"Vá pela estrada. É o caminho mais longo, porém o mais seguro."

~ Mãe da Chapeuzinho Vermelho

Capítulo 18 - Orientação

 - Perigos? - repete Monalisa - De que tipos de perigos está falando?

 - Talvez você já saiba...ou pelo menos deve suspeitar disso...mas o Labirinto não é feito apenas de criaturas dispostas a te ajudar - diz Eleonora, a mãe de Monalisa que surpreendentemente se revelou como a guia da garota, mantendo uma face séria.

 A garota mantém sua atenção. De fato, foi avisada disso pelo garoto do orfanato, um de seus menos simpáticos tutores, de que nem tudo seriam flores nessa jornada.

- Sim, já me disseram algo assim...

- No entanto, você pode se envolver com essas criaturas perigosas sem perceber.

- Pode ser um pouco mais clara.

- Bem, querida...por acaso...alguém tem se aproximado de você sem motivo aparente?

- Sem motivo aparente?

- Sim. Alguém que você não conhecia, mas que, por alguma razão, começou a conversar e puxar conversa.

 A única pessoa que vinha a sua mente era sua nova colega de classe, Ariadne. Ela vinha se aproximando de Monalisa há alguns dias e foi protagonista de seu primeiro sonho misterioso. Seria ela uma dessas criaturas inimigas?

- Agora que você falou...tem uma nova garota na minha sala.

- Uma nova aluna?

- Sim. Ela tem conversado comigo e nos tornamos amigas. Ela parece ser bem boazinha, mas tem algo nela que me incomoda.

- Fale um pouco mais sobre essa garota.

- Bom, o nome dela é Ariadne. Ela tem a minha idade, é bastante simpática e comunicativa, ao contrário de mim. Mas o mais estranho nela... - a garota faz uma pausa.

- O mais estranho nela?

- Bem - ela continua, imaginando que deveria deixar sua guia a par disso - O mais estranho nela é que essa menina apareceu no primeiro sonho que tive após ativar o primeiro evento do Labirinto.

- E como foi esse sonho?

- Pelo que eu me lembro dos detalhes...eu estava junto com Ariadne no topo de um edifício e, por alguma razão, ela fala algo sobre ter descoberto a verdade e simplesmente se lançou no abismo.

- Suicídio, heim?

- Sim. Fiquei espantada com o sonho e, como se não bastasse, Ariadne entrou na minha escola exatamente no dia seguinte após esse sonho.

- Entendo - diz Eleonora - Na simbologia do Labirinto, qualquer coisa que caia é um mau sinal.

 Ela concorda. De fato, sempre que teve sonhos com objetos caindo, os resultados eram negativos. Esse suicídio no sonho nunca simbolizou algo bom na visão de Monalisa e, pelo que parecia, realmente não era.

- Sem dúvida...esse suicídio deve ter um simbolismo negativo. Você se lembra de ter tentado salvar essa garota ou algo do gênero?

- S-Sim. Isso mesmo. O sonho terminou comigo correndo para salvá-la, mas não consegui impedir. Foi bem triste.

- Entendo - diz Eleonora, mantendo seu tom sério de voz - Provavelmente essa garota quer te passar uma falsa mensagem.

- Falsa mensagem?

- O suicídio passa a ideia de que essa menina, mesmo alegre, na verdade é psicologicamente frágil e precisa de ajuda.

- É...faz sentido. Uma pessoa para cima como ela nunca passaria a impressão de uma suicida a menos que estivesse fingindo.

- Exatamente. Ela está usando de psicologia. Primeiro, uma aproximação cuidadosa, querendo ser sua amiga, com ideias alegres e tudo. Conforme ela vai se aproximando, vai revelando seu lado mais frágil, mais doce..até que, um dia, ela finalmente revelará a armadilha.

- M-Mesmo? - gagueja Monalisa - Até agora ela não mostrou muito sobre ela...mas..que tipo de armadilha ela poderia armar?

- Algo capaz de atrapalhar suas escolhas para o caminho correto. É o que chamamos de Vírus.

- Vírus?

- Ah, sim. Você já tem permissão para saber isso. O Labirinto é composto de diferentes tipos de agentes. As "Paredes" são pessoas comuns, que embora conscientes de tudo que acontece, não respondem a eventos. Os "Tutores" são criaturas dispostos a te ajudar, desde que os eventos corretos sejam ativados, mas só podem dar pistas, nunca informações completas. O "Guia" é o personagem que aponta as escolhas corretas. Mas os "Vírus"...eles existem para impedir seu progresso no Labirinto, sempre apontando as escolhas erradas. Além desses, existem outros personagens especiais, mas por enquanto, isso é o que você pode saber.

