\"E, no fundo, tinha uma pequena parte de mim que acreditava que, como em todas as outras vezes, o Justin iria me pedir desculpas.\"

Tudo que eu mais queria naquele momento, era conseguir me distrair! Já havíamos passado por umas três lojas de roupas e detonado algumas centenas de dólares do Scooter - é, ele emprestou o cartão de crédito para nós, na condição de que eu deveria me divertir bastante, mas sem gastar mais de dez mil dólares -, mas eu não conseguia tirar uma certa pessoa da cabeça.

Tentava me concentrar naquelas roupas lindas mas não dava. Era até chato, toda hora eu parava e parecia entrar num outro mundo. Carol já havia me dito que eu quase chegava a babar e que meus olhos perdiam o foco.

Mas eu não estava ali mesmo! Eu, sei lá, me sentia em outro lugar quando me lembrava dos nossos beijos, carinhos, abraços, como em um paraíso, e quando lembrava das nossas brigas, me sentia desolada, acabada. Mais ou menos como agora. Só que, dessa vez, eu pelo menos tenho algo para me consolar, não é? Um cartão de crédito todinho pra eu gastar com o que quiser é um bom conosolo. Ou não.

–E...? - ouvi uma voz me puxando pra cima.

–Hun? - perguntei erguendo a cabeça, totalmente deslocada e desconcentrada.

–A saia é linda e...?

–Ah. É linda e o preço está ótimo! - eu disse, me lembrando do que estava falando há algum tempo, antes de começar a pensar - de novo - no Bieber.

–Hã, sei. - ela revirou os olhos e colocou a saia jeans na sacolinha de compras. - Qual é? Eu to chata por acaso? - disse se sentando ao meu lado.

–Ah! Não! Claro que não, sua boba!

–Então o que foi? - tive vontade de chorar quando a olhei nos olhos. Não sei, fiquei triste! Extremamente triste quando vi a compaixão, a saudade e uma dose de doçura naquele olhar. Eu sei, estou sensível esses dias. Mas sem o Justin as coisas ficam... tensas! Parece que tudo se torna razão pra chorar.

–O que foi... - repeti sua pergunta, analisando-a e pensando numa resposta que a faria entender como eu me sentia. - Não sei. - foi a melhor reposta, porque, afinal, eu estava confusa! - É a falta do Jus!

–Pensei que estivesse com raiva dele!

–E estou!

Sua cara de dúvida foi tudo que precisei para entender que ela queria que eu lhe explicasse tudo pra ver que tipo de conselho eu precisava.

–Ok, eu sei. É estranho. É que... eu o odeio, Carol! Odeio! Ele é tão chato, tão orgulhoso, tão infantil, tão metido, tão irritante e provocante! - engoli em seco ao perceber que, ao descrever os defeitos do Jus, havia acabado de citar algumas das minhas próprias características. - E eu o amo, é claro. Uma coisa tão forte! É inexplicável! Ele é fofo também, é lindo, é irresistível, canta bem, é carinhoso, meigo, me entende, beija bem - passei a língua nos lábios, enquanto sorria involuntariamente -, mas isso tudo só quando ele quer. Por que, dependo da hora, ele só sabe me irritar!

Carol parou um pouco, pensou, pensou. Eu fiquei intrigada. Adorava ouvir seus conselhos, ela sempre dizia alguma coisa certa, algum tipo de atitude que melhoraria as consequências dos meus constantes erros e das minhas bobeiras.

A observei pensar calada, com o coração na boca. Ela tinha ali, na ponta da língua, a solução dos meus problemas. Pelo menos, era isso que eu esperava!

–Anne, minha flor... - sorriu delicada. Lá vem conselho amoroso, aposto. Vão vir coisinhas doces e melosas. Ops! Isso só pode significar que...

–Você está apaixonada! - berrei. Algumas pessoas me encararam confusas, então eu corei violentamente e repeti a frase, sussurrando dessa vez. - Você está apaixonada!

Ela soltou uma risadinha. Viu, eu tinha razão.

–Não, não estou. - negou sorrindo, mordendo o lábio inferior com a língua.

