Scorpions escrita por Lovefantasy


Capítulo 4
Retorno


Notas iniciais do capítulo

A new chapter!
Espero que gostem!



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O Santo de Aquário levara um susto. O som da voz daquele homem pronunciara um nome, o nome do seu antecessor. Ter aquelas safiras diante dele, e ouvir o som daquela voz, provocou no aquariano estranha sensação que fez seu rosto esquentar violentamente. Ficara sem ação, continuou com os olhos fixos no rosto daquele que, lentamente, despertava.

Kárdia fechou os olhos novamente, voltando a abri-los após alguns segundos. Procurava pelos olhos que vira a pouco, tão semelhantes aos de Dégel.

- Não... Não é o Dégel... – Constatou quando sua visão tornou-se mais nítida. Ergueu uma das mãos até alcançar o rosto do aquariano. – Mas... É frio como ele.  Tem um cosmo semelhante... Está esfriando o ar quente que eu tanto gosto...!

A mão que lhe tocou a pele parecia ferro em brasa para o francês. Um leve arrepio percorreu-lhe o corpo frio ao toque dele. E o sorriso divertido fez o rubor tomar-lhe o rosto novamente. Nada lhe saia pelos lábios entreabertos, se não seu hálito gelado.

- Mesmo tão parecido, não é o Dégel. Quem é você? – E a voz de Kárdia voltou a encher seus ouvidos.

Então, Kárdia o comparava ao antigo Santo de Aquário? Embora não quisesse ser como um substituto, não ficara com raiva daquele homem. Desentendia a si próprio por não ter gostado daquele ser enquanto este estava desacordado, e não ter mais tal desgosto agora que conhecera seus olhos e sua voz. A semelhança entre ele e Milo... Provavelmente era isso que teria feito Camus mudar de palpite.

- Sou... Camus. Camus de Aquário. – Respondeu, escondendo qualquer sombra de seus sentimentos e sensações.

A resposta do Cavaleiro surpreendeu Kárdia. A mão com que tocara o rosto dele, e não fora repelida, ainda permanecia em contato com a pele fira, mas as palavras que ouviu o fizeram recolhê-la.

As safiras fitaram a Armadura de Ouro que protegia o corpo do homem que se apresentou como Camus, quando ele se colocou de pé. Sim, era a Armadura Sagrada que pertencera a Dégel.

- De Aquário...? – Sua voz saiu baixa.

Camus voltou seus olhos ao rosto de Kárdia. Seus lábios ameaçaram fazer pronúncia de uma explicação, mas a porta do quarto se abriu, atraindo a atenção de ambos para os dois homens que chegavam.

Milo fora o primeiro a notar que Kárdia havia acordado, pois assim que a porta do quarto se abriu diante dele, a sensação que sentira em Atlântida apossou-se de seu corpo novamente. Dessa vez, porém, ele não foi o único a senti-la.

Quando seus olhos se voltaram à porta fixaram-se imediatamente na figura que o observava com olhos vidrados. Seu coração saltou em brasa e sua alma fora consumida pelas chamas. Os olhos do homem que estava ao lado do ser de madeixas azuis também estavam fixos em seu rosto, mas não se importava. Algo o fazia desejar tocar aquele que trajava sua armadura, e mesmo identificando-a protegendo o corpo de outro, não se preocupou. Os olhos dele brilhavam ainda mais que o próprio dourado do traje. Eram mais belos e atraentes.

- Kárdia! Despertou! – Uma voz forte chamou-lhe a atenção, principalmente para o fato de tê-lo chamado pelo nome.

Não era a voz do homem que usava a Armadura de Dégel. Aquele que trajava a de Escorpião não movera os lábios. Fora o terceiro, alto e com as vestes do Grande Mestre, que o chamara por nome. Mas essa não era a voz de seu mestre, Sage. O que estava acontecendo?

Voltou seus olhar para quem o chamou, e qual não fora a surpresa ao ver quem era?

- Shion?! – Assustou. Por que seu irmão de Guerra usava as vestes do Grande Mestre? – O... O que está acontecendo? Por que está com os trajes do Mestre?! Cadê o Dégel?!

Kárdia estava confuso. Encontrar Shion, um conhecido, lhe deixava mais calmo, mas a ânsia por respostas era grande.

O Grande Mestre se aproximou da cama onde Kárdia se encontrava agora sentado.

- Fique calmo, Kárdia. Está tudo bem, vou lhe explicar o que aconteceu.

Milo deu mais alguns passos e se encostou à parede, ainda com os olhos fixos e vidrados no rosto de Kárdia. Camus fez o mesmo, colocando-se ao lado do escorpiano. Shion se sentou aos pés da cama de Kárdia e começou a lhe explicar.

- Kárdia, a Guerra Santa em que nós atuamos como Cavaleiros já se foi. Athena conseguiu derrotar o Imperador do Submundo e vencer a Guerra. Porém, apenas Dohko e eu sobrevivemos. Bem... Você também. Mas durante esses duzentos anos, pensamos que você havia morrido junto ao Dégel.

“Depois que vencemos a Guerra, fui nomeado como Mestre do Santuário. Até mesmo a Guerra Santa que sucedeu a nossa já aconteceu, e Athena vencera novamente. Muita coisa aconteceu, e todos foram ressuscitados pela nossa deusa, há cerca de um ano.”

Kárdia se mantinha em silêncio, encarando os lençóis da cama. Tentando conciliar tudo o que Shion acabara de contar, cerrou os punhos, apertando fortemente o grosso edredom.

