POV. Marina.

Eu não podia mais acreditar, por mais que eu tentasse, e realmente tentava, era impossível! Num instante toda a minha curta vida, de certa forma normal como a sua até certo tempo atrás, passou por minha mente. Me lembrei de cada ano que eu passava com a minha família e meus amigos, tudo que eu fazia com eles quando podia ser...digamos livres. Revi cada ida ao shopping e cada festa que tive, cada bronca ou castigos que eu levei e todas as regras que quebrei e nunca me importei. Vi em todas as cenas uma garota que por trás de um rostinho sempre feliz, escondia um sonho, do qual guardava só para ela e que agora, ao acordar de um simples devaneio, era a maior realidade.

Então esse foi meu sonho, o qual resolvi abrir com  minhas  melhores amigas que para minha surpresa tinham o mesmo. Esse que eu tanto escondi e para minha surpresa consegui. O.k! eu vou parar de enrolar, aqui estou eu me concentrando ao máximo para não explodir, muitas emoções estampam  meu rosto, para quem visse não iam nunca entender, nem eu entendia.

O que foi que Artur disse mesmo? Ah, sim! Era algo sobre não esquecer as notas e falas. Lembrar-me de todos os movimentos de cada dança,e da respiração nas horas certas.Esse era o nosso primeiro grande show aqui no via Funchal, pelo que me falaram os ingressos acabaram em apenas dois dias de vendas, estava de fato lotado.

De certo modo eu já tinha feito uns shows antes, mas nunca de tal porte. Mesmo assim nunca fiquei relaxada no começo de qualquer um deles, mas esse era realmente pior. Estava com as letras nas mãos enquanto os maquiadores terminavam  seu trabalho. Era muito nervosismo para eu tentar até mesmo escutar alguma voz as fundos, só via os borrões dos funcionários apressados revirando tudo. Já estava quase explodindo de tanto ficar parada naquela cadeira quando eles finalmente terminaram. Levantei e comecei a quicar no chão feito uma doida mas eu precisava me acalmar então resolvi ligar para o Artur.

Grande erro meu. Ele acabou falando que não podia falar pois estava vendo as coisas com as empresas internacionais que iam fazer a cobertura do show mundialmente! Grande coisa.

Do nada as outras três entram no meu camarim.

-Eu não vou agüentar nem mais um minuto....-quase berrou Caroline...

Dava para ver claramente que ela estava de fato muito nervosa.

Laura aparentava estar méis calma, como sempre sua mente devia estar em marte. Já Vivian tentava parecer confiante mas batucava em quase todos os lugares com as suas baquetas.

Eu, bem, eu consegui ficar literalmente calma depois de lembrar que pode acontecer qualquer coisa nesse show, mas ela vão sempre estar comigo custe o que custar.

O meu maior problema agora era que não deu tempo de fazer o soundcheck porque quando chegamos aqui a produção quase nos matou ao ver nosso estado e ficamos as últimas 5 horas  nos restaurando e arrumando para o show. Mas se você quer realmente saber eu não sei porque implicaram tanto com agente. Só porque nós resolvemos dar uma fugidinha dos seguranças e ir ao parque como pessoas livres e felizes e começou a chover e nós brincamos de pega-pega na lama? Eu realmente não entendo essas pessoas, parecem que nunca se divertem.

Mas agora estávamos conversando animadamente enquanto eu fazia uns passos mais complicados com os dançarinos. Então um tiozinho da produção chegou falando:

-10 minutos para o show!

-É agora meninas!- Disse Laura com o maior dos sorrisos. Embora eu estivesse sorrindo verdadeiramente por fora eu sentia minha barriga dar voltas.

Estávamos indo através dos corredores de mármore até uma sala na qual tinha quatro mulheres com pranchetas na mão e alguns fios na outra. Aqueles fios eram os aparelhos que teríamos que usar na roupa e nos ouvidos que geralmente incomodava muito mesmo. Eu tinha raiva daquilo, ainda mais porque caíam o tempo inteiro, era impressionante. Teve uma vez que de tanto cair eu arranquei o negócio do meu ouvido e taquei para os bastidores.

Colocamos aqueles trepos feios passando por debaixo da roupa e começamos a rezar....o mais incrível era que eu e as meninas não éramos religiosas mas sempre rezávamos o Pai Nosso e o Ave Maria, acho que por questão de ser normal para os artistas fazerem isso e que sempre os tranqüiliza e bem, estava servindo para nós  também.

No final todos que rezavam com agente gritaram bem alto: The Half Devils!

E bem, agora o show ia começar. Vivian foi sem ser vista para a porta que subia para a bateria e Caroline e Lauro colocaram seus instrumentos no corpo, uma guitarra e um baixo com o nome da banda em ambos. Elas iam começar entrando com gelo seco enquanto eu ia simplesmente entrar por uma porta que se abre quando o telão se ergue um pouco.

Um cara que eu não faço a mínima idéia de quem possa ser anunciou no microfone bem alto para que todos os fãs gritando ouvissem:

-Are you guys ready?! Let’s GO with The Half Devils.

Então começou a música e eu entrei em meio a gritaria. Comecei a cantar nossa música tema sempre sorrindo mas por dentro tremendo. Eu nunca me cantava durante o show pois a adrenalina era tanta que eu mal lembrava meu nervosismo. Consegui cantar todas as músicas sem errar nenhuma nota e s movimentos coreografados que fazia com os dançarinos parecia que eu tinha os feito a vida inteira. Só Deus e eu sabemos o que senti, foi incrível, a melhor noite da minha vida!

