Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 21
Capítulo 21 - Valsa




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"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."

~ Friedrich Nietzche

Capítulo 21 - Valsa

 Bem ou mal, Monalisa conseguiu passar o resto do dia sem trocar mais palavras com Ariadne. Ao tocar o sinal para ir embora, ela sai rapidamente, ainda pensativa sobre como lidar com uma situação tão complicada. Afinal, como poderia fugir daquela garota para sempre? Impossível quando se estuda na mesma classe. Precisava de conselhos da sua guia. O problema é que aquele era um dos dias em que sua mãe trabalhava até mais tarde e não haveria ninguém em casa quando chegasse. E, de fato, não havia. Uma casa vazia e silenciosa, onde reinava apenas a solidão. Por outro lado, seria um dos poucos momentos onde Monalisa poderia sentar e, enfim, refletir um pouco sobre sua situação. 

"Ah! O que eu preciso fazer?", pensa ela, lançando fora seus sapatos e sentando-se agarrada com suas pernas em cima do sofá, "Tudo que eu queria era saber a verdade...só isso. Minha mãe me orientou a ficar longe dos vírus e Ariadne pode ser um deles, mas como posso ficar longe de uma garota que estuda na mesma sala que eu? Será que minha mãe não pode me mudar de escola...mas isso não adiantaria de nada, afinal, outros vírus poderiam aparecer. Tudo na minha vida é controlado, não tem como escapar, não importa para onde eu vá. Tudo que posso fazer é escolher as opções certas, mas para isso eu preciso da ajuda da minha mãe...droga, bem que ela podia chegar logo."

 Mesmo sozinha, Monalisa também não tinha certeza se estava sendo observada. Não havia ninguém por perto, mas como poderia garantir que mesmo nesses momentos não estava ao sabor do Labirinto? Óbvio que estava. Afinal de contas, sua mãe ou seu pai só iriam chegar em casa porque sabiam que Monalisa estava lá. Sendo assim, não podia ter um único instante de sossego, mesmo quando parecia ter. Ela se deita no sofá, olhando para o teto. Precisava fazer sua lição, mas não estava com a menor vontade de levantar dali. Seus últimos dias haviam sido cada vez mais confusos e atordoantes. Já não tinha mais certeza da sua própria sanidade há muito tempo. Como queria acabar logo com tudo aquilo. Por que o caminho da verdade é o mais difícil? Ela desejou novamente ter tomado o café e esquecido tudo que aconteceu...e claro que não seria a última vez a desejar isso. Enquanto deixava se levar por sua angústia, a loirinha sente seus olhos pesarem até, enfim, adormecer. Lá estava ela, sonhando de novo.

 O ambiente do sonho era claro e iluminado. Parecia o grande salão de uma mansão ou mesmo de um castelo. Era um espaço tão amplo que a casa de Monalisa deveria caber umas cinco vezes ali dentro. Dessa vez não estava sozinha. Pelo contrário, havia várias pessoas ao redor, todas muito bem vestidas e mascaradas. Mulheres usavam longos vestidos de luxo e os homens roupas nobres antigas, bem antigas aliás. Pelo que Monalisa lembrava dos filmes que já havia assistido pareciam roupas da Europa do século XVIII. Sim, isso mesmo. Alguns homens usavam até mesmo peruca branca, cheia de cachos, exatamente como nos filmes ou livros de História. Ao olhar pela janela, percebia a Lua cheia derramando seu brilho pela noite. Uma orquestra tocava ao fundo, ao vivo, preenchendo o salão com uma linda valsa de Strauss. Ao que tudo indicava era um baile de máscaras.

  Monalisa nota a si mesma usando um longo e esplêndido vestido azul com luvas de seda da mesma cor. Em sua cabeça havia uma tiara dourada cravejada com jóias brilhantes. Seus brincos e colar também não eram menos valiosos, exibindo um brilho espetacular. A imagem de Monalisa mostrava uma moça simplesmente linda. Era como se não fosse mais uma menina de treze anos e sim uma jovem já desenvolvida, por volta de seus quinze anos. Seria algum baile de quinze anos? Ela não compreendia o motivo da festa. Todos os convidados dançavam mascarados. A garota não reconhecia nenhum deles.

