Mamãe ficou parada estática pelo que pareceram horas. Quando ela finalmente teve qualquer reação possível, meu querido “padrasto” acabou empurrando-a levemente e entrando para saber o motivo de tanta demora. Ficou boquiaberto.

- Que tipo de recepção é essa pessoal? Digo, fiquei um bom tempo fora, esperava algo mais alegre como “Lizzie! Quanto tempo meu amor!” e não bocas escancaradas. – suspirei. Usando o máximo de ironia que conseguia pensar no momento, levantei-me e fui abraçar minha querida mãe. A mesma não teve reação alguma, apenas ficou parada. Sorri para ela.

- Bom, estou cansada. Vou dormir ok? Conversamos mais tarde. – sorri – E bem-vindos de volta! De onde quer que vocês acabaram de vir.
Virei-me lentamente e subi as escadas. Segurei o riso ao máximo que pude e quando finalmente entrei no meu quarto – que continuava o mesmo que sempre foi – não resisti em desabar na cama rindo feito uma idiota.
  “Eles vão enfartar! Hahaha” mandei para Frank assim que consegui controlar meu pequeno ataque de risos.

Acabei pegando no sono ali mesmo, estava morta de cansaço. Não é fácil voltar de viagem, arrumar todo seu quarto como se nunca tivesse ido, tomar um banho e ainda por cima enfrentar dois adultos que te olhavam sem reação alguma. É realmente desgastante. Sou boa nisso, contudo.

- Podemos conversar? – mamãe entrou no quarto. Dei uma olhada rápida para o relógio e constatei ter dormido três horas. O que significava que eles haviam conversado e discutido muito durante essas horas, pra ela ter demorado tanto para aparecer. Dei de ombros e concordei, olhando-a.

- Fala.

- Voltou que horas? – perguntou, olhando em volta do meu quarto.

- Umas oito horas atrás. – respondi calma e lentamente.

- Certo. – pausa – E o que você pensou quando decidiu aparecer aqui do nada? E por que arrumou seu quarto? Quem disse que iria ficar? Não ficou claro quando mandamos você para sua tia?

Ela estava mesmo falando isso? E ela estava realmente usando as palavras no plural? Por que... Se estava, significava que não foi ela que decidiu tudo. Foi ele. Aquele idiota decidiu me mandar embora, mas claro que mamãe não iria confessar isso, por isso fica claro o uso do plural... Argh!

- Ué. Essa casa é tanto minha quanto sua. – respondi simplesmente. Estava mentindo? – E além do mais você não decidiu nada, quem decidiu tudo foi aquele idiota do seu namorado. Mãe, quando você vai parar de ser idiota e larga-lo de uma vez? O sexo é bom? Porque você pode conseguir melhores. Ele é rico? Não. Mãe! Acorda!

Realmente não estava acreditando em tudo que falava, minha mãe me mataria se as circunstâncias não fossem outras... Ou talvez me mate mesmo assim.

- Elisabeth Moon, você olhe bem como está falando com a sua mãe!

- Que mãe? Você? Porque, pelo que sei mães não mandam a filha pra fora de casa sem qualquer motivo. Ou talvez tenha um motivo. Não é estranho ele aparecer do nada? Porque você sabe muito bem quando esse idiota desapareceu! Mattie morreu e ele sumiu. Qual a aproximação disso? Sem falar no fato principal: eu não lembrar nada sobre o dia! A única coisa que sei é que estávamos andando de bicicleta e veio um carro desgovernando levando meu irmão. Por que não me lembro de mais nada? Você já pensou que esse idiota pode estar envolvido?

Mamãe ficou em choque pela simples especulação do acidente.  Acho que tanto ela, como eu, não gostava de falar ou pensar sobre isso. E de repente dizer que seu namorado talvez tenha parte nisso? Um choque.

- Não misturemos as coisas! Estamos falando de a senhorita aparecer do nada!

- Eu moro aqui! Essa é a minha casa! Minhas lembranças! Nenhum idiota vai me tirar daqui! Ou o quê? Ele pretende terminar o serviço inacabado?

Não sei por que estava falando tudo isso de repente. Talvez por todas as especulações que tive com Gerard antes de voltar. Mas não queria jogar tudo na cara dela. Droga.

- Lizzie pare com tanta besteira! – respirou profundamente. – E você vai voltar a morar com sua tia.

- Não vou, não.

- Vai e sem questionar. Ligarei pra ela agora mesmo.

- Não-vou!

- Não discuta comigo garota!

- Discuto sim! Ele não vai me tirar dessa casa. Se seu querido namorado não está feliz, foda-se. Vou ficar aqui, estudar com meus amigos e nunca mais vou morar em Laguna Beach. – senti uma pontada de tristeza quando mencionei LB porque era verdade que adorei morar lá. Mesmo não gostando do pessoal da escola e tendo alguns problemas com John... Bom. Minha tia era legal. Suspirei.

Mamãe ficou estressada e saiu do quarto sem dizer mais uma palavra. Ouvi-a descendo as escadas e indo falar com o namoradinho dela. Eles discutiram pelo que pareceram quinze minutos e em seguida ouvi mais passos na escada.

- Ótimo! More aqui. As aulas começam amanhã, sem nenhum dia a mais. – e saiu.

Tive meu pequeno momento de comemoração aonde comecei a cantar loucamente “We are the champions” (música de comemoração pra qualquer coisa, não me julguem) até parar bruscamente ao ouvir novos passos na escada. Esses não pareciam boa coisa.

O idiota entrou no meu quarto e fechou a porta. Olhou por todos os cantos – como se minha mãe fosse surgir do nada mesmo – e finalmente me encarou. Sorriu.

- Nem pense em colocar besteiras na cabeça da sua mãe. Ou você vai embora com a mesma facilidade que chegou. – sorriu mais ainda. Aquele sorriso cínico! – Ela me obedece como um cachorrinho e espero o mesmo de você. Ou... Talvez um carro te atropele no meio da rua, não é?! – e foi embora.

Como ele ousa me ameaçar?