Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 20
Capítulo 20 - Esquiva




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/20

"Diga-me com quem andas e te direi quem és"

~ Provérbio Popular

Capítulo 20 - Esquiva

  Todos os alunos começam a juntar suas carteiras para iniciar a atividade em dupla. Ariadne aproxima sua cadeira de Monalisa com um sorriso simpático no rosto. A loirinha começa a ficar preocupada, já que, pelo que parecia, seus planos para se afastar de Ariadne não estavam tendo muito sucesso.

 - Vou confessar que não sou muito boa em Português - diz a ruivinha, ainda mantendo seu tom amigável - Mas eu juro que vou me esforçar.

- T-Tá. Vou me esforçar também - diz Monalisa, desviando o olhar e girando a lapiseira entre os dedos, em sinal de nervosismo. Mas por que estava tão nervosa? Em uma sala cheia, seria impossível ativar qualquer evento específico, pelo menos era o que achava. Por hora, sua única preocupação seria cair em qualquer conversa suspeita que Ariadne pudesse começar. Não precisava entrar em pânico, desde que mantesse uma postura firme em suas opiniões. Mesmo assim, queria acabar com aquela situação o quanto antes.

- Vou passar os exercícios no quadro - diz a professora - Anotem tudo, por favor.

- Você anota, Monalisa? - pergunta Ariadne, olhando ternamente para a colega - Sua letra parece ser mais bonita que a minha.

- Não é tanto assim.

- Você é bem modesta. É sim.

- Acho até que é pequena demais - continua a loirinha, começando a anotar e tentando ao máximo não olhar nos olhos de Ariadne.

- Bem, dizem que a caligrafia de uma pessoa pode dizer muito sobre ela - continua a ruivinha - Sua letra é pequena, mas pelo estilo parece refletir uma pessoa organizada e introspectiva. Sua cara, não é?

- Ah, bem, não acredito muito nessas coisas - responde a menina, começando a escrever mais rápido.

- Ei, não precisa escrever mais rápido para disfarçar a letra. Só falei por curiosidade. Na verdade, também não acredito muito nisso, mas achei interessante.

- É...até que é interessante...

- Tem muitas coisas legais que não acontecem de verdade, não é? Quando era pequena, achava o máximo ter um velhinho que entregava presentes toda noite de Natal para as crianças boazinhas, até minha mãe dizer que na verdade era ela que colocava os presentes embaixo da árvore quando eu ia dormir. As coisas realmente legais nunca acontecem de verdade, né?

 Ariadne parecia sonhadora. Monalisa apenas sorri amarelo e concorda. Onde diabos ela queria chegar? Esse papo todo seria para dizer que a ilusão é melhor que a realidade? Poderia ser alguma subliminar para dizer que seria melhor permanecer no Labirinto do que tentar sair dele? Claro que ela poderia apenas estar jogando conversa fora, mas tudo que ocorreu até então tinha deixado Monalisa com a pulga atrás da orelha por qualquer detalhe, por menor que fosse.

- Bom, mesmo assim, ainda prefiro saber da verdade do que ser enganada pelo resto da vida.

- Haha. Que exagero. Mesmo que minha mãe não contasse acho que iria descobrir que Papai Noel não existia mais cedo ou mais tarde.

 Talvez isso aconteça com o Papai Noel, mas Monalisa sabia muito bem que existiam coisas que ela nunca descobriria sozinha se ninguém contasse. Seja como for, aquela conversa poderia levar para ideias que envolvessem o Labirinto. Era isso que ela queria? Pelo sim ou pelo não, Monalisa precisava mudar de assunto logo.

- Direto ou indireto? - pergunta Monalisa.

- Como?

- Esse verbo... - diz ela, apontando para o exercício que acabara de copiar - É transitivo direto ou indireto?

- Ah, sim. Desculpe. O trabalho...ah, sim, "entregar" é transitivo direto e indireto. Alguém tem que entregar alguma coisa para alguém.

- Objeto direto e indireto, não é? Claro - concorda Monalisa. Claro que ela sabia da resposta, mas precisava mudar de assunto. Por via das dúvidas, era melhor manter-se longe de Ariadne. No entanto, isso parecia ser mais fácil falar do que fazer.

- Você é mesmo boa nisso - comenta Ariadne.

 A loirinha não fala nada, mas a colega continua.

- É verdade - continua a ruivinha - Acho que me dou melhor em exatas.

- Mesmo assim, você ajudou bastante - comenta Monalisa, meio sem graça. Queria se livrar logo daquela situação, mas aquela aula parecia não acabar nunca.

- Bom saber! Acho que a gente faz uma boa dupla! Poderíamos fazer mais trabalhos juntas, né?

