O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 2
O Reencontro




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Usando uma roupa leve, Ronan seguia em caminhada rumo a Serdin. No céu, seu dragão Gorgos voava alto acompanhando-o a certa distância. Ele mantinha o passo acelerado a fim de chegar antes do anoitecer na cidade.

Era a segunda vez, nos seis anos consecutivos da Conferência, que iria participar do evento.
Apesar de se interessar por magia, dispensou um estudo clássico da mesma e, ao contrário de Arme, buscou seu conhecimento através de viagens e aprendizado prático. Sendo estes mais voltados para o fortalecimento do seu poder e, assim, por conseguinte, deixando de lado o que considerava pouco interessante.

Um vulto, oculto em meio a uma vegetação um pouco mais densa, o observava passar, e ele sentiu tal presença.

— Quem está aí? Apareça! — disse empunhando seu gládio, e posicionando-se em defensiva para um iminente ataque.

Envolto em uma roupagem escura e com capuz, o vulto se deslocou rapidamente e de forma furtiva, de modo a ocultar sua presença. No entanto, Ronan reconheceu aquela energia e, com sua espada, evitou as adagas que o atingiriam em cheio.

— Pelo visto você não se descuidou do seu treinamento, velho amigo! — disse o jovem ninja, posicionando-se a poucos metros a sua frente, após saltar em recuo.

— Lass!

— Como tem passado Ronan?

— Jeito estranho de cumprimentar um amigo, não acha?

— É pra não perder o estilo! — ele riu-se. E Ronan acompanhou-o com uma longa e descontraída risada. Os dois então trocaram um aperto de mão forte.

—  Mas e aí, cara? O que faz por essas bandas? — disse Lass, com uma incomum jovialidade.

— Estou indo a Serdin, vou participar da Conferência de Magia este ano. E você?

— Também estou indo pra lá, quero dar uma espiadela nesse tal evento e ver se encontro mais gente por lá.

— Você fala do resto do pessoal da Grand Chase? — respondeu Ronan, de fato estranhando o modo mais descontraído do rapaz.

— Exatamente. Você sabe se alguém mais vai estar lá? ... O Ryan? Lire?

— Elesis? — disse o cavaleiro mago, propositadamente. Sabia dos sentimentos secretos do rapaz pela bela espadachim de Canaban.

— Por quê? Ela vai? — disse o jovem ninja, com certa expectativa.

— Sinceramente não sei Lass. A única amiga daquela época que tenho certeza de que estará presente é a Arme. Faz muito tempo que não contato mais ninguém. Andei viajando muito, e quando voltava me dedicava apenas ao Reino.

— Ah, sei.

— Foi uma grata surpresa te encontrar pelo caminho.

 — Digo o mesmo.

 — Mas e você, também perdeu contato com o pessoal ou ainda fala com alguém?

— Mais ou menos. Vejo mais vezes o Ryan e a Lire. Não sei se você soube, mas eles estão casados.

— Soube pela Arme, numa carta que ela me enviou. O Ryan tinha jeito de ser do tipo que se amarra cedo. — falou pensativo, Ronan.

— Quem olhava para eles, na época, tão discretinhos, não dizia! — prosseguiu Lass, e Ronan riu. — Mas e você, Ronan? Está sozinho ainda?

— À procura da cara metade. Sério, não estou priorizando isso.

— Ninguém?

— Pior que não! Estou virado num nômade, e procuro não ficar pensando nisso... Mas e você? Sempre fez sucesso com as meninas...

— Nada a ver. Acho que você fazia mais!

— Naquelas...

— Se bem que de que vale o assédio se quem você gosta nem te nota?

 — Está falando da Elesis, não é?

— Dela mesma. Mas fazer o quê? Melhor deixar quieto.

— Tem horas que é melhor mesmo. — concordou Ronan, pensativo.

— E o Sieghart, sabe alguma coisa dele? Nunca mais vi o cara!

— Deparei com ele em algumas das minhas viagens. E pelo que soube ele estava com planos de ir para Astrynat.

 — Astrynat! Aquilo é longe pra caramba! O que ele iria fazer por lá?

— Ele sempre foi um lobo solitário, e de repente está buscando isso mesmo: isolamento e distância.

— Isolamento e distância?! — disse Lass, soltando uma risada irônica. — Você tá maluco?! Isso não combina com ele! Isso tem mais a ver com o Zero!

— Tem razão! — disse Ronan, dando-se por vencido. — Aquele sujeito sempre foi esquisito.

— O louco fala sozinho com a espada! — riu-se Lass. Ronan também riu.

— Realmente isso é bem estranho... Mas que ele é um lutador e tanto, isso não podemos negar. – retrucou.

— Ah, isso ele é. – concordou Lass. — Mas me conta, faz muito que você se corresponde com a Arme?

