Halo: as asas Caídas de Ivy escrita por GillyM


Capítulo 7
Descobertas


Notas iniciais do capítulo

O bem e a maldade anda lado a lado de Ivy, ela se redescobrirá, mas o caminho que ela ainda deve percorrer está cheio de obstáculos e surpresas desagradáveis!



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Realmente Xavier se tornou um belo demônio, daqueles que era capaz de deixar os hormônios humanos enlouquecidos, eu podia sentir sua raiva, mas havia uma ponta de admiração bem no fundo de sua alma amaldiçoada, não que ele não pudesse esconde-la,  ele  fazia isso muito bem, mas descobrir os sentimentos guardados secretamente na alma de anjos e demônios, era uma característica que herdei da minha queda.

Xavier estava enfurecido, mas podia sentir que estava bem satisfeito com sua nova vida, pois agora ele poderia fazer coisas que antes nem sonharia. Ele ergueu sua mão direita e a exibiu para mim, pode ver suas unhas crescendo, se transformando em ferozes garras que pareciam ser de aço, bem finas e pontiagudas. Num movimento rápido ele lacerou a pele de meu rosto, deixando quatro cortes profundos em minha carne, o sangue começou a rolar pelo meu rosto, pude senti-los, Xavier deu mais um sorriso, mas agora de muita satisfação, ele sabia que tinha me provocado dor, a expressão de meu rosto me entregou.

- Não é tão fácil quando se é uma humana! – Ele me provocou – Como se sente agora? Eu quase não me lembro de como é sentir dor!

- Vejo que fiz de você um excelente guerreiro! – Retruquei – Me deixa ver até onde pode chegar!

- Você verá. Pena que não poderá me parabenizar depois! – Ele sorriu irônico – Me responda. Como é sentir isso?

Num outro movimento ainda mais rápido que o primeiro, ele cravou suas garras em minha barriga, em seguida as revirou me causando ainda mais dor e sofrimento, realmente não seria fácil me acostumar a condição de quase mortal e Xavier sabia explorar bem isso. Segundos depois, sangue começou a escorrer no canto de minha boca, eu já não conseguia respirar, a dor piorou quando ele retirou a garras de minha barriga, provocando mais ferimentos e muito mais dor, ele ficou me olhando, satisfeito e feliz, mas sua expressão mudou rapidamente após alguns segundos.

O sangue parou de escorrer no canto de minha boca, assim como o sangue de minha bochecha e de minha barriga, os cortes foram se fechando lentamente, isso provocava uma sensação de cócegas em mim. Minutos depois não havia mais sinal de nenhum ferimento, minha pele estava integra e intacta, a dor havia sumido e a perplexidade tomou conta de Xavier.

- Tenho certeza que eles não o mandaram aqui para me matar! – Disse a ele, agora estava cheia de autoconfiança – Você tem coragem, mas não é o mais forte, talvez daqui um tempo eu deva me preocupar com você, mas só daqui um tempo.

Xavier deu um passo atrás, sabia que havia se encrencado, ele sabia que o melhor a se fazer era fugir, mas ele era muito orgulhoso para isso, então ficou parado em minha frente esperando que eu fizesse algo, mas não fiz. Sabia que mata-lo seria a escolha correta, mas ele era uma pedra a ser esculpida e eu queria saber até onde ele podia chegar.

Aproximei-me e lhe dei um beijo no rosto e disse baixinho em seu ouvido:

- Bom trabalho! Mas nunca subestime seu adversário... Vejo-te em breve!

Segurei sua cabeça com as duas mãos e fechei meus olhos, pude sentir uma grande energia nos rodeando, em poucos segundos a luz negra saiu de dentro daquela casca e se dirigiu violentamente para o chão, eu havia o mandado de volta para o inferno, e a casca caiu em meus pés. Não poderia deixar aquele jovem no chão, ele estava fraco e confuso, então me abaixei, e encostei meus lábios no dele, deixei que a luz branca entrasse em seu corpo o deixando bem novamente, então ele seguiu para casa, sem memória nenhuma do que  havia lhe acontecido.

