O Continente das Trevas escrita por Narsha


Capítulo 3
O Show




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Quando Amy subiu ao palco, já passavam das dez horas da noite. E uma grande legião de fãs já se aglomerava na praça central de Euryalli. Uma plateia ansiosa, que delirou ao aparecimento de sua diva.

De longe, sentados nos galhos de uma frondosa árvore, Ronan e Arme assistiam ao show impressionados. Enquanto que, recostado a base da mesma, Lass, por sua vez, possuía novamente um semblante sério, e começava já a sentir-se um tanto aborrecido com todo aquele aglomero. Já não havia mais nenhum sinal em si de toda estranha alegria que sentira por um breve momento.

Tão logo chegara na pousada, no dia anterior, caíra num sono pesado e profundo, de modo que despertara apenas na manhã seguinte, sentindo uma irritante e latejante dor de cabeça. “Jamais tornaria a experimentar bebidas oferecidas por velhos Goblins à beira da estrada!” — pensou consigo mesmo, mantendo um olhar vago.

Mesmo sendo Ronan o único amigo a saber de seus sentimentos por Elesis, e ele sendo uma pessoa discreta, nada justificava, a seu próprio ver, seu patético comportamento. Aliás, pelo simples fato de recordar-se disso, ficava ainda mais contrariado.

Indiferentes a sua presença, e ao seu visível mau humor, os populares, totalmente envoltos com a melodia das canções de Amy, deliravam. Haviam moças, muitas delas aliás, que mantinham um visual praticamente idêntico ao da garota de cabelos cor-de-rosa. Ao passo que os rapazes detinham no palco olhares admirados.

Radiante e cheia de vida, Amy correspondia ao entusiasmo do público e lançava-lhes acenos e beijos a todo momento, ao mesmo tempo que desenvolvia sua performance. O sucesso da jovem era definitivamente avassalador.

E tão logo o Show acabou, a multidão começou a dispersar-se, dando lugar a costumeira calmaria das noites de Serdin. Ronan e Arme então deixaram a árvore e se dirigiram até um rapaz que vendia doces na praça. Estavam distraídos, e chegaram a assustar-se quando aquela voz estridente e aguda ecoou por detrás deles, chamando por Ronan.

E diante da cena que se seguiu, Arme viu o sorriso desaparecer de seus lábios repentinamente.

— Ronan! É você mesmo?!!! — dizia Amy, que havia enlaçado o rapaz pelo pescoço e estava – sensual – pendurada ao mesmo.

— Amy! — Ele a olhou, surpreso.

— Nossa, como você tá lindo Ronan!!! Veio aqui pra me ver?!

— Bem eu...

— Fala a verdade! Você me adora, né?

— Quem não adora? ... Sua música é linda!

— Só a música? — disse, fazendo um olhar triste.

— Claro que não! Você é toda linda Amy... Sempre foi – disse galante, entrando no jogo da jovem. Arme sentiu uma pontada no peito.

Lass aproximou-se.

— Oi Lass. — disse a jovem cantora, olhando com pouco interesse para o rapaz.

— Oi. — ele limitou-se a responder, com indiferença.

— E você Arme — disse, voltando-se para a Gram Maga. —, sabe, você até que mudou muito... Mas a evolução infelizmente não se deu também com sua roupa... — comentou, enquanto a fitava, de cima para baixo. — De longe reconheceria que era você!

— O que tem minha roupa?

— Um tanto Cafona, como sempre foi! Mas... bonitinho.... Pra Você, é claro!!! – Disse com sinceridade Amy, sem levar em conta as consequências de seu ato.

— Não liga pra o que esse bicho rosa diz, Arme! — uma voz firme e familiar fez-se ouvir junto ao grupo. — Isso aí, pelo visto, continua a mesma fútil de antes!

— Elesis... — falou Lass, erguendo os olhos e fitando-a.

— Por que não volta para o seu camarote, hein menina? — disse a jovem de cabelos vermelhos, de modo ríspido.

— Ah! Cala essa boca garota!!! Não vê que eu sou uma diva! Falo o que eu quiser!

— Você é uma metidinha isso sim! — retrucou Elesis, já com gana de dar uns tabefes em Amy. Mas Arme a conteve.

— Deixe isso pra lá... Ela não deve ter falado por mal e.... Eu não me importei.

— Você não vê que... — Ia dizendo, mas a Gram Maga a interrompeu.

— Por favor Elesis!

