Adam Milligan, receptáculo do arcanjo Miguel.

  - Não se preocupe, Alice. - Disse na tentativa de tranquilizá-la, pousando sobre seus ombros uma de suas mãos. De repente, ela sentiu ser invadida por uma sensação de grande paz - Alastair repousa agora nos campos do Senhor. Ele mostrou-se arrependido, e obteve sua merecida redenção: alegre-se! - Com aquelas palavras tão reconfortantes, e o toque gentil do anjo, Alice sorriu. Miguel voltou-se então para seu irmão, que continuava a brincar com a faca no ar, fitando-o com repulsa - Você realmente não nutre qualquer tipo de compaixão ou mesmo piedade nem mesmo por aqueles que decidiram seguí-lo, não? - Constatou, tão perplexo quanto os outros presentes (a exceção do “olhos amarelos”) com tamanha indiferença.

  - E deveria? - Retorquiu sarcasticamente, fazendo com que o irmão soltasse um muxoxo com ar de indignação - A propósito, tenho em mãos algo que, imagino, pertença aos rapazes. - Ergueu a faca novamente, exibindo-a com um sorriso arrogante. Os olhos desdenhosos logo avistaram a espada, fixando-se neste objeto - Ora... Então resolveu deixar de lado essa bobagem de redenção, irmão? Vejo que trouxe sua lâmina. O que pretende fazer? Vai me matar, Miguel? - As indagações soavam como um desafio, que o anjo de imediato recusou.

  - E pensar que Deus estava disposto a perdoá-lo... Entretanto, você ainda não entende! - Falava como se as ações do irmão parecessem-lhe tolas e imprudentes e, em breve, o condenariam.

  - Compreendê-lo? - Dizia entre uma e outra gargalhada desdenhosa - Como posso aceitar um Deus que permite que tantas tragédias aconteçam? Uma crueldade divina, um sadismo cósmico... Que me vê destruindo a sua tão magnífica criação e não faz nada, absolutamente NADA, para impedir-me; esse é o teu Senhor, a quem serve e Lhe é leal, irmão?- O arcanjo limitou-se a fitá-lo com pena, como se lamentasse ao que o comportamento tão insensato de Lucífer levaria - Humpft, se EU fosse Deus, garanto que não permitiria tal ousadia. - Concluiu com um sorriso de escárnio.

  - Não sabe o que está dizendo... - Sam deu um passo a frente, encarando-o com um profundo desprezo - Isso é por todos nós... Por cada vida que você destruiu, arruinou ou ceifou, seu cretino desgraçado. - Balbuciou entre dentes. Podia-se sentir a ira em seu tom - Irá se arrepender por tudo o que fez!

  - Eu penso diferente... - Retrucou num deboche.

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Final I

  - QUE SE DANE ESSA MALDITA REDENÇÃO, EU NÃO SINTO NENHUM TIPO DE REMORSO POR NADA DO QUE FIZ: A VERDADE É QUE TORNARIA A FAZER TUDO OUTRAS MIL VEZES SE PUDESSE!!! - As palavras saíram sem que tivesse controle sobre estas; de repente, tudo ficou caótico e turvo. Era como o que os franceses chamam de “Déjà vu”: a mesma cena que se passara mais cedo agora repetia-se. Miguel estava diante de si, mirando-o com aquele mesmo olhar reprovador, enquanto Lucífer, perplexo, encontrava-se parado na frente dos portões do abismo, agora abertos - O-o que? - Balbuciou atordoado. “Será outro dos testes estúpidos de meu Pai?” Bufou.

- A VERDADE É QUE TORNARIA A FAZER TUDO OUTRAS MIL VEZES SE PUDESSE!!! - A frase ecoava repetindo-se sem parar; aquela era a sua voz, mas não era ele que estava dizendo. De onde vinha? Difícil dizer ao certo: parecia surgir de todas as direções. Foi aí que tudo ficou claro...

  - Então, é isto não? - Falava só, como se conversasse num monólogo - O seu Deus acha que pode fazer com que eu me arrependa obrigando-me a reviver tais momentos pela eternidade?! - Encarava a figura indiferente do irmão frustrado - Nunca... - Murmurou entre dentes. Estava fadado a repetir aquele mesmo dia pelo resto da Eternidade.

  - Por que insistir tanto nisso? - Reconheceu de imediato aquela voz impotente, que impunha respeito e, involuntariamente, fê-lo tremer.

  - Não tenho outro propósito, este é meu único objetivo; sempre foi. - Disse frio ainda de costas para este. Não virava-se por ousadia ou era apenas medo?

  - Sim, era o que Eu pensava até vê-lo envolver-se com a jovem Alice. Ouça, irei fazer uma simples pergunta, e tudo o que peço é que seja franco ao responder: Você a ama? - Sentiu o ar faltar-lhe; repetira isso inúmeras vezes para a morena naquele dia. Estaria sendo realmente sincero?

