De noite, no mesmo dia, lá estava eu, deitado olhando pro teto sorrindo enquanto ouvia o ressoar suave da respiração da Kia. Tivemos um momento ótimo mais cedo, penso sorrindo, deu até pra relaxar. Suspirei fundo, sentindo o ar gelado passando pelo meu tórax. Levantei devagar para não acordar a Kia e fui até o banheiro, parando para dar uma olhada no Kiichi, que dormia. “Quem o botou aqui? Deve ter sido a Yuzu... Espero que ela não tenha visto nada...”.

Corando, fui para o banheiro e entrei debaixo do chuveiro. Molhei o cabelo e o lavei. Minutos depois, saindo do banho de calça mais sem blusa, vejo um pequeno movimento na cama.  Sorrio e vou até ela, dando uma olhada na minha pequena bela adormecida. Ela ainda dormia profundamente. Beijo sua testa e ponho uma blusa. O apartamento está silencioso, todos devem estar dormindo. Vou até a cozinha e faço um prato para mim. Volto pra cama e deito ao lado dela, observando ela dormir até eu apagar.

Acordei sentindo o calor do sol no meu rosto. Olhei pro lado e vi que eram Sábado, e eram 09h30min. Virei à cabeça e não vi a Kia nem o Kiichi. Sentei-me na cama, esfregando os olhos. Levantei e fui ao banheiro. Após fazer minha higiene, fui até a cozinha, pegando uma fruta para comer. Meu pai e o Kiichi, que estava no seu colo, viam TV.

- Bom dia Ichi! – Beijei sua bochecha.

- Bom dia, Kia... Ta fazendo o que? – Perguntei pra ela, olhando pra panela que mexia.

- Café da manhã. Curry.

- Eba...Saudades do seu Curry.. – Ela se vira e me olha.

- Mais eu nunca fiz Curry pra gente, Ichi. – Dou de ombros.

- Por isso mesmo. – Ela balança a cabeça sorrindo.

Vou até a sala e me sento perto do meu pai. Ele sorri, e vejo como ele está magro. O pijama que ele usa, antes apertado, agora já está maior que ele.

- Bom dia, pai. Dormiu bem?

- Sim, muito bem. Hoje voltamos pro Japão, né? – Sorrio.

- Sim, hoje.

- Que maravilha... – Ele fica em silêncio um pouco. – Ichigo...

- Que foi pai? – Fico surpreso pela mudança na voz dele.

- É que... Quando voltarmos... Vamos pra casa né?

- Claro que... - Penso no que ele disse. Sorrio e pego sua mão. – Vamos pai, vamos ficar com você.

Ele fica vermelho e murmura um “obrigado”, mais vejo que sorri. Kiichi aparece de repente engatinhando, e sorri quando me vê.

- Filho! – Vou até ele e sento-o no meu colo. – Dormiu bem?

- Xim... Mimi beim. – Sorrio. – Papa mimiu bem?

- Dormi filho... Já papou?

- Naum, Mama tla faxendo o papa. Tá?

- Tá, sente só o cheirinho... – Ele respira fundo e sorri.

- Gotoso... – Eu ri e ouço meu pai rir baixinho. Rukia entra na sala com a panela de curry e a de arroz.

- Quem tá com fome? – Todo mundo levanta a mão. – Então vamos comer logo, senão chegaremos atrasados no aeroporto. Levo o Kiichi até ela e ajudo meu pai a se sentar. Comemos tranquilamente, e logo depois fomos arrumar nossas bagagens. Eu ajudei meu pai a arrumar a dele e arrumei a minha e a da Kia. Kia arrumava a do Kiichi.

- Kia, vou pagar o hotel e já volto, tá?

- Ok, não demora hein? – Ela me dá um beijo rápido e eu desço até a recepção.

- Good morning, Where can I pay? – Perguntei a uma atendente chamada Mary.

-Good morning sir, you can pay right here. What’s the number of your room?

- It’s 302. – Ela olha no computador.

- You have to pay 39,97 sir.

- Oh, okay. – Pego minha carteira e meu cartão de crédito. – You accept credit card?

- Yes. – Ela me dá a maquina e eu ponho meu cartão. Ela pede a senha e logo depois já está tudo pago.

- Thanks for coming for your hotel sir. I hope you comeback someday. – Eu me curvo.

- You welcome.

Volto pro quarto e já estava tudo pronto. Eles estavam sentados na sala vendo TV.

- Vamos pessoal? – Meu pai abre um sorriso e Kiichi também.

 Desço com todas as malas e fico esperando eles descerem. Minutos depois, todos vamos pegar um táxi e fomos para o aeroporto. No carro, Rukia encosta a cabeça no meu ombro e suspira.

- Que foi Kia?

- Vou sentir saudades daqui... Queria poder ficar, mais... – Eu também sentia a mesma coisa, mais...

- Queria que os últimos dias dele sejam no Japão.. – Murmuro, sentindo meu coração apertar. Rukia beija minha bochecha.

- Quero o mesmo, Ichi.

Horas depois, estávamos no aeroporto, e tiramos as malas e fomos para o embarque. Ajudei meu pai a se sentar e ficamos esperando dar o horário.

////Horas depois//////

Já estávamos dentro do avião e Kia dormia tranquilamente com o Kiichi no colo. Eu estou morto de cansaço, mas não consigo pregar os olhos. Minha cabeça ainda esta no que eu disse quando estávamos em Londres

- Quero que os últimos dias dele sejam no Japão.

Porque eu falei aquilo? Para me torturar? Para eu finalmente perceber que meu pai...Logo não vai estar mais aqui?

Passo a mão pelos cabelos, sentindo meu peito apertar, meus olhos arderem. É doloroso demais pensar nisso... Não quero perder meu pai...

Lágrimas já correm soltas pelo meu rosto, e eu junto às pernas para perto do peito. Meu peito lateja com a dor. Eu sabia que meu pai iria morrer um dia mais... Tão cedo assim?

Fecho os olhos e escondo o rosto nas pernas.

- Ichi...você está chorando? – Olho pro lado e vejo Kia me olhar preocupada. Abraço ela forte, chorando mais no seu ombro. Ela deixa eu me acalmar, e minutos depois, eu já consigo parar de chorar.

- Porque você estava chorando, Ichi?

- Lembrei-me do que eu disse no aeroporto... Sobre meu pai... Dói muito... – Ela me deita no seu colo.

- Eu sei que dói, Ichi. É muito ruim pensar nisso, mais vamos fazer com que os próximos dias dele sejam inesquecíveis, ok? – Faço que sim. Ela começa a fazer carinho na minha cabeça e eu, pouco a pouco, vou adormecendo.

- Ichi... Ichi acorda...

- Hunm... Que foi? – Falo me sentando, coçando os olhos. Rukia estava sorrindo.

- Chegamos. – Eu abro um pequeno sorriso. Olho pra trás e meu pai estava olhando pela janela, com o rosto radiante. “Pai... seus últimos dias serão maravilhosos... Pode ter certeza.”

Saímos do avião logo depois, com Kiichi e meu pai olhando radiantes pra tudo. Eu suspirei e abri um sorriso, que saudade do bom e velho japonês...

- Finalmente... em casa.