Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 29
Capítulo 29 - Encontro




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"Seduzo tudo o que não entendo. Tudo o que eu entendo, eu já seduzi"

~ Vi Filho

Capítulo 29 - Encontro

 Com uma pose mais confiante, Monalisa parecia determinada a recomeçar sua aventura, mas agora consciente do que deveria fazer. Se o tempo voltou mesmo para trás, não podia mais vacilar. Tendo essa nova oportunidade, precisava fazer as escolhas certas. Errar não era uma opção.

- Muito bem - diz o Mestre dos Relógios, após guardar seu pano de limpar lentes em uma gaveta e dar um leve pigarreado - Parece estar bem decidida. Mesmo assim, peço que tome cuidado.

- Duplicarei o meu cuidado - retruca ela.

- Todo cuidado é pouco. Afinal, o Labirinto também está consciente desse retorno no tempo.

- Como? O que disse?

- Ora, lembre-se do que eu disse. A diferença entre mim e os outros é apenas que eu posso ser onisciente a respeito de todas as linhas de tempo possíveis. Mas os outros são perfeitamente oniscientes dessa linha de tempo.

- Mas se é assim...eu praticamente não tenho vantagem nenhuma.

- Claro que tem. Os acontecimentos serão muito semelhantes a tudo que ocorreu até então. Lembre-se que a encenação deve seguir de forma racional.

- Mas de alguma forma eu já estou em um futuro diferente, não?

- Sim. Você já fez escolhas diferentes do passado. Mesmo assim, tudo que não foi influenciado por suas escolhas continuará acontecendo como antes. Por exemplo, a política da Itália não foi influenciada diretamente por escolhas que você fez aqui, então os noticiários publicarão exatamente o que aconteceu antes.

- Hmm..acho que estou começando a entender - responde a garota, meio pensativa - O Labirinto precisa encenar fielmente o passado, não é?

- Exato. E além disso - continua o Mestre - Sua guia, Ariadne, ainda está desativada. No momento, você sabe mais sobre o Labirinto do que ela mesma.

- Então...é como se ela fosse vítima do Labirinto e não eu?

- Não - responde o homem, mantendo a calma - Existe muita diferença entre vocês duas.

- Presumo que não possa me contar mais do que isso, não é?

- Sinto muito. Tudo que posso fazer no momento é entregar seu caderno de sonhos - diz ele - Não que seus sonhos antigos terão muita influência, mas esse caderno carrega muito de você. No Labirinto, simbolismos são importantes e se ele está tão ligado a você, imaginei que ajudasse tê-lo do seu lado.

- Entendo...aqui eu anotei todos os sonhos que tive...ou que vou ter.

- Bem, você já tem consciência deles. Creio que não terá duas vezes o mesmo sonho, a menos que seja muito necessário.

- Isso me lembra. Sonhei com Ariadne caindo do prédio mais de uma vez. Sem dúvida era um presságio do que estava por vir, mas...por que sonhei tantas vezes com isso? É como se o Labirinto quisesse forçar minha ligação com ela...desde o início sabia que Ariadne era importante, mas não sabia se era bom ou ruim.

- Foi seu primeiro sonho, não foi?

- Esse do prédio? Sim.

- Foi seu primeiro sonho após ativar o primeiro evento. Uma vez que você ativa o primeiro evento, ou entra no Labirinto, ou cai na toca do coelho, ou vai pelo caminho da floresta ao invés da estrada, enfim, atende o chamado da aventura, está destinada a encontrar com a guia. No entanto, você também pode recusar essa guia. Tudo vai depender das escolhas que você fizer.

- Difícil de entender.

- Você pode fazer um paralelo com esses jogos de video-game tão populares por aí. Você, a jogadora, precisa terminar o jogo. No entanto, o jogo, ou Labirinto, faz de tudo para impedi-la de concluir seu objetivo ao mesmo tempo que fornece elementos capazes de ajudá-la. São apenas dois elementos, mas sair ou não só depende de você e de como consegue lidar com os itens que existem para auxiliá-la.

- Já fiz uma comparação parecida antes. E, de fato, todas essas regras lembram muito um video-game. Os personagens só podem agir de acordo com sua programação, mas todos fazem parte do programa.

