Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 2
Cap. 2: Lindos.


Notas iniciais do capítulo

~Repostando~



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Quando saímos da universidade, eu e Joseph fomos à praia que ficava um pouco perto da minha casa.

  Eu queria há tempos ir à praia. Porque era o que eu fazia muito quando criança e que tinha ficado esquecido em meio aos livros e à escola, que eram meu mundo, depois que me tornei alguém sério demais. E minha mãe nunca tinha tempo para isso. Minha irmã gêmea era quase uma estranha. Estava sempre desdenhando oportunidades de sair daquela casa pequena e velha...

  Não que eu gostasse de sair de casa. Mas odiava ficar naquela casa sem fazer nada...

  Queria espairecer. Esquecer também o maldito rosto enigmático e estranhamente belo da mulher nova da universidade. Mesmo que não desse muito. Não haviam acontecido muitas coisas em minha vida naqueles dias. Ela andava daquelas vidas de gente fofoqueira que de tanto tédio sentia curiosidade sobre o mais simples fato...

  Sentei-me na areia, enquanto Joe já estava lá. Concordei comigo mesma em sujar meu vestido branco de véus.

--- Você está tão linda. –Disse ele.

  Corei um pouco. Joseph tinha um modo especial de dizer as coisas. Era com uma sinceridade nata e com refinada singeleza. Deixava-me um tanto desnorteada. Mas logo voltava a mim.

--- Obrigada.

--- Eu deitarei, se me permite. –Disse ele.

--- Tudo bem.

--- A quanto tempo mesmo que não vem à praia? –Perguntou-me ele.

--- Ela fica a uns cinquenta metros da minha casa e faz dois anos que não piso nela. –Disse.

  Joe e eu havíamos começado a namorar há apenas seis meses. Não nos conhecíamos tão bem, mas nos dávamos muito bem. Porque ele era quieto. Apesar de caloroso, sorridente e entusiasta, (coisas que diferiam entre eu e ele) ele era quieto.

  Olhei o horizonte, onde um sol fraco estava se pondo. Estávamos no outono e o clima era ameno.

  A brisa suave e gostosa acariciava a minha pele e levava meus cabelos compridos para longe do meu rosto.

  Olhei para ele, deitado, confortavelmente na areia. Seu rosto branco (apesar de não tão branco quanto o meu) contrastava com seus cabelos pretos, compridos. Ele tinha os olhos verdes, mais escuros que os meus. Eram pequenos e apertados. Uma boca média, levemente carnuda, delineada, bonita.

  Vê-lo ali, tirando um cochilo, era muito bom. Principalmente com aquela brisa. Senti ímpeto de beijá-lo, de repente.

  Aproximei-me do seu rosto e meus cabelos caíram um pouco sob o rosto. Beijei-o.

  x.x.x

  Cheguei a casa quase à noite, da praia. Olhei Bridget assistindo à televisão, como sempre e comendo uma daquelas suas fast foods.

  Ela assistia a um jogo de beisebol. No escuro, sozinha.

--- Bridget... A mãe fez jantar? –Perguntei.

--- A mãe não está em casa. Deve estar por ai, em alguma festa. Você sabe. –Disse ela, no escuro, só com a luz da televisão, sem me olhar no rosto. –Mas eu fiz panquecas, agorinha, caso você chegasse faminta...

  Bridget não fazia faculdade, mas trabalhava. Ela mesma tinha escolhido assim. Não tinha um emprego fixo, gostava da vida de “bicos” segundo ela me disse certa vez.

--- Obrigada.

  A vida em minha casa não era hostil. Mas não era sutil. Éramos todos meio apáticos. Ou fingíamos ser. Para não demonstrar um ao outro que o castelo de areia, falsamente construído para o exterior, nas cores do arco-íris, desmoronava feia e distorcidamente dentro de cada um.

--- Oh meu Deus! Tenho um trabalho pra fazer no laboratório! –Disse, pondo a mão na cabeça.

--- Não pode... Sei lá, deixar pra amanhã? –Perguntou-me a minha irmã, da sala.

--- Não, Bridget. –Disse, um pouco calma demais.

--- Você está calma demais pra quem precisa sair daqui às pressas.