–Ah, pára! Eu te conheço tão bem quanto você mesma sua boba. - eu ri - Sei mais do que todo o mundo que quando você fala com a voz doce, quando é boazinha, quando é gentil e é toda compreensiva é porque está sentindo algo.

–Sim, estou mesmo sentindo algo. Tristeza pela minha melhor amiga estar tão mal. - ela tentou desviar.

–Nã, nã. Eu nem acabei! Está sentindo algo, tudo bem. Disso já sabemos, não é? Agora, vamos juntar isso com seus sorrisos bobos, seus suspiros e seus devaneios. Sim, porque eu posso estar meio desligada, mas percebo as coisas, ok? E sua voz! Ouça você mesma! Está dizendo tudo com um toque de amor, com uma...

–Tá! Eu confesso! - ela me interrompeu, erguendo as mãos e rindo alto em seguida. - Mas vem primeiro. Vamos comer e eu te conto tudo!

–Ok! Ok! Ele é bonito sim, tudo bem? – me entreguei, dando mais um gole no meu refrigerante.

–Viu? É bonito e é fofo. Mas nem pense em roubá-lo de mim, certo? – ela estreitou os olhos, mas é obvio que era brincadeira.

–Rawr, cuidado comigo, hein! – eu ri, enquanto fazia garras com as mãos.

–É, sei, sua selvagem. – ela riu mais ainda, provavelmente da careta de susto que eu fiz. A palavra selvagem... me lembra algumas coisas, hã, no mínimo, ruins. – Você já é do Jus, não quero que... – ela engoliu em seco e parou de falar. – Aw, amiga! Desculpa! Não deveria ter falado nisso. Eu sou uma idiota, não é?

–Ah, não. Tudo bem. Eu to legal. Mas... E o Chaz? – funguei.

–Ah, sim. O Chaz. Não venha roubar ele de mim!

–Você já disse isso!

–É, eu sei. Mas é só pra reforçar. – ela parou por alguns segundos. Deu uma mordida no seu hambúrguer e me olhou. Não disse nada, apenas me encarou.

–Sabe... – eu comecei dizendo, fazendo círculos na mesa com meus dedos – eu acho que o Chaz também está apaixonado por você. – soltei como se não ligasse.

–Ah, é sério? Você acha? – ela me perguntou com os olhos brilhando.

–É. Sei lá, o jeito que ele te olha. Com curiosidade, carinho. – eu disse.

–Anne. Não me iluda. – ah, a Carol tem um certo problema em pensar que as pessoas gostam dela. Ainda mais quando ela gosta dessas pessoas. Ela pensa que é melhor desconfiar sempre, antes que você acabe se ferrando com sonhos e esperanças que poderiam ser falsas.

–To falando sério. Acho mesmo que ele gosta. Não brincaria assim com você. – eu disse calma.

–Tudo bem. Voltamos às compras? – ela perguntou animada. Pelo visto, estava se segurando de tanta felicidade por saber que eu acho que o Chaz gosta dela e queria extravasar um pouco fazendo umas comprinhas.

–É claro. Foi pra isso que eu vim aqui. – eu disse sarcástica, revirando os olhos. E isso tudo começou apenas com um lanchinho bobo pra uma garota que se isolou no seu quarto por causa de um cantor super famoso que é lindo e muito idiota por quem ela está totalmente apaixonada, é.

Aliás, na verdade, acho que tudo começou por causa de uma briguinha boba, não foi? Ah, eu daria tudo pra voltar no meu primeiro dia aqui em Atlanta, para que eu pudesse ter sido mais educada com o Jus, não ter discutido com ele e ter a certeza de que ele me ama. Se eu não tivesse sido tão chata aquele dia, estaríamos namorando hoje, super felizes.

Mas, ei... Espera aí! O que eu estou dizendo? A culpa não é minha! Foi ele quem não me cumprimentou naquele primeiro dia, ele que me ignorou e ele que preferiu uns joguinhos idiotas do que eu. Ele que está errado. A culpa é dele, e só dele! E, ah, do meu orgulho, é claro.