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Hinata recebia os convidados com um sorriso cativante no rosto. O salão de festas estava impecável e a decoração era estonteante mesmo para a festa de aniversário de uma criança de seis anos de idade. Vários panos de tecidos leves e coloridos serpentavam o teto como se fossem borboletas prontas para alçar vôo; o som de risos e a gritaria incessante das crianças a brincar davam um ar infantil ao ambiente.

Naruto e Sakura chegaram junto com Ino e Gaara que sorriam e se abraçavam como um casal adolescente enquanto os gêmeos corriam descontroladamente na frente. Eles se cumprimentaram e Naruto sentiu inveja pela felicidade familiar dos dois. Essa fase em sua vida havia ficado para trás, e até mesmo o casamento atual parecia estar ruindo aos poucos com a falta de interesse de ambas as partes.

Quando os viu, Hinata correu na direção deles, queria ser a primeira a recepcioná-los.

Naruto abriu os olhos admirando a beleza rara da morena que trajavam um vestido de festa branco com detalhes florais dourados feitos a mão. As curvas delineadas enchiam seus olhos de desejo.

—Kombawa Naruto, Sakura e Yue. – deu um aperto de mão para os dois, e um beijo no rosto da pequena que sorriu de volta. - Venham eu reservei uma mesa especial para a nossa antiga turma. – se voltou para o casal apaixonado. – Ino se quiser deixar as crianças lá fora existe um parquinho que eles vão adorar.

—OBA!- as crianças gritaram ao mesmo tempo puxando os dois pelas mãos

A morena os conduziu a uma mesa bem servida e coberta com panos finos de onde era possível observar toda a área da festa. Com certeza um ótimo lugar para apreciar a comemoração. Ela era grande e Iruka, Kakashi, Kurenai, Shikamaru e Temari,Yamato, Kiba, Shino, Gai e Lee estavam sentados conversando amistosamente enquanto bebiam e sorriam uns para os outros, todos cumprimentaram o jovem casal que se sentou entre Gai e Lee que pareciam ainda mais eufóricos.

— É uma honra poder compartilhar a mesa com o grande Hokage sama e sua primeira dama. – Kiba disse alegre levantando a taça na direção deles, fazendo o loiro rir sem graça.

Não demorou muito para que Yukie aparecesse em meio a multidão conversando amistosamente com os outros. Naruto a olhou assombrado, sua menininha estava crescendo e se tornando uma linda jovem. Os cabelos azuis estavam lindamente presos em um meio rabo de cavalo que permitiam que alguns fios cascateassem pelas costas, ondulados pelo penteado elaborado enfeitado com lindas flores azuis. Não havia maquiagem em seu rosto, mas seus sorrisos faziam as bochechas adquirirem uma cativante coloração avermelhada. O vestido era branco com alguns detalhes em lilás que subiam como galhos nas pontas, os pés calçados com um sapato branco de boneca e luvas que completavam a sua imagem de princesa.

A conversa ocorreu divertida arrancando gargalhadas de todos, até que eles viram Hinata surgir novamente aos risos com Ino acompanhada do Kazekage.

Naruto só tinha olhos para ela, e cada movimento era fotografado cuidadosamente como se fosse um ato divino.

— Essa mesa está ficando lotada de celebridades. – Lee falou aos risos. – Aposto de daqui a alguns minutos vão surgir os outros três kages que faltam.

Eles riram e Kiba disparou.

— Pode até ser! Mas essa com certeza é a anfitriã mais bonita do mundo.

— Olha que o Sasuke é ciumento, se ele te pega falando dela assim vai dar confusão. - Kurenai ponderou.

— Se isso acontecer vai ser problemático. – Shikamaru olhava desinteressado.

— Tudo para você é problemático. – Temari disse inconformada.

— Que nada!O que é bonito é para ser apreciado, se ele não quer que a elogiemos, então é melhor trancá-la em casa e escondê-la do mundo.

— Eu concordo com o Kiba. – Ino começou. – Você parece mais bonita e radiante do que nunca.

Hinata sorriu ainda mais.

— Obrigada!-sorriu graciosamente para o deleite dos homens presentes. - As vezes eu mal consigo acreditar que consegui dar a volta por cima e me livrar daquele mal agouro. Aqueles problemas parecem tão distantes agora.  

