--- Não vamos ficar aqui, querida. -Ele disse, sério. Não me fitava.

--- Vamos para onde? -Perguntei, com uma sobrancelha franzida e outra erguida.

--- Para uma de minhas casas. Que fica perto daqui. Você não achou que nós morássemos sempre neste lugar, não é? Principalmente eu. Sabe o quanto eu o repudio.

--- Ah, então vamos onde? -Perguntei, curiosa.

--- Já disse. -Ele falou. Peter parecia estar tentando me irritar. Ou, só queria fazer uma surpresa.

--- Ah, tudo bem. -Fechei a cara.

--- Não fique brava, Charllottie. -Ele sorriu. -Você vai gostar da casa. Ela fica aqui mesmo, dentro da organização.

--- Ah, tomara que eu goste. –Disse, depois com pesar, pela minha secura nas palavras.

  O silêncio voltou e, após vinte minutos de casados, nós estávamos estranhos. Acho que já começava meio tenso mesmo. 

  De repente, ele aproximou-se de meu ouvido enquanto eu olhava pela janela no lado oposto ao dele.

--- Ich Liebe Dich... -Ele sussurrou.

 Um arrepio gelado subiu pela minha espinha. Sorri. Aquele Peter...

--- Eu... me assustei. -Mal terminei de falar e o carro parou em frente a uma casa.

  Cinza, com várias árvores ao seu redor, a casa passava certo ar de abandonada. Ela não parecia suja nem nada. Só... parecia deixada. Mas era sóbria e solene. Havia um farol que se erguia ao lado da casa. Fiquei curiosa sobre o porque daquilo...

  De repente, começou a nevar. Muito pouco. Quando eu olhei para cima, um floco miúdo caiu em meu olho.

--- Ops! –Eu disse, tomando um susto.

  Peter colocou a uma mão em meu olho. Estava gelada. Abri o olho depois.

--- Está bem? –Ele perguntou.

--- Sim. –Eu disse.

--- Vamos entrar. –Ele disse, pegando a minha mão.

  Antes de entrar, ele parou em frente a casa.

  A casa tinha uma chaminé preta e era branca. Tinha duas janelas na frente, em cima, e uma pequena varanda em baixo. Era relativamente grande. Tinha uma aparência super velha, mas era bonita, não era descuidada.

--- E... então? -Ele perguntou, aflito.

--- Peter... -Continuei séria - Eu simplesmente amei esta casa. –Abracei-o.

   Nessa hora, o motorista arrancou com a limusine.

--- É... sério? -Ele perguntou.

--- É exatamente como eu sempre tinha imaginado uma casa para mim.

--- Ah... que bom. -Ele disse, colocando uma de suas mãos na cabeça. Depois, ele andou rapidamente – Vamos entrar, Lottie.

--- Ei! Você nunca me chama de Lottie. -Eu sorri.

  Achei engraçado que ele me chamasse assim. Estava tão acostumada com Charllottie...

  Nós entramos e a casa era muito linda. Na sala, havia uma lareira e o carpete era peludo. Era branco. As luzes não estavam acesas. Apenas a luz da lareira acesa iluminava a sala simplória e enigmática. Havia duas poltronas perto da lareira e umas prateleiras cheias de livros. Aquela casa, parecia uma casa de velhinhos. Era tão aconchegante e simples... não haviam coisas luxuosas demais como na organização. Acho que Peter sempre fora humilde. As paredes da sala eram cheias de palhaçinhos no rodapé. Achei aquela casa tão sinistra que fiquei meio assustada. Sempre pensei que Peter era bem normal e que seus sofrimentos eram sempre apagados de sua memória por que ele não queria ter de se suicidar. Mas ele deixou tudo naquela sala.

  Nas prateleiras, havia brinquedos. Supus que fossem de quando ele era uma criança frustrada por não poder brincar com outras.

--- Você sempre morou aqui nesta casa? - Perguntei.

--- Sim. Bom, desde a adolescência. Eu tinha dinheiro para comprar o que desejasse. Mas eu quis um lugar para me ver longe daquelas pessoas. Aqui é onde eu faço tudo desde a adolescência. Eu só fiquei lá durante o tempo em que estávamos juntos, porque queria te mostrar esta casa só agora. -Ele sorriu. - Ela fica aqui dentro da propriedade deles para que eu não fuja. Ou para que eu não fugisse quando era mais novo.

--- Ah... Peter, você deve ter sido tão sozinho. -Eu disse, meio triste por ele.

--- Não quero que fiquei triste por mim, meu amor. Ficar sozinho me permitiu saber o quanto eu precisava de alguém sorrindo ao meu lado. Além disso, eu também gostava de ficar sozinho. É reconfortante quase sempre quando não se tem vontade de falar a ninguém de seu sofrimento.
--- É, estou sorrindo ao seu lado agora. -Eu estava sorrindo, sinceramente. O que era bem difícil de se ver a menos que alguém fosse sarcástico perto de mim.

 A casa, pessoas. *---------------------*

Achei até o guarda-chuva *-------------------------------*