Troquei minhas roupas sujas pelas que estavam guardadas no velho armário do quarto, elas eram antigas e antiquadas, mas era tudo que tinha. Sentei-me na cama olhando para a janela, a noite estava escura e silenciosa, me perguntei aonde Luc estaria e por que ele não apareceu quando precisei de sua ajuda. Uma hora depois ele abriu a porta, trazia com ele um hambúrguer e um refrigerante.

- Onde estava? – O questionei – Tive visitas!

- Quem esteve aqui? – Ele perguntou preocupado – Gabriel esteve aqui?

- Não, se fosse ele eu já estaria... Sei lá – Sacudi a cabeça para o lado, não poderia imaginar o que aconteceria comigo – Xavier esteve aqui!

- E onde ele está agora? – Ele me perguntou olhando para fora janela, para se certificar que ainda estávamos sozinhos – O que fez com ele?

- O mandei de volta! – Disse, espionando o que ele havia trazido para mim – O mandei para o inferno!

- Vejo que você está aprendendo rápido e sozinha! – Disse ele orgulhoso – O que mais aprendeu?

- Eu posso mandar anjos de volta ao céu também? – perguntei intrigada – Posso sentir seus desejos?

- Muito bem senhorita Ivy! – Ele disse me abraçando – O seu poder é soberano em qualquer um deles!

- O que mais devo descobrir – Perguntei – O que mais preciso saber?

- A primeira coisa é que ficará com fome agora – Ele disse ao tirar a comida do saco de papel – exatamente agora.

No mesmo momento que ele disse aquelas palavras a sensação de fome que havia sentido quando era humana, tomou conta de minha barriga, abri o saco e saboreei toda aquele deliciosa comida.

- Por que sinto fome? – Perguntei confusa – Eu não sou humana!

- Você é quase humana, quase demônio e quase serafim – Ele brincou – Você tem um pouco de cada coisa!

- Qualquer um pode me ferir?  – Fiquei ainda mais curiosa – Como eles podem me matar?

- Qualquer um pode te ferir – Ele disse comendo o pedaço de hambúrguer que eu havia deixado no saco – Esta é o objetivo deles, te deixar sem casca!

- E depois? O que farão? – Fiquei ainda mais confusa – O que virá depois disso?

- Pensei muito nisso nas ultimas horas – Ele me explicou – Acredito que o plano deles é destruir sua casca, pois ela é que mantem a luz e a escuridão unidas, quando sua casca não existir mais, elas seguiram seu caminho, a luz voltara para cima e a escuridão para baixo.

- A única razão de existirmos é por que somos feitos de luz e escuridão? – Perguntei confusa – Você é mais escuridão que luz. Como isso é possível?

- Eu escolhi pertencer mais a escuridão – Ele sorriu – Mas a luz ainda mora aqui. Eu, assim como você, também tenho os dois lados, por isso somos poderosos.

- E por que você escolheu esse lado? – Finalmente fiz a pergunta que queria fazer a tempos – Por que a escuridão e não a luz?

- Na hora certa você saberá – Ele disse e se levantou da cama – Recebemos uma nova alma lá embaixo hoje, mas não temos ideia de quem a mandou. Nós também esperávamos outra alma em breve, mas parece que ela não chegará tão cedo. Você sabe alguma coisa sobre isso?

- Não! – respondi rapidamente – Não sabia que você estava no inferno?

- Estou. Você é a inimiga, não eu! – Ele riu – Você tem certeza que não sabe sobre o ocorrido?

Neguei novamente, ele sabia que eu tinha haver com tudo aquilo, e eu sabia disso também, mas não queria falar sobre o assunto, queria entender o que estava acontecendo dentro de mim. Ele me olhou, como se lesse meus pensamentos, eu sabia que aquilo era impossível, pois não conseguia ler os dele, a não ser que ele não fosse tão igual a mim quanto dizia ser.

Depois de receber muito carinho de Luc peguei no sono, não entendia o porquê de Luc nunca dormir ou comer e eu sim. Havia muitas diferenças entre ele e eu, diferenças que me deixavam confusa e insegura, estava claro que ele não gostava de falar muito dele ou não queria, não sei. Dois dias se passaram e nada de novo havia acontecido, Luc não ficava o tempo todo do meu lado, dizia que tinha tarefas a realizar, as mesmas que eu realizava quando era um demônio. Aquilo me incomodava, definitivamente Luc era um ser do mal, ele gostava de ser assim.