— Viu, sua boba, ela nem ligou! — disse botando a língua para Elesis!

— Argh! — uma veia já pulsava na testa da garota de cabelos vermelhos, que fuzilava Amy com olhos flamejantes. Arme novamente a segurou.

— E então Ronan, você não quer me levar pra beber alguma coisa? — falou, ignorando por completo o ar irritado da velha companheira da Grand Chase. — Essa noite enluarada está tão convidativa?

— Eu? — ele respondeu, surpreso.

— Deixe que eu te levo! — disse Jin, que deles se aproximou. E Amy, lhe lançou um olhar provocativo. Ronan, vendo isso, ficou contrariado.

— Nem pensar, quem vai sair com a Amy sou eu!

— Qual é Ronan? Por acaso você assinou contrato de propriedade!? Se manca mané!

Os dois se encararam, e Arme, com a sensação de ter um nó na garganta, sentia dificuldade em conter a vontade repentina de chorar que a invadia. Enquanto Amy se deliciava com o embate entre os garotos.

Elesis, que assistia a tudo, percebeu o jeito da amiga que não via há anos, mas não disse nada. Enquanto os ânimos pareciam ficar cada vez mais quentes entre os antigos companheiros da Grand Chase.

— Inferno, vocês dois! Se querem se matar, escolham outro lugar! — interveio Lass, de modo frio e seco. Mas eles nem o ouviram. O ninja então deu de ombros e afastou-se um pouco. — Estou nem aí! — resmungou.

— Hei, meninos! — disse com certa vaidade na voz, a bela garota de cabelos em tom rosa. — Não precisam brigar por mim! Eu sou amiga dos dois... Mas, Jin, hoje eu quero sair com o Ronan. Estou com saudade dele que anda tão sumido! Você, Jin, eu vejo sempre, ele não!

— Ah!!! — disse Jin irritado. Que se dane então!

— Bua, Bua, chora neném! — disse vendo ele se afastar. — Não liga pra ele Ronan, ele tá morrendo de ciúmes de você!

— Eu realmente não me importo nem um pouco com o que ele acha ou deixa de achar! — Havia uma sensação de vitória em sua voz. — Onde você quer ir, Amy?

— Aonde você quiser me levar! — disse, com um charme que deixou o rapaz inebriado.

Vendo isso, Arme foi afastando-se do grupo lentamente, e, sob o olhar atento de Elesis, que também havia recuado um pouco, enojada com a cena, saiu correndo com lágrimas nos olhos em direção à sua casa.

— Vocês acompanham a gente? — indagou Ronan, que havia dado o braço para Amy recostar-se a ele.

— Boa! — disse Elesis. Estou mesmo a fim de esticar a noite e beber algo!

Amy fez cara de não gostar, mas Elesis a ignorou. Ficaria em cima dos dois só pra ver tudo de perto. Não havia gostado nadinha da atitude do casal, e sentia-se irritada por causa de Arme. Podia não se ligar muito a essa coisa de envolvimentos amorosos, mas sempre desconfiara dos sentimentos da Maga Violeta por Ronan.

— Eu também vou. — disse Lass, que havia tornado a se aproximar do grupo e estava próximo a Elesis.

— Legal Lass! Assim sentamos os quatro juntos em uma mesma mesa! — disse a ruiva propositadamente. Ele apenas a fitou com um olhar aparentemente vazio. Mas no fundo havia gostado da oportunidade de estar junto de Elesis novamente.

— Mas e a Arme, onde ela está? Ela estava agora mesmo aqui? — falou Ronan, olhando para todos os lados.

— Se lembrou da sua amiga, Ronan? — alfinetou, Elesis.

— Onde ela está? — disse, dando-se conta de sua atitude.

— Foi embora.

— Embora por quê?

— Pergunte a si mesmo. — disse a ruiva, com ironia.

— Ai Ronan, não ligue pra o que essa chata diz! ... Arme sempre foi uma garota esquisita. Vamos logo querido! — disse, o puxando.

— Mas...

— Vamos! Vamos!

— Está bem Amy... vamos sim... depois eu falo com a Arme...

Quando Ronan retornou para a casa de Arme – um lugar muito bonito, cuja decoração interna era composta por papel de parede em tom suave arroxeado e mobília delicada, e que erguia-se em meio a um belo jardim de rosas variadas – já eram quase uma da manhã. E a maioria das luzes já estavam apagadas, porém a da sala e a dos quartos ainda estavam acesas, sendo que a do quarto de Arme estava em meia luz.

