Olhando para a lareira diria que estávamos num ambiente caloroso e confortante, mas Sam fez-me o favor de chegar subitamente apagando o fogo que estava me deixando calma esbarrando no balde com água o qual a faxineira da associação estava a limpar o chão.

--- Ei! Sam, mais cuidado! Está me deixando nervosa. -Resmunguei.

--- Ora, Lottie, sabe muito bem que vim te acordar. Você sabe o que veio fazer aqui, não sabe? -Sam me olhou de olhos semi-cerrados.

--- Não, não sei o que vim fazer aqui, para falar a verdade. -Disse.

--- Você veio falar com Peter - Ela disse pausadamente querendo me coagir. -Ou melhor, você veio fazer algo.

--- Sam, seja mais discreta... -Eu disse, repreendendo-a.

--- Não. Você tem que se decidir logo.

   Aquilo estava me deixando louca. Fazia exatamente duas horas que eu estava naquela saleta que dava acesso aos corredores. Não conseguia me decidir sobre o que eu realmente ia fazer. Não. Eu não conseguia saber como eu ia dizer tudo. Amo Peter, mas não sei se é o mesmo tipo de amor que ele nutre por mim. Muito provavelmente não era o mesmo tipo de amor. Tudo o que eu menos queria agora era magoá-lo. Isso seria desprezível. Que tipo de monstro seria eu? Estava disposta a sacrificar o amor que ele tanto lutou para criar em mim. Estava mesmo disposta a ficar longe dele, porele. Ele tinha feito sua escolha. Que agora também era a minha. Ele queria amenizar seu sofrimento e o meu. E eu estava aceitando esta decisão. Eu nunca conseguiria esquecer-se de quem me tirou do fundo daquela vala. Eu iria realmente me sacrificar por ele. Como ele estava fazendo agora. Ele, porém, ia sofrer dos dois jeitos. Com ou sem mim. E que sofrimento seria o meu comparado ao dele? Eu sofreria por ficar longe dele e por amá-lo. Ele, sofreria por me fazer sofrer, por me amar e não ser correspondido, de certa forma e ainda por ficar longe de mim.

 Levantei então de meu sono pensante em que sempre me envolvia quando havia algo a me perturbar. Levantei a cadeira e olhei para Sam decida a ir realmente para o quarto onde Peter estava. Olhei para o arrebatador “V” que havia escrito num dos corredores.

  Entrei no corredor. Andei do quarto um até chegar ao trezentos e nove.

--- É aqui, Sam. -Eu disse, apertando meu vestido.

--- Esse corredor me dá arrepios, Lottie. -Sam murmurou.

--- Fique... aqui, Sam. -Eu disse.

--- Sim, com prazer. -Sam me olhou assustada. Realmente, o corredor era vazio e branco. Dava uma sensação ruim.

  Quando cheguei perto da porta, ela se abriu automaticamente para mim. Tinha solicitado permissão de entrada para Peter antes mesmo de entrar na saleta que dava para os corredores macabros.

   Olhei para Peter que estava deitado na cama fitando o teto parecendo absorto. Cheguei mais perto tentando entender o que estava acontecendo com ele. Seu rosto estava cinza como nuvens de fumaça em um céu poluído. Seus olhos estavam arroxeados ao redor e ele tremia um pouco. Fiquei apavorada. Não costumava ter sangue quente. Mas o meu agora estava fervendo. 

--- Peter! –Gritei.

  Peguei-o levemente e coloquei-o sobre o meu peito dando batidas leves em seu rosto tentado reanimá-lo, mas não houve resposta. Peguei a bolsa muito rapidamente e liguei para Sam, desesperada.

--- Sam! Chame um médico, a emergência ou qualquer coisa que esteja ai que saiba algo sobre medicina! –Gritei ao telefone.

--- O quê? -Sam murmurou.
--- Rápido! -Gritei e ela entendeu a urgência.

  Sam chamou rapidamente alguém para levá-lo para a emergência.
Fiquei olhando Peter ir na maca, sem conseguir pensar.