Aquela foi uma noite que eu poderia descrever como... surpreendente?!

Não demorou muito e Quinn já havia adormecido, enquanto eu não tinha um pingo de sono. Queria ficar ali pra sempre sentindo o calor dela, o cheiro dela, escutando o som da sua respiração. Era como se tudo que eu fiz na minha vida inteira fosse apenas para me levar aquele momento, aquele lugar.

Quinn já estava num sono bem pesado quando me levantei da cama o mais devagar possível para não acordá-la. Já era por volta das 4 da manha quando desci as escadas da mansão Fabray e me deparei com o tamanho da bagunça. Copos por todos os lados, comida jogada no chão, bolas de papel higiênico no telhado, e a piscina era o pior cenário, com a água praticamente marrom e um numero exagerado de peças de roupa.

— Okay, isso vai dar muito trabalho.

Encontrei umas sacolas na dispensa e comecei a catar os infinitos copos espalhados pela casa. Não conseguia entender a lógico, como que 100 pessoas conseguiam usar 500 copos? O que elas tem, nojo da própria boca?Limpei os restos de comida espalhados por toda sala, e liguei o filtro da piscina enquanto tirava as peças de roupa, muitas delas intimidas, o que me deu certo nojo de um dia entrar naquela piscina.

Quando acabei, a mansão estava perfeita, e já eram quase 9 horas. Peguei um remédio e um copo de água na cozinha e subi ate o quarto onde Quinn ainda dormia como um anjo. Deitei-me ao lado dela e por um tempo fiquei ali, apenas a observando, ate que tomei coragem e me ajeitei ao corpo dela, passando a mão pela sua cintura e aconchegando minha cabeça na curvinha do seu pescoço numa espécie de conchinha desajustada. Não sei se por impulso a mão de Quinn subiu e segurou a minha que estava no seu abdômen, apertou e virou-se na cama, ficando de frente pra mim e bem devagar abriu os olhos:

— Ei – Fiz um carinho no rosto dela. – Bom Dia. – Quinn esfregava os olhos como uma criança.

—Eu morri? – ela colocou as mãos na cabeça – Não, eu não morri senão essa dor de cabeça não iria existir.

— Calma, não faz tanto drama, é só uma ressaca. Toma esse remédio e daqui a pouco você vai estar melhor. – Quinn pegou o remédio e o copo de água que ofereci a ela, bebeu e colocou as mãos na cabeça de novo.

— Droga, minha casa esta uma bagunça, meus pais já devem estar chegando, eles vão me matar, eu preciso arrumar tudo. –Quinn ameaçou se levantar da cama, mas eu a segurei.

—Ei, relaxa, já arrumei tudo, ate a piscina. –Fiz cara de nojo relembrando o estado que ela estava. – Ninguém vai te matar

— Mas sabe ate que não seria ruim se eles me matassem? Pelo menos  me livraria dessa maldita dor de cabeça. –Quinn me olhou como se estivesse escolhendo as próximas palavras – Obrigada Rach, mais uma vez você cuidando de tudo. Por que você é tão boa assim comigo?

— Você já sabe o porquê Quinn. – e pareceu gostar de saber.

— Sei? – Quinn tinha uma expressão confusa

— Sim, falamos sobre isso ontem.

— Falamos? Caramba eu não me lembro de nada que aconteceu ontem. - Só pode ser brincadeira

— Como assim você não se lembra de nada?

— Sei la, só lembro de algumas coisas.

— E o que exatamente você se lembra?

—Bom eu me lembro da minha casa estar lotado de pessoas que eu nunca vi na vida, lembro de ter te apresentado o Blaine, lembro que o Finn apareceu nos discutimos e eu comecei a beber e...

— Espera, o Finn esteve aqui? – que cara de pau – O que ele queria?

— Disse que estava arrependido, que me amava demais e faria de tudo pra me conseguir de volta, mas ai eu dispensei ele rápido e comecei a ficar com o Puck. É isso também me lembro de ficar com o Puck e de como ele...

— Ta bom Quinn isso não vem ao caso. Depois que o Puck foi embora do que você se lembra? – ela parou pra pensar, olhou nos meus olhos por alguns segundos e disse:

— Nada! Não me lembro de mais nada.

— Você não se lembra como veio parar no seu quarto? Não lembra porque eu fiquei a noite inteira aqui? – Passei as mãos pelo seu cabelo e segurei seu rosto forçando a me encarar. – Você não lembra o que aconteceu aqui, nesse quarto? – achei que iria chorar.

— Não, nada. – Não conseguia acreditar. – Porque, aconteceu algo que eu deveria me lembrar? – Quinn mordeu o lábio e por um momento eu achei que ela estivesse brincando comigo, me provocando e resolvi tirar a prova.

—Sim, tem algo que você deveria se lembrar, algo que eu nunca vou esquecer. Quinn ontem à noite você me be....

—O que esta acontecendo aqui? – Quinn e eu olhamos de imediato para a porta onde Russel Fabray estava, com uma cara de puro ódio, tentando entender o que uma garota fazia deitada na cama com sua filha. –Quinn quem é essa?