— Esse remédio tem nome e sobrenome... U-chi-ha Sa-su-ke. - Ino falou pausadamente fazendo o ruivo ao seu lado erguer uma sobrancelha em desagrado.

— É verdade. Desde que ele entrou na minha vida tudo tem dado certo! Os meus filhos se recuperaram e eu reaprendi a amar e me sentir amada. Ele foi uma verdadeira providência divina.

Os olhos azuis de Naruto brilharam intensamente de ciúmes enquanto observava a morena discursar sobre a sua nova e melhorada vida. Em momentos como esse se amaldiçoava por ter trocado a família por um desejo juvenil.

Hinata sentiu dois braços envolverem a sua cintura trazendo o seu corpo em um abraço sensual.

— Acho que ouvi o meu nome ser pronunciado por um anjo. – disse romanticamente.

— Então está ouvindo demais, porque não há um só anjo nessa mesa, eu diria o contrário por que eles não param de pensar em sem vergonhice. – seu olhar era apaixonado e brincalhão.

—Acho que está enganada. – a virou deixando seus rostos próximos. –Porque eu estou de frente para um agora. – colocou uma mecha do cabelo liso dela para trás enquanto ela passava os braços por cima do seu ombro e o encarava apaixonadamente.

As mulheres presentes suspiraram e Temari deu um cutucão no namorado que olhava para o teto entediado.

— Você poderia ser assim de vez em quando também. Só sabe reclamar de tudo.

Ele fez que não ouviu.

Uma pequena cena romântica se desenrolou fazendo o loiro bufar ainda mais de infelicidade. Anos atrás era ele quem tinha esse privilégio de poder estar tão próximo de Hinata, mas agora não passava de um mero espectador.

O momento foi cortado pelo som de crianças rindo alto e todos olharam surpresos para Daito que com uma destreza e rapidez estranhas a sua idade se pendurou nas costas do moreno escorregando até o braço que ele esticou para o menino ficar pendurado como um filhote de macaco. Sasuke já conhecia o pequeno demais para deixá-lo no vácuo.

— Papai!Vem brincar com a gente. - os olhinhos brilhavam de expectativa e um terno sorriso infantil enfeitava-lhe a face.

Em sua euforia infantil Daito não havia notado a presença do pai á mesa. De fato nem havia olhado para os presentes, mas em dado momento seus olhos pousaram na figura do seu genitor que mantinha um semblante irritado e um sorriso desgostoso que contrastava ameaçadoramente com o brilho irritado que os olhos azuis, outrora tão carinhosos, transmitiam.

Naruto sentiu uma raiva anormal tomar conta do coração ao ouvir o filho chamar o Uchiha de pai e sem perceber levantou-se lentamente e de forma ameaçadora enquanto transmitia em seu olhar todo o desgosto da cena que havia acabado de presenciar assustando o garoto que sentiu um medo anormal se apossar do seu corpo enquanto soltava o braço do padrasto e recuava.

Ele sabia que jamais deveria ter feito isso na frente do pai e agora sentia o sangue correr apressado pelas veias dando a ele a impressão de que a qualquer momento poderia desfalecer. Sua cabeça latejava e um gosto amargo tomou conta da sua boca ao ver a figura do Uzumaki transfigurar-se em algo medonho.

— Do que você o chamou?- Naruto estreitou os olhos e se debruçou levemente sobre a mesa fazendo o menino recuar mais um passo, assustado demais para responder. –Eu acho que não ouvi direito; você o chamou de pai?- os olhos brilhavam furiosos.

Os expectadores ficaram em silêncio, tão surpresos com o modo que o pequeno havia se referido ao moreno e a mudança de personalidade de Naruto que parecia ter se transformado em outra pessoa, que não conseguiam reagir minimamente.

Como não houve resposta, apenas o olhar amedrontado do menino que foi ignorado pelo ódio, o Hokage se exasperou.

— EU SOU O SEU PAI DAITO!NÃO O SASUKE OU QUALQUER OUTRO HOMEM QUE A SUA MÃE RESOLVA NAMORAR. – Falou irritado.

Hinata o olhou torto.

O garoto apenas recuou mais sentindo as lágrimas ameaçarem descer de medo.

