Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 3
Cap. 3: Peça.




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Quando cheguei a casa naquela noite, minha cabeça doía.

Joe me atormentara pelo resto da viagem até em casa dizendo que não queria me ver nunca mais perto daquele homem. Contara-me que naquele fatídico dia em que a mulher loira desacatara Sam, foi o mesmo dia em que Peter Uric havia chegado à sua classe.

Não sabia o motivo, mas me perturbava de um modo estranho a imagem do homem. Ficara tentando tirá-la de minha cabeça por um bom tempo. Porém aquele rosto simpaticamente triste jamais me saía dos pensamentos cansados.

A noite foi longa. A brisa gelava-me e os pensamentos mal me deixavam descansar a mente. Acordei atordoada para a universidade no dia seguinte.

–-- Olá, Bridget, olá, mãe. –Disse, ainda bastante sonolenta.

Tinha algo naquela sensação que não me era familiar...

–-- O que aconteceu com você, Challottie? –Perguntou minha mãe, com um semblante estupefato que não entendi.

Mas deveria, perfeitamente, ter entendido.

–-- Como assim? –Disse, enfiando alguma comida pela minha boca, arrumando o cabelo.

Bridget me olhou com aquele seu velho olhar sarcástico que se igualava, cabalmente, principalmente por suas características de gêmea, ao meu.

Minha mãe apenas arregalou os olhos.

–-- Acaso se esqueceu de que acorda, toma um banho de loja, perfumaria e etc e chega sempre à mesa às seis e meia da manhã para tomar café, já perfeitamente pronta, desde a quinta série? –Disse, olhando para a minha camisola, modos desleixados, cabelos desgrenhados.

–-- Oh meu Deus! –Disse. –Eu... Eu nem sequer me olhei no espelho. Ou olhei o relógio...

–-- O que houve? –Perguntou-me ela.

–-- Adeus! –Disse, indo até o quarto.

Fui até o banheiro. Tirei a camisola e liguei o chuveiro, na banheira demoraria bem mais.

Tomei um banho rápido. Vesti-me com um vestido preto estranho que encontrei no fundo das roupas e o all star vermelho de sempre. Peguei minhas coisas que por sorte, pelo menos elas, eu tinha arrumado no dia anterior.

Sai depressa para tomar o café.

Sentei-me à mesa.

As duas riram, devagar, como ratinhas.

–-- Ora, mãe, até parece que nunca me atrasei.

–-- Já sim, querida... Mas nunca chegou de camisola, cabelos assanhados e cara de quem tomou um porre no dia anterior. Isso nunca.

–-- Há há. –Disse, revirando os olhos. –Coma suas torradas.

–-- Ok ok. –Disse ela, ainda sorrindo.

Ver que o café da manhã não tinha sido sem ela, ou no silêncio que Bridget e eu fazíamos quando ela não estava, como sempre, foi interessante.

Até cogitei por sete segundos a hipótese de tentar fingir me atrasar mais vezes.

–-- Adeus.

–-- Até logo, Lottie. –Disse ela, me dando um beijo no rosto.

–-- Até mais, Bridget. –Disse, enquanto Bridget mastigava numa lentidão imensa suas panquecas.

Ela balbuciou algo...

x.x

Chegando à universidade tentei não estragar o resto de meus robóticos planos do dia-dia. Porém como eram tão robóticos acabaram por ser tão desajeitadas as próximas horas quanto as anteriores. Ser desajeitada estava nos planos robóticos do meu subconsciente naquele dia.

Tão desajeitados que vi o cartaz que para mim era tão invisível quanto fútil.

Isso porque Joe estar no grupo de teatro. Ele era algo que se estivesse nos cartazes não seria invisível aos meus olhos. E não foi.

Ao avistá-lo, fiquei um tanto pensativa como sempre. Olhava para ele e sentia que ele não era como eu. Tinha algo que parecia correr em seu sangue que o tornava distinto. Um ar bélico. Artisticamente perigoso.

–-- Joe, ei. –Disse, sussurrante como era.

–-- Ei, Lottie! –Disse ele, entusiasmado.

Joe puxou minha mão e me colou a ele. Franzi os lábios e fechei os olhos num gesto de reação. Parecia como um dente de leão. Como se qualquer sopro fizesse um estrago. Qualquer coisa espalhasse-me pelo ar. Não era dada a arroubos. Estes se projetavam mais para dentro. Ou para fora quando estava completamente sozinha.

–-- Joe... Você vai fazer uma peça? –Perguntei, agora um pouco interessada.

Ele parou e me olhou. Pensei de repente que ele ia me beijar ou que ia me matar, com aqueles olhos estreitos. Naquela hora quis perguntar se ele não me escondia algo. Um impulso estranho e desnecessário.

–-- Era surpresa... –Disse –Mas já que você viu... –Joe sorriu.

–-- Ah, Joe... –Disse, rindo dele. –Não precisa ficar magoado. Eu mando que tirem os avisos públicos e depois finjo que é surpresa, está bom assim? –Disse, demoniacamente.

–-- Não brinca, Lottie... –Disse ele, sorrindo.

De repente olhou-me novamente com um olhar sério. Talvez quisesse vingança.

Joe me deu um beijo rápido e voltou a sua posição.

–-- Mas você nem sabe da surpresa ainda. –Disse ele.

Joe sabia, perfeitamente, que eu odiava surpresas. Um ponto para ele.

–--Sim, eu vou participar. Mas...