 — Fazem anos, nunca perdemos contato.

 — Ela é legal, mas meio tímida, não acha?

— Isso ela é.

— E ela já casou?

 — Não. Nem tem namorado. Ela se dedicou aos estudos da magia e se formou pela Faculdade de Magia de Serdin. É uma Mestra em Magia hoje.

— Que nem você?

 — Não, meu lance com magia não tem a ver com faculdades. Acho que o conhecimento transcende velhos prédios, e só vou atrás daquilo que acho que preciso. Sou o oposto da Arme nesse sentido.

— Entendo. E que idade ela está agora? Ela era tão menininha quando a conhecemos.

— Está com vinte e um.

 — E mudou muito?

— Não sei te dizer, só falamos por carta. Mas não deve ter mudado muito, eu acho.

— Hum.

— E da Amy você sabe, Lass? Aquela menina era uma graça.

— Linda ela, não?

— Nem fala... Um charme! — ambos riram.

— Lembra que todo mundo se derretia por ela?

— Se lembro! — disse, com um sorriso, Ronan. - Mas e aí, você sabe ou não dela?

 — Ela andou namorando o Jin por uns tempos, mas não deu em nada.

— Ah, sei... — falou, com certo contragosto.

— Ela anda fazendo shows por todos continentes. — prosseguiu Lass.

— Ficou famosa como queria.

 — Legal.

— Vai ter um show dela em Serdin. Só não sei se hoje ou amanhã.

— De repente dou uma passada. Ia gostar de revê-la.

— E acho que ela de rever você. Ela tinha uma quedinha por você Ronan, que sei.

— Da onde isso?

— Sei lá, eu acho.

— Agora que você falou...  Acho que tinha um pouco. — disse vaidoso.

— Mas isso foi há seis anos... Deixa assim.

— Eu posso ir com você?

— Claro, Lass. Vamos ver se essa menina tem mesmo talento?

 — Te garanto que tem. Você nunca ouviu um CD dela?

— Se ouvi não prestei atenção que era dela.

— Em que planeta você vive cara?! - disse o jovem ninja, totalmente surpreso.

— Ah, pare com isso!  — Lass balançou a cabeça. 

— Só você mesmo Ronan. Depois a Arme é que é bicho do mato.

— Quer saber, melhor a gente apressar o passo. Quero chegar cedo em Serdin e ver uma pousada. Depois vou até a faculdade pra ver a Arme.

— Você está certo, se demorarmos periga nem acharmos onde dormir.

— Bom, se isso ocorrer eu me viro. Estou acostumado com isso. Quando se sai à procura de conhecimento em magia não se costuma encontrar muito conforto.

— Mas de vez em quando é bom um pouco disso não, Ronan?

— Isso é! — ambos riram, e então aumentaram o ritmo a fim de chegarem logo a Serdin.

Já passavam das seis da tarde quando Ronan chegou à Faculdade de Magia de Serdin, e foi encaminhado por uma jovem até o salão onde Arme estava verificando alguns detalhes na decoração para a recepção do dia seguinte, que seria oferecida as autoridades em magia enviadas pelos continentes. Conversava distraída, e nem percebeu que ele a fitava – um tanto surpreso por sua beleza – parado próximo ao portal de entrada.

— Arme! — chamou-a, e ela voltou-se surpresa. O esperava para o anoitecer, e congelara ao ouvir sua voz.

— Ronan... — ele sorriu em resposta, aproximando-se dela.

— Quase não a reconheci... Nem parece aquela garotinha de anos atrás! ... — havia admiração no tom de voz do rapaz. — Você se tornou uma linda mulher, Arme! Ela corou.

— Impressão sua. — ele olhou-a mais detidamente. — Não, não. É a pura verdade.

 Com esforço, ela então retrucou:

— Você também está um tanto diferente... mais maduro e.... bonito também...  Ele sorriu.

 — Deixa eu te dar um abraço... Que saudade amiga! — ele a abraçou forte, e ela sentiu como se o coração fosse sair pela boca de tanta emoção. E então correspondeu ao gesto carinhoso de Ronan, também abraçando-o forte.

— Mas e essa mochila? Você ainda não passou em sua pousada?

— Não fiz reservas Arme… e, por causa da Conferência, não achei nada vago. O Lass teve mais sorte.

— O Lass veio com você?

 — Encontrei ele no caminho pra cá, e na primeira pousada que fomos tinha uma vaga apenas, eu deixei pra ele. Achei melhor assim.

— Não me diga! E como vai fazer? Afinal são três dias de evento?

— Vou ficar por aí... estou acostumado.

— Não! Isso nem pensar! Você pode se hospedar em minha casa. Eu... tenho um quarto a mais que não uso e, apesar de ter um dormitório aqui na faculdade, eu já havia me programado ficar em minha casa. Não gosto de me ausentar muito...

