À Beira do Abismo escrita por Yue Chan, L-chan_C-chan


Capítulo 23
23. Pesadelo.


Notas iniciais do capítulo

Olá Minna!
Sei que muitos irão se surpreender com o andar da carruagem, e peço desculpas por eventuais erros ortográficos. Eu fiz o máximo possível para poder postar outro capítulo hoje porque amanhã não poderei postar.

Um grande abraço!



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 Seria o primeiro copo de saque depois de ter que ingerir os remédios anti bebedeira de Shizune, e Tsunade estava louca para sentir o liquido queimar-lhe novamente a garganta. Por vezes praguejava inconscientemente a capacidade da amiga de poder criar antídotos para quase todos os males e por ela ter passado horas e anos misturando ervas para obter uma formula que cortasse os efeitos do álcool no organismo.

O plantão iria começar em dez minutos e rezava para que ninguém a flagrasse nesse pequeno ato de irresponsabilidade. Encheu o copo e aspirou o adorável e tão familiar perfume gravando cada detalhe mentalmente.  Beberia apenas uma dose durante as próximas horas e tinha que ser um momento apreciado.

Levou o copo a boca com os olhos fechados, mas antes de sorver o primeiro gole foi interrompida por uma médica que adentrou na sala aos berros.

Ino não importou com o fato de Tsunade estar bebendo antes de ir para o plantão, na verdade pouco se importava com o fato. O que fazia a melhor médica neurologista de Konoha se apavorar era muito mais importante e possuía uma dimensão muito mais densa do que um último copo de saque antes do plantão.

Tsunade por outro lado deixou o copo cair da mão com o susto e praguejou mil impropérios contra a atitude esbaforida da médica.

_ Tsunade temos uma emergência!- disse quase sem ar.

_ E o que seria tão urgente a ponto de precisar surtar?- perguntou impaciente etnatndo se recompor da sensação de susto.

_ Preciso que venha comigo agora. – disse impaciente. Olhava para a porta como se a qualquer instante um monstro fosse irromper o escritório o que fez a ninja estranhar e suspeitar.

_ Por acaso tem algo a ver com o Kazekage?- sabia muito bem que ele podia se transformar em um verdadeiro monstro por causa de ciúmes e lembrava amargamente do último incidente que mandou mais de vinte ninjas para o hospital e multiplicou o seu trabalho em mil.

_ Não. - respondeu impaciente. A sua vida amorosa não era do interesse de ninguém.

_ Então o que seria?

_ Venha comigo que eu te explico no caminho.

A Yamanaka contornou a mesa e pegou a médica pela mão conduzindo-a para fora da sala em alta velocidade pelo corredor hospitalar.

_ Diga logo do que se trata!- disse impaciente.

_ A Yukie deu entrada no hospital há mais ou duas horas antes da sua chegada. Estava pálida e suja de sangue assim como o irmão.

_ Sangue?Mas... Como? Ela foi atacada por algum inimigo? – começava a seguir o passo afobado sem precisar ser empurrada.

_ Não sei como explicar o que aconteceu porque não tenho maiores informações. Tudo o que sabemos é que ela possui alguns cortes nos pulsos e estava entrando em colapso pela perda de sangue. Uma cena realmente lastimável. Mas o que mais nos preocupa não é isso. Nós estancamos a hemorragia e demos a ela uma reposição de sangue que foi muito bem aceita pelo organismo.

_ Então se ela está bem e não sofre de rejeição por causa do sangue, qual seria o problema?

Elas pararam em frente a porta do quarto e Ino abriu deixando que a ex-Hokage vislumbrasse o lugar. Sabia que a imagem valeria mais do que palavras e não tinha como explicar um fato que nem ela mesma conseguia compreender.

_ Esse é o problema. – Disse apontando para a cama.

Tsunade andou pelo quarto incerta da atitude que deveria que tomar. Como médica ninja já havia presenciado quase todo o tipo de situação bizarra possível, mas a cena que se desvelava a sua frente parecia estar fora da realidade. Nunca em sua vida presenciou algo tão forte.

Yukie estava em pé de costas para a porta. As bandagens e curativos jaziam no chão arrancados a força. Os dedos sujos de sangue reabriam as feridas em busca de sangue para completar a obra prima nefasta que ela desenhava na parede.

_ Como ela fez isso? Porque ninguém a impediu?- virou-se para Ino chocada.