Tinha tantos efeitos especiais, tantos gritos das meninas e eu me sentia em casa, era a minha vida. As outras também se divertiam durante o show, corriam de lá para cá do palco e acenavam para a platéia e as câmeras que ficavam entra o palco e a multidão.Foi uma noite de fato inesquecível para nós.

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-Muito bem, meninas! Foi realmente muito bom, estão todas de parabéns! Um dos melhores shows que eu já vi.- Nos dizia Artur em nosso camarim.

-Foi incrível, eu me senti como se tivesse asas e pudesse sair voando a qualquer minuto e olha que eu estava muito nervosa!- Disse toda animada.

- Foi mesmo, eu amei segurar aquela guitarra enquanto sabia que todos lá estavam gostando do show, foi mágico!- Disse Laura.

-Pra mim também, pude ver todo mundo lá do alto enquanto tocava a bateria e só de saber que estávamos deixando todo mundo feliz foi como um dos melhores presentes que já ganhei na vida. –Falou Vivian realmente emocionada.

-Eu consegui esquecer de todo a minha ansiedade, achei que eu ia errar tudo até ver Marina cantando e dançando com o coração e ver vocês duas comigo, pena que acabou, eu queria estar lá ainda, a noite não podia acabar- Falava Carol, ela é sempre a mais emotiva e muito fofa.

-Quem disse que acabou?-perguntou Artur,  que fez olharmos para ele confusas. – Ainda tem mais uma parte do show garotas, é melhor que estejam todas com as mãos livres e relaxadas porque agora vão se matar de escrever assim que eu liberar o camarim.

-Ah é! Os autógrafos para aquelas meninas que vão vir no camarim por causa das promoções.-Disse Vivian.

-Eu queria ter ganho uma dessas para o show  de hoje que era assim: uma camiseta autografada da Half Devils + um CD + um boné e um ingresso na área VIP com direito ao camarim. Eu me inscrevi a tem um mês mas sortearam outra garota, muito triste- Disse Laura, olhamos para ela com uma cara incrédula, ela era meio doidinha, não sei se já percebeu.

-Mesmo se você ganhasse, como pretendia fazer o show e assisti-lo na área VIP?- perguntou a Vivian.

-Eu não pretendia, né?! Eu só queria ganhar a camiseta- disse fazendo beicinho, o que nos fez rir.

-Tudo bem meninas, chega de maluquices- olhos de canto de olho para Laura- agora vamos liberar logo pois amanhã temos uma reunião na agencia e depois uma entrevista na MTV.-Ele terminou de falar e  nós só assentimos enquanto mais seguranças entravam e nós ficamos de pé com uma caneta em mãos.

Pelo que eu sei  seriam quinze meninas entrando três de cada vez.

Então veio o primeiro trio, umas meninas um pouco mais novas que conseguiram nos fazer assinar mil objetos em apenas três minutos depois de bater sei lá quantas mil fotos.

Foi assim com todas elas, eu honestamente vi como as aulas  são importantes, eu não me lembro de ter escrito tanto antes, minha mão estava estourada e já chega o fato de ter ficado um século segurando um microfone, era pra amputar minha mão na próxima.

Depois de tudo isso fomos para um hotel do qual eu não fiz a menor questão de ver o nome e sim, mesmo sendo a nossa cidade e termos nossas casas aqui, inventaram que seria mais seguro dormirmos em hotéis e que assim também ficava mais fácil de se comunicar.

Seja lá  que for, não consegui dormir a noite toda, primeiro porque fiquei falando com meus amigos e família que me ligavam dando os parabéns , pela gritaria das fãs gritando ao lado de fora e muito mais pelo motivo de ainda estar elétrica por causa do show.

Era fantástico, os jornais falavam de nós, os canais de música só passavam  nossas músicas assim como os rádios, Assim como eu um dia, ainda muito jovem sonhei.

Fiquei acordada lembrando do tempo (que não fazia muito aliás) que eu ia para a escola normalmente, que eu podia falar qualquer merda em público que não ia ter ninguém atrás de mim esperando para dizer ao mundo, para aquele bando de pessoas curiosas que eu faço questão de dizer muito do que elas quiserem  saber sobre minha vida pessoal, afinal não é porque agora eu sou famosa que vou deixar de ser fã de  muita gente.

Ouvindo toda aquela gritaria do lado de fora fui para a sacada dar sinal de vida aos meus fãs que só gritaram mais quando me viram.Como disse antes, eu sou fã de muita gente então eu sei como eles se sentem ao verem seus ídolos na sua frente. O mais difícil para mim era acreditar que eles estavam gritando por mim, que eu era o seu ídolos. Eu os amava demais por isso, seria capaz de qualquer coisa para ver essas pessoas que me apóiam em tantos dos meus trabalhos continuem felizes. Eu tenho certeza que devo muito a eles por terem me dado essa oportunidade que estou vivendo agora, de poder seguir o meu sonho e ainda mais, de poder adentrar confiante nessa nova vida.

Não sei quanto tempo fiquei lá na sacada, fiquei falando alto com eles para que me ouvissem, que se dane quem ouvisse a gritaria, o que me importava era estar feliz ali fazendo aqueles que me ajudam a continuar sempre contentes.

Só voltei quando percebi que havia ficado tempo demais e que iria chover novamente, amanhã iria ter uma reunião na gravadora bem cedo e logo após iríamos para a entrevista na MTV brasileira que por sinal iria ser transmitida mundialmente o que em outras palavras significaria  ‘vamos usar as aulinhas de inglês que tanto nos custou a paciência! Viva!’.