O relógio da sala principal da Restauração marcava três e meia da madrugada quando o Baú começou a tremer. Len acordou sobressaltado. O Baú estava... Se mexendo? Assustado, se arrastou atrapalhadamente uns dois passos para trás.

A tampa fez um baque surdo, depois foi empurrada pro lado um pouco, deixando uma pequena fresta à vista. Dois vultos, pequenos e esguios, saíram do Baú e subiram na tampa.

– A culpa não é minha! Alguém deve ter ativado. – Uma voz fininha fez-se ouvir.

– Humph!  Sei sim. Miki, você é uma irresponsável! Kupo! Deixou-a ser liberta! Não podia! – O outro vulto falou.

– EU sou a irresponsável? Acho que me confundiu com você, Miuki. Podemos ser gêmeas, mas acho que você consegue se diferir de mim! Kupo! – A voz que devia ser de Miki falou, gesticulando freneticamente. Parecia ter uma... Cauda?!

– PARA! – Miuki rugiu. A sombra esguia agora era maior, parecendo um falcão. Miki não deixou isso barato. Logo, em cima da tampa do baú, era travada uma batalha entre falcão peregrino e onça albina.

O falcão rodopiava e atacava a onça, que rugia e arranhava a ave. Golpes eram trocados, porém não corria sangue dos ferimentos provocados. A luta continuou por um bom tempo, até Len se arrastar para perto das duas, tentando ver melhor. Ao menor sinal de movimento alheio, as duas pararam. As sombras do falcão e da onça desapareceram, dando lugar as primeiras esguias formas.

 – Foi ele! Eu sinto! – Miuki quase rosnou, farejando. A cauda (?) balançava para lá e para cá, mostrando que ela estava irritadiça.

– Você foi quem a despertou!  Complicou pro teu lado, rapaz. – Miki pulou na mão de Len, enrolando o rabo em seu indicador.

O loiro encarou a ratinha de pelo acinzentado em sua palma, com um olhar curioso.

– Miki sempre esquecendo os bons modos! – Miuki pulou no ombro de Len. – Eu sou Miuki e ela é a Miki. Nós somos guardiãs dela. E você foi quem acordou ela depois de um tempão! Todos vão atrás dela e de você também. Se você morre, ela morre. Se ela morre, Eles tomam conta. Se Eles tomam conta...

– NÃO MENCIONE ISSO, MIUKI! AS NOSSAS PALAVRAS TÊM PODER! CALE A BOCA! – Miki berrou, com raiva, para logo depois se recompor e fazer uma carinha fofa pra Len. – Oi, prazer, eu sou Miki e essa é minha irmã gêmea Miuki. Ela explicou essa parte, et cetera e tal. E daí... Hmm, que que eu ia falar agora? Ah, é. Agora você abre o baú com ajuda das duas guardiãs que não são mais ratinhas e usam seu poder de mudar de forma para virarem um urso e um javali enorme que auxiliam a levantar a tampa...

Len riu ao ouvir Miki e Miuki brigando para ver quem abriria o baú primeiro. Levantou do chão e abriu a tampa com as duas metamorfas.

E essa foi um dos momentos em que ele mais se surpreendeu na vida.