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  Não ouvia-se quaisquer ruído que fosse; porém, apesar de admirar em demasiado todo aquele silêncio, logo observou o mesmo ser cortado por um ruflar de asas, que anunciava a chegada de um anjo.

  - Castiel. - Cumprimentou, virando-se para o recém-chegado: seu semblante sempre indiferente.

  - Como vai, Morte? - Saudou-o respeitosamente, com uma leve reverência. Sem que o outro nada dissesse, prosseguiu - Preciso de um favor.

  - Imaginei que sim: só vêm até mim aqueles que necessitam de algo; não costumo receber visitas. - Concluiu de um modo extremamente seco - O que desejam desta vez? - Indagou ciente de que o assunto tinha a ver com um loiro que lhe lembrava (e muito!) o jovem e astuto Sísifo: Dean Winchester.

  - Creio que já seja do vosso conhecimento que meu irmão, Lucífer, está de volta...

  - Sim, sim. - Interrompeu-o num tom frio - Seria impossível não perceber a presença do Diabo. No entanto, o que me intriga é: em que posso lhes ser útil? - Uma de suas sobrancelhas levemente arqueada. O anjo mirava-o sem emoção enquanto escolhia suas palavras:

- Bem, estou certo de que Deus não irá interferir, por isso, está tudo por nossa conta: gostaria de saber se há algum outro modo, que seja do vosso conhecimento, para derrotá-lo de uma vez por todas! - Explicou-lhe as circunstâncias nas quais encontravam-se.

  - Ora, vocês já possuem o meio: a espada de seu irmão, Miguel, é a única arma capaz de deter Satanás. - Disse calmamente. Porém, a resposta não agradou Castiel que, frustrado, retorquiu:

  - Aparentemente não, já que como todos pudemos ver, não funcionou da última vez que tentamos... - Não pôde terminar, pois o outro cortou-lhe bruscamente.

  - Isso porque estava sob o poder de Dean Winchester! - Falou denotando certa irritação.

  - Ele é o receptáculo original... - Voltou a dizer, apenas para ser novamente interrompido por uma Morte irada em demasiado com aquela afronta. 

  - Apenas Miguel deveria manusear a espada. - Embora continuasse sereno, existia qualquer coisa em sua voz que fazia com que o anjo entendesse que o mais prudente fosse calar-se e escutar, sem contrariá-lo: afinal, fora ele quem procurara-o para pedir auxílio - Mas é óbvio que não sabem disso, já que não respeitam a ordem das coisas e insistem em desafiar tudo que vai além de sua tão limitada compreensão. - Terminou com desdém.

  - Quer dizer que apenas Miguel será capaz de vencê-lo de uma vez por todas?! - Perguntou, ignorando o último comentário.

  - Será que não notou que é isso que TODOS vêm lhes tentando dizer?! Não podem simplesmente mudar as coisas porque assim o querem! - Seu tom demonstrava indignação. Castiel achou que o melhor fosse partir naquele mesmo instante.

  - Obrigado. - Agradeceu-lhe pouco antes de desaparecer, deixando o último dos cavaleiros que restara uma vez mais sozinho. Agora só podia escutar o barulho do vento batendo contra as poucas árvores que existiam ali, além de seus próprios pensamentos. Resolveu caminhar um pouco no mundo dos mortais, enquanto divagava. “Se eu acreditasse nessa bobagem de ‘sorte’, diria que é disso que irão precisar.” 

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  Miguel notou o quão Dean parecia apreensivo quando voltou à fortaleza, onde reuniam-se agora os soldados que compunham o exército que atacaria Lucífer. Andou até o mesmo, fitando-o com curiosidade.

  - Algum problema? - Indagou-lhe. O Winchester balançou a cabeça numa negativa - E acaso existe algo que eu possa fazer por você?

  - Apenas não suma. - Suspirou: havia qualquer coisa de preocupado em seu ar.

  - Poderia usar a sua espada para deter Lucífer de uma vez por todas. - Quem respondeu-lhe foi Castiel, que surgiu nesse exato instante. Os outros dois encararam-no num misto de perplexidade e confusão - Falei com Morte; a espada não funcionou antes porque não foi você quem a empunhou, Miguel. - Explicou.

  - Humpft, e olha que ele bem que tentou; se eu não fosse tão teimoso... - O loiro riu baixo, constatando o fato com pouco de melancolia e arrependimento.

  - Não pretendo falhar desta vez. - Anunciou de uma forma que exalava convicção. Tudo o que restava era torcer para que ele tivesse razão - Preciso fazer isso... sozinho.

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  - Joshua? - Chamou-o meio hesitante.

  - Gabriel! - Sorriu para o irmão, que parecia impaciente.

  - Olha só, Miguel mandou perguntar se sabe onde encontrar o Papai. - Disse num fôlego só. Não tinha tempo para delongas.

  - Não... - Concluiu como que refletindo - Ainda não o vi esta manhã. - Respondeu no tom sereno com o qual todos já estavam habituados, sem nunca deixar de sorrir.

  - É, é, eu sei: ontem Miguel passou a noite toda procurando Ele! - Continuou frustrado, coisa que não passou despercebida pelo outro anjo.

  - Algum problema? - Questionou-lhe intrigado.

  - Lucífer. - Disse simplesmente (para meio entendedor, basta meia palavra).

  - Oh, entendo... - Divagou por um momento - Mas creio que tudo terminará bem. - “Meu irmão e seu jeito otimista!” O outro pensou, enquanto concordava meneando a cabeça.