No segundo seguinte Quinn e eu já estávamos em pé ao lado da cama, e era nítido que ela iria ter um ataque.

— Pa pa pai essa é a aaa a Ra rach.- parecia que Quinn havia esquecido como pronunciar palavras. –Quer dizer Rachel Berry.

— E o que ela esta fazendo aqui? – quanto mais Russel se aproximava e fazia perguntas mais Quinn fica nervosa.

—Ela é, não ela veio, ela, a Rach – era minha hora de salvar Quinn, de novo.

— Me desculpe Sr.Fabray. Acontece que eu tive uma pequena discussão com meus pais, fiquei realmente chateada e não queria nem dormir em casa, ia ficar na sala do Mr.Shues na escola, mas a Quinn me viu e ficou com pena de mim, me convidou para passar a noite na sua casa, e como sabia que meus pais não me procurariam aqui eu aceitei, espero não ter causado problemas para Quinn. – ela agora tinha parecia mais tranquila e eu não sabia como tinha conseguido inventar uma mentira tão rápida.

— Não causou problemas, tenho tanto orgulho da minha pequena sempre ajudando os desencaminhados – Russel deu um beijo na testa de Quinn e se virou para mim. – Sabe garota se eu tivesse pais como os seus também fugiria de casa. – eu não estava escutando aquilo.

— Eu amo meus pais Sr Fabray. – não tenho duvida que eles são melhores que você.

— Claro que ama. – Russel tinha uma expressão um tanto sarcástica. – Quinn, na próxima vez, você deixa ela no quarto dos empregados okay.- Deu outro beijo em Quinn e saiu do quarto.

—Rach, eu sinto muito pelo que ele disse, eu devia ter feito alguma coisa para ele parar e ...

— Sim Quinn – disse com a voz cheia de raiva. –Você devia. Alias tem muitas coisas que você deveria ter feito, ou não, mas quando se trata de mim, você simplesmente esquece. - peguei minhas coisas e fui caminhando em direção a saída do quarto.

—Rach espera, não vai embora. – Quinn segurou meu braço.

— Não quero infectar sua casa sagrada com minha impureza pegadora. – puxei meu braço - Só não se esquece que ultimamente a única coisa que tenho feito é limpar a sua bagunça. Adeus Quinn.

Sai do quarto, desci as escadas e quando cheguei à porta pronta para ir embora, Russel apareceu de novo.

— Já vai tão cedo? Já sei não consegue ficar muito tempo numa casa de Deus sem se sentir uma pecadora não é? – Russel continuava com aquele sorriso irônico que eu teria o prazer de tirá-lo da sua cara

—Talvez eu realmente seja uma pecadora Sr Fabray, mas não acho que essa seja uma “casa de Deus”, vendo o nível das pessoas que moram aqui. –Russel engoliu aquele sorriso amarelo. – Em todo caso, fica com Deus.

Abri a porta e fui embora. Estava com muita raiva, mas ainda sim quem tinha o sorriso irônico agora?

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Cheguei em casa e corri ate a cozinha onde meus pais estavam tomando o café da manha e os abracei como nunca havia feito antes.

—Filha esta tudo bem, aconteceu alguma coisa? – pai Leroy perguntou enquanto limpava as lagrimas do meu rosto.

— Não pai. Não aconteceu nada. Eu só quero que saibam que eu amo muito vocês. Obrigado por serem os melhores pais do mundo. – minha relação com meus pais sempre foi boa, o único problema é que eles queriam um futuro diferente pra mim, um futuro não tão incerto quanto o que eu queria, mas nunca deixaram de estar presentes e de tentar me dar o melhor e foi preciso Russel Fabray dizer meio saco de asneiras pra que eu visse isso.

—Nos também te amamos filha. Você é tudo em nossas vidas, nunca pense diferente disso okay. – pai Hiran me abraçou forte – Vai tomar café com a gente?

— Eu gostaria muito, mas preciso sair um pouco, dar uma volta, esfriar a cabeça. – e como eu precisava. Mesmo estando cansada por não ter dormido na noite passada, com a cabeça cheia, não conseguiria dormir de novo.

— Ok, então faça isso. Depois vamos aproveitar o final de semana e ver alguns filmes juntos, topa?

—Claro que sim, vou adorar passar um tempo com meus pais. – Dei mais um abraço neles e subi pro meu quarto. Troquei de roupa, peguei meu Ipod e fui correndo ate o parque.

Chegando la comecei a caminhar em volta do lago tentando entender o que havia acontecido naquela manha. Como assim a Quinn não se lembrava de ter me beijado? De ter me pedido pra passar a noite com ela? E se eu não tivesse consciência, sabe-se la o que iria acontecer? Como alguém como ela podia ter um pai tão estúpido como Russel?

Então resolvi não pensar naquilo ou em mais nada. Aumentei o volume da musica ate não conseguir escutar qualquer outra coisa e comecei a correr e correr, mas não parecia o suficiente então eu continuei correndo mais e mais rápido e subitamente fechei os olhos, ate que senti uma dor imensa por todo meu corpo. Percebi que no meu ato de extrema inteligencia de correr com os olhos fechados, acabei saindo do caminho e dei de cara com uma árvore. Cai no chão colocando as mãos no meu rosto, não sei se por dor ou por vergonha, quando em meio a alguns risos e comentários do tipo “será que ela se machucou”, escutei uma voz conhecida:

— Você nunca olha por onde anda? – disse parada na minha frente esticando a mão para mim.

