POV Ares

                Eu estava irritado, muito irritado. A minha filhinha não ia namorar um moleque filho de um deus qualquer que, ainda por cima, estava do lado Cronos. O que ela estava pensando? Quando ela tinha ficado louca?

                É claro que eu estava sabendo, já a um tempo, de um certo envolvimento de Clarisse e aquele garoto maluco. Ah sim, ele ainda era maluco! Mas eu não achava que essa grande palhaçada iria continuar! Eu achava que era só carência ou outra coisa qualquer, talvez por causa do labirinto e tudo mais, mas eu achava que isso acabar assim que eles saíssem de lá! O que minha filha tinha na cabeça quando aceitou o pedido dele? Bom, não importa, porque ela pode ter aceitado, mas eu não deixei!        

             Ok, na verdade, eu nunca a vejo e então não tenho muito direito de interferir na relação dela, mas ela é a minha filha favorita e, mesmo que ela não saiba, eu sempre estou a vigiando e a ajudando indiretamente.  E aquele infeliz não vai tirá-la de mim e nem a por contra mim, com todas aquelas ideias “anti-deuses” dele!

                -O que? Você não pode se meter na minha vida desse jeito! Eu decido quem namoro ou deixo de namorar! Quem vai namorar sou eu e, portanto, a decisão é minha e não sua!-Clarisse gritava comigo. E não é preciso dizer que eu não gostei disso nem um pouco.

                -Clarisse! Você não pode falar assim comigo!

                -Ah! Agora você vem bancar o pai! Um pouquinho tarde, não acha?-Perguntou ela ironicamente.

                Judy apenas nos encarava, mas não estava assustada. Na verdade, ela nos olhava como se tivesse esperando por aquilo, como se soubesse que um dia aquele embate ia acontecer. Eu senti o rancor nas palavras de Clarisse e minha consciência pesou. Poucas coisas me abalavam, mas saber que eu decepcionei alguém era uma dessas coisas. Principalmente se esse alguém é a minha filha. Mas eu tentei me manter forte.

                -Não importa se é tarde, Clarisse. O que importa é que, como mesma disse, eu sou seu pai. E como seu pai, eu estou dizendo que você não vai namorar aquele menino!

                -E por que, hein? O que ele te fez?- Te roubou de mim. Eu não podia dizer o que pensava. Então fui pelo caminho mais fácil.

                -O que ele fez a mim? Não só a mim, o que fez a todos os deuses, né? –Clarisse fez uma cara irônica, desdenhando do que eu dizia. –Ele se uniu a Cronos!Ele quer destruir os deuses! Você não pensou nisso?!

                -Ele não está mais apoiando Cronos! E talvez nunca tivesse apoiado se vocês deuses fossem menos safados e não tivessem tantos filhos ao ponto de nem se lembrar de todos!

                -O que?! Clarisse La Rue, tome muito cuidado em como fala comigo! E ele até pode não estar mais apoiando Cronos, mas já apoiou e por isso, o ajudou a voltar! E não ouse falar dos deuses assim novamente! Até por que esses “safados” podem te partir em mil pedacinhos. –Eu também já estava gritando.

                -Isso foi uma ameaça?!- Ela parecia realmente chocada e eu vi, pela primeira vez, lágrimas se formando nos olhos da minha filha. Aquilo acabou comigo. Toda a raiva que eu sentia a alguns segundos, sumiu.

                -Não! Filha, não foi isso que eu quis... –Eu tentei me explicar, mas já era tarde. Clarisse estava descontrolada, as lágrimas ameaçavam cair e ela gritava numa altura que eu tinha certeza, toda aquela pequena cidade ia ouvir.

                -Eu não sou sua filha! Nunca mais me chame assim! Você não é meu pai, um pai não trataria uma filha assim! Vá embora e nunca mais apareça na minha frente! Eu não quero mais te ver! Me esqueça! Ah, e nunca, nunca mais pense que tem o mínimo direito de se meter na minha vida!

                Depois de dizer isso, ela subiu correndo as escadas, enquanto suas palavras ainda soavam, dolorosas, em meus ouvidos.

                                                                POV Clarisse La Rue

                Como ele pôde fazer isso comigo? Eu não conseguia acreditar! As lágrimas caiam livremente pelo meu rosto enquanto eu me dirigia até o meu quarto, onde eu planejava me tacar na cama e chorar até dormir, mesmo achando essa atitude mais pra uma filha de Afrodite do que de Ares. O que eu estou pensando?! Eu não sou filha dele! Ele não é meu pai! Mas, quando cheguei lá, vi que isso não seria possível. Chris estava sentado na minha cama, e rapidamente levantou a cabeça quando eu cheguei. Ele parecia muito preocupado, devia ter ouvido a conversa, já que nós gritamos como loucos. Realmente, não foi preciso explicar nada pra ele, simplesmente me joguei em seus braços e senti ele me abraçar e passar a mão por meus cabelos, tentando me acalmar. Nós ficamos assim por um tempo, até ele se afastar e dizer:

                -Meu amor, eu te amo muito, ok?-Eu assenti a cabeça, confusa, e ele continuou. – Mas, eu não quero causar problemas pra você. Eu sei o que é ter que viver sem um pai e não vou fazer você passar por isso. Se for pra você e seu pai ficaram bem, eu... eu vou embora.         

                -Não! Não, Chris, não faz isso comigo! Eu não quero te perder também! Por favor, não faça com que tudo isso tenha sido à toa! E... Eu amo você! Por favor, não me deixe!-Eu estava desesperada, já tinha perdido meu pai e ia perder Chris também? E, além disso, eu o amava, e não queria ficar sem ele!

                Ele olhou pra mim emocionado, o que me deixou um pouco constrangida, e disse, sorrindo:

                -Ok, meu amor. Não precisa se preocupar, eu não irei embora. E eu também te amo, mais que eu achava que era possível amar alguém.

                Eu sorri com sua declaração e descansei a cabeça em seu ombro, e ele me abraçou de novo. E eu percebi que nem meu pai nem ninguém iam me separar dele. Nós íamos passar por cima de tudo e de todos pra ficamos juntos.