Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 19
Capítulo 19 - Incômodo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/138863/chapter/19

"Não basta fugir, é necessário fugir-se para o lado mais conveniente."

~ Charles Ramuz

Capítulo 19 - Incômodo

 Naquela noite, Monalisa não teve nenhum sonho. Pelo menos, não que se lembrasse. É verdade que ela não possuía mais intuições sobre quais sonhos eram importantes ou não, mas imaginava que se sonhasse com qualquer coisa suspeita deveria ser alguma pista do Labirinto. Afinal, os sonhos eram a única forma que ela tinha de avançar sem uma guia, embora agora possuísse uma: sua mãe. Mesmo assim, a garota imaginava que precisaria continuar anotando seus sonhos, pelo menos foi o que sua mãe lhe falou: se tivesse qualquer sonho estranho, deveria comunicar imediatamente a ela.

 Além disso, ela obteve uma informação importante: não havia apenas personagens amigáveis, dispostos a ajudá-la no Labirinto. As criaturas chamadas de "vírus" também estavam ali para atrapalhar.E, a mais suspeita para ser um desses vírus era sua nova colega de classe: Ariadne, que até agora tinha se mostrado bastante simpática. Mas qual seriam as verdadeiras intenções dela? Sua mãe havia alertado que os vírus atuam de maneira sutil, aproximando-se amigavelmente, porém seduzindo de forma a levar aos caminhos errados. Isso significa que se Monalisa permanecesse próxima a ela correria o risco de ficar presa no Labirinto por tempo indeterminado. Tudo menos isso!

- Bom dia - cumprimenta a garota, assim que entra na cozinha, onde sua mãe terminava de preparar o café da manhã.

- Bom dia - responde ela, sem muito entusiasmo. Não era a personalidade da guia. No entanto, Monalisa poderia ativar o evento com um estalo de dedos e conversar com a guia quando quisesse. Ou quase isso: para essa função ser ativada seria necessário estar sozinha com sua mãe, mas seu pai ainda estava em casa.

- Já estou indo. Até mais tarde - diz o pai dela, saindo apressado como sempre, mal acabando de tomar a xícara de café. Ele trabalhava na área de produção de softwares de uma empresa e dedicava sua vida quase exclusivamente a esse emprego. Se pudesse, provavelmente moraria no trabalho e visitaria a família apenas quando se lembrasse. Ele era assim.

- Também preciso sair mais cedo. Não vá se atrasar, ok? - diz a mãe, dirigindo-se ao quarto, enquanto a filha terminava de passar margarina em um pedaço de pão.

- Certo - responde ela. Se quisesse conversar com sua guia, poderia fazê-lo agora, mas não tinha nada de novo para contar. Sem lembrar de nenhum sonho, o que poderia dizer? Só restava continuar sua vida e tomar cuidado com os vírus. Falando nisso, como poderia lidar com Ariadne naquele dia?

 Chegando na escola, ao fazer o mesmo caminho de sempre sem muitas novidades, ela tenta observar ao máximo se Ariadne não estava por perto. Precisaria evitá-la o máximo que puder ou, pelo menos, evitar qualquer sugestão que ela possa dar. Dar ouvidos a ela poderia atrasar ainda mais sua saída do Labirinto. Andando lentamente pelo pátio, ela leva um susto ao ouvir uma voz se aproximando por trás dela, mas não era Ariadne e sim sua outra amiga, Luana.

- Mona! - grita a colega, até que animada para um dia de aula pela manhã - E aí?

- Ah, oi Luana - responde a loirinha. É verdade. Quais seriam os papeis de suas outras amigas no Labirinto? Bem, nunca havia tido nenhum sonho envolvendo qualquer uma delas e, ao contrário de Ariadne, nenhuma costumava se aproximar demais. Para ser sincera, ela nunca havia sequer ido à casa de qualquer amiga.

- Sei que é chato perguntar, mas...você fez a lição de matemática? O professor vai vistar hoje

- Hoje? - Monalisa parecia surpresa.

- Você também não fez?

- Errr..não - responde a loirinha. Havia se esquecido disso completamente com todas as confusões do dia anterior. Apesar de que, no fim, nada disso importava. Nem mesmo sua mãe (não a guia, a outra) se importava muito com suas notas (embora elas nunca fossem baixas).

- Oh, você era minha última esperança.

