Halo: as asas Caídas de Ivy escrita por GillyM


Capítulo 8
Pressagios


Notas iniciais do capítulo

Ivy tem seu coração ainda mais dividido entre o céu e o inferno, mas muitas coisas ainda podem mudar seu caminho.
Boa leitura!



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“Sinto muito!”

Aquelas palavras entraram no meu peito e o rasgou como uma lamina bem afiada. Meu coração bateu forte, as batidas aumentaram e aumentaram, senti minhas mãos e meus pés dormentes, o quarto começou a girar ao meu redor e havia um grande nó em minha garganta, minha visão foi ficando cada vez mais escura e senti meu corpo se inclinando lentamente para trás, tentei me manter ereta, mas nada pude fazer.

Luc jogou a arma na cama e correu em minha direção, impedindo que minha cabeça se chocasse contra a parede atrás de mim. Ele me segurou bem forte, podia ver seus lábios se movendo, mas não podia ouvir o som que saia deles. Tudo ficou preto e silencioso por alguns minutos, até que fui retomando a controle de meu próprio corpo lentamente.

- Acorde! Acorde meu amor! – Luc sussurrava em meu ouvido – O que aconteceu?

Sua voz foi ficando cada vez mais clara e alta. Seus braços ao meu redor me pareciam impedir de ir a algum lugar, ele me segurava com tanta força e preocupação, como se o estivesse deixando.

- Luc? – Disse ao abrir os olhos – O que...

- Tudo bem, só foi um mal estar! – Ele me disse ao me deitar na cama novamente – Não queria te assustar. Acredite!

Ele se deitou ao meu lado, e não saiu de lá enquanto não me recuperei por completo. Abri meus olhos e a primeira coisa que vi, foram os olhos dele, bem próximos, me senti como se estivesse nadando dentro deles, e quando percebi o mal estar já havia passado por completo.

- O que estava fazendo? – Perguntei em voz baixa, quase sussurrando – Onde arranjou aquilo?

- Eu queria mostrar a você, tem uma coisa que preciso te contar – Ele se explicou – Só não esperava sua reação. Você realmente achou que eu a mataria? Eu existo somente por você, isso não faria sentindo!

- É que... Bem, eu não sei! – Uma confusão se estabeleceu em minha cabeça – Eu...

- O que? – Ele sorriu, mas senti que ele havia percebido que algo estava errado em mim – Você pode confiar em mim. Você confia, não é?

- Claro que sim! – respondi e sorri – Eu tive um sonho, eu acho!

- Qual sonho? – Ele disse se ajeitando ainda mais perto de mim – Me conta!

Eu me sentia bem perto dele, meu coração se recusava em acreditar que ele seria capaz de tal coisa, e como ele mesmo disse não faria sentido, por que me ajudar se quer me matar? Ele era o único ali, era como um pai, uma mãe, um irmão e amigo, mas principalmente um amante, pensei: “Eu devo estar no caminho certo”

Contei tudo a ele, com detalhes, ele me olhou de modo diferente, como se tentasse me decifrar com um só olhar.

- Isso é muito interessante! – Disse ele – Por que o que eu tinha para te contar, era sobre isso!

- Sobre o que? – perguntei curiosa – O que tem a me contar?

-Essa arma é importante! Ela foi usada por um arcanjo há muito tempo atrás – Explicou ele – Ela foi usada contra um serafim que se rebelou, isso ocorreu antes de minha queda.

- Você disse que não havia mais de nós! – Perguntei, meu coração estava desconfiado – Como isso é possível?

- Não há. Quando aquele serafim caído foi morto, por uma das flechas cheia de luz que saíram deste arque-flecha, ela acidentalmente atingiu outro serafim e o matou também – Ele explicava e analisava o arque-flecha com as mãos.

- Mas como o outro serafim morreu? – Fiquei ainda mais curiosa – Se a flecha era feita de luz.

- Quando ela atravessou o corpo do serafim caído, ela foi banhada pelo seu sangue – Explicou ele novamente – Aquele sangue carregava tudo o que havia de ruim dentro dele, aquele sangue levou a  escuridão para dentro dele.

- Entendi! – Raciocinei – Então, está flecha carrega a luz e a escuridão. Por isso ela é tão especial?