--- Adeus! –Disse, pegando minha bolsa da universidade que nem sequer tinha guardado no quarto ainda.

--- Até logo. –Disse Bridget, sem nem olhar no meu rosto.

  Saí de casa às pressas, olhando o relógio. O trabalho era para ser entregue às oito horas da manhã seguinte e só poderia ser feito no laboratório. Era sobre a estrutura das violetas.

  Liguei para Joseph.

--- Joe, poderia me fazer um grande favor? –Perguntei, séria.

--- O que quiser. –Disse ele, com uma voz um tanto urgente. Parecia ocupado.

--- Tudo bem... Se não pu –Ele não me deixou continuar.

--- O que é, Lottie?

--- Tenho que entregar um trabalho às oito horas da manhã que só pode ser feito em laboratório. Nunca deixo as coisas para a última hora, Joe... Não sei o que deu em mim. Poderia me buscar?

--- Claro.

--- Já são nove horas da noite, estou indo para a universidade de ônibus, então, hã, você vai me buscar?

--- Espere ai, eu vou lhe deixar na universidade.

--- Não! Não se empregue nisto, Joe... Eu já dei muito-Interrompeu-me outra vez.

--- Fique ai. –Disse ele, desligando.

--- Droga.

  Fiquei sentada no banco da praça com o mesmo vestido branco um tanto encardido de areia da praia, com a bolsa com as coisas ao lado, inquieta.

  O frio da brisa mortiça e gélida passava pelo meu rosto, me inquietando cada vez mais. Olhava a rua escura e cheia de filha caídas, impaciente.

  Sentia uma coisa estranha. Como se algo pudesse me atingir em cheio, de repente.

  Um calafrio percorreu-me.

--- Lottie! –Joe acordou-me, do outro lado da rua.

  Sorri ao vê-lo. Seu sorriso, disposição e gentileza eram magníficos de forma a me deixa estonteada. Boba, até.

--- Ah, Joe, serei sempre grata.

--- Você é bem pontual. Aposto que o Friedrich deixaria o trabalho para outro dia. Ele ama você. Você é a melhor aluna dali. A mais dedicada.

--- Botânica é bem interessante.

--- Não mesmo. –Disse ele, sorrindo.

  A cada sorriso que Joseph dava, eu sentia as coisas ao meu redor como nunca mais depois da morte ter passado por mim havia sentido. Ele era tão lindo de um jeito, que sua beleza sutil e ao mesmo tempo rude deixava um ar feliz em todo o acúmulo de melancolia em mim. Seu sorriso puramente genuíno deixava seu rosto enigmático e bonito elegante, deixava-me extasiada e embaraçada. Ele percebia e ria de mim mais.

  x.x.x

  Chegando à universidade fui diretamente para a estufa onde Friedrich sempre deixava os equipamentos para mim. Eu pedia a ele, porque eu gostava de ficar ali, certas vezes, inebriada com o trabalho com as flores. Ele me dera as chaves e toda a confiança possível. Joe estava certo, ele me amava.

  Assim como eu amava as violetas dele. Não conseguira descobrir em tanto tempo o porquê de aquelas violetas da estufa me fascinarem tanto. Tinham uma vida impressionante. Eram cultivadas por ele. E ele me permitia, somente a mim, de seus alunos, ficar apreciando, examinando e venerando-as em certas noites.

  As pessoas que me inspiravam violetas eram as pessoas que eu gostava. Não eram muitas as pessoas que eu gostava. Com algumas eu acabava apenas me acostumando. Era quase assim com Sam, que era barulhenta, vívida e chata, por vezes. Mas no fundo eu gostava de como ela era a única coisa a me inspirar alguma cor na vida, quando eu era de uma frieza e ranzinze medonhas no fundamental...

  Joseph me inspirava violetas. Apesar de beirar uma rosa branca. Violetas eram algo no meio. Entre o branco entorpecido e desvanecido das rosas e lírios. E o fogo e ímpeto das rosas vermelhas. Eram o que poderia ir de cruel a enigmaticamente melancólico. Algo que para mim era bonito, interessante, admirável.