- Talvez dê para fazer agora - fala Monalisa - Qual era o assunto?

- Fatoração ou algo assim.

- Ah, sim. Eu lembro. Acho que dá para resolver boa parte deles antes do sinal tocar - diz Mona, sentando-se com a amiga e abrindo os cadernos. Ela consegue resolver pelo menos uns dois exercícios junto com ela, mas o terceiro parecia mais complicado.

- Esse não se parece muito com os outros - observa Luana.

- É...parece ser mais complicado.

 Nisso, uma terceira pessoa se aproxima da mesa. Concentrada, Monalisa não percebe ser justamente a pessoa que estava evitando.

- Bom dia, gente - cumprimenta Ariadne, sorrindo simpaticamente.

- Ah, Ariadne. Você deve ter feito a lição de Matemática, não é? - pergunta Luana.

- Ah, fiz sim.

- Sério? Poderia nos ajudar? Estamos desesperadas com esse terceiro problema!

- Ah, sim. Tem que perceber um detalhezinho - diz a garota, sentando-se junto com as duas. Monalisa permanecia em silêncio - Vocês podem transformar esse 5x em 2x + 3x e colocar em evidência depois...

 Ela continuava a explicar. Monalisa parecia tensa com a presença dela. Não podia deixar se influenciar por nada que ela sugerisse. Por enquanto, apenas Luana estava falando. E, claro, uma hora Ariadne percebeu o silêncio da loira e procurou saber o que estava acontecendo.

- O que foi, Monalisa? Você parece quietinha hoje?

- Hã? Ah, não é nada!

- A Monalisa é assim mesmo - acrescenta Luana - Entra muda e sai calada. Mas mesmo assim a gente adora ela!

 Luana a abraça (coisa que ela fazia com frequência. Mesmo que Monalisa ficasse meio sem graça, não era uma atitude estranha vindo de Luana). Ariadne sorri e continua explicando. Ainda assim, a loirinha continuava incomodada. Desde a conversa com sua mãe, a figura de Ariadne passou a ser assustadora. Não queria ficar ali, mas não tinha como sair de cena. O que poderia fazer?

- Os outros são mais tranquilos - diz Ariadne.

- Nossa, obrigadão! Você salvou a gente! - agradece Luana.

- Não foi nada - sorri a ruivinha. Monalisa sorri amarelo e agradece timidamente. Não queria ficar ali por mais tempo. Ainda faltava um tempo até o sinal tocar e, mesmo que fosse ao banheiro ou saísse dali, não teria muita escolha a não ser interagir com Ariadne, já que ela se sentava na carteira ao seu lado. O que poderia fazer? Por hora, só podia contar com Luana, que puxava conversa com ela.

- Está gostando da cidade? - pergunta Luana.

- Ah, sim. Tô me adaptando bem - respondia Ariadne. Monalisa apenas acompanhava tudo silenciosamente, mas não se concentrava bem no assunto. Ainda bem que Luana era comunicativa. E já tinha se acostumado com a presença de Ariadne, mesmo não tendo ido muito com a cara dela nos primeiros dias. Ou será que aquilo também era alguma conspiração? Não havia meios de escapar.

  Quando o sinal toca, Monalisa avisa que vai passar no banheiro antes. Ela se olha no espelho, tenta lavar o rosto, mas não conseguia pensar em como evitar Ariadne. E mesmo que conseguisse fazer isso no primeiro dia, como poderia evitá-la por todo o restante do ano ou mesmo por todo o resto da vida? Precisaria sair do Labirinto antes disso! Por enquanto, tudo que podia fazer era interagir com ela o mínimo que pudesse.

 Chegando na sala, a primeira aula era de Português. Para azar de quem deixou para fazer a lição na hora da aula, a professora (já devia ter por volta de seus cinquenta anos) pediu uma atividade pouco usual.

- Hoje teremos atividade em dupla. Sentem-se junto com o colega do lado e separem uma folha do caderno - orienta a professora. E, sim, a colega do lado de Monalisa era Ariadne. Será que ela armou até isso?

  - Que bom, Monalisa. Caímos juntas - comenta a ruivinha. Monalisa sorri levemente. Não teria como evitá-la tão cedo...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpe o capítulo curto, mas é melhor do que nada (ou vão falar que está ruim ter capítulos novos quase todo dia?).

No próximo capítulo, o incômodo de Monalisa continua...até lá!