Scorpions escrita por Lovefantasy


Capítulo 5
Dores




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O Grande Mestre não achava certo que Kárdia se culpasse daquela forma, mas o velho escorpiano era teimoso. Shion compreendia seu sofrimento pela perda dos companheiros, em especial a perda de Dégel, já sentira isso, e o sente até hoje. Mas de nada adiantaria se culpar por algo que aconteceria de uma forma ou de outra.

Não conseguiu, porém, colocar isso na cabeça dele.

Não negou ao escorpiano um tempo sozinho. Talvez assim ele se acalmasse. E Shion ainda tinha seus deveres de Mestre. Deixou no quarto um Kárdia abalado.

Surpreendeu-se ao encontrar nove dos doze Cavaleiros de Ouro. Todos o aguardavam diante de sua poltrona vazia, inquietos e curiosos. Queriam saber sobre o cosmo desconhecido que surgiu no Santuário.

- Pelo o que vejo, a notícia sobre Kárdia já se espalhou... – Sua voz forte tomou a grande sala, despertando os Guerreiros do transe de espera.

Todos se calaram e voltaram sua atenção ao Mestre, que se sentava em seu acento.

- Mestre, é mesmo verdade que um de seus antigos companheiros retornou? – Mu de Áries tomou a palavra.

- Mais importante que isso, que história é essa de que Poseidon ressuscitou? – Máscara da Morte, Santo de Câncer, intrometeu-se.

- Mestre, por favor, explique-nos o que está acontecendo. – Shaka de Virgem, com mais paciência, tomou a vez.

O Grande Mestre respirou fundo e finalmente usou de seu direito de falar.

- Por favor, tenham calma. Explicarei tudo, caso me permitam falar.

O silêncio tomou o lugar e Shion colocou-se a explicar, outra vez, o que estava acontecendo. Como já estavam a par de tudo, e ainda muito cansados, Camus e Milo, além de Dohko, estavam ausentes.

Na casa de Escorpião, a temperatura estava baixa. Camus acompanhara Milo até sua casa, e seu mau humor fazia com que os graus abaixassem involuntariamente.

- Camus, meu querido, eu não tenho intenção de morar numa réplica do Pólo Norte. Pode parar de congelar a minha casa?! – Reclamou o escorpiano, usando de sarcasmo. – Sabe que eu detesto o frio!

O aquariano cruzou os braços e ignorou as tentativas que Milo colocava em prática tentando se esquentar.

- Talvez você prefira que o Kárdia te faça companhia, não é? – A voz do aquariano ganhara um leve tom de sarcasmo amargurado.

Milo não entendeu. Tudo o que conseguiu compreender era que a irritação de Camus estava ligada a Kárdia.

- O que você quer dizer, francês?

O Santo de Aquário encarou-o com uma expressão irritada. A temperatura baixava cada vez mais, lentamente.

- Não se faça de bobo! Eu vi o jeito que você olhava pra ele, o modo como tratou, antes mesmo de saber o nome dele, desde que o encontro lá em Atlântida!

O escorpiano estava completamente perdido, confuso com a atitude do francês.

- Camus... Não seja ridículo!

- Ridículo?! Eu?

- Claro! Parece insinuar que me apaixonei pelo Kárdia... ... É! É isso, não é?! Ora, Camus, eu se quer o conheço, criatura de gelo!

Camus aceitaria, dolorosamente, caso Milo se apaixonasse, mas suas últimas palavras doeram mais que tudo.

- Não me chame... Não me chame assim! – Sua voz se elevou e seus olhos se fecharam involuntariamente, para, em seguida, sussurrar. – Por favor, você não...

A expressão que tomou o rosto do aquariano deixou Milo chocado; não gostou de vê-lo assim. Seu coração doeu. Sentiu-se culpado.