  - Onde está a sua onisciência agora, Pai? - Retorquiu num tom sarcástico em demasiado; Deus lhe sorriu uma vez mais.

  - Gosto de ouvir o que vocês têm a dizer, filho... - Falou com simplicidade, os olhos transbordando compaixão. Só então Lucífer voltou-se para o mesmo.

  - Incrível, vindo de alguém que criou-nos para ser meros fantoches, a mercê do Destino, sem livre-arbítrio, como muitos creem; somos apenas bonecos, sendo manipulados por um Deus perverso e cruel, que não ama a ninguém, exceto a si mesmo...

  - Não diga blasfêmias, criança insolente. - Cortou-o bruscamente.

  - Desculpe, mas nem todos são tolos obedientes e cegos que recusam-se a enxergar a verdade, como meu irmão, Miguel. Sou apenas diferente: recuso-me a ser como os outros, não um simples soldado, e muito menos uma aberração, como meus irmãos e alguns destes humanos estúpidos gostam de dizer. - Concluiu num tom amargo.

  - Todos vocês são diferentes uns dos outros: isto não te torna um monstro. Tua face não é horrenda: porém, o seu espírito está corrompido. Não enxergo aparência, mas sim a generosidade, compaixão, bondade e piedade presentes no cerne de cada indivíduo distinto. - Sua sabedoria era visível aos olhos de qualquer um, exceto dele, que continuava a negar.

  - Temo não possuir nenhum destes defeitos, que torna a tua criação tão imperfeita... - Outra vez sorria com escárnio.

  - Você realmente não compreende, não é mesmo, filho? - Deus o olhou de cima a baixo, como se tentasse ver um mínimo de arrependimento de sua parte que fosse.

  - O por que do Senhor preferir essa raça cretina a mim? Não, não entendo. - Suas palavras denotavam ressentimento.

  - Serem tão imperfeitos e ter tantos defeitos me fazem amá-los, pois desta forma necessitam de meus cuidados e proteção ainda mais. - Prosseguia sempre gentil e amável.

  - Sua criação está morrendo: e, se não for eu a destruí-la, serão eles mesmos que colocarão um fim a tudo. - Anunciou frustrado pelas respostas tão astuciosas e pertinentes do outro.

  - Está equivocado...

  - Quem engana-se és Tu: enquanto as religiões que o seguem combatem-se e se dividem, eu prevaleço; existem muitos meios de afirmar algo, entretanto, há apenas um de negar tudo. - Sua face exalava o aparente triunfo.

  - E ainda sim prefere resistir a admitir a derrota? - Questionou-lhe por fim.

  - Pela eternidade, caso fizesse-se necessário. - Reafirmou.

  - E quanto à Alice? - Lembrou-lhe seu pai.

  - Eu a amo, confesso; mas nada me impediria de concretizar a vingança que vim arquitetando por tantos séculos: agora, enfim, enxergo isto.

  - Lamentável... - Meneou a cabeça numa negativa, reprovando sua escolha.

  - Antes tentar e falhar do que submeter-me a esta humilhação.

  - Eu só quero que volte para casa, assim como seu irmão, que te ama tanto... - Tornou Deus.

  - Humpft, Miguel trocou a redenção pela espada!

  - Não é verdade: ele não tentou contra ti uma única vez sequer.

  - Não permiti que o fizesse.

  - Ele não o quis.

  - É mentira!

  - Tu és o pai das infâmias e calúnias.

  - É verdade.

  - Arrependa-te ou sua punição será severa.

  - E prostrar-me diante de ti? Jamais... Fique com teus humanos e eu com meus demônios.

  - Se assim desejas...

  - Desde quando que o que quero ou não parece-lhe relevante?

  - Ora, pois desde sempre.

  - Não diria que sim...

  - Fez as suas escolhas, as consequências foram por sua conta.

  - Não acredito.

  - O céu está nublado, há indícios de chuva, o que quer dizer que uma tempestade se aproxima; independente de se crer ou não, a verdade é uma apenas, e não múltipla e relativa, muito menos circunstancial, é universal.

  - Veio aqui para tentar me fazer ceder, não foi? Acha que pode convencer-me com esta filosofia ridícula? Mesmo se eu voltasse, as coisas não seriam como antes, o Senhor sabe.

  - Como pode ter tanta certeza?

  - Eu simplesmente sei.

  - Lucífer...

  - Mentiras, são tudo que ouço! - Tapou os ouvidos, virando-se de costas outra vez, como se tentasse evitar que as palavras de seu Pai inundassem-lhe o coração.

  - Está bem: se é realmente isso que quer... - Deus concluiu se afastando - Bem, mil vezes, não foi? As palavras são poderosas, ainda mais quando ditas com tamanha convicção: mas você já devia estar ciente disso. Tsc, tsc. - Uma vez mais balançou a cabeça.

