POV Anne

–Carol... e-eu... eu s-sou uma i-id-idiota! - choraminguei novamente.

–Anne, calma, tá? Respira fundo. E você não é nenhuma idiota. O único idiota na história é o Justin. E só. Você só se irritou, mas ele... Ele fez uma coisa que não deveria ter feito. - ela falou apontando para o meu cabelo... azul. Azul e todo grudado, nojento, melado. Argh!

Funguei umas duas vezes e voltei a chorar, tampando meu rosto.Um choro contido, mas eu tava magoada. Eu tinha ido pedir desculpas e ele... E ele me faz isso!

Quando eu gritei e a tinta caiu sobre mim, eu vi o olhar do... do indenominado. É assim que vou chamá-lo agora, me recuso a falar o nome dele. Enfim... Quando eu vi os olhos dele eu ainda tive um pingo de esperança que não tivesse sido ele. Mas aí eu olhei para a mão dele e só pude chorar. A cordinha que fez a lata de tinta cair estava ali, nas mãos dele. Ele tinha a puxado. Ele quis fazer aquilo.

Tenho que admitir, ele é um bom ator. Me enganou direitinho.

–Ah, Carol! - gemi. - E-eu... eu nem ac-acredito que ele... que ele foi capaz de fazer isso! - apontei para as mechas azuis e apoiei minha cabeça nos ombros dela, que ficou afagando minha cabeça, enquanto eu chorava e gaguejava coisas sem-sentido.

–Anne, vai lavar o cabelo, vai. - ela falou erguendo minha cabeça. Sequei as lágrimas rapidamente. Odeio que as pessoas me vejam chorar, me sinto fraca e indefesa. E eu sou forte! - Lava esse cabelo e fica meia hora lá na banheira. Tá? Se recupera primeiro, depois vamos planejar uma vingança contra o - ela já ia falar o nome, mas fiz uma cara que misturava dor, medo e repreensão e ela logo mudou o que iria dizer. - o indenominado. Vamos nos vingar dele. E ele nunca mais vai querer se mexer com você - tentou me encorajar. Eu ri levemente do falso entusiasmo em sua voz e sacudi a cabeça, que doía de tanto chorar, para clarear a mente. Fui tomar um banho, ela tinha razão. Antes, eu precisava relaxar e depois eu acabaria com... ele.

Fui me arrastando para o banheiro e meus pensamentos iam à mil. É sempre assim: quando eu me chateio, fico pensando em coisas estranhas e nada a ver. Converso comigo mesma e xingo as pessoas. Tento rir de tudo e ser fria. É apenas uma maneira, incomum, que eu encontro para me auto-reconfortar.

Eu sei que estou fazendo tempestade em um copo d'água de novo nesse lance do cabelo. Mas foi sacanagem o que ele fez!

Eu fui lá toda envergonhada pedir desculpas e ele joga tinta azul no meu cabelo. E eu pensando que tinha feito burrada com ele! O único que fez burrada foi ele. E eu, por um segundo, tive a coragem de achar ele legal e de pensar que gostava dele? Eu nem sei se é possível alguém gostar dele, já que ele não parece gostar de ninguém!

Ele é mimado, metido, arrogante, mentiroso, vingativo, falso, idiota, burro, mau e... e lindo.

Espera ai... LINDO?

Ah, pelo amor de Deus, né Anne! Lindo? Só porque ele tem aqueles olhinhos castanhos, aquela cor de mel tão doce? E só porque tem aquele cabelinho fofo, que dá uma vontade de bagunçar? E só porque ele tem aquela boca que... ah, a boca... Pedaço de mal caminho? É, a boca dele é um pedacinho de mal caminho! Só por isso ele é lindo?

É.

Eu estou gostando dele. Mas não posso. Eu deveria odiá-lo.. e eu vou. Vou dar um jeito. Afinal, gostar de um idiota ninguém merece né?

Tirei minhas roupas e entrei na banheira. A água estava fervendo. Adoro água quente... é tão relaxante. Me deitei ali e curvei a cabeça na borda, suspirando longamente.

Justin, Justin, Justin.

Que cara estranho, que eu mal conheço e já não sai da minha cabeça!

Fiquei ali deitada. Acho que eu dormi. E tive mais sonhos ruins. Ou seja, sonhei com ele.

Estava tudo branco. Branco e branco. Não havia som, não havia cor. Apenas o branco e o silêncio.

Até que uma voz surgiu, do nada. E ela chamava meu nome...

"Anne" sussurrava a voz delicada e angelical. Era doce e parecia música para mim. Eu não a conheço?

Alguma coisa começou a surgir, de repente. Algumas cores apareceram em meio ao branco. Roxo... e preto. E castanho, castanho claro. Era uma pessoa. Uma pessoa muito linda! Era um anjo?Acho que sim, pelo menos era o que parecia!

O anjo se aproximou e me tocou, sorrindo.

Anne.... ele sussurrava meu nome. O que o anjo queria?

Então, de repente, o anjo foi sumindo, sumindo... e uma coisa caiu em mim. Uma coisa azul... era tinta.

E eu acordei. Estava ainda na banheira. Sacudi a cabeça, numa tentativa de fazer o sonho sair da minha mente. O anjo, não era anjo na verdade. Era o Justin. E a tinta azul me assombrou até em meus sonhos.

Mas agora eu não me abalo mais. Eu só fico frágil, no momento em que acontece. No momento só susto. Depois, passa. E agora que eu dormi fico melhor ainda. É como se eu me esquecesse e...

Ouvi um grito.

Reconheci apenas a voz de Carol, gritando algo tipo: Não acredito!

Saí da banheira apressada e fui correndo ver o que estava acontecendo. Me enrolei na toalha e quando cheguei no quarto, ela estava paralisada, com os olhos arregalados mirando para o computador na sua frente.