E ele agora, diante do lar que o acolheu de modo tão gentil, sentia-se um tanto culposo por ter deixado Arme partir, sem nem sequer por bom tempo ter-lhe notado a ausência. “Definitivamente, ela não merecia isso.” — pensou.

Chateado consigo mesmo, então apagou a luz da sala e subiu para o andar dos quartos, e ao ver a meia luz que iluminava o de Arme, aproximou-se da porta, percebendo que esta estava entreaberta. Espiou para dentro do cômodo e viu a moça deitada, com as mãos próximas ao rosto, mas parecendo estar dormindo.

Abriu então a porta, com cuidado, pois não queria despertá-la, e sim apenas cobri-la, uma vez que havia esfriado um pouco. E ao aproximar-se, não pode deixar de notar mais uma vez a beleza de Arme, realçada pela leveza e a tênue transparência da camisola que a moça estava a usar. Porém foi seu jeito frágil e seu rosto úmido que chamou-lhe a atenção de maneira mais intensa. Não tinha dúvidas, ela havia chorado.

Sentiu-se triste por isso, e começou a puxar o acolchoado para cobri-la.  De modo terno, acariciou seu rosto enxugando uma lágrima que, de repente, desceu sutilmente de seus olhos. E que lhe doeu muito, apesar da alegria que sentira em companhia de Amy, momentos antes, e da impulsiva atração que tivera pela jovem de cabelos cor-de-rosa. Era esquisito admitir a si mesmo, mas a verdade era que, por mais que negasse, algo em Arme mexia intensamente com ele, e isso o assustava.

Com o toque de Ronan em seu rosto, porém, a jovem despertou, e sentou-se rapidamente à cama. Cobriu-se mais ainda com o cobertor, envergonhada, e esfregou rapidamente o rosto tentando ocultar suas lágrimas.

— Ronan, o que faz aqui?

— Eu... Me desculpe... Vi a porta entreaberta, e vim cobrir você.

— Ah... Sim... — disse, procurando não olhar para ele.

— Me desculpe por hoje, Arme... Eu não...

— Deixe isso pra lá... Eu... não estou triste. Está tudo bem.

— Está mesmo? — disse ele, sentando-se a beirada da cama e fazendo com que ela o fitasse. — Então o que são essas lágrimas? — ela percebeu que não conseguia evitar, e que novamente chorava.

— Nada, não... Eu... eu que sou boba!

— Não, você não tem nada de boba! Eu é que fui um tolo saindo com a Amy hoje... Eu devia ter vindo embora com você.

— Não ia querer atrapalhar sua vida... Eu... só fiquei triste com o que ela disse. – mentiu.

— Aquilo foi criancice da Amy.... Você sabe como ela é....

— É eu sei... E percebi que você gosta dela...

— É.. Acho que sim... — ele disse, sem muita certeza. — Mas isso não justifica o que fiz... — Arme, ouvindo-o baixou a cabeça.

— Me perdoe Arme, agi mal com você. — disse, a acarinhando e abraçando. Sentindo seu abraço forte, ela então viu intensificar-se seu pranto, e ele fez com que o olhasse.

— Arme, você por acaso... Não está? — ela estremeceu com a pergunta.

— Estou o quê? Apaixonada por você? Não seja convencido Ronan! — disse um tanto nervosa. — Eu só me chateei por sua atitude, foi isso!

— Calma, Arme... Me desculpe! ... Não quis ser vaidoso com essa pergunta. Ai que droga! ... Só estou fazendo besteira hoje! Esqueça o que eu disse!

— Melhor você ir dormir... Amanhã conversamos. — disse ela, enxugando o rosto.

— Como vou dormir sabendo que você está magoada comigo?

— Já passou Ronan... Está tudo bem... Deixe isso pra lá...

— Você vai me perdoar?

— Já perdoei... — disse tentando retomar o autocontrole e parecer natural.

— Tem certeza?

— Sim... — ela esboçou um sorriso. — Está tudo bem.

Ronan a beijou no rosto, e sentiu o corpo reagir devido à proximidade de seus corpos. Ficou corado, e tratou de afastar-se.

— Vou deixá-la dormir... Amanhã... então conversamos... — disse, um tanto esquisito.

— Claro que sim.

— Boa noite Arme.

— Boa noite Ronan.

Ele então deixou o quarto seguindo apressado para o seu, enquanto Arme abraçou-se com força aos travesseiros, tornando a chorar em silêncio.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!



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