O francês já não queria ficar ali. Iria sair, voltar para sua casa, de onde não deveria ter passado. Dirigiu-se a saída da casa de Escorpião, sem dar explicações ou pronunciar qualquer outra palavra. Nada mais sairia de sua boca. Porém, Milo o impediu. Sua mão forte segurou seu ombro, impedindo que continuasse.

- Me solte... – Pediu, sem olhá-lo. – Deixe-me ir.

- Não. Você não vai sair daqui. Não com esse pensamento idiota!

Camus não insistiu, não queria medir forças com Milo, mas nada falou. Sentiu a mão do grego se afrouxar e alcançar seu rosto, fazendo com que o olhasse nos olhos – não gostava de fazer isso, não com Milo. Ele não queria, mas não relutou.

- Confia em mim, francês? – As safiras brilhavam intensamente sérias.

O Santo de Aquário piscou demoradamente, mas não resistiu e voltou a encarar aqueles olhos provocantes.

-... Mas não deveria...

Milo revirou os olhos.

- Vou tomar isso como um sim... – Sorriu, provocando rubor nas frias bochechas do aquariano. – Continue confiando, e acredite que apesar de tudo, a coisa que mais temo no mundo é lhe magoar. Se te chamo de criatura de gelo, é porque eu sei que o Escorpião- Rei aqui vai quebrar esse gelo!

O rosto do francês ardeu em chamas. O coração batia descompassado. Mas a incerteza machucava.

- Algo me diz que irá magoar, ainda que não queira...

Milo balançou a cabeça em negação.

- Eu não me apaixonei, droga! – O escorpiano entendeu a indireta.

- Ainda não, certo? – Insistiu.

- Ain-... ... Camus! O que quer dizer?!

Camus riu baixinho.

- Eu também queria saber, mas tenho medo.

O Santo de Escorpião ficou olhando aquele rosto bonito. Era ainda mais perfeito quando demonstrava seus reais sentimentos, e, nesse momento, ardia de ciúmes e medo.

- Você deveria... Rir mais vezes, pingüim francês. – Não sorriu. Apenas se aproximou mais e deu-lhe um rápido beijo superficial.

Camus, sem jeito e intimidado, pegou a mão de Milo, que continuava em seu rosto frio, e a afastou de sua pele. Imediatamente sentiu falta do contato, mas resistiu.

- Talvez...

O aquariano deixou a casa de Escorpião um pouco menos tenso e mais alegre. Havia algo nas palavras de Milo que o deixava feliz, e seu último gesto, aquele selinho, era, ao mesmo tempo, constrangedor e provocante.

No Salão do Grande Mestre, o clima era tenso. Os Cavaleiros não esperavam por tantas novidades perigosas e surpreendentes.

- Bem, ainda que lutemos contra Poseidon, vamos conseguir. E temos a ajuda do antigo Cavaleiro, não é? – Aldebaran de Touro estava otimista, como sempre, e tentava animar o restante.

A imagem da última visão que Shion teve de Kárdia se formou em sua mente, fazendo-o se questionar quanto à participação do Cavaleiro. E contava ainda o caso da armadura de Escorpião – que agora tinha dois donos.

- Ainda que Kárdia tope nos ajudar, a armadura de Escorpião pertence ao seu atual Cavaleiro, o Milo. Não podemos nos precipitar em nada.

- O Mestre tem razão. Precisamos agir com cuidado e planejamento. – Saga, Cavaleiro da armadura de Gêmeos, concordou.

- Está certo, Saga. Mas há outras coisas que precisam ser resolvidas. – Aioros de Sagitário tentava estar à frente da situação.

O Grande Mestre concordou com ambos, mas sua maior preocupação era com o estado de Kárdia.

O antigo cavaleiro da armadura sagrada de Escorpião não encontrava disposição para sair daquela cama. A vontade que tinha era de chorar, mas era orgulhoso de mais para derramar lágrimas.