Durante este tempo fiz muitas coisas, coisa boas e ruins também, salvei vidas, mas condenei outras, eu não sabia para qual lado jogar, mas só conseguia ficar em paz se fizesse o que deveria fazer, não escolhia, apenas fazia.

Era dia, estava sentada em frente a quadra esportiva de Lakeville, a única da cidade, lá todos os jovens praticavam esportes e davam festas no enorme salão da recepção do clube. Senti que aquele era um lugar mágico, havia muitas almas lá, que eu gostaria muito de conhecê-las.

- Está procurando algo? – Disse um garoto que se juntou a mim no banco da praça – O que há lá de tão importante para você?

- Por que esta falando comigo? – Perguntei – Você não deveria!

- Sei que não, mas não pude deixar de te conhecer! – Ele sorriu – Como foi?

- Cair? – Perguntei – Por que quer saber? Se você pretende cair, é melhor desistir, não é tão fácil quanto pensa!

- Não quero cair, só quero entender! – Continuou ele – Soube que você terá que escolher, se você conseguir sobreviver!

- Por que não me dão uma chance de provar? – Disse a ele – Por que simplesmente não me ouvem?

-Há muito mais mistério ao seu redor que imagina! – Ele sussurrou em meu ouvido – Gostaria de saber para lhe contar, mas como não posso, deve descobrir sozinha!

- Diga-me, qual é o seu conselho Tristan? – Disse ao segurar sua mão, o impedindo de ir embora – O que devo fazer?

- Não sei! – Ele respondeu – Use estes novos poderes incríveis, desse modo deve descobrir.

- Fiquei feliz com a escolha deles de lhe colocar em meu lugar! – Disse sorrindo, realmente Tristan era um serafim digno de ocupar meu lugar no paraíso.

Ele se foi, desapareceu diante dos meus olhos, pode sentir a ternura vinda de sua alma, ela era repleta de amor, a face boa dele. As palavras ditas tão carinhosamente por ele me confortaram, senti tanta paz naquele momento que me lembrei do paraíso, eu realmente queria voltar para lá, mas sem Luc comigo não adiantaria de nada. Triste destino o meu.

De repente senti algo brotando dentro de mim, parecia que havia borboletas dentro do meu estomago, minha visão começou a falhar, as imagens ficaram borradas, algo atingiu minha cabeça com tanta força que desmaiei. Ao me recuperar estava num lindo jardim, cheio de violetas e lírios, um lugar calmo e cheio de paz, eu estava deitada num gramado bem verde e macio.

Meu coração estava sorrindo, com certeza havia mais luz nele do que escuridão naquele momento, mas quando tentei me levantar não conseguiu, senti que minhas mãos e pés estavam presos a grama, por algo que meus olhos não podiam ver. Alguém se aproximou, a luz ofuscou meus olhos e não pude ver quem era, apenas pude ver o contorno de duas asas, elas deveriam ser grandes e majestosas, logo pensei no pior, sozinha sem Luc, Gabriel me mataria em poucos segundos, sem fazer o mínimo esforço.

- Quem é você? – Perguntei sem perder a calma – O que está fazendo?

- Estou salvando toda a humanidade – O ser me respondeu na mesma calmaria – Acredite! Se você pudesse ver o futuro como eu vejo, pediria para eu fazer isso.

- O que você vê em meu futuro? – Indaguei sem alterar minha voz – Me conte!

- Vejo muita dor e muita destruição – Ele respondeu – Vejo escolhas erradas!

Ele colocou sua mão em minha barriga e a apertou, no inicio não senti nada, apenas uma leve compressão, mas depois uma queimação surgiu, tomando conta do meu corpo. Minha pele e minhas entranhas pareciam pegar fogo, comecei a me debater, mais e mais, mas aquela mão me segurava com tanta força, que era quase impossível de me soltar.

Parei e me concentrei, havia muito mais força dentro de mim, eu só precisava encontrá-la e usá-la, mas ela estava escondida muito bem, pois não conseguia a encontrar. Quando olhei para os meus braços, eles estavam em chamas, meu corpo era puro fogo, a dor era insuportável, pude ver a grama ao meu redor queimar comigo, gritei de desesperos, gritei de dor, gritei por minha vida, gritei até não ter mais ar em meus pulmões. Uma força brotou do fundo do meu peito que empurrou para longe aquele ser que tentava contra minha vida.