- Bom...quem sabe?

 Ariadne sorri. Na verdade, Monalisa queria ter dado alguma desculpa para não fazer trabalho com ela, mas pensou que isso soaria rude. Uma regra básica era de que, mesmo sabendo que tudo era uma conspiração, não poderia agir deliberadamente: ser ríspida sem motivo aparente causaria problemas para ela mesma. No entanto, não queria dar mais trela para a garota. Como poderia sair desse tipo de situação?

 Enfim, o horário da aula termina e elas se separam. Monalisa passa o restante das aulas sem dizer nada. Quando toca o sinal do intervalo, ela sai rápido, tentando ao máximo ficar longe de Ariadne. Estava mesmo preocupada em seguir opiniões erradas. Também não sabia o que ela podia fazer. Tantas dúvidas e incertezas. Sua única alternativa era tentar ao máximo se distanciar dela.

 A loirinha segue para o banheiro e tenta pensar no que fazer. Retomando tudo que ocorreu: sua mãe havia alertado que Ariadne poderia ser uma criatura prejudicial, que, nos termos do Labirinto, são chamados de Vírus. Não saiba que tipo de habilidades a ruivinha possuía e nem que tipos de eventos poderia destravar. O único conselho que recebeu da guia foi ficar longe dela, mas como fazer isso se estudavam na mesma escola, e, pior ainda, na mesma classe? E como poderia evitá-la, sendo que já saíram juntas e, na visão de muita gente, já seriam consideradas amigas? Explicar o motivo de pararem de se falar seria ilógico. Realmente, ela não sabia como lidar com a situação.

 Com uma expressão preocupada, Monalisa lava o rosto e se olha no espelho. Nesse instante, ela sente um arrepio ao ver justamente Ariadne atrás dela. As duas estava sozinhas agora...poderia ter ativado...não! Tudo menos isso!

- Monalisa?

- Hã? - a loirinha se vira para trás, ansiosa. Seu nervosismo transparecia em sua face, o que deixa Ariadne preocupada.

- O que foi? Algum problema?

- Problema? P-Por quê? - ela tenta se afastar lentamente, com as mãos trêmulas, segurando na pia.

- Você...parece nervosa...

"Estamos sozinhas aqui...se for um evento, pode ser perigoso...o que ela pode fazer comigo? Apagar minha memória ou algo assim e...", os pensamentos ruins ricocheteavam em sua cabeça como moléculas de gás. Ariadne se aproxima mais. Monalisa fecha os olhos.

- O que foi? - pergunta a ruivinha - Se está com algum problema...pode falar comigo.

- N-Não. Não é problema nenhum. Acho que...só estou com um pouco de dor de estômago...só isso.

- Mesmo? Não quer que eu chame algum professor?

- Não! Não precisa! Eu...eu acabei de tomar um remédio. Dá pra aguentar até a hora da saída. É só um enjoo, mas já está passando.

- Sério mesmo?

- Sim. Sério mesmo...

- Bom, se precisar...é só falar.

- O-Obrigada.

- Mas por outro lado...bom saber que esse era o motivo de você estar meio estranha hoje.

- Como assim?

- Não sei. Deu a impressão de que você estava me evitando...estava diferente da tarde de ontem.

- Estava? Bem, eu..

- Mas parece que é só um mal-estar. Você está bem mesmo, né?

- S-Sim. Estou. Obrigada por perguntar.

- Se precisar de alguma coisa...é só falar. 

 Monalisa ainda parecia pálida, Ariadne continua a olhar para a garota de forma terna.


      - Mas fala mesmo, viu? Você é tão fechada...que nunca dá para saber o que você está sentindo. Isso é ruim, viu?

- T-Tá. Mas eu estou bem...já estou me recuperando. Eu juro.

 Enquanto Ariadne entra em uma das cabines do banheiro, Monalisa aproveita a deixa para sair. Não ativou nenhum evento, mesmo as duas garotas estando sozinhas. Apesar disso sua mãe já havia alertado que os Vírus se aproximam de maneira sutil. Ela parece tão legal, é de se duvidar que seja mesmo um personagem ruim. Mesmo assim, a loirinha prefere previnir do que remediar. Saindo do banheiro, ela procura algum canto para ficar em silêncio, mas parece que tinha alunos, professores e pessoas por todas as partes. Qualquer um deles sabia exatamente o que estava se passando. Onde ela teria paz? Como ela poderia pensar tranquilamente em um lugar onde todos riam pelas suas costas? 

"Droga...é nessas horas que eu penso que deveria ter tomado o café naquele dia", desejou Monalisa. Não pela última vez...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!