—Naruto não há necessidade de brigar por isso Naruto, foi apenas uma coisa boba. – Sakura pediu calmamente ao seu lado.

— Claro que há Sakura! Daito é meu filho e não vou permitir que chame outro de pai na minha frente.

— Ele pode simplesmente fazê-lo por trás. – Yukie disse baixo se aproximando da mesa.

—Não se envolva Yukie. – Hinata pediu calmamente.

 O loiro apenas lançou um olhar furtivo para ela, mas não pode captar nenhum tipo de emoção distorcida. Era como se ela não se importasse.

Vendo o estado atônito do filho Hinata pediu que ele subisse. Iria conversar com o loiro depois sobre o comportamento na frente dos convidados e sobre a forma bruta de tratar o aniversariante. Mas no momento em que ele virou de costas foi surpreendido com um novo ataque de cólera.

Ao ver o filho com a camisa com o símbolo Uchiha gravado nas costas ele não pode conter a surpresa e a irritação que cresceram em seu interior e explodiram de maneira violenta.

— O que significa isso Hinata? – apontou o símbolo.

— É uma simples camisa. – tentou dar uma resposta evasiva.

—Estou me referindo ao símbolo. Porque Uchiha?Por acaso ele já usou alguma camisa com o emblema da família Uzumaki?

— Ora Naruto é apenas uma camisa!- estava perdendo a paciência. - Não vai arranjar briga por algo tão insignificante vai?!

— Não há nada de insignificante nisso Hinata. Ele não é um Uchiha e sim um Uzumaki, e como tal deve respeitar a sua linhagem.

— Respeitar a linhagem? Desculpe se eu feri a honra do seu clã com algo tão simples. Houve muito respeito em todas as suas ações.

— Não me provoque Hinata!- tornou a olhar para o filho que continuava assustado. – E você Daito, vá retirar essa blusa imediatamente!

— Escute aqui Naruto! Ele pediu para usar e eu deixei você não pode chegar aqui e desmandar como bem entender. - disse apontando o dedo.

— Posso porque sou o pai.

— O interessante é que age como pai apenas quando lhe convém não é mesmo Naruto. – Sasuke disse sem poder se conter mais. _ Onde estava quando eles precisaram de você?

— Não se meta Teme! Isso é um assunto de família e não diz respeito a você, acho melhor não se intrometer.

— Negativo!- Hinata se exasperou. – Sasuke agora faz parte da família e pode opinar.

Iniciou-se uma pequena discussão entre eles que foi se intensificando até se tornar em algo insuportável. Daito que até então estava tentando se acalmar sentiu a raiva crescer ao ver a confusão que o pai estava arrumando por causa de algo tão banal. Em um ato impensado retirou a camisa a lançou ferozmente em cima da mesa, fazendo-a parar na frente de Naruto que desviou o olhar para ele junto com os outros presentes que olhavam surpresos.

— O problema é a droga da camisa?Não precisa mais brigar por causa dessa porcaria. – dizia indignado com os olhos cheios de lágrimas. – Porque não pode pensar na gente de vez em quando?- as lágrimas desciam pesadas. -Sempre pensa em você no que quer. Estou cansado de sentir medo da sua raiva egoísta, estou cansado de você!Eu te odeio!!!

Daito saiu correndo com os olhos cheios de lágrimas e o rosto furioso. Entrou no quarto e se trancou, não queria ver ninguém, iria ficar escondido até que a festa terminasse.

Naruto olhava atônito para o local onde o filho estava desviando o olhar para a camisa a sua frente. A reação de Daito fora inesperada e era quase impossível acreditar que ele havia ficado tão furioso, há anos não mostrava essa personalidade que herdara do clã Hyuuga. A cena do menino chorando com o olhar cheio de ódio, as lágrimas  que escoriam pesadas e sem nenhum pudor pelo rosto infantil faziam o coração do loiro apertar e ele sentou na cadeira em câmera lenta com a mão na cabeça repetindo com a voz fraca e baixa:

— O que foi que eu fiz!O que foi que eu fiz!

Sasuke lançou-lhe um olhar impiedoso que o fez olhar para ele.

— Quantas vezes mais precisa magoar esse menino para satisfazer os seus próprios caprichos?- saiu caminhando em passos lentos ao quarto de Daito.

