Ich Liebe Dich. escrita por Mrs Flynn


Capítulo 109
Cap.109: Alavancas.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/144938/chapter/109


  O trem corria. Corria como nunca antes havia corrido. Ele arrancou numa velocidade inimaginável. Meus cabelos pareciam que iam se descolar do couro cabeludo, quando ele passou a centímetros do meu rosto. Claro, pois não deu tempo de me afastar muito.

  Quando virei, a porta já estava fechada. A sorte era que eu estava mais inclinada para trás, pois, se não estivesse, cairia em cima do trem em vez de me espatifar no chão para trás. Como fiz. Na verdade, não me espatifei. Eu cai, mas não tinha tido um impacto tão grande.

  E quando me dei conta, fiquei ali, sentada no chão, rindo de nervoso.

  De repente, olhando para o trem, ele era apenas um ponto enferrujado no horizonte enegrecido.

--- Lottie! –Tinha certeza de que era a voz de Sam, mas não sabia de onde vinha. –Lottie, graças a Deus! –Sam corria e puxava meus braços, levantando-me e abraçando-me, de súbito.

--- S.. Sam... –Sussurrei, atônita.

--- Lottie! Pelo quê passou? Fizeram-te algo? Está com fome? Machucada? E o bêbe?! -Sam estava quase louca. –Charllottie! Responda! –Sam agora estava brava.

  Minha mente ainda estava dentro do trem. Ela parecia apenas balbuciar aos meu ouvidos do lado de fora. Mas quando ela deu um ataque, eu logo percebi. Mas fiquei olhando para ela, escutando as palavras, mas sem querer falar.


  Com aquele grito em meu ouvido, meu devaneio entorpecido passou.

--- Passei por um bocado de coisas! Não, não me fizeram nada, estou bem! O bebê está aqui, seguro! –Apontei para a barriga, de olhos arregalados e exacerbada. –E, obrigada, não quero comer. –Estava com fome, mas não queria comer. A necessidade não superou a vontade. Eu jamais conseguiria comer naquela hora. Nem que fosse macarrão com queijo.

  Sam tirou seus braços de mim e ficou me olhando. Fiquei olhando para ela, confusa. Seus cabelos ruivos voavam, cobrindo um de seus olhos verdes que brilhavam, agora, com lágrimas. As suas sardas e seus olhos mais que meigos lhe davam um ar mais infantil ainda naquele momento. A minha velha amiga Sam estava se esvaindo. Simplesmente se esvaindo em prantos e dores. E Angel tinha conseguido de novo. Tinha conseguido mais uma vez não só me atingir, mas atingir a todos que me amavam. E então, ela sorriu, devagar. Sua boca de lábios finos se contraiu num sorriso aliviado.

--- Lottie... –Ela passou as costas das mãos e os braços no olhos, limpando as lágrimas sôfregas.

  Mesmo sem querer, eu sorri. Foi engraçado ver Sam tão desesperada. O desespero em seus olhos parecia o de uma criança sem doces. Era ingênuo e cômico. Mesmo assim, dava pena. Era algo de infantil, mas tão sofrido, que parecia como se a mãe da criança tivesse morrido.

--- Desculpe, Sam. –Disse -Mas... Eu  preciso  saber o que vai acontecer com os outros! Disse, mais calma.

  Afinal, meu gênio depaciênciadivina havia voltado.

--- Os... outros, Lottie... estou chorando por eles. –Sam disse, aflita.

--- Mas eles tem Angel sob controle. Ela não pode fazer nada a não ser parar o trem antes de tentar matá-los. –Disse eu, crente.

--- Mas... –Sam arfava.

--- Explique-se. –Disse, percebendo sua inquietação.

--- Lottie... O pessoal da organização ainda está chegando aqui. Eu vim o mais rápido que pude. E eu só entrei aqui, escondida. Eles disseram-me que eu não podia vir. Porque era perigoso e poderia haver troca de tiros. Mas eu não os obedeci. Eles nem viram que eu vim. Eram tantas armas e pessoas, que não deram conta de mim. Perdi-me naquele meio...

--- Quando soube que você havia sido "raptada", vim no primeiro vôo para cá. –Sam estava falando rapidamente e respirava freneticamente. Ela estava muito nervosa.

--- Sam você está fazendo rodeios. –Disse, puxando os cantos da boca. 

--- Lottie, o que quero dizer... é que o trem não vai parar, até que exploda. –Sam disse, devagar.

--- O quê? Como pode ter tanta certeza? –Perguntei, semi-cerrando o olhar.

--- O pessoal da organização foi que disse. Sabe, Frida está com alguns equipamentos, que dá para rastrearem tudo o que vocês estavam fazendo. Não dava para filmar, porque ela estava com ele dentro do bolso, pois Angel ia perceber. Mas dava para ouvir cada palavra do que diziam. Ela levou, porque todos da organização estavam  atentos demais estes dias. Eles estavam procurando, justamente, por quem estava usando o dinheiro deles, que era a Angel. Todos os agentes foram ordenados a estar com todos os dispositivos possíveis. Como já disse, estavam procurando  quem  estava desviando o seu dinheiro e fabricando armas para os criminosos. E era Angel... por isso era  fácil  para ela. Pois ela era de  dentro.  

  Quando Sam falou isso, lembrei-me de que Norma havia dito que todos na organização estavam trabalhando num ritmo muito cansativo... É, aquilo definitivamente tinha um dedo de Angel.

--- Você está fazendo rodeios novamente. Sam, não tenho tempo, se eles vão morrer, deixe-me preparar o funeral e me conte logo o porque da certeza! –Disse, irritada.

--- Tudo bem, Lottie, é que, eles disseram que, se o trem continuasse a correr, depois de parar nesta estação, significaria que Angel disse a alavanca errada para vocês. Alguns agentes mais velhos e encarregados da área de mecânica disseram que haviam duas alavancas naquele tipo de trem, daquela época. Um, diminuía, drasticamente a velocidade do trem, quando ele estivesse numa velocidade já alta, fazendo-o parar, mas aumentava, drasticamente, depois de pará-lo, drasticamente. Era como uma catapulta, que depois de puxar o objeto para trás, com força, joga-o, com muita velocidade e violência. Como uma ação e reação bruscas demais. O trem demoraria muito mais para parar, se fosse com a outra alavanca, pois a velocidade se reduziria, de forma constante, assim como estava. E o trem pararia, apenas pararia, devagar, pois sua velocidade estava alta demais para parar de modo brusco...

--- Oh, não... –Murmurei.

--- A velocidade, a partir de agora, só irá aumentar até atingir a sua máxima. Até lá, o trem chegará ao fim da linha. No fim da linha, há apenas um grande muro, no qual o trem irá bater, com muita força devido a sua velocidade, fazendo o estrago que nós não queremos. –Sam acabou, atônita.

--- Droga. –Murmurei, de cara amarrada. Meu coração começou a bater fortemente, me fazendo ficar calada e sem ação.

  Meu Peter, pai do meu filho, mais uma vez estava em perigo. Mais uma vez a minha felicidade era arriscada. Será que existia uma pessoa que tivesse mais azar do que eu? Talvez fosse um karma. Se Peter era lindo, inteligente, amável, respeitável, perfeito aos meus olhos, eu só poderia ganhar em troca a aflição de lutarmos para demorarmos um pouco em paz. É, talvez fosse esse karma. Talvez eu estivesse sempre que ficar sempre, no final de tudo, com as mãos abanando, olhando pro céu, melancolicamente, sem ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!