- Dégel... Morreu? – As palavras só saíram altas o bastante para que os outros ouvissem. Fora mais um sussurro afirmativo que uma pergunta retórica. – Todo mundo... E eu sem fazer nada! Um Cavaleiro inútil em duas Guerras!

Shion iria interferir em suas palavras, mas não fora a sua voz que invadiu os ouvidos de Kárdia.

- Não seja bobo! Se continuar choramingando assim, acabará envergonhando o nosso nome e a nossa armadura de Escropião-Rei!

Aquela voz era nova para o antigo Santo de Escorpião, mas ele sabia a quem pertencia. Permaneceu com a cabeça baixa, encarando o colchão. Repreendia a vontade de xingar aquele homem, mas não era realmente isso o que queria fazer.

Ouviu o som metálico dos passos se aproximando de si, mas se quer o olhou.

Milo parou diante do Cavaleiro mais velho e se curvou para frente, ficando a alguns centímetros do rosto encoberto pelos longos cabelos azuis.

- Sabe, o Mestre Shion contou tudo o que sabe sobre como você supostamente morreu. – Milo achou graça e deu um riso leve. – Cara, você honrou seu título como Cavaleiro até o fim! Pode ter sido muita coisa, mas inútil não. Até porque, só você pode ter sido melhor que eu!

Pareciam palavras bobas e infantis, mas havia algo naquele homem que fazia Kárdia sentir-se melhor. Ele ergueu um pouco a cabeça e procurou por aqueles olhos que o hipnotizaram a pouco, encontrando-os bem perto dos teus. Assustou-se a princípio, sentindo seu rosto esquentar mais que o comum.

Ver aquelas safiras tão próximas fez o coração do jovem escorpiano falhar uma batida. Suas bochechas esquentaram. Era possível sentir o calor que o corpo de Kárdia irradiava. E toda essa mistura de sentimentos e sensações o fez sorrir.

- Bem vindo de volta! – Disse o que lhe veio à mente. O sorriso que recebeu em resposta era satisfatório.

Como não sorrir diante de tão belos olhos e palavras tão amigáveis? Toda aquela falação o deixava mais tranqüilo e a vontade. Sim, ele era bem vindo.

- É. Acho que... Estou de volta...!

Satisfeito por conseguir apaziguar as chamas que lhe queimavam por dentro, Milo corrigiu sua postura e se afastou. Entranhou a expressão irritada do amigo aquariano, mas não comentou.

Toda aquela cena entre Milo e Kárdia não agradou ao francês. Algo o incomodava, impedia que aceitasse aquilo. Tentou, porém, esconder seu desconforto.

- Você... Sente necessidade de descansar um pouco mais? Conhecerá a todos em breve, assim como logo ficará a par de tudo. – Shion já não via necessidade de acalmar o velho amigo, vendo que este já estava mais conformado.

- Não, Shion. Estou bem... Tô cansado de descansar! – Kárdia respondeu mais descontraído. Parecia ter aceitado tudo.

- Tem certeza? Vai ter que desenferrujar completamente, se não vai apanhar de Poseidon! – Milo comentou, provocando-o, sem medir palavras.

- Milo! – Camus o repreendeu, enquanto Shion apertava os olhos já fechados.

Não era bom que Kárdia soubesse disso agora. Principalmente com todo o rancor que guardava do deus dos Mares.

O comentário do escorpiano serviu para que Kárdia soubesse seu nome, uma vez que ele ainda não tivesse conhecimento de tal. Porém, revelou-lhe algo que, a julgar a reação de Shion e do outro Cavaleiro, ele não deveria saber.

- Poseidon?! Como assim?! – Olhou diretamente para Shion.

O Grande Mestre respirou fundo e olhou para Milo. Se antes era Kárdia quem dava bola fora, agora era seu sucessor...

- Muito bem! Obrigado, Milo! Podem se retirar.

Camus se despediu com um gesto discreto e se dirigiu à porta.

- Foi mau... – Milo o seguiu apressado.

Quando os dois deixaram o quarto, Kárdia insistiu.

- E então... Explique-me tudo.

O Grande Mestre atendeu ao pedido, que mais parecia uma ordem.

Contou ao antigo Cavaleiro de Escorpião que Dégel havia morrido enquanto congelava o mar de Atlântida – o que ele já imaginava – e Poseidon junto a ela. Que, porém, o cosmo de Kárdia estava provocando mudanças que descongelariam o deus. E que Milo o encontrou e libertou.

Quando Shion terminou o resumo de todos os acontecimentos dos últimos dias, Kárdia já não tinha o mesmo humor.

- Fiz todo o trabalho do Dégel resultar em nada!

- Não diga isso, pois não é verdade.

- Como não, Shion? Se não fosse por mim, se eu tivesse morrido de vez na luta contra Radamanthys, estaria tudo bem hoje! Poseidon não voltaria e nada disso aconteceria!

O sempre orgulhoso Kárdia agora se martirizava. Culpava a si próprio por acontecimentos inevitáveis. Fazia as chamas da alma de Milo arderem com mais fervor.

- Camus... Acho que eu deveria voltar lá. – Comentou, cessando seus passos.

O aquariano parou, mas não olhou para trás.

- Que espécie de Cavaleiro ele seria, se não pudesse aceitar teu próprio destino? – Camus tomou novamente seu rumo. – Ele não pode viver às sombras dos outros.

Milo não negou a razão de Camus, mas não voltou a se pronunciar. Acompanhou o aquariano até a saída do Salão do Grande Mestre.

- Shion, teria sido melhor se eu não tivesse voltado.

(Continua...)


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