A morena falou fazendo-o olhar para ela.

— Belo presente de aniversário que você deu para o seu filho.

Ele olhou para a filha mais velha esperando que ela também o repreendesse, mas ela não o fez, apenas balançou a cabeça negativamente e virou de costas indo atrás de Sasuke e da mãe que estavam mais a frente.

O Hokage levantou e pedindo licença se retirou da mesa. Precisava descansar e reavaliar a sua postura como pai. Chegou a uma parte do gramado mais escura e se deitou solitário encarando as estrelas que brilhavam intensamente no céu como se zombassem da sua ignorância. Fechou os olhos com força ao lembrar-se das palavras do filho. Havia deixado que o seu maldito egoísmo e ciúmes falassem mais alto e não se preocupou com a possibilidade de magoar o filho mais uma vez para conquistar os seus ideais.

Aquele olhar furioso, que ele jamais imaginou que seria direcionado a ele mais uma vez não parava de atormentá-lo.

Ouviu a grama farfalhar ao seu lado e quebrar a sua concentração. Abriu os olhos e vislumbrou a figura da filha que sentada ao seu lado com os braços envoltos das pernas olhava para o mesmo céu que ele, admirando as estrelas. Olhava surpreso para ela, apesar da pouca idade, seu semblante era de ume pessoa madura.

Um sorriso triste surgiu nos lábios do sexto Hokage. Não era digno de ter crianças tão especiais, não merecia tal alegria. Olhava a sua princesa como se fosse a primeira vez que a via. Tão bonita. Tão perfeita. Tão inteligente e ....triste.

— Eu conversei com Daito. – ela disse sem rodeios retirando-o do transe. – Não precisa mais se sentir culpado, ele já voltou a brincar e se divertir com os amigos.

Yukie sentia o coração mais leve embora fosse estranho conversar com o pai. Não fazia isso há muito tempo, mas estava conseguindo cumprir com a nova etapa do seu tratamento. Quando abriu o diário, em letra cursiva estavam as felicitações do seu querido doutor que pediam para que ela se livrasse das mágoas que existiam em seu coração e buscasse reatar os laços que havia perdido com o pai.

Era difícil, mas havia prometido a si mesma que não iria ser vencida por emoções tão baixas como medo e raiva, afinal sabia que o seu amor pelo pai estava adormecido dentro de si, mas não conseguia despertá-lo.

— Obrigado minha Hime. – ele pronunciou com a voz rouca e os olhos marejados de lágrimas de alegria. –Não precisa se preocupar comigo, pode voltar a festa e se divertir, eu não mereço a sua companhia.

As palavras dele abalaram a jovem que inconscientemente tornou a assumir atitudes evasivas na tentativa de esconder seus verdadeiros sentimentos.

— Sei que não, apenas não queria deixá-lo sozinho, afinal você é um convidado e isso seria indelicado da minha parte.

— Está preocupada comigo?

— De maneira alguma, estou apenas cumprindo com as minhas obrigações de anfitriã, não as confunda com sentimentos ou vontade.

Ficaram olhando para as estrelas sem dizer uma só palavra por longos minutos, até Naruto se levantar e sem olhar para a filha caminhou falando antes de entrar.

— Eu não vou mais tomar o seu tempo. Não vou mais impedir que sejam felizes ou reclamar que estou sendo substituído. –Olhou para os olhos dela. – Não quero mais ver esses olhares tristes por minha causa, se quiserem chamar outro de pai eu não vou me opor. Quero que voltem a sorrir como antes, mesmo que não seja para mim.

Continuou a caminhar. Yukie viu o antigo pai renascer na fala dele. Sem egoísmo, apenas a vontade de fazer os outros felizes, esse era o pai que aprendera a amar e que tinha sido sufocado pela nova personalidade. Sem que percebesse estava chorando e diante da imagem do pai que desaparecia dentro do salão ela sorriu e disse para si mesma.

— Então você estava escondido dentro dele o tempo todo. Sinto saudades.

A brisa soprou mais forte fazendo os poucos fios de cabelo soltos dançarem em um ritmo frenético e as folhas farfalharem nas copas das árvores, entoando uma melodia que ritmou em harmonia com as últimas palavras dela, agora murmuradas.

—Eu amo você pai.