- É mais complicado do que isso, mas a analogia funciona. Esse retorno no tempo é um código possível no jogo e o Labirinto sabe disso. Mas vai seguir uma programação diferente, seguindo as regras apropriadas.

- Complicado, não é? Só vou entender tudo se terminar o jogo.

- Exatamente. Seu prêmio por terminar o jogo será a verdade. Se você considerar que a verdade é um prêmio.

  Claro que sim. O que ela mais queria naquele momento era descobrir a verdade. Naquela hora, lembrou-se da conversa que teve com um de dos primeiros tutores, o gato sorridente. Histórias, filmes e jogos são todos metáforas de sua própria vida: um protagonista interagindo com um mundo seguindo um roteiro programado. E seu objetivo é saber o que está por trás de todo esse roteiro.

- Estou pronta para saber a verdade. Só preciso chegar até lá - diz a garota com convicção.

- Pois bem. Você sabe que precisa utilizar com sabedoria o que está a seu favor. Continue acompanhando seus sonhos e ative a personalidade da guia. Daí, é só continuar caminhando até a saída.

- Certo - ela assente e, imediatamente depois, ouve-se um ruído. Monalisa se encabula: era seu estômago. Não havia almoçado até aquela hora.

- Bem...acho que já vou indo - diz ela, meio sem-graça - Preciso comer alguma coisa.

- Tudo bem. Até alguma oportunidade. Existem infinitas possibilidades de nos encontrarmos novamente...mas infinitas de não nos encontrarmos.

- Espero encontrá-lo de novo...em boas circunstâncias, é claro - diz ela.

- Boa sorte - diz ele. A garota sai da loja e dá um suspiro. Agora tinha certeza de que voltou no tempo, mas suas escolhas criariam futuros diferentes. Ela tenta se lembrar dos acontecimentos mais marcantes que vivenciou e passa por uma banca de jornal. As notícias que vê nas primeiras páginas, de fato, pareciam familiares. Então o Labirinto está mesmo agindo como se estivesse no passado, mas, por outro lado, todos sabiam que era apenas um dejàvú. Aquilo tudo já havia passado, o roteiro estava apenas se repetindo. Bizarro era o adjetivo mínimo para a situação, mas Monalisa já estava bem acostumada a esses acontecimentos estranhos. Ouvindo seu estômago reclamar de fome mais uma vez. Ainda tendo alguns trocados para gastar em um lanche, a garota segue para alguma lanchonete próxima. Não demora muito até que ela encontre um estabelecimento não muito grande, com poucas mesas, mas aparentemente limpo. Ela entra e pede um sanduíche não muito gorduroso do menu. No entanto, sua maior surpresa foi encontrar uma pessoa que nunca suspeitaria estar ali. Aquele não era o...Gabriel Jereth? O mesmo que...ela beijou antes (ou iria beijar, considerando que estava no passado)? Ele mesmo. Estava ali, com toda aquela pinta de garoto popular. O problema é que ele não era uma pessoa confiável. Sim. Ela lembra claramente que ele era um dos vírus.

 Estava nervosa, mas já havia sentado em uma mesa e feito o pedido quando o viu. O que podia fazer? Ignorar? Seria uma boa ideia, mas ela estava no Labirinto. E é óbvio que ele sabia que ela estava ali. O rapaz estava sentado há poucos metros da mesa dela e não demora muito para ele tirar os olhos do cardápio e se dirigir a ela. E agora? O que poderia fazer?

- Ei, você...é da minha escola, não é?

- S-Sim - responde ela, gaguejando. Mas não tinha como mentir, afinal, ambos estavam com o mesmo uniforme - Você seria?

- Meu nome é Gabriel - responde ele, embora Monalisa já soubesse exatamente quem ele era - Não sou da mesma sala que você, mas sei quem você é. Amiga da Cibele, né?