–O que foi? - perguntei indo até ela.

–Olha isso! - apontou para uma imagem na tela. Quando eu olhei, demorei alguns minutos para raciocinar do que se tratava e quando me dei conta, fiquei em choque também.

–Esse aí não é, o-o.... o Indenomidado? - perguntei ainda chocada.

–É, é ele mesmo.

Na foto, estava o... Ah, estava ele e a Miley Cyrus abraçados sorrindo. Em sequencia, ele e o Usher e depois ele e o meu tio Scooter.

Desde quando o Justin conhecia pessoas famosas?

–O que está dizendo aí sobre essas fotos? - perguntei para Carol. Ela olhou para as letrinhas abaixo da imagem e começou a ler:

"Bieber lança o seu filme, contando a biografia do fofo. O filme, Never Say Never, tem a participação especial de Miley Cyrus e também do rapper Usher, que é padrinho de Justin. Scooter Braun, empresário do ídolo admite que está sendo uma ótima experiência trabalhar com Justin. Então Beliebers, parece que a Bieber Fever vai estourar os termômetros durante o período em que o filme ficará em cartaz. Peguem seus Purple Glasses e corram direto para os cinemas!!"

Depois disso, vinha um resumo do filme, também a biografia do Justin. Uau, pelo visto, ele tá bem de vida. E o Scooter nem pra me contar que trabalhava com esse panaca aí. E que bobeira é essa de Bieber Fever? Que ridículo! Quem é que ficaria com febre por causa do idiota do Justin? Talvez eu ficasse e... esquece. Eu odeio o Justin, eu odeio o Justin, eu odeio o Justin. Pelo menos é disso que eu estou tentando me convencer, é.

–Nossa... - falei surpresa. - O, é, Justin - pronunciei seu nome com certa dificuldade, mas tentando não falhar a voz. -, ele é famoso. E nós nem sabíamos disso.

–É. - Carol concordou, presa em pensamentos.

–Tá, então nem adianta ele ser rico e super famoso e ter milhares de fãs - eu disse adivinhando como ele devia ser -, ou até cantar bem e tal, ele ainda é um panaca idiota. - falei.

–Talvez seja. Que estranho... eu estava bem aqui, pesquisando algumas coisas e tal, quando de repente me aparece isso! - falou apontando para a foto do Justin.

Eu ri sem humor.

–Pensando bem, o que você estava pesquisando? - perguntei curiosa. Como foi que ela achou ele?

–Fui procurar filmes legais para assistirmos, ué. Eu sei o quanto você adora filmes e sei como eles te deixam distraída. Pensei que poderia pegar um filme legal e nós fazíamos uma guerrinha de travesseiros hoje, para você esquecer esse lance da tinta azul e do Bieber. Então surgiu esse tal de Never Say Never e eu fui ver que filme era esse. - explicou.

–Ah. Daí que eu conheço o Justin então! Eu sabia que o conhecia de algum lugar... Acho que já ouvi alguma música dele na MTV ou então vi alguma propaganda, sei lá. - falei pensativa.

–É pelo que dizem os sites, - ela disse entrando em outros sites e dando uma lida rápida no que diziam e era a maioria, sites de fofoca e de adolescentes - ele é um dos cantores mais bem sucedidos hoje. Ah, espera! - falou lendo alguma coisa. - Não acredito! Olha isso... Ele bateu os recordes da Lady Gaga no Youtube!

–O que?

–Os vídeos dele tiveram mais acessos que os da Lady Gaga. Lady gaga! Acredita?

–Não! - eu ri.

–Nem eu! - ela riu comigo.

–Tá. Mas dane-se ele e sua vidinha de famoso. Não me importo com o dinheiro que ele recebe das fãs, nem com as mentiras que provavelmente lhes diz: Eu amo vocês! Aposto que em todos os “shows” ele grita algo do tipo. Só para elas continuarem indo aos shows. – eu disse, torcendo para que fosse a mais pura verdade: que Justin não estivesse amando ninguém. – Quero saber sobre nossa vingança! Isso sim é assunto de meu interesse Carol.

–Ok. Primeiro, a gente podia fazer o mais clássico, é evidente. Claro que não faremos apenas uma coisa boba, ele merece bem mais.

–Pó de mico? – sugeri.

–Obviamente! – ela riu.

–E depois?

–Deixamos os dados rolarem. Agora, vamos fazer alguma coisa. O pó de mico, faremos mais tarde. Temos que dar um tempo para começarmos a agir. – falou. – Vamos aproveitar... Essa casa enorme, aquela piscina gigante e nós duas aqui, pensando em Justin? – riu.

–É. É melhor fazermos alguma coisa melhor do que perder tempo com um idiota! – eu ri.

–Nós nem curtimos direito a piscina aquele dia, né. Você resolveu fazer gracinha... – Carol falou sorridente.

–É. Admita, foi divertido! – ela sacudiu a cabeça negativamente, dizendo: ”Você não tem jeito mesmo...” e eu continuei: - Teve graça sim, mas não é esse o caso. Vamos nadas, então?

–Era isso que eu queria fazer desde o início! Ah, e mais tarde vamos ver Titanic enquanto comemos pipoca e gritamos “Jack... Jack!” – riu.

–Titanic, de novo? Já vimos esse filme meio milhão de vezes! – protestei. Mas eu adoro Titanic. – Tá, mas eu gosto. Titanic hoje à noite... “Estou voando!” – sussurrei, esticando os braços para o lado e fechando os olhos, com a Rose faz em uma das cenas mais lindas. Carol riu e jogou um travesseiro em mim.

–Vamos nadar. – falou e foi em direção do closet.