— Você fala sério?

— Claro que sim, Ronan... Só que você vai ter de passar pelo desafio de comer a minha comida! Hihihi — disse risonha.

 — É tão ruim assim? — ele brincou.

 — Experimente e me diga.

— Depois de ter comido larvas de Kyridon, no Pântano de Rodea em Astrynat, sua comida deve ser o manjar dos deuses!

— Larvas de Kyridon? Que bicho é isso?

— Um tipo de verme lamacento, muito comum na região sul do Continente de Astrynat.

 — Que nojo! Sério que você comeu isso?

— Comi. Apesar de asquerosa, a larva desse inseto é muito nutritiva e, com fome, você não faz muitas escolhas.

 — Argh!!! Com certeza melhor do que isso minha comida é! — ele riu.

— E você mora muito longe daqui da faculdade?

— Não muito. A pé leva uns quinze minutos. Vou só me despedir do pessoal e podemos ir. Já terminei o que tinha de fazer por aqui.

— Obrigado Arme.

 — Não me agradeça. Estou muito feliz por te rever, Ronan... E.... vai ser bom poder ter tua companhia em minha casa nesses dias...

— Também fico feliz... Mas não quero dar trabalho...

—Não é trabalho algum. E ainda não te contei, agora moro sozinha... — disse um tanto tímida, mas recordando-se por um momento da conversa que tivera com Mari.

— Sozinha?! — Ele questionou um tanto surpreso.

— Sim, fazem dois meses que as moças que moravam comigo mudaram pra uma fazenda mais afastada, e eu fiquei por causa da faculdade. E, mesmo, me enterrar numa fazenda não é o que quero pra minha vida.

— Eu sei que não. Você é uma maga, e esse é teu caminho.

— Assim como você que também é um mago.

— Só que meu caminho foi outro.

— Eu sei. Mas nosso objetivo é o mesmo.

— Isso é verdade. — ele concordou, e ela sorriu.  — Mas sei lá, seu avô pode não achar legal você receber um rapaz solteiro agora que está morando sozinha...

— Meu avô sabe o homem honrado que você é Ronan, não há com o que se preocupar. Você ficará sim em minha casa, está decidido.

— Se é assim. Eu aceito o convite. Mas eu trouxe meu bichinho de estimação... Será que você tem um cantinho pra ele?

— Você trouxe o Gorgos?

— Está lá fora, voando por sobre a faculdade!

— Que legal! Queria muito ver o teu dragão. A última vez que o vi ele ainda estava no ovo! - brincou, e ele riu.

— Ele está enorme agora! Poderoso à beça! Mas e a tua Nerissa? Continua linda?

— Continua! Ela é um doce. E é ela que me faz companhia, ainda mais agora que estou só.

— Moças bonitas não deveriam ficar sozinhas... Me admira que você ainda não tenha um namorado! O que há com os homens de Serdin, acaso são cegos?!

Arme tornou a corar. Não esperava ouvir aquilo dele.

— Você ficou vermelha... — ele tocou no rosto dela com carinho. — Não fique, só falei uma verdade. Se você tivesse nascido em meu Reino — disse, a fitando nos olhos — certamente já estaria casada... Os homens de lá sabem valorizar uma mulher com suas virtudes Arme e, especialmente, com sua beleza.

— Ronan... — ele a fitou.

— Acredite nas tuas potencialidades... Você é inteligente Arme... E é muito linda também...

 Com o coração muito acelerado, ela não se entendeu quando, tímida, procurou esquivar-se.

— Eu vou me despedir do pessoal... Já volto Ronan...

Ele balançou a cabeça, e achou graça do jeito tímido da jovem ao afastar-se. E então percebera que, em ao menos num aspecto, Arme não mudara: continuava a mesma menina doce, inocente e pura que conhecera anos antes. E, não fosse pela bela amizade que os unia, até pensaria em dar àquela mulher tão bela, que tinha agora diante de si, provas do que havia acabado de dizer. E a tomaria em seus braços com paixão.

No entanto, não macularia a beleza de uma amizade tão pura como aquela, bem como aquele coração terno, através de um sentimento tão traiçoeiro como diziam ser o amor.

Por isso mesmo, naquele instante havia tomado uma decisão: iria conter seu jeito e a vontade estranha que estava a sentir de dizer-lhe coisas bonitas. Algo forte e que, vendo-a naquele momento, aflorou de modo ainda mais intenso. Lutaria contra isso para não ferir a bela amizade dos dois, fazendo com que confundissem tudo e, num impulso, viessem a misturar as coisas. E continuaria apenas a centrar-se nos seus ideais relacionados a magia, como até então sempre o fizera.

Continua...


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