  De repente, um jovem mascarado, que não usava uma peruca, mas parecia ter longos cabelos naturais, aproxima-se de Monalisa. Ele não diz nenhuma palavra. Monalisa também não. Mesmo assim, ela sente que deveria deixar-se conduzir por ele. O rapaz estende sua mão. A moça corresponde, deixando-se levar pelo mascarado e pela dança. Quem era aquele jovem? Ou, o que era aquele baile? Era o que estava pensando, contudo não conseguia falar nada. Queria apenas dançar ao som da linda melodia orquestrada, aproveitar aquele momento o máximo que pudesse. Nunca pensou que soubesse dançar, mas conseguia executar todos os passos da valsa com naturalidade e suavidade ímpares. Ao término da música, o relógio começa a badalar. Era meia-noite.

- Meia-noite - balbucia Monalisa - Eu...preciso ir...

- Precisa ir? Por quê?

- Eu...também não sei - diz ela - Mas algo me diz que não posso ficar...

- Isso...não faz sentido

- Parece que não, mas..eu realmente preciso ir.

- Se essa é sua decisão...é uma pena - diz o jovem mascarado - Uma moça tão linda como você...ser obrigada a sair do sonho e retornar ao pesadelo...

- Como?

 Assim que termina de dizer essas palavras, tanto o jovem como os demais mascarados começam a desaparecer. Cada um deles simplesmente se desmancha, deixando apenas as roupas e a máscara para trás. Pareciam todos...fantasmas. Ou algo semelhante. Assim que todos os presentes somem, Monalisa desperta.

"Mais um sonho", pensa ela, "E agora...eu me lembro perfeitamente dele. Preciso anotar antes que esqueça"

 Ela corre até seu caderno de sonhos e anota tudo que se lembrou. Um baile, uma dança com um mascarado, ser obrigada a sair à meia-noite por algum motivo (como no conto da Cinderela) e todos os presentes se desmanchando assim que ela decide sair. Com tantos detalhes, deveria ser um sonho importante. No entanto, ela não podia ter certeza, já que sua intuição não era mais manipulada pelo Labirinto. Precisava consultar sua guia. Algumas horas mais tarde, Monalisa estava quieta, sentada no sofá, ainda pensando em seu sonho, quando a porta se abre e sua mãe, Eleonora, aparece segurando algumas sacolas nas mãos.

- Oh, você está aí - diz ela - Pode me ajudar a carregar algumas coisas? Passei no mercado antes de vir para cá. Tome, leve essa sacola.

 Monalisa obedece em silêncio. A mãe também não fala nada. No instante em que ela termina de trazer todas as compras para dentro e avisa a filha que iria tomar banho, Monalisa estala os dedos imediatamente.

- Será que funcionou? - pergunta a loirinha.

- Claro que sim - diz a guia, voltando-se para Monalisa, com uma personalidade totalmente alterada - Eu disse que basta estalar os dedos quando estivesse sozinha com sua mãe para eu aparecer, não disse?

- Eu...preciso da sua ajuda...

- Sim, minha querida. Diga o que está te afligindo?

- Bom...você disse para avisar sempre que tivesse algum sonho estranho, não disse?

- Isso mesmo. Dependendo dos seus sonhos, posso orientá-la da melhor maneira possível. Com o que você sonhou?

 Monalisa explica que dormiu à tarde e contou em detalhes tudo que sonhou. O baile, as máscaras, a valsa, tudo.

- Hmm...muito interessante - sorri Eleonora - Esse sonho tem muito a dizer...

- Mesmo? Então me explique! Eu também precisava te falar sobre a ...

- Uma coisa de cada vez - interrompe a mulher - Vamos tratar do seu sonho primeiro.

- Oh, sim. Tem alguma ideia de como interpretá-lo?

- Evidente que sim. Na verdade, seu sonho é um alerta importante.

- Um alerta...importante?

  Que tipo de alerta poderia ser?


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Notas finais do capítulo

Eu juro que tento escrever capítulos mais longos...mas o suspense me obriga a parar nos momentos mais críticos. A interpretação do sonho fica para o próximo capítulo. ;)

Até lá!