Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 16
Cap. 16: Na rua com Peter.




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--- Não. Eu não vou aceitar. –Eu disse baixinho, mas firmemente.

--- Sim, você vai aceitar sim –Sam disse. Sua expressão era de preocupação. Ela sabia que não havia nada no mundo que poderia fazer para que Charllottie a imunda orgulhosa aceitasse aquilo.

--- Eu não banalizarei meu sofrimento por esse tempo todo, só porque ela tem uma parte do corpo dela que pode me ajudar. Sabe, não troco partes do corpo por perdão... –Sorri, sem querer.

--- E banalizará sua vida? –Sam estava com raiva. Ela queria gritar, mas sua personalidade gentil não a deixava fazer isso. Talvez estivesse com pena de gritar com uma doente como eu...

 --- Sim, as vezes, temos coisas mais importantes que a vida. –Disse eu, revirando os olhos.

--- Tipo o quê?! O orgulho? – Ela disse secamente.

--- Sim. Isso mesmo – Falei, seriamente.

--- Lottie... Eu só não quero que morra. –Agora Sam estava quase desistindo. Com aquela cara de que desistiu e está com remorso.

--- Você vai ficar bem, Sam, eu prometo. Onde eu estiver, vou estar te vendo. –Sorri, rindo dela.

--- Quero você aqui. E não em qualquer outro lugar. –Ela ignorou minhas ironias.

--- Não adianta, já tomei minha decisão. –Fitei-a, atenciosamente.

--- Me desculpe, Sam. –Eu disse.

--- Não posso. E não sinto muito por não poder. – Ela disse, saindo do quarto.

--- Mãe... Fale com –Fui interrompida.

--- Não, Lottie, você pode resolver isso sozinha. –Minha mãe saiu do quarto batendo a porta.

  Mas o que eu poderia fazer? Eu não ia viver o resto da vida, sabendo que estou viva por cima de mentiras. Eu não queria essa vida horripilante. Sabia que a vida era muito importante, mas para quê viver, se vai passar a vida morrendo? Se martirizando pelo que você nunca quis, mas teve de aceitar? Não, assim, não valia a pena viver.

--- Sim, Sam, Lottie não vai aceitar. Ela é cabeça dura demais. –Ouvi minha mãe dizer por trás da porta.

--- Eu sei, mas precisamos fazer algo. Não podemos obrigá-la? –Sam perguntou a minha mãe. Engoli um ar seco.

--- Bem, podemos tentar. –Minha mãe disse.


  Não, eu preferia morrer na rua, a ser obrigada a viver por uma mentira. Levantei-me da cama com dificuldade, mas ainda me sobravam algumas forças para caminhar até um lugar longe o possível para que não me pegassem. Olhei a minha querida janela que, diferente da maioria das vezes, não estava chuvosa. Pensei em levar um guarda-chuva, mas achei que não ia chover. Tirei o vestido branco de hospital e coloquei outro, branco também, mas menos doentio. Calcei minhas botas pretas de couro e coloquei uma touca preta. Olhei-me no espelho, e tirando as minhas olheiras, a minha aparência angustiada e minha tristeza, eu estava bem. Alguns fios de cabelo ainda caíam sobre meus ombros. Mas não tinha mais franja, por isso a touca.

  Andei, andei e andei. Fiquei andando pelas ruas da cidade escura e gélida. A noite estava muito fria. Sentei-me no banco de uma praça e comecei a olhar para o céu. Que destino será que me aguardaria naquela noite? Será que era a morte? É, acho que eu tinha chegado ao fim. Ao fundo do poço. Mas olhar as estrelinhas tão pequenas num céu tão negro e imenso me fez feliz por um segundo. Fechei os olhos, e, em minha cabeça, vi Joseph, Sam, Peter, mamãe, papai e, finalmente, eu. Minha imagem de mim estava embaçada. Abri os olhos e fiquei olhando a rua vazia, complexa e indistinguível. Não se ouviam barulhos. Era só eu e o silêncio. De repente, começou a chover. Eu já estava com muito frio, e estava tonta. Queria ir para casa, mas não tinha forças. Eu ia morrer ali. No banco da praça. Quem sabe mamãe e os outros me encontrassem um dia, dois ou um mês depois... Um mês depois era impossível pela posição onde eu estava. De repente, escutei uma voz ao longe.

--- Charllottie! –Era Peter. 

--- Pe... pe pe...– Não consegui falar. Minha boca tremia. Eu batia os dentes.

--- Charllottie, vamos voltar para casa! –Ele disse quase num tom desesperado.

 Ela gentilmente tentou levantar-me.

--- Oi Peter... –Eu disse, ainda batendo os dentes e o olhando. Sorri.

--- Vamos rápido! – Peter me ajudou a levantar do banco, mas eu estava muito fraca e decaí. Ele me segurou.

--- Não há mais nada o que fazer Peter. – Eu disse, sorrindo lentamente. Eu estava feliz por vê-lo. Afinal, desde o meu pai, nunca tinha conhecido ninguém que conseguisse a proeza de me entender. Entender o que eu sentia e pensava.

  Peter me segurou, mas ele quase caiu e nós ficamos sentados na calçada. De repente, toda a minha fraqueza veio a tona. Ele viu meu sorriso sincero pela primeira. Eu não era muito de sorrir. Se sorria, era com ironia. Lágrimas caíram.

--- Peter, diga a minha mãe que a amo. Muito, mais do que ela possa imaginar. Diga a Joe, que... Eu o perdôo por tudo. A Bridget também. Mesmo que eles não mereçam. E... Eu amo todos eles e... Você também. Desculpe-me... Desculpe-me por tudo...

 Eu estava me desculpando por ter sido cruel com ele, expulsando-o da minha vida daquela maneira. E, afinal, era ele quem estava ali, quando eu estava naquele estado. E seu rosto era tão lindo, que se fosse a última coisa que eu fosse ver, estava bem, para mim. E como eu estava decaindo, nem lembrei-me de perguntar o que ele estava fazendo ali, porque não tinha ido embora porque não tinha me deixado...

  Minha cabeça estava rodando. Gotas de chuva se misturavam com minhas lágrimas. Eu levantei minhas mãos com o os meus restos e abracei Peter, chorando. Abracei-o tão forte como nunca abracei ninguém. Ele me dava uma sensação de proteção. Senti que seus braços me abraçavam também, mas ele se retraía. Era como se não quisesse se apegar a mim. Sorri de novo e tirei meus braços de seus ombros para fitar seus olhos. Fiquei olhando aqueles lindos olhos azuis que estavam muito secos e mortos. Fechei os olhos e senti... paz.


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Notas finais do capítulo

Amor, macabro amor.



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