  Quanto a Joe, quanto mais eu o conhecia, parecia conhecê-lo menos. Porque ao mesmo tempo em que me parecia constante e presente ali, comigo, parecia distante, pensativo...

  Olhei a estrutura da violeta. Aquelas formas circulares com linhas curvilíneas umas sob as outras, dando forma àquilo tão diferente e bonito que meus olhos viam. Àquilo tão sutil, do tamanho real, que na verdade não passava de algo fisicamente formado por reles curvas no intrínseco.

  De repente uma flauta baixa soou em meus ouvidos. Como numa música de circo. Era doce e leve, como qualquer flauta, mas tinha um doce hipnótico, mal. Aquela melodia que parece perfurar seus ouvidos atrás de lhe incitar a coisas ruins, mas que é calma e lhe deixa extasiado.

  Soltei rapidamente o material na mesa. Nem mesmo as violetas me entreteriam mais. Aquele som no mais perfeito silêncio imaculado daquela noite de brisa gélida me deixou de um modo irritantemente inexplicável, apaixonada.

  Sentia-me traída por meus ímpetos e instintos. Como algo que a física de repente não pudesse controlar. Como se eu me deixasse levar por minhas vontade que para mim eram perfeitamente inexplicáveis naquele momento.

  O sentir estava aflorado. E a doce melodia que inspirava algo vingativo sobre mim me levava, tentada, a ir vê-la. Vingativo, pois eu, em juízo jamais deixaria as minhas anotações para ir deixar-se ser levada por coisas frívolas. Pelo menos já estava quase no fim do trabalho.

  Enganei-me, então, pensando: “Amanhã termino bem cedo só o que falta anotar. Tenho tudo na cabeça.”

  Tola bêbada por uma frivolidade.

  Não mandando em meus pés e quase com raiva, sendo esta última tirada pelo fascínio que a brisa, o momento e melodia me ofereciam, andei até onde meus ouvidos permitiam-me escutar mais sonora e forte a melodia.

  Chegando até ao centro da universidade. Onde as folhas arrastavam-se pelo chão naquela noite de outono. Olhei o chão, quando a melodia parou e fez soar a brisa e o chiar das folhas no chão.

  O tocador havia parado ao notar minha presença.

  Meu olhar subiu. Ele estava sentado à beira da fonte. Suas pernas eram compridas assim como o seus cabelos. Loiros, eram a única coisa clara nele naquele escuro. Usava jeans e uma blusa de mangas compridas, preta. Segurava a flauta transversal nas mãos esguias, como o corpo. Como a melodia havia parado, meu cérebro me perguntava o que ele fazia ali, àquela hora na universidade, sentado à beira da fonte central a tocar flauta. Era demasiado tarde, até para um homem daquela estatura estar disparatando sozinho ali.

  Ele me olhava, confuso. Deveria estar pensando o que uma moça estaria fazendo àquela hora disparatando na universidade, sozinha. Os olhos azuis, apesar de não dar para eu perceber muito bem naquela escuridão, brilhavam e me olhavam penetrantemente. Talvez porque eu também parecesse uma desgraçada aparição de uma moça já morta de vestido branco sujo, com aquela minha pele quase reluzente de tão branca e meus cabelos tão pretos e escorridos. Nessa hora quase ri, de tanto que aquilo parecia ridículo. Eu devia mesmo parecer um fantasma e ele parecia uma coisa estranha, mas bela. Ali sentado, com seus cabelos lisos desgrenhados e loiros e olhos azuis esfaqueadores.

  Depois de ter me perguntado, observei-o. Brigávamos para ver quem dizia a primeira palavra. Quando o observei de verdade, vi que era lindo. Que seus traços fortes, boca fina, queixo quadrado e olhos azuis paralíticos, levemente redondos e estreitos davam a ele características possivelmente alemãs, ou germânicas.

 Era lindo.

 Andei até ele, então. Mas olhando somente para o seu rosto. Tropecei e vi no trajeto da queda ele se projetar rapidamente em minha direção, com o rosto levemente atônito.

--- Ai! – Eu disse 

--- Você está bem? – Sua voz era baixa, mas forte.