- É mais complexo do que eu imaginava.

- Os Vírus sempre são capazes de levá-la a uma escolha errada, de forma sutil e atraente. Se quiser um exemplo, pode pensar na narrativa bíblica da queda do homem.

- Está falando...de Adão e Eva?

- Sim. As narrativas, mitos e contos que você ouve são metáforas do Labirinto. Já disseram isso para você, não disseram?

- Oh, sim.

- Naquele caso, Adão e Eva comeram do fruto proibido que Deus ordenou não comer. O evento ativado pelo fruto leva à saída do Paraíso. Não comer, resultaria em continuar lá. No entanto, eles comeram por terem sido tentados pela serpente, que age como um "Vírus".

- Então...os Vírus são os tentadores, como a serpente no Paraíso.

- É com eles que você precisa tomar cuidado, Monalisa! - continua Eleonora - Não posso garantir que essa garota, Ariadne, seja um Vírus, mas...ao que tudo indica, está agindo como um. Surgir de repente na sua sala, logo após você ter sonhado com ela. Aproximar-se de você como se fosse uma amiga. Muito suspeito. Isso tudo leva a crer que pode ser mesmo um Vírus.

- Nossa. Isso explica eu não ter me simpatizado tanto com ela no início...

- É verdade. O Labirinto permitia que você tivesse alguns insights para escolher as opções corretas. Sua má impressão inicial com a garota deve ter sido por conta disso. Mas isso já deve ter mudado, não?

- Bem...hoje eu saí com ela para visitar um orfanato. Fiz isso por causa de um sonho envolvendo uma criança, mas, quando saí de lá, até que estava começando a me sentir bem perto dela.

- Todo cuidado é pouco. Minha sugestão é que você tente se afaste dessa menina enquanto pode. Se deixar que ela te envolva mais, será muito difícil escapar da influência dela, mesmo me tendo como guia.

- T-Tudo bem - concorda Monalisa - Então...meu primeiro passo é me afastar da influência de Ariadne. Farei isso.

- Faça isso. E lembre-se de me contar qualquer sonho que tiver. Irei ajudá-la a interpretá-los.

- Obrigado, mãe...ou Eleonora...oh, é verdade, como vou te chamar agora?

- Fora dos eventos teremos que conversar como sempre - responde a mulher - Mas como sua guia posso ser chamada por um gatilho muito simples.

- Sério?

- Pode ser qualquer coisa...como estalar os dedos - Eleonora estala os dedos como exemplo - Faça isso quando estivermos sozinhas em algum ambiente fechado e poderemos conversar sobre o Labirinto sempre que quiser. Fora dos eventos, terei que ser uma mãe fria de novo.

- Heh! Nunca imaginei que você pudesse ser tão calorosa.

- Tudo para o seu bem, minha querida - diz a mulher, abraçando-a forte - Serei sua guia sempre que precisar.

- O-Obrigada.

 Depois disso, Monalisa estala os dedos, desativando o evento. A mãe dela muda o olhar, retornando a sua personalidade anterior. Mas a menina tinha a noção de que estava conversando com outra pessoa a partir de agora.

- Bem...o importante é que agora você está em casa - diz a "mãe original" dela, sem dúvida lembrando-se apenas do último momento antes da personalidade da guia assumir - Apenas avise quando for demorar, tudo bem? Você pode ser madura para sua idade, mas ainda é uma pré-adolescente.

- Tudo bem - responde a garota - Vou tomar banho agora.

- Pode ir. Logo o seu pai estará chegando.

"Tudo bem. É só acreditar que são duas pessoas diferentes. Acho que posso fazer isso", pensa a garota, enquanto se trocava para tomar banho, "Mais problemático que isso...é saber que Ariadne pode ser um Vírus. Então...prreciso tomar cuidado com ela. Muito cuidado. Foi mesmo muita sorte descobrir que minha mãe é meu guia. Isso deixa as coisas bem mais fáceis!"

  Naquela noite, Monalisa pode tomar um banho quente e deitar em sua cama com um pouco mais de tranquilidade. Esperamos que ela durma bem, afinal, vai precisar de descanso para enfrentar os próximos dias...