O Fogo se apagou quase que instantaneamente, mas ainda havia sinais dele em minha pele, ela estava toda queimada e cheio de bolhas, ainda podia senti-la queimar, e a sensação dolorosa ainda continuava. Meus olhos ficaram vermelhos, vermelhos como o sangue, e ao olhar para aquele ser, um lindo Serafim, que havia dividido comigo um lugar no paraíso, eu o atrai para perto de mim, ele nada podia fazer.

 - Acha que pode comigo? – Minha voz soou firme e grossa, como se não pertencesse a mim – Não, você não pode!

- Tenha piedade! – Disse ele – Suplico! Só faço o que sou mandado fazer!

O segurei pelo o pescoço com apenas uma mão, minha força era soberana, nenhuma chance tinha ele contra mim. O olhei fixamente, ele fechou os olhos, mas eu ordenei que olhasse para mim e ele obedeceu, pude sentir a luz se apagando dentro dele, o medo trazido pela escuridão passou a brilhar em seus olhos e antes que a escuridão pudesse tomar conta por completo, seu corpo pegou fogo, assim como o meu. Eu o segurei até que a luz desapareceu de vez de sua alma, e seu corpo se desprendeu de minhas mãos e se transformou em cinzas.  

Senti meu corpo cair em meio ao nada, o chão já não estava sob meus pés. Armei minhas asas negras, estavam ainda mais belas, fortes e magníficas, enquanto pairava no ar me senti ainda mais forte, lentamente as feridas abertas pela queimadura foram se fechando. Talvez o dia de enfrentar Gabriel estivesse próximo, mas eu tinha certeza que ao chegar, eu estaria definitivamente pronta, mesmo não sabendo qual seriam as conseqüências se eu ganhasse a luta.

Quando voltei ao quarto da pensão, mais uma vez Luc não estava lá, me deitei e o esperei na cama, mas ele demorou a chegar, eu estava cansada, usar toda aquela força havia me esgotado, aconcheguei-me ainda mais e dormi um sono profundo, que me fez sonhar.

“Se aproximava das 3 horas e 33 minutos da madrugada, eu estava deitada na cama, dormindo profundamente, quando algo me atingiu por trás, a dor era tão intensa que mal pude me mexer. Outros golpes vieram ainda mais fortes, me ferindo gravemente, havia muito sangue, meu corpo estava quase submerso nele, e ao contrário das outras vezes, não conseguia curar meus ferimentos. Respirei fundo e usei as ultimas forças que me restavam, consegui me virar, avistei uma imagem encostada na parede e me olhando atentamente, não conseguia vê-lo perfeitamente, a escuridão do quarto escondia sua face, tudo que podia ver era o contorno de grandes asas por de trás dele, asas que jamais havia visto antes. Ele desencostou-se da parede e levantou uma arma contra mim, seu formato era estranho e assim como ele também não pude vê-la, mas algo saiu dela e veio direto em minha direção, quando olhei para o meu peito, vi o que me atingia, várias flechas banhadas a prata. Senti a luz deixando meu corpo, a escuridão também a acompanhava, um vazio tomou conta de meu peito, minha casca estava se desintegrando e num ultimo suspiro olhei novamente para ele, a luz que saia de meu peito iluminou seu rosto, mas antes que pudesse vê-lo, despertei.”  

Acordei assustada, o relógio que ficava ao lado da cama, num criado mudo, marcava exatamente 3 horas e 33 minutos da tarde. Os números do relógio me fizeram lembrar o sonho que tive, eu me virei rapidamente e olhei para a parede, Luc estava lá encostado nela, olhando fixamente para mim, seu sorriso era sombrio, que me fez estremecer, então ele disse:

- Trouxe uma coisa para você!

Havia um grande saco preto ao seu lado, ele o abriu e revelou seu conteúdo, um arco flecha, então o sorriso desapareceu de seu rosto, sua face ficou séria, ele o levantou e apontou para mim.

- Sinto muito! 


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Escrevi com muito carinho.
Espero que tenham gostado, comentários me deixaram feliz!!!