- Especial e poderosa – Completou ele – O serafim caído tinha um poder especial, seu poder era exatamente o de tirar a luz de qualquer um, por isso ele era conhecido como “O julgador do paraíso”, e o outro serafim atingido acidentalmente, tinha o poder contrário, o de tirar a escuridão de qualquer ser das trevas. 

- Então se a flecha carrega os dois poderes... – Pensei em voz alta – Eles vão usá-la em mim!

- Ela é poderosa o suficiente para nos matar – Ele acompanhou meus pensamentos – Mas dizem que para funcionar, esta flecha tem que partir do mesmo arque-flecha usado naquele momento.

- E onde está tudo isso? – perguntei aflita – Onde vamos achar?

- O arque-flecha está aqui! – Luc disse o levantando diante de meus olhos – Mas a flecha está com ele!

- Com ele quem? – Perguntei – Onde ela está?

- Gabriel! – Ele respondeu, me olhando profundamente nos olhos.

Meu coração se manteve calmo diante daquelas revelações, enquanto estivéssemos com aquela arma, tudo ficaria bem. Fiquei pensativa por um tempo, mas meu estomago começou a doer, estava na hora de me alimentar outra vez.

Luc e eu fomos a uma lanchonete, ela era estranhamente parecida com a primeira lanchonete que entrei ao cair do paraíso, em Maycefalls. Devorei em minutos o prato principal que me serviram, definitivamente comer era algo muito bom, me lembrei da “gula”, uns dos sete pecados humanos. Percebi que eu adorava cometer aquele pecado.

Da janela da lanchonete olhei para o prédio que ficava do outro lado da rua, era uma antiga escola, cercada por um lindo e colorido jardim de tulipas. Sentado na grama ao lado de um canteiro de tulipas amarelas estava Tristan, estranhei sua presença ali, ainda mais tão próximo de Luc, que parecia não senti-lo.

Ele olhava para cima, come se admirasse as nuvens, e num gesto delicado e vagaroso, ele desviou seu olhar e virou a cabeça em minha direção. Olhei para Luc, ele parecia não perceber nada, estava olhando fixamente para o casal ao lado, a energia ruim que vinha deles com certeza estava proporcionando ao Luc um bom divertimento. Tristan acenou para mim do jardim e sorriu, disfarçadamente respondi com um discreto sorriso e então ele se foi, desapareceu em meio as flores.

- O que foi? – Perguntou Luc – Viu alguma coisa?

- Não, apenas estava olhando para o jardim – Fiquei surpresa ao ver que Luc havia caído em minha pequena mentira – É lindo!

- Saudades do paraíso? – Ele perguntou irônico – Eu sei do que você precisa!

O esperei do lado de fora da lanchonete, pela janela o observei, ele tirou o dinheiro do bolso e pagou pela comida, depois caminhou para fora e se juntou a mim, me perguntei de onde ele arranjava tanto dinheiro.

- Muitas almas não precisam mais de dinheiro quando vão embora! – Ele sorriu – Respondi sua pergunta?

- Você lê meus pensamentos? – Perguntei agressivamente, me sentia traída por ele por não me contar – Você sempre leu?

- Não posso ler seus pensamentos, Ivy! – Ele respondeu irônico – Mas às vezes seus olhos te entregam, mas não se preocupe, só eu conheço você tão bem assim!

Calei-me, realmente aquela resposta fazia sentido. Enquanto pensava, nós caminhávamos pela rua reta, as pessoas passavam e me olhavam de modo estranho, alguns sorriam, outros passavam rápidos como se fugissem de mim, da mesma forma que ocorreu dias na ultima vez que sai em publico.

- Por que eles me olham assim? – Perguntei a Luc – Cada um me olha de um jeito, eu não entendo!

- Como eu disse, você leva um pouco dos dois lados – Explicou ele, se divertindo com minhas perguntas – Você reflete aquilo que as pessoas são em seu interior, se for alguém bom, eles verão em você coisas boas, mas se for alguém ruim, bom... Eles verão o que não querem ver!

- Como um espelho? – Conclui – Sou o espelho delas?

- Sim. Isso mesmo – Ele sorriu e apontou um campo de baseball abandonado – Assim que você se decidir para que lado você vai, isso não irá mais acontecer!

Lado! Realmente não estava preparada para decidir, talvez nunca estivesse, mas a hora iria chegar a qualquer momento. Depois de ouvir que o futuro será marcado por minhas escolhas erradas, eu evitava pensar em que decisão tomar.