  - Parte tarde.

  - Adeus. - Se despediu, já retirando-se.

  - Quem dera não nos víssemos nunca mais... - O Criador do Universo suspirou com pesar, sentindo a perda do filho, deixando-o só uma vez mais - Deus... Quem precisa de você?!

●๋•..●๋•

  - O que aconteceu? - Dean foi o primeiro a quebrar o silêncio que instalara-se entre os cinco. Sam correu até Alice, enquanto Miguel caminhou lentamente até o demônio, que tentou afastar-se, em vão, tocando-lhe a testa: Azazel queimou, exatamente como acontecera a Anna, regressando ao Inferno de onde jamais sairia novamente, tal como Lilith e Ruby - Pra onde o seu irmão foi? - A voz autoritária de Dean fazia-se ouvir novamente.

  - Meu Pai interferiu. - Explicou indiferente - Palavras são poderosas, e Lucífer desafiou-o dizendo tantas injúrias e ultrajes. Imagino que sua punição será severa...

  - É bom mesmo. - O loiro concluiu dando de ombros.

  - Tudo bem com você? - Sammy perguntava-lhe uma vez mais, enquanto a morena o abraçava emocionada.

  - Eu não sei... - Disse afastando-se, enquanto limpava o rosto com as costas das mãos - Mas acho que vai ficar, agora que isso acabou. - Apesar de tudo, a tristeza ainda invadia-lhe: amava Lucífer, mas aprenderia a esquecê-lo, com o passar do tempo...

  - Irei levá-los daqui. - Miguel anunciou e, no instante seguinte, estavam de volta a fortaleza, onde foram recebidos por Castiel, Megan, Crowley, Gabriel, Kali, Raphael, Baldur, Tessa, Balthazar e tantos outros.

  - E agora? - Sam indagou ao irmão. Os dois entreolhavam-se em meio ao cenário pós-apocalíptico, sem ideia do que o futuro incerto lhes reservava - Voltamos a caçar?

  - Não sei. - Respondeu-lhe com simplicidade - Mas estou com um pressentimento de que ainda não cumprimos a nossa tarefa por aqui. - Seu olhar pousou na figura dos que restavam de seu exército: alguns, antigos inimigos que, por causa das circunstâncias e situações inusitadas, que agora povoavam a mente de Dean sob a forma de lembranças, haviam acabado por tornar-se seus mais queridos amigos - Jamais vou esquecer... - Concluiu com ar nostálgico - Bom, mas acho melhor voltarmos pra casa agora. Ainda precisamos passar no Bobby, Lisa e Ben passaram o final de semana lá. Já vai anoitecer: quem sabe ainda não dá tempo de jantar? - Piscou sorrindo.

  - Humpft, acabamos de reencontrar o Diabo e você só pensa no seu estômago, cara? - O irmão brincou rindo também.

  - Não é verdade: também estou com saudades do meu bebê que, a propósito, ainda está nos esperando na minha garagem. - Dean mencionou então o seu querido Impala - Ah, e além disso, você e a Alice ainda tem muita coisa pra conversar: sabe que, eu tenho um pressentimento sobre vocês dois?

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Notas finais do capítulo

Bom, pretendia postar o capítulo que seria o último nesse final de semana; desde já me desculpo pelo atraso, mas é que houveram dois imprevistos: o primeiro foi que a minha querida Heloisa (uma das leitoras a quem este capítulo é dedicado), não quer que eu termine a fic; por toda a consideração que tenho por ela, e em agradecimento a recomendação muito fofa que escreveu à fanfic, num surto de criatividade no sábado a noite (que surgiu enquanto eu lia o conto "A Igreja do Diabo", do Machado de Assis, no qual me baseei para criar esse diálogo entre Lucífer e Deus), resolvi aumentar um pouco esse capítulo. ^^ Porém, o próximo será realmente o último, viu?! rsrs Espero que você leve isso em conta, Heloisa, e que poste (ainda esse mês! *---*) a sua história. lol E o segundo motivo pelo qual não pude postar esse capítulo no domingo, como pretendia, foi mais um contratempo: às 9:53 am., fiquei sabendo que a Eletropaulo (a empresa de energia que abastece a região onde eu moro) ia cortar o fornecimento pra realizar uma manutenção das 10hs da manhã às 10 pm. ¬¬ Pois é, fiquei o dia todo sem energia elétrica, e o que foi pior: fazendo lição... kkkkkk Bom, mais uma vez, peço desculpas pela demora, e o capítulo é especial também pra FangtheStrange, que também está com um roteiro muito bom. ;) A segunda parte de "Déjà vu" será postada na quinta-feira (Sem falta! :P) e contará com o final alternativo
(que retomo do ponto onde Sam desafia Lucífer) e com um breve epílogo. Agradeço a todos pela paciência!



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