_ Enfaixamos ela mais de cinco vezes, mas ela sempre se levanta e arranca os curativos e começa a desenhar na parede com sangue. Tentamos de tudo, mas ela não responde e fica agressiva quando a tocamos.

_ Porque não a amarraram?- a essa altura não parecia algo tão rude.

_ Também tentamos, mas ela corta os cintos com uma lâmina de chakra. Por isso fui buscar a senhora, já não sabemos mais como proceder.

Tsunade estava aturdida. Nem ela mesma tinha uma idéia do que fazer naquela situação. Aproximou-se aos poucos e disse com a voz mais suave que pode ensaiar.

_ Yukie... é a vovô Tsunade. – ela não se mexeu e continuou seu trabalho. O sangue pingava das feridas reabertas. – Porque está fazendo isso?

Ela não respondeu, tampouco saiu do lugar em que estava.

_ Que tal conversarmos. – tentou tocá-la. Era como se aproximar de um cão raivoso. Sentia que tinha que proceder com cautela para evitar futuros constrangimentos.

Nenhuma resposta, mas era audível um fio de voz que parecia cantar.

Tsunade tocou seu ombro temendo a reação a qual a Yamanaka havia se referido, porém ela não esboçou qualquer movimento.

_ Isso. – disse calma. – Vamos deitar um pouco e poderemos conversar.

O toque aos poucos foi tomando a posição de guia e a loira virava a menina que não parecia oferecer resistência. Ela cantava algo baixo e parecia estar dando o que seriam os últimos retoques da sua obra como um grande artista preocupado em terminar a criação com o máximo de perfeição possível.

Yukie desceu a mão e colocou-a junto ao corpo. Deixou-se ser conduzida pelas palavras gentis da médica que a tocava com carinho maternal. O olhar dela estava vazio como se a alma houvesse sido arrancada do corpo.

Tsunade a deitou na cama cuidadosamente e cobriu seu corpo com o lençol. Fez um sinal para a Yamanaka para que pegasse o kit de primeiros socorros e continuou a conversar calmamente com a menina que não expressava nenhum tipo de reação para demonstrar que podia entender.

Começou a limpar e enfaixar os machucados sem deixar que o toque se tornasse desastrado. Temia que Yukie tomasse alguma atitude violenta. Enquanto o fazia observava o semblante dela e os ferimentos que tinham um formato muito peculiar.

Não levou muito tempo para que os remédios e soníferos aplicados por ela em meio ao pequeno tratamento fizessem efeito e a fizessem cair em sono profundo.

Tsunade a deitou confortavelmente e levantou-se caminhando em direção a Yamanaka. Olhou de relance para a parede e viu um desenho complexo marcado com sangue. Parecia um paradigma aos seus olhos destreinados, e o máximo que ela podia reconhecer eram as pedras em torno de uma espécie de árvore antiga.

_Impressionante Tsunade. Sabia que seria capaz de lidar com isso.

_ Acredito que tive sorte. Ela parecia estar muito cansada como se tivesse acabado de fazer o que precisava por isso me deixou levá-la para a cama.

_ Eu não entendo muito bem o que aconteceu com ela, mas pedi para que novos exames fossem feitos. Faço questão de analisá-los pessoalmente.

_Sim. – ela concordou sem interesse, os pensamentos nos olhos sombrios de Yukie.

_ Já viu algo assim antes Tsunade?

_ Nunca. É tão bizarro, era como olhar para um boneco sem vida.

_ Foi o que senti também. De qualquer maneira já pedi para que enviassem uma carta solicitando a presença do doutor Suijiro. Seja lá o que for não parece estar ao nosso alcance.

_ Tem razão. Fez bem em mandar chamar um especialista. Hinata e Naruto já sabem?

_ Sim, foi o próprio Naruto quem os trouxe. O irmão mais novo está com a mão engessada.

_ Naruto? Mas ele deveria estar no escritório.

_ De acordo com ele, estava indo visitar os filhos quando viu os dois a poucos metros de casa. Pelo que entendi Daito que estava trazendo-a nas costas.

_ Deve ter sido horrível para o Naruto.

Tsunade se pôs a pensar no loiro bobalhão que considerava como á um filho. Ino concordou com um leve aceno de cabeça, também tinha filhos e por mais endiabrados que fossem não saberia se teria força suficiente para enfrentar algo parecido.

_Quanto a Hinata? Ela não pode se alterar demais.

