Não. Não vou dizer que fiquei com raiva da Carol. Tudo bem, ela interrompeu um momento meio que mágico. Mas eu, sinceramente, acredito mais que ela me salvou do que me atrapalhou.

O que eu teria dito ao Justin? Eu iria congelar. Na verdade, já havia congelado. E, provavelmente, ele iria se aproveitar do meu estado de choque e acabaria me beijando. Seria um momento de fraqueza meu. Eu sabia disso. Eu não poderia resistir. E no final sairia magoada, porque seria chutada por ele.

É, eu ainda não acredito que ele me ama. Melhor assim do que acabar me decepcionando depois.

Enfim, vamos ao que interessa. A Carol. Ela chegou lá no quarto em desespero.

Eu conheço bem ela e, antes mesmo de ter certeza, eu já sabia que era algo muito, muito grave. “Será que mais alguém caiu da escada?”, pensei. Ri internamente, mas não porque achei engraçado. Foi porque fiquei nervosa. Eu sabia que ia tomar outro susto agora, outra coisa importante. Quer dizer, que dia nesse mundo que a Carol não ia querer surtar e dar gritinhos histéricos quando visse o Justin se declarando pra mim?

No dia que a minha mãe me ligasse do Brasil dizendo que era pra eu voltar.

-Mas, mãe, porque decidiu assim, de repente? – perguntei, mais confusa do que tudo.

-Qual foi a sua desculpa pra ficar aí, Anne?

-Desculpa, mãe? O Jus... tin, ele tava internado. E era minha culpa, ué. -  Carol olhou pra mim com os olhos arregalados. Ops, esqueci, minha mãe não sabia que o Justin se acidentou enquanto eu fugia dele. E, se soubesse, ia começar aquela coisinha de mamãe que se acha adolescente. – Q-quer dizer, não minha culpa, exatamente. – tentei me corrigir – Mas eu estava perto e não podia abandoná-lo;

-Ok. Vou fingir que acredito – risos. Aff! – Se a sua desculpa era o Justin, ela acabou de se esgotar. Eu sei que ele voltou do hospital e que está ótimo.

-Quem te contou isso?

-O Scooter.

Me lembrem de matar o Scott um dia desses. Dolorosamente, ok?

-Aliás, quase que me esqueço de falar, assim que o Justin ficar mais tranquilo, liga pra mim que eu quero falar com ele. Só não faço isso agora por que ele deve estar cansado.

É. Tão cansado que já foi lá encher o saco de novo.

-Ok, mãe eu ligo. Mas voltando ao assunto inicial... – disse um pouco nervosa.

-Você volta pro Brasil ou não? Se quiser ficar aí, vai ter que ficar o semestre inteirinho, ok?

-Ai, mãe. Não sei se aguento um semestre inteiro longe daí. Mas também não quero ir embora daqui.

-Tem uma semana pra decidir, Anne. É o suficiente, não é? Se ficar aí um tempo e voltar pra cá, vai acabar confundindo as matérias, porque aqui é contrário daí. Isso vai te atrapalhar na escola. Então, se for ficar, fique um semestre. Assim, quando voltar, vai vir pra cá bem no início do ano e não vai perder nada.

O que? Voltar só por causa das aulas? Essas mães de hoje.

-Mas a professora particular me ensina o que eu precisar, ué.

-Mas quando você voltar pro Brasil ela não vai poder vir junto. E, além disso, não vai achando que viagem é brinquedo não. Decide! Não pode ficar indo e voltando.

Sabia que ela inventaria mais motivos idiotas. Na verdade, ela quer dizer mais ou menos isso:

“Quero que você volte, droga. Sei que não vai conseguir ficar aí tanto tempo. Precisava só de uma desculpa. To com saudades, filha. Que coisa!”

-É. Eu penso. Te ligo mais tarde e te falo o que decidi. – disse.

-Tudo bem filha. Mamãe te ama, hein?!

-Mãe, eu já tenho 16 aninhos. Não precisa me tratar como se eu tivesse oito.

-Cala essa boca e fala que também me ama, garota.

Ri. Minha mãe era meio doida, mas ela é legal.

-Te amo, mamãe. – falei imitando vozinha de criança. – To com saudade.

-Eu também, amor. – ela falou. – Tenho que desligar. Tchau.

-Tchau. – sussurrei.

-E aí? Vamos ficar? – perguntou Carol.

Não respondi. Não sabia. Vamos ficar?

Continuei andando de um lado pro outro. Pensando.

Brasil?

Estados Unidos?

Mamãe?

Justin?

Escola?

Professores particulares?

Amigos?

Justin?

Vida?

Amor?

Casa?

Justin?

É, Justin em tudo mesmo. Não posso mentir.

Não é fácil decidir. Nem um pouco.

Eu realmente estou confusa. Quero tanto ficar aqui, mas...

Tem a minha mãe. Não suporto viver sem ela. Ela é muito minha amiga, além de mãe. Ela é... como uma melhor amiga mais velha, sabe? Do tipo que eu sempre procuro pra pedir conselhos. Er, não sempre. Sempre que eu sei que se contar as coisas ela não me mata.

E tem todos os meus amigos. Ok, a Carol veio comigo. E aqui eu tenho o Chaz e o Ryan. E o Scott. Mas lá no Brasil são tantos! Tantos, tantos amigos. Eu não sei se posso deixá-los.

Aliás, porque mesmo eu quero ficar?

Só porque eu adoro os Estados Unidos e acho essa coisa de banheira o máximo?

Ou é porque eu acho que tenho alguma chance com o Jus? Mesmo depois do que ele me disse, mesmo depois do acidente, mesmo depois de todos falarem comigo que ele também me ama, eu continuo achando que não.

Meio que porque teve o Rafael. Ele era lindo. Perfeito. E dizia todo dia que me amava e blá, blá, blá. Dizia que eu era linda, que ele não conseguia mais olhar nenhuma outra garota, porque a cabeça dele era só eu e pronto.

Até que aparece a idiota da Milla, voltando de uma viagem para a Grécia e ele resolve se interessar por mitologia grega.

Só pra lembrar, eu e a Milla nos odiávamos desde 10 anos. Quando, sem querer, eu esbarrei nela enquanto carregava um bolo gigante, cheio de chantili para dar à uma professora. Ela tinha comprado um vestido novo. Caríssimo, direto da Inglaterra. Nunca mais a vi com aquele vestido.E ela nunca mais esqueceu aquilo.

Enfim, peguei os dois juntos. Ele foi um completo idiota e nem quis negar. Assumiu e me disse pra esquecê-lo.

E, depois disso, vocês realmente acham que a menininha aqui vai cair na do Justin? Por mais real que pareça, eu já sofri assim uma vez. Não confio mais em homens.

E, agora, tem a Lilian, essa... coisa. Aquela santinha. “Ai, eu sou só amiguinha do Justin. Blá, blá, blá.”

Ok, pode parecer bobeira, mas eu sinto que se ficar aqui vou acabar sofrendo. E muito! Qual é, tá na cara que o idiota do Bieber vai ficar com aquela esquisita. Eles falam que só são amigos, mas é óbvio que ela é doida por ele. E, o que uma garota quer que ela não consegue? Aquela Avril Lavigne mal feita. E eu que não quero assistir isso.

Me matem. Me xinguem. Me odeiem. Digam que sou uma idiota. Mas eu sou é teimosa. E tomei minha decisão.