- Ah, sim...eu mesma - ela desvia o olhar. Queria sair o quanto antes, mas seu pedido já estava sendo feito. Além disso, mesmo havendo consciência de ambas as partes, Monalisa não podia agir de forma estranha no Labirinto. Teira que encenar tudo como se fosse um encontro normal. Agora ela percebia que ter voltado no tempo dava uma dificuldade ainda maior: não bastava fingir que o Labirinto não existia, também precisava fingir como se  não conhecesse o futuro!

 Ele pede licença para se sentar ao lado dela. Monalisa não fala nada, mas ele senta mesmo assim. A garota fica mais nervosa.

- Você é bem tímida, não é? - repara o rapaz, com um sorriso amigável. Monalisa ainda evita olhar para ele.

- Um pouco - responde ela.

- Não precisa. Alguém bonita como você não devia ter vergonha de nada.

- B-Bem...mas é o meu jeito - responde a garota, ainda evitando olhar nos olhos dele. Se facilitasse, poderia se deixar levar como da outra vez e não queria isso de forma alguma.

- Não sabia que você comia nessa lanchonete.

- É a primeira vez que venho.

- Sério? A comida é boa. Hoje tenho curso de espanhol aqui perto e venho direto da escola. Nessa correria a gente sempre acaba comendo de qualquer jeito, mas fazer o quê? Ninguém tem tempo pra nada.

- Pois é - concorda ela - Eu...eu só passei aqui porque precisava passar em uma ótica aqui perto.

- Precisa de óculos?

- N-Não. É que conheço o dono e precisava falar com ele - responde ela, sem muita vontade de dar mais satisfações.

- Hmm...entendo. Você parece ser uma pessoa legal. A gente podia conversar mais.

- Conversar...mais?

- Sei lá. A gente podia combinar de sair junto com alguns amigos. Conheço um pessoal bacana e...

- Seu lanche - diz o garçom, interrompendo a conversa dos dois. Monalisa agradece. Não só pelo lanche, mas também por quebrar o clima.

- Bom...quem sabe? - fala Monalisa, enquanto mastiga seu sanduíche.

- Combina com a Cibele - diz ele - Bom, eu preciso ir, mas antes...tenho uma coisinha aqui.

- Uma o quê? - pergunta Monalisa.

- Antes de vir para cá, uma vendedora praticamente me empurrou alguns enfeites. Eu não queria comprar, mas depois achei que seria legal como presente.

- Presente?

- Sim. Acho que você vai gostar - ele retira um tipo de broche em forma de borboleta do bolso - Normalmente meninas gostam disso, né?

- Um broche? Não vejo muita gente usando...

- Você quer? Pode ficar para você...

- P-Para mim? Bom, eu...

- Aceite. Eu não vou usar isso para nada. Com certeza vai ficar melhor em você do que em mim.

 Monalisa não confiava muito em alguém que ela sabia que não era confiável, mas ele já estava praticamente empurrando o broche para ela. Acabaria deixando com ela, querendo ou não.

- T-Tá. Mas não costumo usar muito essas coisas, então não fique chateado se não me ver usando isso na escola.

- Tudo bem. Só de você aceitar já está de bom tamanho - diz ele - Bem, vou nessa. A gente se vê!

 Apesar de ser bem cara de pau, ele não chegou a dar um beijinho de despedida. De qualquer forma, Monalisa não confiava nem um pouco nele e é claro que não iria ficar com um broche dado por um vírus. Sem muita cerimônia, ela embrulha o broche junto com o guardanapo que veio com o sanduíche e joga no lixo. Como já havia decidido tão firmemente, não iria cometer as mesmas besteiras de novo.

"Tá bom que vou usar esse troço!", pensa ela, pegando suas coisas e voltando para casa. Dali para frente, seu futuro seria outro!


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Notas finais do capítulo

Fica esperta, Mona! ;)

Bem, avisos: a moleza acabou! Como minhas aulas voltam essa semana, Pesadelo do Real volta a ser publicado semanalmente (espero escrever pelo menos todo domingo. É que o tempo vai ficar curto mesmo). Por outro lado, vocês não irão acumular tantos capítulos (afinal, sei que vocês também não tem todo o tempo do mundo para ficar lendo uma história só). Sendo assim, provavelmente os verei no próximo domingo (considerando a linha de tempo mais provável, claro).

Até!



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