—Alex? – peguei a mão dela e levantei.

—Você se lembra de mim? Isso é um bom sinal.

—O que você esta fazendo aqui? – minha cabeça doía de mais para eu reparar nas roupas dela e não fazer uma pergunta tão obvia.

—Caminhando, com os olhos abertos – mesmo com dor pude notar o tom sarcástico na voz dela – e o que você estava tentando fazer, derrubar a árvore com a cabeça?

—Tentando fugir dos meus pensamentos.

—Posso dizer que você esta fazendo isso brilhantemente – ela riu, eu não – Desculpa. Vem, vamos ver se algum lugar aqui tem gelo para colocar nesse galo imenso nascendo na sua testa.

Caminhamos ate um quiosque ali perto e o dono nos arrumou um saco com algumas pedras. Sentei num banco e deitei a cabeça para trás, Alex sentou do meu lado e segurou o gelo na minha testa.

— Quer falar sobre esses pensamentos dos quais estava tentando fugir?

— Não acho que nos conhecemos o suficiente para isso. – na verdade era a 2° vez que a via.

— Você já me viu pelada. Acho que me conhece melhor que muitas pessoas. – é aquilo também era verdade

—Tudo bem então. Eu estou apaixonada por alguém que bebeu um pouco ontem e me beijou,e hoje acordou dizendo que não se lembra disso.

— Ela te beijou, disse que simplesmente esqueceu e você acreditou mesmo nisso? Acho que você devia procurá-la e saber o que esta acontecendo. – acho que essa historia de gaydar é verdadeira.

— Ela? Procurá-la? O que te faz pensar que é uma garota?

— Ela, eu quis dizer a pessoa. – mancada, por que não fiquei calada?

— Haaaa.

—Mas agora eu realmente acho que seja uma garota. Me conta, quem é a misteriosa?

—Promete não contar pro Finn? – não consigo imaginar o tamanho da confusão caso ele descobrisse.

— O que que o Finn te a ver com...- Alex ligo os pontos muito rápido- o meu Deus, espera,é a ex do Finn? Como ela chama mesmo?

— Quinn.

—Isso Quinn Fabray. Sabe que eu sempre desconfiei dela.

—Sério? E de mim você desconfiava?

—Você eu tinha certeza. – será que eu estava começando a ficar transparente demais? – Por que você acha que eu te cantei aquele dia na cozinha? – dei um empurrãozinho no braço dela.

 –Ta, mas qual a sua conclusão sobre tudo isso?

— Ela te disse se lembrava de alguma coisa?

— Tudo, menos a parte que ela me beijou e pediu pra passar a noite com ela.

—Oookay, minha conclusão é: Quinn esta mentindo pra você. Provavelmente ela esta assustada com o que aconteceu ou não quer assumiu que gostou de ter te beijado.

— Serio?

— Berry, eu tenho 20 anos, já fiquei com umas 15 garotas “héteros” que no dia seguinte não se lembravam de mim, e me ligaram uma semana depois. Ela só esta assustada, afinal ela acabou de sair de um namoro que acabou da pior maneira e de repente se vê tendo sentimentos por uma garota, é muito coisa pra lidar.

—Você acha que ela tem sentimentos por mim?

—Ela não tinha que te beijar se não quisesse não é? – aquilo fazia sentido. – Da um tempo pra ela entender o que esta acontecendo, entender o que ela esta sentindo e quando ela tiver preparada, ela vai te procurar.

—É acho que vou fazer isso. –Alex levantou do banco e me ofereceu as mãos pra levantar também

— Só pra você saber, se fosse eu que te beijasse, com certeza não iria esquecer. - aquilo foi uma cantada? - E se um dia você cansar de correr atrás da loirinha, me informe sobre isso. – Alex piscou pra mim e começou a caminhar na direção oposta.

— Mas você disse que eu não sou seu tipo. – falei enquanto ela ainda caminhava pra longe, mas ela escutou e simplesmente respondeu:

—Não, não é mesmo Berry. – virou e continuou caminhando e eu voltei para casa um pouco menos preocupada.

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Chegando em casa, fui ate a cozinha pegar uma garrafinha de água e uma bolsa de gelo por que minha cabeça ainda doía muito. Encontrei na mesa um bilhete dos meus pais dizendo “Fomos ate a locadora, não vamos demorar”.

Subi pro meu quarto segurando a bolsa de gelo na minha testa e quando entrei, tomei um susto ao ver Quinn sentada na minha cama brincando com meu violão.

— Quinn, o que você esta fazendo aqui? – será que eu bati a cabeça tão forte assim?

— Rach eu preciso conversa com você, eu preciso que você me escute, com atenção. Quinn se levantou da cama, pegou minha mão, fez um sinal pra me sentar e começou a tocar o violão.