Sua vida fora congelada no tempo. Ficara no tempo quando abriu os olhos e viu uma demonstração de vida. Viu e sentiu. Mas agora tudo o que via era sua inutilidade, tudo o que sentia era um peso esmagador que destruía seu frágil coração. Como doía o remorso, a culpa, a raiva, a tristeza, a saudade... Doía tanto a ponto de fazê-lo esquecer o orgulho e deixar as lágrimas escorrerem como lava incandescente.

- Dégel... Me perdoe. – Sussurrava sozinho, imaginando a expressão que seu amigo faria. Sentindo sua temperatura se elevar perigosamente, deu um sorriso doloroso ao vácuo – Parece que... Continuo precisando de você, cubo de gelo...

Ele não estava se importando com a conseqüência que teria caso não parasse sua febre. Estava desgostoso consigo mesmo, e não engoliria seu orgulho novamente, para pedir ajuda a um estranho aquariano que não era Dégel. Fechou os olhos e continuou lá, deitado, aguardando qualquer que fosse seu destino.

Na casa de Escorpião, Milo estava inquieto. Em seu quarto, rolava na cama, sem conseguir descansar. E sua inquietação tornou-se pior quando sua alma voltou a arder, queimando no cosmo de Kárdia.

Sentou-se abruptamente na cama, cedendo à agonizante sensação.

- Mas que droga! Não pode me deixar nem tirar um cochilo?! – Esbravejou.

Saiu de seu quarto, depois de sua casa, sem se preocupar em vestir sua armadura, ou qualquer outra roupa decente. Subiu as escadas, passando pelas casas que haviam antes do Salão do Grande Mestre, todas com seus devidos proprietários.

Chegando à casa de Aquário, encontrou Camus e o arrastou junto.

- Vou precisar de você, pingüim!

O aquariano tentou se libertar do pulso forte de Milo, mas não conseguiu.

- Milo, me solte! O que você quer?!

O escorpiano parou bruscamente e se voltou para Camus.

- Não quero que você venha com aquele papo de paixão, mas não tem jeito. Kárdia está mal. – Revelou Milo.

Camus desviou o rosto e se livrou da mão de Milo, que ainda segura seu pulso.

- Vá lá, Camus. Se não quiser, eu não vou, mas você precisa ir!

- Por quê? – Camus não queria realmente saber, mas não via outra forma de tentar negar ao pedido.

- Foi o Mestre que me contou sobre a doença dele...

Então, Milo revelou a Camus o que o Mestre Shion lhe havia contado.

No final das contas, tudo o que não queria fazer, Camus estava fazendo. E, agora, estava atuando como um substituto para Dégel de Aquário.

Não fora capaz de negar o pedido de Milo, principalmente depois de saber de tudo. O escorpiano insistiu em ficar, e ficou, o que fez o francês se sentir ainda mais desconfortável com a situação.

Milo pediu pressa, e Camus aquiesceu. Rapidamente passou pela casa de Peixes e chegou ao Salão do Mestre. Não encontrara Shion, indo diretamente ao quarto onde Kárdia estava. Por estar bastante nervoso, não adentrou o aposento logo que chegou. Além de nervoso, estava irritado.

- Você me paga, Milo... – Respirou fundo e bateu à porta.

Não recebendo resposta, entrou. Seu corpo frio imediatamente reagiu ao calor que se fazia presente no quarto. Logo procurou pelos olhos de Kárdia, encontrando-os pesadamente fechados.

Aproximando-se do escorpiano, levou a mão à sua testa e se assustou: ele ardia em febre.

- Você... Realmente me confunde. – Camus elevou seu cosmo e começou a esfriar o ambiente. – Trate de melhorar...

(Continua...)


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Notas finais do capítulo

Gentee... Desculpe a demora!
Mas ai está! Mais um capítulo!

Aproveitando...

Para os leitores que acompanham minha outra fanfic, "Táxi": esta estará parada por um tempo, até que eu conclua pelo menos mais dois capítulos dela.
Brigadinha!!