–-- Mas? –Disse, olhando-o severamente.

–-- Você também vai participar! –Disse ele como se fosse algo bom.

–-- Ah não. –Disse, categórica.

–-- Vai.

–-- Porque iria?

–-- Porque será divertido.

Sorri enigmaticamente.

–-- Ops! Esqueci que a senhorita não conhece essa última palavra. –Disse ele, rindo.

–-- Olhe só, Joe... Não há nada. Mas nada mesmo... Que possa –Joe me interrompeu.

–-- Por favor, Charllottie. Quero vê-la como princesa... Só pode ser você.

–-- Conte-me mais... –disse, com um rosto desinteressado e andando pelo corredor. Ele me acompanhou.

–-- O vilão morre como imaculado. A princesa o prefere, ao príncipe. É uma história de horror, minha donzela, isso agrada você, não é?! –Joe riu sonoramente e eu de repente percebi que ele parecia um sol.

Mas não era o tipo de sol sereno da manhã de cinco. Mas o sol da manhã das dez. Reluzente, forte, cativante e imponente.

Estava quase convencida a participar. Afinal, ele estava feliz. E eu realmente, por azar, não tinha nada o que fazer naquela sexta.

–-- Não sou teatral... Você sabe bem. –Disse, com um meio sorriso quebrado.

–-- Sei que sabe mentir, Lottie. É só se esforçar. –Disse ele.

–-- Em três dias?

–-- Sim. Você não entrou para Harvard para Física com dezessete? Porque não pode virar uma reles atriz em três dias?

–-- É tão diferente... –Murmurei, revirando os olhos, pensando na hipótese seriamente pela primeira vez.

Já estávamos chegando à sala quando me sentei num banco. Ainda faltava muito para que o professor Friedrich fosse dar aulas.

–-- Isso não vai dar certo, Joe. Não tem outra pessoa para ser essa princesa? Aliás, não sobraram pessoas na turma para fazê-lo desistir dessa sua ideia absurda de colocar a aluna de botânica para ser uma atriz?!

–-- Não havia garotas. Mesmo antes de eu ter a ideia de pedir o papel para você! –ele riu, sereno.

–-- Hm, e teve aquelas, que você assassinou, também não é?

Ele apenas sorriu mais um pouco, pensativo.

Olhava atentamente o sorriso dele, quando aqueles cabelos loiros cintilantes que não saíam mais da minha vista assomaram-se no corredor, atrás de mim e de Joe que estávamos sentados.

Não eram os dele. Mas os dela. Aquela mulher de andado leve, pouco, sutil e gracioso, vinha na minha direção e de Joe, com um rosto enigmaticamente vistoso.

Quando se aproximou mais, vi em seus olhos sorrirem. Como se jamais alguém precisasse olhar para a sua boca para saber que ela estava sorrindo. Mas seu sorriso era duro. Imovelmente fincado.

–-- Charllottie Vanderwood, sim? –A moça loura me fitava minuciosamente.

–-- Sim. –Respondi, com estranheza.

Passei tanto tempo olhando para o sorriso dela e seus olhos estreitos que não notei que ele vinha de uma das vertentes do corredor, logo atrás dela.

O homem loiro. Outro enigma estético.

–-- Peter Uric, sim? –Perguntei, meio reprimida.

Pouco me intimidavam os altos. Ou os sérios. Ou até mesmo aquela mulher que me dava uma sensação estranha. Mas ele...

Ele exercia sobre mim uma estranha força. Ela era algo triste, mas algo misturado com a raiva, que lhe dava beleza, imponência. Mas ele era diferente. Era algo tão profundo e branco. Sim, branco como uma folha de papel nunca usada. Algo que não deixava transparecer o mínimo de nada. Só seu olhar nos dava algo profundamente vivo. O resto dele era calado. Branco. Limpo. Como se nada importasse a ele. Como se não tivesse sonhos. Ou esperança. Sua postura era apática. Uma retidão simples.

Algo tão assombrosamente limpo que assustava. Parecia triste. Sem vida demais. Algo que dava vontade de dissecar. De buscar sentido naquele corpo estaticamente calmo.

–-- Sim. –Ele respondeu, sorrindo um pouco.

O sorriso foi muito estranho para mim. De repente o papel branco deu lugar a rabiscos leves quase mortos de milésimos de segundos. Que foram imediatamente apagados. Como algo espontâneo num robô há tanto tempo articulado.

E ainda parecia estar rindo de mim. Da minha timidez. Mas aquilo havia acabado.

–-- Você será a princesa? –Disse ela, séria. –Também participarei da peça. Algumas pessoas estão em falta e a peça precisou de gente. Peter faz música, mas como é amigo do professor de teatro, e foi pedido a ajudar, ele me solicitou a participar.

Algo um tanto espantoso era lembrar o quão rude ela fora na primeira aula.

Além de o fato de ela estar falante me deixar nervosa. Mas a mulher parecia cada vez mais confiável, À medida que falava. Era de uma graciosidade e leveza sem tamanho.

–-- Eu e Angel precisamos ir, pois nossas aulas já estão perto de começar. –Disse ele, olhando para ela, com um olhar gentil.

Algo parecia errado. Irremediavelmente errado. Mas o que quer que fosse, o rosto em branco daquele homem sério não me deixava perceber.

–-- Foi bom vê-los. Até mais. –Disse ela, séria.

E os dois saíram, com aqueles rostos sérios. Estáticos.




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