_ Está com o mais novo. Já tomei as devidas providências para que não se estresse demais. Receitei alguns calmantes e pedi para que as enfermeiras da ala em que ela está fiquem de olho a qualquer indicio de mal estar e me avisem imediatamente.

Tsunade passou a mão pela fronte em sinal de nervosismo. Agora mais do que nunca desejava ter tomado aquela dose de saque se possível com uma gêmea. Precisava manter-se calma para o que iria acontecer.

-*-*--*-*--*-*--*-*--*-*--*-*-

Era possível ouvir o zumbido do mar batendo contra os rochedos como se fizessem uma tentativa frenética de lhe chamar a atenção. A mente parecia vazia e a idéia de abraçar o desconhecido era estranhamente reconfortante.

Os pés descalços se precipitavam em uma marcha calma e ritmada, como se estivesse caminhando de encontro a um amante. Um ato que não necessitava de afobação.

Ela podia sentir cada pedacinho a sua volta. O som do mar. O vento que acariciavam seus cabelos fazendo-os dançar em um ritmo frenético e hipnótico. Os fios soltos tocavam-lhe a nuca de maneira quase sensual.

O cheiro da água salgada se misturava ao da relva fresca que se estendia as suas costas, onde alguns feixes de folhas e grama balançavam suavemente. O chão sob seus pés, ora arenoso, ora macio adquiria aos poucos uma característica mais áspera até se tornar parte do rochedo.

Era uma deliciosa sensação de liberdade. Como se estivesse conectada com o mudo.

Havia duas pessoas ao seu lado. Elas falavam algo, mas era impossível escutar ou prestar atenção a algo mais que não fosse o abismo que a convidava a um festejo eterno.

Um sorriso mínimo e cheio de expectativa e alegria se formou em seus lábios.

 As pessoas continuavam a falar, mas pareciam cada vez mais distantes.

Isso não importava para Yukie. Nada mais importava. Apenas a sensação de liberdade que enchia seus músculos de força parecia ser digna de interesse.

Ela usava uma camisola branca simples cuja barra final acariciava os pés desnudos de proteção. De súbito parou e olhou para a imensidão abaixo.

As pedras em forma de espinho não a intimidavam; tampouco o musgo que cobria as rochas mais salientes que se projetavam para fora do oceano tornando visível que qualquer tentativa de se segurar seria em vão.

A única coisa que goza de sua atenção e admiração é o mar azul cinzento que, com a sua fúria indomável, a convida para um passeio que promete ser rápido, indolor e libertador.

Instintivamente ela abre os braços como se fosse abraçar algo. Mesmo sabendo qual o real motivo de tal ato, ela sente que é o que mais anseia.

A liberdade.

Liberdade de poder vagar sem incômodos ou empecilhos. De poder ter a sua mente de volta para apenas si mesma, sem precisar dividir com as demais Yukies que a apavoram.

As vozes continuavam a chamá-la sem descanso, agora inaudíveis pelo barulho entorpecente das ondas. Ela fechou os olhos e lançou o corpo para frente ansiando aquele toque.

As suas costas, as vozes soaram estridentes e cheias de terror.

Como se estivesse em câmera lenta, ela sentiu o corpo pesar contra a gravidade e o vento se opor a sua decisão como se tentasse soprá-la em segurança para a borda que ela abandonara a poucos segundos.

Estava livre e ninguém podia detê-la.

O mar ribombava nas rochas cada vez mais e mais violentamente como se risse com escárnio para a tola que se deixou seduzir-se pela sua falsa beleza e calmaria.

O vestido balançava loucamente, seu pano fino em atrito com o ar da queda livre. Ela estendeu a mão para o alto e sentiu alguém segurá-la. Uma mão macia e terna, que parecia conter todo o calor do mundo concentrado em sua palma.

Yukie abriu os olhos e sentiu um frio percorrer-lhe a espinha de maneira quase sobrenatural.

Como se observasse a imagem refletida em um espelho, ela se viu olhando a si mesma. Havia apenas uma diferença entre as duas figuras.

O sorriso.

Enquanto a Yukie, que a pouco gozava da mais feliz sensação de liberdade que já experimentara na vida, mantêm um olhar impressionado e lábios contraídos pela surpresa e terror do momento, a falsa Yukie olha de maneira doentia e seu sorriso expressa a mais divertida insanidade e maldade.