O campo abandonado ficava no final da grande avenida por qual andamos, atrás de uma fabrica de tecido abandonada, estava tomado pelo mato que crescia. Olhei ao redor, só haviam matos e um grande silencio. Caminhamos até o centro dele e então paramos um de frente para o outro.

- O que vamos fazer aqui? – Perguntei – Esse lugar é horrível!

- Quero que aprenda a viajar na luz! – Disse ele todo animado – Você tem que aprender para poder fugir quando precisar.

- Eu não gosto disso! – Reclamei – Tenho minhas asas, posso voar!

- Sim eu sei que você tem! – Ele respondeu – Mas todos os outros seres também! Pare, se concentre, e sinta o chão embaixo de seus pés.

- Luc! Todos sabem fazer isso – Disse entediada – Todos sabem aparecer e desaparecer!

- Sim todos sabem, mas não desse jeito – Retrucou ele – A diferença é que não deixamos pistas de onde fomos, do outro jeito sim. Deixa de ser rabugenta!

- Como sei que dará certo? – Perguntei eufórica – E se der? Para onde eu vou? E se eu não conseguir voltar?

- Mantenha suas mãos nas minhas e você me levará para onde você for! – Explicou ele – Quando você sentir seus pés tremerem, então você pensa no lugar para onde quer ir!

Fechei meus olhos e segui as recomendações, passou alguns minutos e nada. Tentamos novamente, e novamente, e novamente e novamente, nada aconteceu. Ele me dizia que era difícil de aprender, tentava me animar a cada decepção, mas tudo aquilo estava me deixando cansada e aborrecida.

- Não quero fazer isso! – Disse em voz alta em tom agressivo – To cansada!

- Só estou querendo te ajudar! – Ele replicou já sem paciência e irritado com meu tom de voz – Isso é importante. Mas se não quer, não vou mais te ajudar!

- Você sabe que não é isso! Tudo é muito novo para mim – Contestei já muito aborrecida – eu preciso de tempo, é muita coisa!

- Você não tem tempo! – Ele esbravejou, se afastando de mim – Aqui não é o céu Ivy! Eles nos querem mortos e não vão lhe dar tempo de nada! Isso não é uma brincadeira, aceite logo seu destino e para de sonhar com o paraíso! Por que eu posso não estar aqui para te proteger e eu não posso perdê-la!

Fiquei completamente enraivecida, ele não entendia o que estava se passando comigo, para ele tudo foi mais fácil, pois ele não tinha dois lados para escolher, mas eu tinha e poderia voltar para o lugar que eu pertencia e era uma escolha difícil para mim. Ele me olhou de um jeito que não gostei, como se eu tivesse cometido um erro enorme ou não estivesse dando valor ao que ele estava fazendo por mim. Para não dizer mais palavras que o atingisse, fechei meus olhos e desejei não estar lá, desejei que aquilo tudo não tivesse ocorrido comigo. Para me acalmar, pensei somente em coisas boas, pensei no dia que me encontrei Tristan, desejei aquela paz que senti naquele momento.

Esperei alguns minutos, respirei fundo e estava disposta a resolver meus problemas com Luc, mas quando abri meus olhos, ele já não estava mais lá, nem ele e nem o campo. Olhei em minha volta, havia um lindo jardim de tulipas coloridas, até que avistei a antiga escola. “Grande progresso, só me movi por cinco quarteirões!” pensei comigo mesma.

- Está sozinha agora? – Ele me perguntou – Por que está aqui?

- Oi Tristan! – O cumprimentei – Acho que deu certo!

- O que deu certo? – Ele disse confuso, mas o sorriso em seu rosto se manteve intacto – O que está fazendo?

- Nada. Desculpe-me! – Respondi constrangida – O que você faz aqui? Não deveria se aproximar de mim!

- Eu não me aproximei, foi você que apareceu do nada! – Ele brincou – E eu já estava aqui antes de você chegar!

- A sua missão tem haver com a escola? – Perguntei curiosa – E com o ginásio?

- Tem sim, mas não deveria te contar isso! – ele riu e se sentou no gramado do jardim – Você pode roubar minha alma de mim!

- Não farei isso! – Retruquei me sentando ao lado dele – Deve ter outro por aí fazendo isso.