  Olhei-o, enquanto ele me ajudava a levantar. Seus olhos novamente voltaram a me perfurar, sem intenção. Aquilo era deles, dos olhos. Parecia que por mais que ele não estivesse tentando me desmembrar em históricos e me dissecar, os olhos davam a entender.


--- Não muito. –Disse, fazendo careta e procurando desviar-me de seus olhos – Mas obrigada por me pegar antes que isso ficasse pior. –Disse olhando meu joelho.

  Magnífico. Agora o vestido branco ia ficar ensanguentado. Boa, Charllottie Vanderwood, noiva cadáver.

--- O que... Alguém como você faz aqui, a essa hora? – Ele perguntou, sorrindo.

--- E você? – Perguntei num ato de ceticismo.

  Atrevidamente, indaguei-o. Meu senso irritado e desconfiado voltou, de repente, abandonando o senso de encantamento.

  Desvencilhei-me dele e fiquei a uma distância considerada medonha por alguns. Precavida, do meu ponto de vista.

--- Nada, os músicos costumam ficar por aqui tocando à noite. Ninguém os aguenta quando tocam demais. E, a essa hora, todos vão embora. – Ele disse despreocupado. –Gosto de ficar tocando aqui nessa fonte e, quando todos vão embora, é melhor, entende? –Ele disse. Parecia escolher com cuidado as palavras.

--- Eu estou terminando um trabalho sobre botânica. Meu namorado ficou de vir aqui me buscar. –Eu disse, ainda com cuidado.

  A desconfiança ali no meio era perceptível e plausível. Ambos pareciam concordar que um tinha perfeitamente direto de desconfiar do outro.

  --- Hum... –Ele murmurou. –Já está demasiado tarde, ele não devia estar aqui? –Perguntou-me, parecendo despreocupado.

  Ele me olhava de modo estranho. Seu rosto tinha qualquer ponta de tristeza, mas não deixava que aquilo transparecesse demais.

 --- É. –Fiquei tão preocupada de repente com Joe, que esqueci de responder secamente a uma pergunta tão íntima.

  Joe! Ele de certo já devia ter ficado preocupado por eu não ter ligado para ele e com certeza já estava a caminho da universidade.

--- Lottie! Lottie, onde é que você estava? – Joe estava atônito.

  Ele já estava lá.

--- Eu... Desculpe-me Joe, eu dei uma saída da estufa... –Respondi, meio sem jeito.

  Afinal, ele tinha cumprido com o que prometeu. Eu era quem tinha saído da estufa...

--- O que aconteceu com você? – Ele disse fitando meus joelhos “quebrados”
--- Nada demais. –Disse, despreocupadamente.
--- Quem é você? Foi sua culpa? –Joe perguntou, semicerrando o olhar.

--- É claro que não, Joe... Ele... Ele me ajudou, na verdade. Teria ficado pior. –Eu disse a Joe enquanto ele ficava calmo novamente.

--- Vamos embora Lottie... Está tarde. –Joe disse, pegando em meus ombros e me virando de costas para o estranho.
--- Adeus. –O estranho disse, acenando. Achei-o impressionantemente calmo em relação a Joe.
--- Adeus. – Joseph respondeu por mim e o olhou com todo o desprezo de seus olhos semicerrados para o estranho.

--- Vamos embora, Lottie. –Disse, me arrastando.

--- Tudo bem, Joe, não precisa ficar bravo. –Eu disse, de repente.

---Sabe quem ele é? O alemão da minha turma... –Joe disse, em cochichos. –Lottie, fique longe dele, ele é... Esquisito. –Joe parecia já saber algo sobre ele e a palavra que ele queria dizer, não era esquisito.  Eu tinha certeza. Pelos seus olhos precavidos, era algo como perigoso.

  O acesso de raiva de Joe era um tanto estranho. Principalmente porque ele sempre se mostrara calmo...

  Olhei para o estranho, virando a cabeça com dificuldade, sendo arrastada.

--- Qual seu nome?! –Quase gritei de longe.
--- Peter Uric!– Ele respondeu, se virando. Ele já estava preparado para ir embora. E dando um meio sorriso, respondeu.

  A imagem de ambos me veio a cabeça. Eram tão lindos que causavam espanto.



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