_Achou que poderia se livrar de mim tão facilmente? Nós somos a mesma pessoa e terá que se acostumar e aceitar a minha presença.

_ Não! Largue-me!- pediu transtornada.

_ Jamais. Não posso permitir que nos entregue á um destino tão patético. Se o que lhe incomoda são as outras pessoas vamos liquidá-las.

_ Me solte!- pedia mais aflita segurando a mão dela.

_ O mundo não permite pessoas fracas Yukie. Quando vai entender isso?

_ Eu pedi para me largar!-falou nervosa.

_ Sim. Esse é o olhar. Mostre para mim Yukie.  Mostre o monstro que habita em seu coração.

_NÂO!!!

_Você sabe que ele está aí dentro, repousando, esperando apenas o momento propício. Não pode guardá-lo para sempre.

_NÃO!EU NÃO SOU UM MONSTRO!

_Negue o seu passado então. Diga que não se divertiu ao ver o corpo estripado daqueles que atrapalhavam a sua missão ao país da neve. Diga que não sentiu prazer ao ter o sangue deles em suas mãos.

­Flashes do incidente no país da neve martelaram em sua mente e Yukie balançou a cabeça para afastá-los. O corpo suspenso pela mão da falsa Yukie balançava tediosamente de um lado para o outro.

_ Eu não... Não sei do que está falando. – tentou forçar raiva, mas falhou miseravelmente.

_Sabe, só não quer admitir.

_Pule Yukie, pule. – outra voz triste soou ao lado, e Yukie viu outra versão sua que, diferente da primeira que era insana, tinha um sorriso triste estampado no rosto. Seus lábios eram contraídos e os olhos inchados de tanto chorar. – Você está á apenas um passo da liberdade.

De repente a vontade entorpecente de se atirar contra os rochedos abaixo que gemiam sob a fúria do mar abandonou sua mente. Ela não era fraca e nunca se entregaria a nenhuma das personalidades que ansiavam o comando do seu corpo.

_Suba e mostre a todos a verdadeira Yukie. – a sádica disse com um sorriso profano nos lábios se deliciando com a possibilidade de poder matar.

_ Solte e seja livre. Não vale a pena se esforçar. – a triste disse melancolicamente. As marcas sobre os olhos tão profundas que era possível arriscar dizer que ela havia chorado por todos os mortos de todas as guerras ninjas em apenas uma noite.

_Tem razão. Vou mostrar quem eu sou. - respondeu as duas. – EU SOU UZUMAKI. – apoiou o pé no rochedo. – HYUUGA. – usou a mão da outra como apoio. - YUKIE!- concentrou chakra nos pés e se lançou para cima caindo em pé atrás das duas. – Ninja de Konoha e integrante da ANBU escolta real, e não vou permitir que ninguém além de mim mesma faça a minha cabeça.

Com um movimento rápido lançou as duas para o abismo com um jato de chakra.

_ Está mais do que na hora de reassumir o controle do meu próprio corpo.

Era como acordar de um pesadelo insano. A pouco estava caminhando para um abismo mortal, e havia se lançado de encontro a rebentação sem nenhuma dúvida de que seria a melhor escolha a se fazer, e agora não entendia o porque de ter agido de maneira tão incoerente. Suicídio é uma atitude covarde, isso era algo que havia ouvido do próprio treinador, Hyuuga Neji, e entendia muito bem o valor dessas palavras. Aprendera com a convivência com os melhores do mundo Shinobi as regras para ser um bom ninja e não iria desperdiçar mais tempo com os caprichos da sua mente.

Deu as costas e se pôs a caminhar. Uma gargalhada sinistra e um choro lamurioso tomou conta do ambiente como se estivessem sido amplificados por várias caixas de som potentes.

 _ Pensou que seria fácil?- a voz saia metálica. – Nós fazemos parte de você...

Vários cabos de metal e cipós grossos se precipitaram do chão e agarraram seus pés e pernas deixando-a imóvel.

_ ... e reivindicamos autonomia.


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Notas finais do capítulo

Esse estava engatilhado....
Peço por caridade que dividam comigo e com os demais leitores, as expectativas quanto a continuação e como vocês acham que será o desfecho.

Aos poucos estou tentando responder todos os reviews, se puderem passem lá para verem a resposta.
Abraços carinhosos!

Curtem a fic? Recomendem!Faria uma autora baka muito feliz!!!

YueChan.