  - Preciso ir. Avisar Miguel que Papai sumiu outra vez... - Bufou irritado - Te vejo depois. - Despediu-se. “Se eu sobreviver...” Joshua riu. Talvez compreender Deus não fosse realmente tão fácil; mas isso são coisas de jardineiro: apenas outro que exerça esta mesma função poderia saber do que se trata.

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  Corria embrenhando-se em meio a mata, cuja penumbra que a envolvia dava-lhe um aspecto assustador. Alice ofegava, tentando recompor-se, no entanto, sem parar por um minuto sequer. Só permitiu-se cair de joelhos quando julgou ter se distanciado o bastante.

  - Do que nós estamos brincando? - A figura sinistra do Diabo surgiu ao seu lado, fazendo-a conter um gemido perplexo.

  - Me deixa em paz! - Berrou, colocando-se em pé num único salto, se afastando de costas, encarando-o com repulsa e temor.

  - Não. - Falou de maneira seca, aparecendo atrás de si, prendendo-a contra um dos troncos de árvore que os cercavam - Vamos combinar uma coisa: eu vou te soltar, e você não vai mais fugir, ‘tá bem assim?

  - NÃO! - Gritou com todas as suas forças, enquanto debatia-se incessantemente - Me larga!

  - Hugh, mas você é mesmo obstinada! - Bufou com cólera - Eu aqui tentando ser paciente e você agindo como uma menininha?!

  - Isso é porque SOU UMA GAROTINHA INDEFESA NAS MÃOS DE UM DOIDO FEITO VOCÊ! - As palavras da morena o deixaram perplexo: tamanha frieza vinda logo dela perturbava-o. Só o que desejava era esclarecer de uma vez por todas os seus motivos e reconciliar-se com a namorada (tecnicamente, esposa).

  - Alice, por favor, não faz isso comigo... Estou me sentindo péssimo. - Suspirou, voltando o olhar para os seus próprios pés.

  - Devia mesmo. - Respondeu-o indiferente - Quantas famílias já destruiu hoje? Quantas vidas tirou? Miguel tem razão: você é um monstro...

  - CALA A BOCA! - Bradou erguendo o punho de forma ameaçadora. Alice cerrou os olhos, esperando um tapa que não veio - Me desculpa... Eu não queria... Na verdade, não ia... machucar você: porque te amo. - Usava um tom terno. Acariciava gentilmente o rosto da jovem, que derramava lágrimas silenciosas - Agora eu te fiz chorar... Sinto muito. - Alice nada disse: apenas deixou-se envolver num abraço carinhoso, enterrando o rosto no peito de Lucífer, que correspondia apertando-a contra si.

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  Samuel andava de um lado para o outro nervoso. A ansiedade lhe consumia por completo, e tinha medo do que viria a acontecer caso demorassem a partir; em verdade, ele temia que Alice perdoasse o Diabo, apesar de tudo, o que não seria tão difícil (conhecendo o poder de persuasão deste), no entanto, desde a última noite, descobrira-se ainda sendo apaixonado pela morena. Não gostaria de perdê-la, principalmente, se tratando dele...

  - Bem, acho que já podemos ir. - Anunciou Dean, para satisfação do caçula, que esperava inquieto. Miguel e Raphael conversavam mais adiante com um Gabriel deliberadamente IRRITADO, enquanto Crowley e Megan cochichavam qualquer coisa a respeito do mais novo “guia”. Castiel parecia agradecer Tessa por algo, e Baldur permanecia mudo num canto.

  - Ótimo. - Murmurou indo a frente, juntando-se a Alastair.

  - Confia em mim? - O demônio lhe questionou, sua face inexpressiva.

  - Se puder me levar até a Alice, segui-lo-ia até o Inferno. - Respondeu muito seguro, mirando-o frio.

  - Está bem então: estamos prontos. - O tom do loiro soava desafiador.

  - Não precisam fazer isso. - Miguel aproximou-se, tomando a palavra - Como já disse, é meu dever...

  - Nós vamos com você. - Sam encarou o irmão que assentiu positivamente, concordando. O arcanjo estava ciente de que ambos estavam determinados, e tentar convencê-los a ficar seria impossível - Certo; mas não esqueçam: sem interferências.

  - Claro: Sammy e eu iremos apenas na qualidade de meros observadores. - O Winchester mais velho sorria ironicamente.

  - Bom. - Disse indiferente.

  - Estão certos disto? - Tessa referia-se a opção de Dean de deixar os soldados, e seguir com Alastair a sós. A ceifadora sentia que ainda poderia ser necessária.

  - Já fizemos tudo o que podíamos: Miguel precisa fazer isso sozinho. - Interveio Castiel. Fora a moça quem lhe dissera aonde poderia encontrar a Morte. Depois de uma breve conversa com o mesmo, dera-se conta disto. A morena meneou a cabeça numa afirmativa, compreendendo.

  - Ajudem a Alice. - Megan falava exclusivamente com Sammy, como que numa súplica, ao que o moreno fez um gesto positivo.

  - Não desistiremos: ainda iremos tentar falar com o nosso Pai. - Balthazar virou-se para Gabriel que continuava emburrado, desferindo-lhe uns leves tapinhas no ombro direito.

  - Boa sorte; e tentem não morrer! - Despediu-se Crowley, que conservava o mesmo humor sádico.

  - Valeu, pessoal. - O loiro acenou rindo. Um instante mais tarde encontravam-se numa densa floresta. Sam rangeu os dentes quando notou, mais adiante, o abraço trocado entre Lucífer e Alice. Dean e Miguel trocaram olhares aturdidos. Alastair chamou a atenção do casal com uma tosse forçada. 

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