- Claro que pode passar um tempo aqui, Len! Você sempre vai ser bem-vindo para ajudar essa senhora aqui. – Dona Yuki sorriu para o loiro.

- Obrigado, dona Yuki. – Len agradeceu, sorrindo de volta.

A velha senhora, dona da Restauradora, guiou-o até a sala dos artefatos que precisavam ser limpos. Disse que ele poderia escolher qualquer coisa que quisesse. O menino sorriu e respondeu, dizendo que logo iria escolher e que sabia onde estavam os materiais de limpeza. A idosa sorriu. O rapaz era tão prestativo, tinha dias que ela tinha que fazer tudo sozinha... A osteoporose só piorava a situação dela. Mas quando Leonardo vinha, ela tinha um descanso. Ele parecia meio afoito, mas a situação dele era entendível: devia ser alguma menina nova na vila ou coisa do tipo. Mal imaginava ela que o baú, que havia sido entregue para os Restauradores pela manhã, era o motivo da ansiedade do menino.

Len olhou em volta, percebendo a caixa logo. Observou-a com atenção. Era realmente muito bela, com flores prateadas entalhadas nos lados. Ficou olhando-a por um bom tempo, até se tocar que tinha que fazer o trabalho prometido pra dona Yuki. Passou a mão sobre a tampa, sentindo algo que não era nem flor nem desenho. Olhou a inscrição sem entendê-la direito. Eram símbolos muito estranhos. Um parecia de uma guerra, outro de um casal de jovens correndo com uma caixa, mais um que parecia uma menina, baixinha e esguia, fugindo de algo ou alguém... O que significaria aquilo?

Pegou o detergente, colocou-o na esponja e passou no baú, tirando a água do mar e as algas rapidamente. Passou a mão sobre o desenho novamente. Voltou a esfregar, limpando o baú inteiro para poder abri-lo. A tarefa, embora trabalhosa, não levou muito tempo. Len estava empenhado, mal percebendo o tempo passar. Havia se acostumado com aquele tipo de trabalho, sabendo certinho como limpar sem danificar o artefato, depois de tantos meses.

Terminando seu trabalho, o loiro levantou e deu uns passos pra trás, olhando detalhe por detalhe do baú. Aproximou-se, vendo os desenhos que tinha sentido com a palma das mãos anteriormente. Realmente, era uma guerra. Tinham lanças e espadas em todos os locais, pessoas enfurecidas “correndo” para lá e para cá. Tinha o casal, passando alheio a guerra e se importando somente com a caixa que a menina segurava. Havia a garota baixinha, em cima de um farol relativamente próximo à batalha e quase caindo do objeto que lançava luz na noite, percebida por causa da Lua prata no céu.  

Olhou pela janela. Escurecera, já. A senhora havia passado e acenado gentilmente, dizendo que estava indo dormir. Deixou as chaves com o menino, advertindo-o para que trancasse a porta quando saísse. Suspirando, Len recostou-se no baú. Diria a dona Yuki que terminara o trabalho muito tarde e que acabara dormindo lá. Já era quase um costume, ele ficava limpando os artefatos até tarde e não conseguia ir pra casa antes de pegar no sono.

O jovem estava cansado demais e já havia pego no sono, com o detergente e a esponja ao seu lado, para perceber que havia recostado em uma outra inscrição.

“Lyra Rin Sukui”