- Você sabe quem é? – Ele me perguntou mais curioso que eu – Se eu souber será mais fácil.

- Não é certo quebrar as regras! – Repliquei sorrindo – Este é o equilíbrio das coisas!

- Achei que você não seguisse regras! – Ele perguntou, enquanto desenhava formas abstratas na grama com um pequeno graveto.

- Eu sei que o que todos dizem ao meu respeito! – Me defendi – Não sou o que dizem, eu não traí ninguém!

- Não sou eu que julgo as pessoas! – Ele me olhou profundamente nos olhos – Sabe... Eu ocupo o seu lugar agora!

- Eu sei disso! Posso ver em seus olhos! – Disse arrancando o galho de sua mão e desenhando novas formas na grama – Faz parte do meu novo eu!

- Não me conte, por favor! – Ele tapou os ouvidos com as mãos – Não quero saber de nada!

- Eu sei que podem te condenar por isso – Disse retirando as mãos dele – Não vou complicar sua vida! Por que você não tem medo de mim?

- Não acredito que seja má! – Ele respondeu – Você é um lindo serafim! Mas agora preciso ir, antes que percebam que estou com você!

Ele se levantou e eu o acompanhei, antes de ir embora ele sorriu e se aproximou, olhou em meus olhos e eu pude ver a paz que vinha dele. Ele se aproximou ainda mais, encostou seus lábios em minha bochecha e me deu um beijo, seus lábios eram macios e enquanto eles estavam encostados na minha pele, senti a escuridão se abater em meu coração.

Depois que seus lábios se desprenderam de meu rosto, ele falou baixinho em meu ouvido:

- Acredito em você!

O observei partir, depois me deitei no gramado do jardim, fiquei a olhar as nuvens, a brisa que tocava meu rosto me proporcionava tanta paz que não queria mais sair dali, fechei meus olhos e passei o tempo.

Caminhei de volta para a pensão distraída com meus pensamentos. Pensei em Luc e na maneira que o tratei, eu sabia que estava errada e precisava me desculpar. Pensei em Tristan na maior parte do tempo, ele realmente deveria acreditar em mim para se aproximar daquele jeito, me lembrei da primeira vez que o vi e em seu conselho, que deveria usar meus poderes para descobrir o que fazer. Lembrei-me imediatamente do pesadelo que tive, talvez não fosse um pesadelo, talvez fosse um pressagio, aquilo poderia ser mais um poder que emergia em mim, um poder do qual nem mesmo Luc tivesse conhecimento.

Quando entrei no quarto da pensão, Luc estava deitado na cama a minha espera e antes que eu pudesse recitar todo o pedido de desculpa que havia ensaiado  em minha cabeça no caminho de volta a pensão, ele pediu desculpas a mim. Senti-me péssima com aquela situação, não consegui lhe dizer nada, me deitei ao lado dele e o beijei até perder o fôlego.

- Eu adoro essa sua parte humana – Disse ele passando o dedo nos meus lábios – Adoro a parte das desculpas!

- Sinto muito! – Disse a ele – Me excedi!

- Prometo que terei mais calma na próxima vez! – Ele me abraçou fortemente – Tenho muito medo de perdê-la!

- Não se preocupe, não irei a lugar nenhum! – O abracei e o envolvi em outro beijo.

Ficamos ali por muitas horas, o sol se escondeu, a lua brilhou no céu e nós continuávamos nos beijando e nos acariciando no escuro do quarto. Hora fazíamos amor, puro e carinhoso, hora fazíamos sexo, selvagem e ardente, agradando os dois lados do amor.  

Quando terminamos a noite já havia caído, o quarto estava escuro, não podíamos nos ver, mas o melhor era isso mesmo, tudo o que fazíamos era sentir um ao outro. Alguém bateu na porta, mas eu já sabia quem estava a bater, era a senhora Wilson, dona da pensão querendo cobrar o aluguel do quarto. Luc me segurou firme, não queria que eu atendesse a porta, com um esforço rolei para cima dele, estiquei o braço para acender a luz do abajur que ficava ao lado da cama, ele segurou meu braço, mas o distrai com um beijo, com o braço livre acendi a luz e o olhei novamente. Quando a luz iluminou seu rosto eu gritei:

- Gabriel!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse novo capitulo!
Deixem seus Comentários e criticas se quiserem.
Bjos